CLARAAquele momento na cafeteria, olhando para Henrique enquanto ele segurava minha mão, trouxe de volta uma onda de sentimentos que eu vinha tentando controlar. Eu ainda o amava. Sempre o amaria. Mas também havia medo, o mesmo medo que me acompanhava há anos, desde que o submundo entrou em nossas vidas. Será que ele realmente havia mudado?Eu queria acreditar, mas meu coração já havia sido partido antes. Cada vez que ele voltava para o submundo, para aquela vida, era como se o chão desaparecesse debaixo dos meus pés. Agora, ele estava me prometendo que era diferente. Que estava trabalhando com Eduardo, longe de qualquer coisa ilegal. Mas promessas eram fáceis de fazer.Henrique me olhou com uma mistura de esperança e vulnerabilidade, e isso me tocou. Ele realmente parecia estar tentando, e talvez, pela primeira vez em muito tempo, eu estivesse disposta a dar a ele o benefício da dúvida. Mas eu precisava de mais do que palavras. Eu precisava ver ação.— Henrique, — comecei, minha voz
CLARANa manhã seguinte ao enviar a mensagem, me peguei pensando em tudo o que poderia acontecer. E se Henrique realmente estivesse mudado? E se essa nova vida que ele estava tentando construir fosse finalmente o que precisávamos? Eu queria acreditar nisso, mas ainda havia uma parte de mim que não conseguia ignorar os anos de medo, insegurança e perigo.Sofia estava brincando na sala, distraída com seus brinquedos, enquanto minha mãe preparava o café da manhã. Eu sabia que minha mãe estava preocupada comigo. Ela não dizia muito, mas seu olhar de compaixão e seus conselhos sempre presentes deixavam claro que ela sabia que minha decisão não seria fácil.— Você vai encontrar com ele hoje, não vai? — ela perguntou suavemente, enquanto cortava frutas na bancada.Eu assenti, tentando disfarçar o nervosismo que sentia.— Sim, vamos nos encontrar para conversar. — Suspirei, deixando o peso das minhas incertezas transparecer. — Ele parece estar realmente tentando, mãe. Mas não posso ignorar tu
HENRIQUEVer o nome de Clara na tela do celular, dizendo que estava trazendo Sofia para me ver, foi um alívio que não senti há muito tempo. Era um sinal de que as coisas estavam mudando, que ela estava começando a confiar em mim novamente. Eu sabia que seria um processo lento, que exigiria mais do que apenas palavras, mas o fato de que ela estava me dando essa oportunidade era tudo o que eu precisava.Ajeitei a sala rapidamente, me certificando de que tudo estava em ordem. Queria que Sofia se sentisse à vontade, como se nunca tivesse se afastado de mim. Eu sentia tanto a falta dela quanto sentia a falta de Clara, e essa era a minha chance de mostrar que eu estava presente, que tudo poderia ser diferente daqui em diante.Assim que ouvi o som do carro estacionando na entrada, meu coração disparou. Fui até a porta, e lá estava Clara, segurando a mão de Sofia. O sorriso de Sofia ao me ver iluminou meu mundo.— Papai! — Ela correu na minha direção antes mesmo que Clara pudesse reagir, e eu
HENRIQUECheguei em casa mais tarde naquela noite, o som do eco de meus passos preenchendo o silêncio vazio da casa. O lugar parecia enorme sem Clara e Sofia. O silêncio pesava, me lembrando de que, apesar dos pequenos progressos que estávamos fazendo, ainda havia um longo caminho pela frente.Deitei no sofá, exausto, mas minha mente não parava. Tito não deixaria isso quieto. Ele queria falar, e eu sabia que, se não o enfrentasse de alguma forma, ele continuaria tentando me puxar de volta. Apagar a mensagem não seria suficiente.Peguei o telefone de novo, encarando a tela por um longo momento. Poderia ignorar Tito para sempre? Talvez não. Mas cada contato com ele era um risco. Eu sabia que qualquer interação com o submundo colocava tudo em jogo – minha relação com Clara, a segurança de Sofia, e a promessa que fiz a mim mesmo de sair dessa vida.Suspirei, jogando o telefone de lado e me sentindo preso em um dilema. Precisava ser forte por Clara e Sofia. Elas eram a única coisa que impo
