CLARAO caminho até o hospital parecia tanto uma eternidade quanto um piscar de olhos. Cada movimento do carro me fazia sentir mais intensamente as contrações que vinham em ondas, me lembrando de que o momento estava finalmente aqui. Henrique dirigia em silêncio, mas eu podia ver a tensão em seu rosto. Ele tentava se manter calmo, mas seus olhos, sempre cheios de serenidade, estavam agora focados, atentos a cada detalhe.Chegamos ao hospital com rapidez, e assim que estacionamos, Henrique correu para me ajudar a sair do carro. O peso do momento era tangível — cada passo que dávamos em direção à entrada parecia carregar a certeza de que, em pouco tempo, nossas vidas mudariam para sempre.— Clara, vai dar tudo certo, — Henrique sussurrou, segurando minha mão enquanto eu respirava fundo entre as contrações. — Estamos tão perto de conhecer nosso bebê.Assenti, tentando controlar a respiração como havíamos aprendido nas aulas de parto. A dor era intensa, mas o pensamento de que logo veríam
CLARAA primeira noite com Sofia foi um misto de cansaço e maravilha. Eu nunca imaginei que pudesse me sentir tão exausta e, ao mesmo tempo, tão completa. Segurar nossa filha nos braços, olhar para o rostinho dela enquanto ela dormia, fazia tudo valer a pena. Cada dor, cada momento de nervosismo, tudo se dissipava ao ver a paz em seu rosto.Henrique estava ao meu lado, e mesmo que seus olhos denunciassem o cansaço, ele não parava de sorrir. Ele se movimentava de um lado para o outro, ajustando a coberta de Sofia, certificando-se de que eu estava confortável, e sempre me perguntando se precisava de algo.— Você está bem? — ele perguntou pela milésima vez, inclinando-se para olhar para mim com aquele olhar preocupado, mas cheio de amor.Eu ri, mesmo que meu corpo estivesse exausto.— Sim, Henrique, estou bem, — respondi suavemente, sorrindo para ele. — Só estou... completamente encantada com ela.Henrique se aproximou da cama e olhou para Sofia, que dormia pacificamente em meus braços.
CLARASair do hospital com Sofia nos braços foi um dos momentos mais surreais da minha vida. Tudo parecia ao mesmo tempo novo e assustador. Eu sabia que estávamos prontos para esse momento, mas a realidade de levar nossa filha para casa pela primeira vez era algo que mexia profundamente comigo. O simples ato de colocar Sofia no assento do carro, tão pequena e delicada, fez meu coração acelerar de ansiedade.Henrique estava ao meu lado, atento a cada detalhe, ajustando o cinto de segurança com cuidado, me observando para ter certeza de que eu estava confortável. Eu sabia que ele também estava nervoso, embora sua expressão calma não deixasse transparecer muito.— Você está pronta para isso? — ele perguntou suavemente, se virando para mim enquanto fechava a porta do carro.Eu respirei fundo, observando Sofia adormecida no assento, suas pequenas mãozinhas relaxadas.— Pronta como nunca estive antes, — respondi, com um sorriso misto de ansiedade e empolgação.Henrique sorriu de volta, e en
CLARAOs dias em casa com Sofia estavam começando a se estabilizar. Cada manhã era um novo começo, cheio de pequenos desafios e momentos doces. Ver Henrique com Sofia, balançando-a para dormir ou cantarolando baixinho para ela, fazia meu coração se derreter. Mesmo com o cansaço, estávamos encontrando um ritmo, nos tornando cada vez mais uma família.Naquela tarde, Henrique havia saído para resolver alguns problemas do trabalho. Era uma rotina que ele estava retomando lentamente, sempre preocupado em não me deixar sobrecarregada. Eu estava aproveitando o silêncio do momento para descansar enquanto Sofia tirava uma soneca, quando o som do interfone me tirou dos meus devaneios.Atendi, pensando que talvez fosse alguma entrega, mas a voz do outro lado me fez gelar por dentro.— Oi, é a Marcela. Preciso falar com o Henrique. Ele está?Marcela. O nome dela ressoou na minha cabeça como um alarme. Eu já tinha ouvido falar dela, claro. Henrique havia mencionado que eles tiveram um relacionamen
