CLARAAcordei naquela manhã com uma sensação estranha, como se algo estivesse fora do lugar. O ar na casa parecia pesado, opressor. Henrique já havia saído, como fazia quase todos os dias agora, e a casa estava quieta demais. Silenciosa demais.Levantei-me, ainda sentindo o peso do cansaço e da tensão acumulada nas últimas semanas. A constante vigilância, o medo de que algo pudesse acontecer a qualquer momento... era como se eu vivesse em um estado de alerta permanente. Tudo o que eu queria era normalidade, um retorno à vida que tínhamos antes desse pesadelo começar.Eu estava prestes a chamar Sofia para o café da manhã quando ouvi um barulho na porta da frente. Um clique, suave demais para ser um erro.Meu coração disparou. Quem estava ali?Parei no meio da sala, o corpo congelado pelo medo, e, sem pensar duas vezes, corri em direção ao quarto de Sofia. Quando abri a porta, ela ainda estava dormindo tranquilamente, sem a menor ideia do que estava acontecendo.Eu me aproximei dela, pe
CLARAAs batidas do meu coração pareciam ecoar na minha cabeça, cada pulsação mais forte que a anterior. Eu ainda estava no chão do banheiro, segurando Sofia com todas as minhas forças, enquanto Henrique me abraçava. O terror do que quase aconteceu ainda me paralisava.Eu não sabia por quanto tempo ficamos ali, apenas sentindo a respiração dele contra o meu rosto, mas parecia que o tempo havia parado. Meus músculos estavam tensos, como se eu ainda estivesse presa naquele momento de puro pânico.Finalmente, Henrique se afastou um pouco, seus olhos me observando com uma mistura de alívio e preocupação.— Clara, — ele começou, a voz mais suave do que eu esperava. — Eu sinto muito. Isso não deveria ter acontecido.— Eu achei que ele ia… — minha voz falhou. Achei que íamos morrer.Henrique balançou a cabeça com firmeza, segurando meu rosto entre suas mãos.— Eu não vou deixar isso acontecer, — disse ele, com uma determinação inabalável. — Não vou deixar Alberto chegar perto de vocês de nov
HENRIQUEO silêncio no armazém era pesado, cortado apenas pela respiração ofegante de Alberto e minha própria tensão. O Cobra, o homem que havia atormentado minha família por tanto tempo, agora estava encurralado, sem saída. Mas ele não ia se render sem lutar.Alberto deu mais um passo à frente, os olhos ardendo de raiva e desespero. O sorriso arrogante havia desaparecido, substituído por algo muito mais sombrio.— Você acha que isso acaba aqui, Henrique? — disse ele, com a voz carregada de ódio. — Você pode até me derrotar, mas não pode escapar desse mundo. Ninguém sai.Aquelas palavras tocaram fundo, como se tentassem puxar a parte de mim que eu estava tentando enterrar. Alberto estava tentando me desestabilizar, e ele sabia exatamente onde atacar. O submundo tinha suas garras em mim por anos, e o medo de não conseguir escapar sempre esteve presente.— Eu não sou você, Alberto, — respondi, com a voz firme. Minha vida não está presa nesse ciclo. — Mas, no fundo, eu sabia que não seri
CLARAA noite estava estranhamente silenciosa depois de tudo. O tipo de silêncio que deveria trazer paz, mas, em vez disso, deixava uma sensação de vazio. Henrique estava em casa, Sofia estava dormindo no quarto ao lado, mas minha mente não conseguia parar de correr. A tensão dos últimos meses ainda estava viva em mim, como um nó que eu não conseguia desfazer.Olhei para Henrique, que estava sentado no sofá, com os olhos fixos em um ponto qualquer da sala. Ele parecia estar aqui, mas, ao mesmo tempo, tão distante. O peso do que aconteceu ainda pairava entre nós, como uma sombra difícil de afastar.— Você está bem? — perguntei, sentindo que a pergunta era tão necessária quanto insuficiente. Claro que ele não estava bem. Nenhum de nós estava.Ele piscou, saindo de seus pensamentos, e me olhou com um sorriso cansado, aquele que ele sempre dava quando tentava esconder o que realmente estava sentindo.— Estou, sim, — ele disse baixinho. Mas eu sabia que era uma meia-verdade.Me aproximei d
CLARAOs primeiros dias após o confronto com Alberto foram estranhamente tranquilos. Tranquilidade demais, talvez. As rotinas voltaram lentamente ao normal — eu levando Sofia ao parquinho, Henrique tentando passar mais tempo em casa — mas o peso do que aconteceu ainda pairava sobre nós.Eu sabia que Henrique estava tentando seguir em frente, mas havia algo diferente nele, algo que não conseguia mais esconder. O submundo havia deixado marcas profundas, mesmo que ele tentasse se afastar de tudo.Naquela manhã, enquanto eu preparava o café, olhei para ele do outro lado da mesa, distraído com o jornal aberto. Seus olhos, embora focados nas palavras impressas, pareciam estar em outro lugar. Havia um vazio ali, uma distância que me preocupava.— Você quer mais café? — perguntei, tentando romper o silêncio.Henrique levantou os olhos lentamente, como se fosse puxado de volta à realidade. Ele sorriu de leve, mas era aquele sorriso cansado que eu já havia visto tantas vezes.— Não, estou bem.