CLARAQuando Henrique me contou sobre Tito, o medo que eu tentava controlar desde o começo voltou com força total. Eu sabia que o submundo nunca soltava ninguém completamente. Não importava o quanto ele tentasse se afastar, as sombras do passado estavam sempre à espreita, esperando por uma oportunidade para puxá-lo de volta.Naquela noite, depois que Henrique foi embora, fiquei deitada na cama, encarando o teto. O que eu faria se tudo isso voltasse? E, mais importante, o que eu faria se Sofia estivesse em perigo novamente?Henrique estava tentando, e eu podia ver isso. Mas seria possível fugir completamente do submundo? Esse era o pensamento que me assombrava.Minha mãe percebeu meu silêncio na manhã seguinte, enquanto tomávamos café.— Você está pensando no Henrique, não é? — Ela perguntou com seu tom suave, mas direto.Assenti, mexendo distraidamente a colher na xícara de café.— Ele está fazendo tudo certo, mãe. Está longe do submundo, trabalhando, se dedicando a mim e a Sofia. Mas
HENRIQUEO armazém ficou em silêncio quando Tito saiu, mas eu sabia que o perigo estava longe de ter acabado. As palavras dele ainda ecoavam na minha mente: "Isso ainda não acabou, nem de longe."Meu coração estava acelerado, a tensão correndo pelo meu corpo. Eu sabia que encarar Tito era um risco, mas precisava fazer isso. Precisava deixar claro que minha vida no submundo havia acabado, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que ele não aceitaria isso facilmente. Tito não era o tipo de homem que perdoava traições ou recusas.Saí do armazém lentamente, olhando em volta para me certificar de que não estava sendo seguido. O submundo era traiçoeiro, e qualquer passo em falso poderia me custar tudo. Mas, ao mesmo tempo, eu sentia um alívio. Eu fiz o que tinha que fazer. Disse a Tito que estava fora, e agora precisava focar em manter Clara e Sofia seguras.Enquanto dirigia de volta para casa, meu telefone vibrou. Era Clara.Respirei fundo antes de atender, sabendo que ela estava esperando por notíc
HENRIQUENos dias que seguiram ao meu último encontro com Tito, a tensão só aumentou. Eu sabia que ele estava planejando algo, mas o que exatamente, eu não conseguia prever. Tito nunca fazia ameaças vazias, e a maneira como ele me provocava, enviando mensagens e jogando com o medo, era parte de sua estratégia. Ele queria que eu me sentisse encurralado.Naquela manhã, saí para trabalhar como de costume, tentando manter o foco. Eduardo percebeu que algo estava me preocupando, mas não fez perguntas. Ele sabia de onde eu vinha, sabia que o submundo era uma sombra que me seguia, mesmo quando eu estava tentando me livrar dela.À tarde, quando terminei meu expediente, peguei o celular e vi mais uma mensagem de Tito. Dessa vez, era diferente.Espero que esteja aproveitando esses dias com sua família, Henrique. Mas se eu fosse você, tomaria cuidado com onde elas estão. Nunca se sabe o que pode acontecer, certo?Meu coração gelou. Isso não era só uma ameaça velada. Ele estava me avisando de que
CLARAOs dias que se seguiram ao aviso de Henrique foram os mais longos da minha vida. Cada som, cada movimento na rua me deixava alerta. Tito era uma sombra que não conseguíamos afastar, e o medo de que algo acontecesse com Sofia estava sempre presente, sussurrando em minha mente.Minha mãe tentou me acalmar, dizendo que estávamos seguras em sua casa, mas eu sabia que o submundo sempre encontrava um jeito. Eu não podia arriscar.Olhei para Sofia brincando na sala com seu ursinho favorito, tão despreocupada, tão alheia ao perigo que nos rondava. Eu precisava protegê-la. E, com o passar dos dias, comecei a aceitar a ideia de que talvez a única forma de garantir a segurança dela fosse me afastar de Henrique. Eu não queria isso. Eu amava Henrique. Mas o amor não podia ser mais forte que a necessidade de segurança.Numa manhã fria, sentei-me com minha mãe à mesa da cozinha, tentando organizar meus pensamentos.— Eu acho que preciso ir embora, mãe. — Minha voz saiu baixa, mas decidida. As