CLARASair do hospital com Sofia nos braços foi um dos momentos mais surreais da minha vida. Tudo parecia ao mesmo tempo novo e assustador. Eu sabia que estávamos prontos para esse momento, mas a realidade de levar nossa filha para casa pela primeira vez era algo que mexia profundamente comigo. O simples ato de colocar Sofia no assento do carro, tão pequena e delicada, fez meu coração acelerar de ansiedade.Henrique estava ao meu lado, atento a cada detalhe, ajustando o cinto de segurança com cuidado, me observando para ter certeza de que eu estava confortável. Eu sabia que ele também estava nervoso, embora sua expressão calma não deixasse transparecer muito.— Você está pronta para isso? — ele perguntou suavemente, se virando para mim enquanto fechava a porta do carro.Eu respirei fundo, observando Sofia adormecida no assento, suas pequenas mãozinhas relaxadas.— Pronta como nunca estive antes, — respondi, com um sorriso misto de ansiedade e empolgação.Henrique sorriu de volta, e en
CLARAOs dias em casa com Sofia estavam começando a se estabilizar. Cada manhã era um novo começo, cheio de pequenos desafios e momentos doces. Ver Henrique com Sofia, balançando-a para dormir ou cantarolando baixinho para ela, fazia meu coração se derreter. Mesmo com o cansaço, estávamos encontrando um ritmo, nos tornando cada vez mais uma família.Naquela tarde, Henrique havia saído para resolver alguns problemas do trabalho. Era uma rotina que ele estava retomando lentamente, sempre preocupado em não me deixar sobrecarregada. Eu estava aproveitando o silêncio do momento para descansar enquanto Sofia tirava uma soneca, quando o som do interfone me tirou dos meus devaneios.Atendi, pensando que talvez fosse alguma entrega, mas a voz do outro lado me fez gelar por dentro.— Oi, é a Marcela. Preciso falar com o Henrique. Ele está?Marcela. O nome dela ressoou na minha cabeça como um alarme. Eu já tinha ouvido falar dela, claro. Henrique havia mencionado que eles tiveram um relacionamen
CLARAMarcela estava determinada a invadir minha vida, e desde o momento em que ela cruzou a porta da nossa casa, senti que algo muito maior estava em jogo. Era como se ela tivesse planejado tudo — o jeito que falava, o tom cheio de confiança, como se eu fosse apenas um obstáculo temporário. Eu tentei manter a calma, mas dentro de mim, as palavras dela continuavam ecoando, me corroendo com dúvidas e medos.Depois que ela finalmente foi embora, deixando no ar a promessa de voltar, eu fiquei em pé, no meio da sala, sentindo uma mistura de raiva e insegurança. Como ela ousava aparecer assim, como se tivesse algum direito de estar aqui? E o pior era que, mesmo com tudo o que Henrique me dizia, eu não conseguia afastar o medo de que Marcela pudesse realmente afetar o que tínhamos.Quando Henrique chegou em casa mais tarde, o alívio que normalmente sentia ao vê-lo foi substituído por uma onda de emoções conflitantes. Eu sabia que precisava contar a ele o que havia acontecido, mas também não
CLARAOs dias que se seguiram à última visita de Marcela foram estranhos. Havia um peso no ar, uma tensão que parecia sempre presente, mesmo quando as coisas estavam calmas. Eu tentava manter a mente focada em Sofia e em nossa rotina, mas as palavras de Marcela ainda ecoavam na minha cabeça, como se ela tivesse envenenado cada pensamento com suas insinuações.Henrique fazia o possível para me tranquilizar. Ele estava mais atencioso do que nunca, sempre ao meu lado, sempre me lembrando de que nada do que Marcela dizia tinha importância. Mas mesmo com todo o apoio dele, não consegui me livrar da insegurança que ela plantou em mim.Uma tarde, enquanto eu balançava Sofia no colo tentando acalmá-la, Henrique chegou em casa mais cedo do que o normal. Ele parecia cansado, mas ainda tinha aquele sorriso suave que sempre me tranquilizava.— Oi, amor, como foi o dia? — ele perguntou, se aproximando para beijar minha testa e, em seguida, acariciar a cabecinha de Sofia.— Foi bom, — murmurei, ten
