HENRIQUEDepois que Clara desligou o telefone, eu fiquei parado, olhando para o celular na minha mão. As palavras dela ecoavam na minha cabeça: “Eu quero acreditar, mas não sei se consigo.” Aquilo me atingiu como uma facada. Clara estava me dizendo que ainda me amava, mas também que não sabia se poderia continuar vivendo com o medo constante que eu trazia para nossa vida.E eu sabia que ela estava certa.Passei a noite em claro, sentado no sofá, pensando em tudo o que eu havia feito para chegar até ali. Eu matei homens, tomei decisões que me afastaram das pessoas que eu amava, e agora estava sozinho. Cada escolha que fiz no submundo tinha um custo, e a última cobrança estava chegando. Eu estava perdendo Clara e Sofia.Olhei pela janela, vendo o sol começar a nascer, e senti o peso do mundo sobre mim. Eu precisava sair dessa vida. Precisava encontrar um jeito de proteger minha família sem mergulhar de volta no caos. Mas como fazer isso? Tito estava certo sobre uma coisa: se eu não enfr
HENRIQUEO silêncio do prédio parecia esmagador enquanto nos movíamos pelos corredores mal iluminados. Meus sentidos estavam à flor da pele, atentos a cada som, cada sombra que pudesse se mover. Tito estava logo atrás de mim, com seus homens prontos para o que viesse. Esse era o momento.O submundo tinha me puxado de volta uma última vez, mas depois disso, eu prometi que acabaria.Chegamos à porta do escritório onde os novos jogadores estavam operando. A luz fraca do lado de fora fazia o ambiente parecer mais sombrio, mais ameaçador. Tudo isso parecia um déjà vu. Já estive aqui tantas vezes antes, em tantas situações semelhantes. Mas dessa vez, algo dentro de mim estava diferente. Eu não queria estar ali. Eu só queria estar com Clara e Sofia, longe de tudo isso.Tito parou ao meu lado, me lançando um olhar de confirmação. Era agora ou nunca.— Pronto para acabar com isso? — ele perguntou, a voz grave, mas confiante.Eu apenas assenti, minha mão firme na arma. Eu não tinha escolha. Pre
CLARAQuando ouvi a voz de Henrique ao telefone dizendo que estava tudo resolvido, um alívio imediato percorreu meu corpo, mas foi rapidamente substituído pela dúvida. Quantas vezes ele já tinha prometido que tudo ficaria bem, que ele estava fora disso para sempre? E ainda assim, a sombra do submundo continuava a rondar nossa vida.Eu respirei fundo, tentando processar o que ele havia acabado de dizer.— Acabou de verdade, Henrique? — perguntei, com a voz carregada de incerteza. Eu precisava que ele fosse honesto, agora mais do que nunca.— Sim, Clara, acabou, — ele respondeu, com um tom firme, mas eu podia sentir o peso de suas palavras. — Eu fiz o que precisava fazer para garantir que vocês ficassem seguras. Franco está morto. Não há mais ninguém.Fiquei em silêncio por alguns segundos, tentando deixar aquelas palavras se assentarem. Franco estava morto. Mais uma vez, Henrique havia tirado uma vida para nos proteger. Mas será que era o fim de verdade?— Você matou outro homem, Henri
HENRIQUENos dias seguintes, tudo parecia um borrão. O silêncio da casa era opressor. O vazio deixado por Clara e Sofia me sufocava. Eu me levantei cedo todas as manhãs, tentando fazer algo produtivo, mas sempre me via andando de um lado para o outro, sem direção. Sem elas, nada fazia sentido.O submundo, que uma vez havia preenchido minha vida de adrenalina e propósito, agora parecia mais uma maldição do que nunca. Eu estava livre, finalmente livre. Mas a que custo? Eu havia matado, manipulado, traído, tudo para proteger Clara e Sofia, e agora, estava sozinho.O telefone estava sempre ao meu lado, mas não havia nenhuma mensagem de Clara. Eu sabia que ela precisava de tempo, e tentava me convencer de que o tempo era tudo o que ela precisava para perceber que eu tinha mudado. Mas será que ela voltaria?O medo de perdê-la de vez era insuportável.Tito havia me ligado algumas vezes, apenas para “checar” como eu estava, mas a verdade é que eu sabia o que ele queria. O submundo não deixava
