CLARAOs dias em casa com Sofia estavam começando a se estabilizar. Cada manhã era um novo começo, cheio de pequenos desafios e momentos doces. Ver Henrique com Sofia, balançando-a para dormir ou cantarolando baixinho para ela, fazia meu coração se derreter. Mesmo com o cansaço, estávamos encontrando um ritmo, nos tornando cada vez mais uma família.Naquela tarde, Henrique havia saído para resolver alguns problemas do trabalho. Era uma rotina que ele estava retomando lentamente, sempre preocupado em não me deixar sobrecarregada. Eu estava aproveitando o silêncio do momento para descansar enquanto Sofia tirava uma soneca, quando o som do interfone me tirou dos meus devaneios.Atendi, pensando que talvez fosse alguma entrega, mas a voz do outro lado me fez gelar por dentro.— Oi, é a Marcela. Preciso falar com o Henrique. Ele está?Marcela. O nome dela ressoou na minha cabeça como um alarme. Eu já tinha ouvido falar dela, claro. Henrique havia mencionado que eles tiveram um relacionamen
CLARAMarcela estava determinada a invadir minha vida, e desde o momento em que ela cruzou a porta da nossa casa, senti que algo muito maior estava em jogo. Era como se ela tivesse planejado tudo — o jeito que falava, o tom cheio de confiança, como se eu fosse apenas um obstáculo temporário. Eu tentei manter a calma, mas dentro de mim, as palavras dela continuavam ecoando, me corroendo com dúvidas e medos.Depois que ela finalmente foi embora, deixando no ar a promessa de voltar, eu fiquei em pé, no meio da sala, sentindo uma mistura de raiva e insegurança. Como ela ousava aparecer assim, como se tivesse algum direito de estar aqui? E o pior era que, mesmo com tudo o que Henrique me dizia, eu não conseguia afastar o medo de que Marcela pudesse realmente afetar o que tínhamos.Quando Henrique chegou em casa mais tarde, o alívio que normalmente sentia ao vê-lo foi substituído por uma onda de emoções conflitantes. Eu sabia que precisava contar a ele o que havia acontecido, mas também não
CLARAOs dias que se seguiram à última visita de Marcela foram estranhos. Havia um peso no ar, uma tensão que parecia sempre presente, mesmo quando as coisas estavam calmas. Eu tentava manter a mente focada em Sofia e em nossa rotina, mas as palavras de Marcela ainda ecoavam na minha cabeça, como se ela tivesse envenenado cada pensamento com suas insinuações.Henrique fazia o possível para me tranquilizar. Ele estava mais atencioso do que nunca, sempre ao meu lado, sempre me lembrando de que nada do que Marcela dizia tinha importância. Mas mesmo com todo o apoio dele, não consegui me livrar da insegurança que ela plantou em mim.Uma tarde, enquanto eu balançava Sofia no colo tentando acalmá-la, Henrique chegou em casa mais cedo do que o normal. Ele parecia cansado, mas ainda tinha aquele sorriso suave que sempre me tranquilizava.— Oi, amor, como foi o dia? — ele perguntou, se aproximando para beijar minha testa e, em seguida, acariciar a cabecinha de Sofia.— Foi bom, — murmurei, ten
CLARAAquela noite foi a mais longa da minha vida. Eu mal consegui dormir. A cada som, a cada ruído, meu corpo todo ficava tenso, pronta para correr até o berço de Sofia e garantir que ela ainda estivesse ali. Marcela não saiu da minha mente nem por um segundo. O que ela queria dizer com aquelas ameaças veladas? O que ela estava realmente planejando?Henrique também estava preocupado. Eu podia ver isso no jeito que ele me observava, nos olhares rápidos que lançava na direção do berço de Sofia, como se quisesse garantir que ela estivesse sempre segura. Mesmo com todas as portas trancadas e as janelas fechadas, eu não conseguia me livrar da sensação de que Marcela estava nos observando, esperando o momento certo para agir.Na manhã seguinte, quando acordei, Henrique já estava se preparando para sair. Ele estava resoluto em ir à polícia para relatar o comportamento de Marcela. Mas, no fundo, eu sabia que isso não seria o suficiente para deter uma mulher como ela.— Eu vou resolver isso,