CLARAAquela noite foi a mais longa da minha vida. Eu mal consegui dormir. A cada som, a cada ruído, meu corpo todo ficava tenso, pronta para correr até o berço de Sofia e garantir que ela ainda estivesse ali. Marcela não saiu da minha mente nem por um segundo. O que ela queria dizer com aquelas ameaças veladas? O que ela estava realmente planejando?Henrique também estava preocupado. Eu podia ver isso no jeito que ele me observava, nos olhares rápidos que lançava na direção do berço de Sofia, como se quisesse garantir que ela estivesse sempre segura. Mesmo com todas as portas trancadas e as janelas fechadas, eu não conseguia me livrar da sensação de que Marcela estava nos observando, esperando o momento certo para agir.Na manhã seguinte, quando acordei, Henrique já estava se preparando para sair. Ele estava resoluto em ir à polícia para relatar o comportamento de Marcela. Mas, no fundo, eu sabia que isso não seria o suficiente para deter uma mulher como ela.— Eu vou resolver isso,
Capítulo 110CLARAA noite parecia interminável. Cada segundo que passava sem notícias de Sofia era uma tortura, e o medo de que algo pior pudesse acontecer me paralisava. Eu me sentia completamente impotente, esperando desesperadamente que Henrique conseguisse resolver tudo. Cada minuto era uma eternidade. Eu tentava me convencer de que tudo acabaria bem, mas a sensação de perda e desespero me consumia.Minhas mãos tremiam enquanto eu apertava o celular, esperando qualquer ligação, qualquer notícia. Henrique havia partido com a polícia, mas o silêncio desde que ele saiu de casa estava me sufocando. Era como se a casa inteira estivesse envolta em uma escuridão palpável, e a ausência de Sofia deixava um vazio que nada conseguia preencher.O relógio parecia brincar comigo, o tempo se arrastando enquanto eu repetia em minha mente que, de alguma forma, tudo ficaria bem. Mas a verdade é que nada estava bem. Minha filha estava nas mãos de uma mulher que eu sabia ser capaz de qualquer coisa,
CLARAAs semanas que seguiram ao sequestro de Sofia foram difíceis. Embora Marcela estivesse longe, presa e finalmente incapaz de nos machucar, as marcas que ela deixou em mim eram profundas. A simples ideia de que alguém, especialmente ela, pudesse ter levado minha filha para longe me aterrorizava. Eu ainda acordava no meio da noite, assustada, correndo até o berço de Sofia para ter certeza de que ela estava ali, segura e protegida.Henrique tentava me tranquilizar sempre que podia. Ele sabia que o que Marcela tinha feito havia deixado uma ferida aberta em mim, e fazia questão de estar presente em cada momento. Mesmo assim, a sombra do que vivemos parecia nos acompanhar, como um lembrete constante de que o caos poderia nos alcançar a qualquer momento.Mas aos poucos, começamos a voltar à nossa rotina. A vida com Sofia, o som do riso dela, os momentos de carinho em família... tudo isso ajudava a me lembrar de que o pior já havia passado. Ela estava segura agora. E era isso que importa
CLARAAquela manhã era diferente. Havia uma tranquilidade no ar que não sentia há semanas, e pela primeira vez em muito tempo, acordei sem aquele peso esmagador no peito. O sol entrava pela janela do quarto, aquecendo o espaço suavemente, e ao meu lado, Henrique ainda dormia, sua respiração profunda e relaxada. A sensação de paz ao vê-lo ali, ao meu lado, era quase inacreditável depois de tudo o que passamos.Sofia também dormia no berço ao lado da cama, seu sono tranquilo e sereno me trazendo o alívio que eu tanto buscava. O simples fato de vê-la ali, segura e protegida, fazia com que todos os medos e ansiedades começassem a se dissipar lentamente.Levantei-me com cuidado para não acordar Henrique e caminhei até o berço, observando minha filha. Ela parecia tão frágil, tão perfeita, e era difícil acreditar que alguém havia tentado tirá-la de mim. O trauma do sequestro ainda estava lá, em algum lugar dentro de mim, mas eu sabia que o tempo iria curar essas feridas. Sofia estava de volt