CLARAMarcela estava determinada a invadir minha vida, e desde o momento em que ela cruzou a porta da nossa casa, senti que algo muito maior estava em jogo. Era como se ela tivesse planejado tudo — o jeito que falava, o tom cheio de confiança, como se eu fosse apenas um obstáculo temporário. Eu tentei manter a calma, mas dentro de mim, as palavras dela continuavam ecoando, me corroendo com dúvidas e medos.Depois que ela finalmente foi embora, deixando no ar a promessa de voltar, eu fiquei em pé, no meio da sala, sentindo uma mistura de raiva e insegurança. Como ela ousava aparecer assim, como se tivesse algum direito de estar aqui? E o pior era que, mesmo com tudo o que Henrique me dizia, eu não conseguia afastar o medo de que Marcela pudesse realmente afetar o que tínhamos.Quando Henrique chegou em casa mais tarde, o alívio que normalmente sentia ao vê-lo foi substituído por uma onda de emoções conflitantes. Eu sabia que precisava contar a ele o que havia acontecido, mas também não
CLARAOs dias que se seguiram à última visita de Marcela foram estranhos. Havia um peso no ar, uma tensão que parecia sempre presente, mesmo quando as coisas estavam calmas. Eu tentava manter a mente focada em Sofia e em nossa rotina, mas as palavras de Marcela ainda ecoavam na minha cabeça, como se ela tivesse envenenado cada pensamento com suas insinuações.Henrique fazia o possível para me tranquilizar. Ele estava mais atencioso do que nunca, sempre ao meu lado, sempre me lembrando de que nada do que Marcela dizia tinha importância. Mas mesmo com todo o apoio dele, não consegui me livrar da insegurança que ela plantou em mim.Uma tarde, enquanto eu balançava Sofia no colo tentando acalmá-la, Henrique chegou em casa mais cedo do que o normal. Ele parecia cansado, mas ainda tinha aquele sorriso suave que sempre me tranquilizava.— Oi, amor, como foi o dia? — ele perguntou, se aproximando para beijar minha testa e, em seguida, acariciar a cabecinha de Sofia.— Foi bom, — murmurei, ten
CLARAAquela noite foi a mais longa da minha vida. Eu mal consegui dormir. A cada som, a cada ruído, meu corpo todo ficava tenso, pronta para correr até o berço de Sofia e garantir que ela ainda estivesse ali. Marcela não saiu da minha mente nem por um segundo. O que ela queria dizer com aquelas ameaças veladas? O que ela estava realmente planejando?Henrique também estava preocupado. Eu podia ver isso no jeito que ele me observava, nos olhares rápidos que lançava na direção do berço de Sofia, como se quisesse garantir que ela estivesse sempre segura. Mesmo com todas as portas trancadas e as janelas fechadas, eu não conseguia me livrar da sensação de que Marcela estava nos observando, esperando o momento certo para agir.Na manhã seguinte, quando acordei, Henrique já estava se preparando para sair. Ele estava resoluto em ir à polícia para relatar o comportamento de Marcela. Mas, no fundo, eu sabia que isso não seria o suficiente para deter uma mulher como ela.— Eu vou resolver isso,
Capítulo 110CLARAA noite parecia interminável. Cada segundo que passava sem notícias de Sofia era uma tortura, e o medo de que algo pior pudesse acontecer me paralisava. Eu me sentia completamente impotente, esperando desesperadamente que Henrique conseguisse resolver tudo. Cada minuto era uma eternidade. Eu tentava me convencer de que tudo acabaria bem, mas a sensação de perda e desespero me consumia.Minhas mãos tremiam enquanto eu apertava o celular, esperando qualquer ligação, qualquer notícia. Henrique havia partido com a polícia, mas o silêncio desde que ele saiu de casa estava me sufocando. Era como se a casa inteira estivesse envolta em uma escuridão palpável, e a ausência de Sofia deixava um vazio que nada conseguia preencher.O relógio parecia brincar comigo, o tempo se arrastando enquanto eu repetia em minha mente que, de alguma forma, tudo ficaria bem. Mas a verdade é que nada estava bem. Minha filha estava nas mãos de uma mulher que eu sabia ser capaz de qualquer coisa,