CLARASe tem uma coisa que aprendi nos últimos anos, é que a vida nem sempre segue o roteiro que a gente escreve na cabeça. E olha que eu sou boa em escrever roteiros — pelo menos na minha imaginação. Aos 23 anos, minha vida deveria estar perfeita. Eu tinha um emprego decente, amigos incríveis, e um namorado com quem dividi três anos da minha vida. Tudo parecia estar no lugar. Mas, ultimamente, tenho sentido que falta alguma coisa.Sabe aquela sensação de que você está esquecendo alguma coisa importante? Tipo, você sai de casa, mas não tem certeza se trancou a porta? Pois é, minha vida é assim, só que eu não faço ideia do que estou esquecendo. E isso me deixa louca!Hoje de manhã, enquanto tomava meu café, essa sensação bateu forte. A cozinha estava quieta, exceto pelo som do café sendo derramado na caneca. Olhei para as fotos de viagens que eu e Ana, minha melhor amiga e companheira de apartamento, tínhamos pendurado nas paredes. Paris, Barcelona, Rio de Janeiro... Lugares incríveis,
LUCASTrair é uma palavra forte. Eu sei. Mas, às vezes, as coisas saem do controle antes que a gente perceba. Não estou tentando justificar o que fiz, mas, sério, a vida é complicada pra caramba.Quando eu comecei a namorar a Clara, tudo era perfeito. Ela era incrível, ainda é, mas com o tempo, algo mudou. Não sei dizer exatamente o quê. Só sei que a gente foi se afastando aos poucos, e eu comecei a me sentir preso, como se estivesse numa rotina sem saída. As coisas que antes eram legais começaram a parecer... entediantes. Eu sei que isso parece horrível, mas é a verdade. E a verdade, às vezes, dói.Eu nunca quis machucar a Clara. Isso eu digo de coração. Mas aí apareceu a Aline... Cara, a Aline é diferente. Ela me faz sentir vivo de novo, sabe? É como se todo aquele brilho que eu sentia no começo com a Clara tivesse voltado, só que dessa vez com a Aline. Tudo aconteceu de forma tão rápida que eu mal consegui perceber. Quando me dei conta, já estava completamente envolvido. E então pe
CLARAVoltar pra casa depois de uma noite como essa é como ser atropelada por um caminhão e ainda ter que levantar sozinha. Não que eu saiba como é ser atropelada, mas acho que essa é a melhor comparação que consigo fazer no momento.Eu saí correndo daquele café sem nem saber para onde estava indo. Tudo que eu queria era fugir. Fugir do Lucas, da Aline, de mim mesma. A única coisa que meu cérebro conseguia processar era o som das palavras dele ecoando na minha cabeça: “Eu conheci alguém… é a Aline.”A Aline. A minha melhor amiga, a pessoa que eu confiava de olhos fechados, que esteve ao meu lado em todos os momentos importantes da minha vida. E agora, ela estava ao lado do Lucas, do meu namorado. Não, ex-namorado. O que me restava era tentar juntar os cacos de mim mesma e descobrir o que fazer com essa bagunça toda.Quando finalmente cheguei em casa, Ana estava na sala, assistindo a uma série qualquer. Ela olhou pra mim e, no mesmo instante, soube que algo estava terrivelmente errado.
CLARALevantar da cama depois de tudo o que aconteceu parecia um daqueles desafios impossíveis, tipo escalar o Everest sem oxigênio. Eu não sou exatamente uma expert em escaladas, mas se fosse apostar, diria que, emocionalmente, estava bem perto disso. Mesmo assim, o mundo não para, e eu não podia ficar parada também.Ana, sempre ela, estava ali para me dar um empurrãozinho. Literalmente.— Levanta, Clara. Você vai se atrasar, de novo. — Ela disse, puxando as cobertas de cima de mim como se estivesse tentando tirar um Band-Aid de uma ferida aberta.— Eu não quero. — Minha voz saiu abafada pela almofada que eu tinha enfiado na cara, na tentativa de escapar da realidade.— O que você quer é irrelevante agora. O que você precisa é sair dessa cama e começar a viver sua vida.— Ana, minha vida desmoronou, lembra? — retruquei, sem fazer nenhum esforço para me mexer.— Sua vida não desmoronou. Você só perdeu um peso morto, que, por acaso, vinha em forma de namorado infiel. Agora, levanta e v