CLARAAquele momento na cafeteria, olhando para Henrique enquanto ele segurava minha mão, trouxe de volta uma onda de sentimentos que eu vinha tentando controlar. Eu ainda o amava. Sempre o amaria. Mas também havia medo, o mesmo medo que me acompanhava há anos, desde que o submundo entrou em nossas vidas. Será que ele realmente havia mudado?Eu queria acreditar, mas meu coração já havia sido partido antes. Cada vez que ele voltava para o submundo, para aquela vida, era como se o chão desaparecesse debaixo dos meus pés. Agora, ele estava me prometendo que era diferente. Que estava trabalhando com Eduardo, longe de qualquer coisa ilegal. Mas promessas eram fáceis de fazer.Henrique me olhou com uma mistura de esperança e vulnerabilidade, e isso me tocou. Ele realmente parecia estar tentando, e talvez, pela primeira vez em muito tempo, eu estivesse disposta a dar a ele o benefício da dúvida. Mas eu precisava de mais do que palavras. Eu precisava ver ação.— Henrique, — comecei, minha voz
CLARANa manhã seguinte ao enviar a mensagem, me peguei pensando em tudo o que poderia acontecer. E se Henrique realmente estivesse mudado? E se essa nova vida que ele estava tentando construir fosse finalmente o que precisávamos? Eu queria acreditar nisso, mas ainda havia uma parte de mim que não conseguia ignorar os anos de medo, insegurança e perigo.Sofia estava brincando na sala, distraída com seus brinquedos, enquanto minha mãe preparava o café da manhã. Eu sabia que minha mãe estava preocupada comigo. Ela não dizia muito, mas seu olhar de compaixão e seus conselhos sempre presentes deixavam claro que ela sabia que minha decisão não seria fácil.— Você vai encontrar com ele hoje, não vai? — ela perguntou suavemente, enquanto cortava frutas na bancada.Eu assenti, tentando disfarçar o nervosismo que sentia.— Sim, vamos nos encontrar para conversar. — Suspirei, deixando o peso das minhas incertezas transparecer. — Ele parece estar realmente tentando, mãe. Mas não posso ignorar tu
HENRIQUEVer o nome de Clara na tela do celular, dizendo que estava trazendo Sofia para me ver, foi um alívio que não senti há muito tempo. Era um sinal de que as coisas estavam mudando, que ela estava começando a confiar em mim novamente. Eu sabia que seria um processo lento, que exigiria mais do que apenas palavras, mas o fato de que ela estava me dando essa oportunidade era tudo o que eu precisava.Ajeitei a sala rapidamente, me certificando de que tudo estava em ordem. Queria que Sofia se sentisse à vontade, como se nunca tivesse se afastado de mim. Eu sentia tanto a falta dela quanto sentia a falta de Clara, e essa era a minha chance de mostrar que eu estava presente, que tudo poderia ser diferente daqui em diante.Assim que ouvi o som do carro estacionando na entrada, meu coração disparou. Fui até a porta, e lá estava Clara, segurando a mão de Sofia. O sorriso de Sofia ao me ver iluminou meu mundo.— Papai! — Ela correu na minha direção antes mesmo que Clara pudesse reagir, e eu
HENRIQUECheguei em casa mais tarde naquela noite, o som do eco de meus passos preenchendo o silêncio vazio da casa. O lugar parecia enorme sem Clara e Sofia. O silêncio pesava, me lembrando de que, apesar dos pequenos progressos que estávamos fazendo, ainda havia um longo caminho pela frente.Deitei no sofá, exausto, mas minha mente não parava. Tito não deixaria isso quieto. Ele queria falar, e eu sabia que, se não o enfrentasse de alguma forma, ele continuaria tentando me puxar de volta. Apagar a mensagem não seria suficiente.Peguei o telefone de novo, encarando a tela por um longo momento. Poderia ignorar Tito para sempre? Talvez não. Mas cada contato com ele era um risco. Eu sabia que qualquer interação com o submundo colocava tudo em jogo – minha relação com Clara, a segurança de Sofia, e a promessa que fiz a mim mesmo de sair dessa vida.Suspirei, jogando o telefone de lado e me sentindo preso em um dilema. Precisava ser forte por Clara e Sofia. Elas eram a única coisa que impo