HENRIQUEVoltar para o submundo, nem que fosse por um momento, era exatamente o que eu queria evitar. Mas o que Tito disse, sobre alguém tentar preencher o vazio deixado por Alberto, continuava ecoando na minha cabeça. No fundo, eu sabia que esse ciclo nunca terminava.Eu olhei para Clara e Sofia, as duas rindo no sofá, alheias ao que se passava na minha cabeça. Elas eram meu mundo agora, e tudo o que eu queria era mantê-las seguras. Mas havia algo dentro de mim, algo que sabia que, se eu não fizesse nada, o passado voltaria. Dessa vez, com força total.Peguei o telefone e fiquei olhando para ele por um segundo. O número de Tito ainda estava ali, recém-discado. Poderia simplesmente deixar para lá, tentar seguir em frente e ignorar os boatos, mas, será que isso seria suficiente?Eu precisava de respostas. Precisava saber quem estava por trás dessas novas movimentações. Talvez fosse apenas minha mente pregando peças, mas o risco de ser mais do que isso era grande demais.O que me prendi
HENRIQUEAquela noite mal dormida me deixou com os nervos à flor da pele. Nestor estava crescendo nas sombras, e cada contato que eu procurava me dizia a mesma coisa: ele era inteligente, discreto, e ninguém sabia muito sobre seus próximos passos. Mas o silêncio era sempre um sinal de que algo grande estava por vir.Passei a manhã no escritório, tentando juntar as poucas informações que havia conseguido. Nestor operava com calma, sem chamar atenção. Isso o tornava ainda mais perigoso. Ele não era impulsivo como Alberto. Era alguém que jogava a longo prazo, e a cada movimento calculado, sua rede de influência crescia.Tito estava certo: se eu não agisse logo, Nestor descobriria o que aconteceu com Alberto. E quando isso acontecesse, eu seria o próximo alvo.Peguei o telefone, pensando no que fazer a seguir. Eu precisava de mais informações, algo concreto para agir. Saber apenas que ele estava movimentando suas peças não era suficiente. Eu precisava entender quem ele era de verdade, sua
CLARANos dias que seguiram, a tensão em casa parecia palpável. Henrique estava mais distante, mais preocupado. Ele tentava esconder, mas eu o conhecia bem demais para não notar. E isso só aumentava minha angústia.Eu sabia que ele estava voltando a se envolver no submundo, mesmo que dissesse que era apenas para nos proteger. Mas, quanto mais ele tentava manter esse mundo longe de nós, mais parecia ser arrastado de volta.Enquanto eu brincava com Sofia na sala, minha mente não conseguia se livrar do pensamento de que, a qualquer momento, algo terrível poderia acontecer. Eu queria confiar que tudo acabaria bem, mas a incerteza era sufocante. Cada vez que Henrique saía de casa, eu temia que fosse a última vez que o veria.Olhei para Sofia, que sorria, alheia ao caos que envolvia nossa vida. Ela era tão inocente, tão pura, e merecia uma vida longe de todo esse medo. Mas será que Henrique conseguiria nos manter a salvo sem se perder novamente?De repente, o som da chave girando na porta m