CLARAOs dias que se seguiram ao aviso de Henrique foram os mais longos da minha vida. Cada som, cada movimento na rua me deixava alerta. Tito era uma sombra que não conseguíamos afastar, e o medo de que algo acontecesse com Sofia estava sempre presente, sussurrando em minha mente.Minha mãe tentou me acalmar, dizendo que estávamos seguras em sua casa, mas eu sabia que o submundo sempre encontrava um jeito. Eu não podia arriscar.Olhei para Sofia brincando na sala com seu ursinho favorito, tão despreocupada, tão alheia ao perigo que nos rondava. Eu precisava protegê-la. E, com o passar dos dias, comecei a aceitar a ideia de que talvez a única forma de garantir a segurança dela fosse me afastar de Henrique. Eu não queria isso. Eu amava Henrique. Mas o amor não podia ser mais forte que a necessidade de segurança.Numa manhã fria, sentei-me com minha mãe à mesa da cozinha, tentando organizar meus pensamentos.— Eu acho que preciso ir embora, mãe. — Minha voz saiu baixa, mas decidida. As
HENRIQUEA noite estava silenciosa, mas minha mente estava em caos. Eu sabia que Tito estava planejando algo grande. As ameaças estavam ficando mais diretas, e Eduardo havia deixado claro que talvez a única solução fosse tirá-lo do caminho de uma vez por todas. Eu nunca quis voltar para esse tipo de decisão. Mas agora, era a única maneira de garantir que Clara e Sofia ficassem seguras.Sentei no sofá, encarando o telefone, sabendo que estava prestes a fazer algo que mudaria tudo. Se eu decidisse confrontar Tito de forma definitiva, não haveria volta. E, no fundo, eu sabia que isso não acabaria sem sangue. Ele me puxaria de volta para o submundo, e as consequências seriam imprevisíveis.Mas Clara e Sofia... Elas eram tudo o que eu tinha.Peguei o telefone e disquei o número de Tito. Minha mão tremia levemente enquanto aguardava que ele atendesse. Quando a voz fria de Tito finalmente veio do outro lado, um arrepio percorreu minha espinha.— Henrique. Finalmente resolveu voltar ao jogo?
CLARAA mensagem de Henrique dizendo que tinha resolvido as coisas com Tito deveria ter me trazido alívio, mas ao invés disso, me deixou mais ansiosa. Eu sabia que Tito era implacável, e por mais que Henrique acreditasse que isso havia acabado, algo dentro de mim me dizia que essa não seria a última vez que ouviríamos falar dele.Passei a noite em claro, assistindo Sofia dormir, lutando com meus pensamentos. Henrique estava tentando, eu sabia disso. Ele enfrentou Tito por nós, mas até quando ele conseguiria manter essa proteção? Será que o submundo realmente nos deixaria em paz?Minha mãe entrou no quarto no meio da noite, provavelmente percebendo minha inquietação.— Você não consegue dormir, né? — Ela perguntou, puxando uma cadeira ao lado da cama.Suspirei, sem conseguir desviar o olhar de Sofia.— Não, mãe. — Minha voz saiu cansada. — Henrique disse que está resolvido, que ele enfrentou Tito, mas... eu ainda sinto que algo está errado. Como se não fosse o fim de tudo.Minha mãe as
HENRIQUEA dor da despedida de Clara ainda estava cravada em meu peito. Ela estava indo embora para proteger Sofia, e eu entendia isso, mas nada poderia apagar o vazio que isso deixava em mim. Eu não consegui dormir naquela noite, a casa parecia mais silenciosa e vazia do que nunca. Era como se o ar estivesse carregado de algo sombrio, algo que eu não conseguia afastar.Sentei no sofá, encarando a tela do celular. Nenhuma mensagem de Clara. E o pior de tudo: nenhum sinal de Tito. Essa era a parte que mais me preocupava. Tito não era do tipo que recuava facilmente. Ele estava planejando algo. Eu podia sentir isso.Foi só então que meu telefone vibrou.Era Eduardo.— Henrique, tem algo acontecendo. — A voz dele estava urgente, quase frenética, o que não era comum para Eduardo. — Ouvi alguns rumores no submundo... Parece que Tito está planejando algo grande. Ele não vai te deixar sair dessa sem uma última jogada.Meu coração disparou.— O que você sabe, Eduardo? — perguntei, levantando-m
