CLARANos dias que seguiram, a tensão em casa parecia palpável. Henrique estava mais distante, mais preocupado. Ele tentava esconder, mas eu o conhecia bem demais para não notar. E isso só aumentava minha angústia.Eu sabia que ele estava voltando a se envolver no submundo, mesmo que dissesse que era apenas para nos proteger. Mas, quanto mais ele tentava manter esse mundo longe de nós, mais parecia ser arrastado de volta.Enquanto eu brincava com Sofia na sala, minha mente não conseguia se livrar do pensamento de que, a qualquer momento, algo terrível poderia acontecer. Eu queria confiar que tudo acabaria bem, mas a incerteza era sufocante. Cada vez que Henrique saía de casa, eu temia que fosse a última vez que o veria.Olhei para Sofia, que sorria, alheia ao caos que envolvia nossa vida. Ela era tão inocente, tão pura, e merecia uma vida longe de todo esse medo. Mas será que Henrique conseguiria nos manter a salvo sem se perder novamente?De repente, o som da chave girando na porta m
HENRIQUEOs dias seguintes passaram como um borrão. Eu estava obcecado em encontrar Nestor, rastrear cada movimento seu, antecipar o momento certo para agir. Era o único jeito de garantir que ele não chegaria até Clara e Sofia. Mas a cada nova informação que Tito me trazia, a situação parecia piorar. Nestor era mais perigoso do que eu imaginava.Ele havia consolidado sua posição em silêncio, reunindo os homens que um dia foram leais a Alberto e, aos poucos, expandindo seus negócios. Ninguém sabia o que ele realmente queria, mas estava claro que ele não planejava parar. Ele estava construindo um império, e se eu não fizesse algo rápido, minha família seria pega no fogo cruzado.Mas, ao mesmo tempo, Clara estava se afastando de mim. Eu via isso em seus olhos, na maneira como ela evitava falar sobre o que estava acontecendo, no silêncio que havia se instalado entre nós. Eu estava perdendo-a, e sabia que, se continuasse nesse caminho, talvez não houvesse volta.Tito me ligou no fim da tar
Capítulo 152HENRIQUEAs ruas escuras passavam como um borrão enquanto dirigíamos em direção ao armazém. Meu foco estava completamente no que estava prestes a acontecer. Nestor estava a poucos minutos de ser confrontado. Isso precisava acabar, e rápido.Tito estava ao meu lado, silencioso, mas alerta. Suas mãos estavam firmes no volante, e eu sabia que ele também sentia a gravidade do que estávamos prestes a fazer. Não havia espaço para erros. Se falhássemos, Nestor não hesitaria em vir atrás de Clara e Sofia.— Vamos entrar e sair rapidamente, — Tito disse, quebrando o silêncio, sem tirar os olhos da estrada. — Se Nestor estiver lá, temos que ser rápidos. Qualquer hesitação e ele escapa. E se ele escapar, você sabe o que isso significa.Assenti, respirando fundo. Esse era o momento decisivo.Chegamos ao armazém, uma construção sombria e deserta, cercada por alguns carros discretos. Tito já havia colocado seus homens em posição, e o lugar estava cercado. Nestor não teria para onde cor
HENRIQUEO som do tiro ainda ecoava em minha mente enquanto eu voltava para casa naquela madrugada. Nestor estava morto, mas, em vez de alívio, o vazio tomava conta de mim. As palavras dele — de que o submundo nunca acabava, de que outro tomaria seu lugar — não me deixavam em paz. Ele estava certo? Eu queria acreditar que a morte de Nestor colocaria um ponto final em tudo, mas a verdade era que não sabia mais se isso era possível.Dirigir pelas ruas desertas me deu tempo para pensar. A cada decisão que tomei, parecia que estava me afastando de Clara e Sofia. Eu havia prometido a mim mesmo que protegeria minha família, mas a que custo? Será que, ao tentar mantê-las seguras, eu as estava condenando a viver nesse ciclo interminável de violência e medo?Ao chegar em casa, o relógio marcava quase cinco da manhã. Tudo estava em silêncio. O silêncio que, para muitos, significava paz, mas que para mim agora parecia o prelúdio de algo mais sombrio. Estacionei o carro na frente de casa e fiquei