HENRIQUECom Clara e Sofia em meus braços, senti um alívio momentâneo, mas a ameaça de Tito ainda pairava sobre nós como uma nuvem negra prestes a desabar. Eu sabia que aquilo não tinha acabado. Tito não era do tipo que aceitava a derrota facilmente, e a última coisa que ele faria seria recuar sem causar mais destruição.Meus braços ainda tremiam de adrenalina quando ajudei Clara a colocar Sofia no carro. Ela estava assustada, mas segura, pelo menos por enquanto.Letícia, que também estava visivelmente abalada, olhou para mim, com os olhos arregalados.— Você acha que Tito vai desistir depois disso? — ela perguntou, sua voz baixa e incerta.Eu balancei a cabeça. Eu sabia que não. Ele não iria parar até me destruir, e agora, estava claro que ele usaria minha família para isso.— Não. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Ele vai tentar de novo, Letícia. E da próxima vez, ele não vai deixar margem para erro.Clara me encarou, seus olhos cheios de medo e incerteza, mas também
HENRIQUEO armazém estava carregado de tensão. O som de meus passos ecoava pelas paredes escuras e sujas, enquanto meus olhos estavam fixos em Tito. O olhar frio e calculista dele me dizia que ele acreditava que já tinha vencido. Mas ele não sabia até onde eu estava disposto a ir.Os dois capangas de Tito avançaram primeiro, cercando-me como predadores à espreita de sua presa. Eu sabia que eles não hesitariam em me derrubar se Tito desse o comando. Mas, desta vez, eu estava pronto. Pronto para lutar por minha família. Pronto para lutar por tudo o que ainda restava de bom na minha vida.Segurei a arma com firmeza, meus músculos tensos e a respiração controlada. Não era a primeira vez que me via numa situação assim. Mas agora, eu tinha mais a perder do que jamais tive antes.Tito observava, como sempre, esperando que eu vacilasse. Ele acreditava que me conhecia, que sabia exatamente o que eu faria.— Você acha que pode sair dessa, Henrique? — Tito disse, sua voz carregada de desprezo. —
CLARAQuando Henrique finalmente voltou, senti como se um peso enorme tivesse sido tirado de mim. Ele estava aqui. Vivo. Seguro. O medo que me consumia desde que ele partiu começou a desaparecer, mas o alívio total não veio de imediato. Havia tantas cicatrizes, tantas emoções não resolvidas.Eu o vi sair do carro e, por um momento, tudo ao meu redor pareceu desacelerar. Era ele, o homem que eu amava, o homem que havia arriscado tudo por nós.Quando ele se aproximou, fui direto para seus braços. Eu precisava sentir que ele realmente estava ali, que essa não era mais uma situação de vida ou morte. Eu o abracei com força, e ele me segurou da mesma maneira.— Você voltou. — minha voz saiu baixa, quase como um sussurro.— Eu disse que voltaria. — Ele respondeu, sua voz cansada, mas firme.Olhei em seus olhos e vi o cansaço, a tensão que ainda estava ali. Ele tinha feito o que precisava ser feito, mas não sem pagar o preço. Eu sabia que o peso de tudo que ele viveu ainda estava sobre seus o
CLARAO alívio de ter Henrique de volta, são e salvo, era indescritível, mas agora começava uma nova fase. Não era mais a ameaça física de Tito que nos rondava, mas as consequências emocionais de tudo o que enfrentamos. O peso da tensão das últimas semanas ainda estava em cada detalhe do nosso dia a dia.Sofia parecia a mais despreocupada de todos. Crianças têm essa incrível capacidade de superar traumas sem nem mesmo perceber, contanto que estejam cercadas de amor. Ela corria pela casa como sempre, feliz por ter seu pai de volta. A casa de Letícia já não parecia o lugar seguro que era antes; agora era um refúgio temporário, esperando o próximo passo.— O que vem agora, Henrique? — perguntei numa manhã tranquila, enquanto ele preparava o café na cozinha. O cheiro de café recém-coado enchia o ambiente, trazendo um breve conforto.Ele me olhou, seus olhos um pouco mais suaves do que nos dias anteriores, mas ainda carregados de cansaço.— Precisamos de uma nova vida, Clara. — Ele disse,