HENRIQUEO silêncio naquela manhã era diferente. Pesado, desconfortável. Clara e eu trocamos poucas palavras depois daquela conversa devastadora na madrugada. Mesmo com Nestor morto, não parecia que o fim do pesadelo havia chegado. Pelo contrário, era como se uma sombra pairasse sobre nós, silenciosa e implacável, trazendo à tona a realidade que eu tentava negar: eu estava perdendo Clara.Enquanto tomávamos café da manhã, Sofia brincava animada ao redor da mesa, suas risadas preenchendo o ambiente com uma leveza que contrastava com a tensão entre mim e Clara. Ela era a única coisa que nos mantinha conectados agora.Clara evitava me olhar diretamente, focada em sua xícara de café, e eu sentia que cada tentativa de me aproximar era uma barreira que ela erguia para se proteger. Ela estava exausta, e eu sabia que tudo isso era minha culpa. Eu a havia arrastado para esse ciclo interminável, prometendo segurança que nunca parecia chegar.— Você vai passar o dia fora hoje? — Clara finalmente
CLARAArrumar as malas foi a parte mais difícil. Cada peça de roupa dobrada parecia pesar mais do que a anterior. Eu estava fazendo isso pelo bem de Sofia, pelo meu próprio bem, mas nada disso tornava a decisão menos dolorosa. A ideia de sair, mesmo que apenas por um tempo, era como arrancar uma parte de mim.Eu sabia que Henrique estava arrasado. Eu podia sentir a tensão no ar desde a nossa conversa na noite passada. Ele tentava se manter distante, me dando o espaço que pedi, mas era evidente que ele estava sofrendo. E isso me partia o coração.A realidade, no entanto, era que eu precisava fazer isso. Acordar todas as manhãs com o medo de que algo acontecesse, de que Henrique saísse pela porta e nunca mais voltasse, estava me destruindo por dentro. E, acima de tudo, eu precisava proteger Sofia. Ela era o centro da minha vida, e eu queria que ela crescesse em um ambiente onde o medo não fosse constante.Peguei o último casaco do armário e coloquei na mala, fechando-a com um suspiro pe
HENRIQUESentei no carro por alguns minutos antes de ligar o motor. Eu estava parado no cruzamento entre duas vidas: a vida que eu tanto queria — ao lado de Clara e Sofia, construindo algo longe do submundo — e a vida da qual eu parecia nunca conseguir escapar. E agora Tito me chamava de volta.O telefone ainda vibrava com mais mensagens de Tito, insistente. Algo estava acontecendo. Talvez um novo problema que precisasse ser resolvido, talvez os resquícios de Nestor tentando ressurgir, ou talvez apenas negócios inacabados que o submundo se recusava a deixar para trás. Mas, seja o que fosse, eu sabia que, se atendesse a esse chamado, poderia perder Clara de vez.Olhei pela janela, as ruas vazias refletindo o vazio dentro de mim. Ela tinha ido embora, levando Sofia com ela, e eu não tinha feito nada para impedir. Talvez eu tivesse achado que seria temporário, mas agora, sentado ali, sentia que se eu desse um passo na direção errada, poderia ser definitivo.Respirei fundo e liguei o moto
HENRIQUEDepois que Clara desligou o telefone, eu fiquei parado, olhando para o celular na minha mão. As palavras dela ecoavam na minha cabeça: “Eu quero acreditar, mas não sei se consigo.” Aquilo me atingiu como uma facada. Clara estava me dizendo que ainda me amava, mas também que não sabia se poderia continuar vivendo com o medo constante que eu trazia para nossa vida.E eu sabia que ela estava certa.Passei a noite em claro, sentado no sofá, pensando em tudo o que eu havia feito para chegar até ali. Eu matei homens, tomei decisões que me afastaram das pessoas que eu amava, e agora estava sozinho. Cada escolha que fiz no submundo tinha um custo, e a última cobrança estava chegando. Eu estava perdendo Clara e Sofia.Olhei pela janela, vendo o sol começar a nascer, e senti o peso do mundo sobre mim. Eu precisava sair dessa vida. Precisava encontrar um jeito de proteger minha família sem mergulhar de volta no caos. Mas como fazer isso? Tito estava certo sobre uma coisa: se eu não enfr