Valentina acordou antes do amanhecer, como sempre fazia, mas dessa vez o peso da culpa parecia maior. Sentia-se inquieta, como se estivesse carregando um segredo proibido. Toda vez que fechava os olhos, via o rosto de Gabriel, seus olhos intensos, e ouvia sua voz provocadora.
Ela tentou afastar esses pensamentos com a oração, mas as palavras pareciam vazias, como se algo dentro dela estivesse mudando. Ao sair de sua cela para ajudar nas tarefas matinais, encontrou a Madre Superiora no corredor.
"Valentina, está tudo bem?" perguntou a madre, com um olhar preocupado.
"Sim, madre. Apenas cansada," respondeu ela, evitando o olhar da superiora.
Mas a verdade era outra. Algo dentro dela estava diferente, e ela não sabia como lidar com isso.
Enquanto isso, Gabriel estava no café do hotel, olhando pela janela enquanto segurava uma xícara de café. Ele não conseguia tirar Valentina da cabeça. Havia algo nela que o desarmava, uma força que ele não conseguia compreender.
“Gabriel, você parece distraído,” comentou Felipe, sentando-se à mesa com ele.
“Estou bem,” respondeu Gabriel, mas sua mente estava longe. Ele lembrou-se de como Valentina o desafiara, da paixão em seus olhos quando tentava esconder algo.
“Você ainda está pensando naquela noviça, não é?” provocou Felipe.
Gabriel sorriu de lado, mas não respondeu. Porque a verdade era: sim, ele estava pensando nela.
Valentina precisou sair do convento para comprar suprimentos na cidade. Enquanto caminhava pelas ruas, sentiu-se estranhamente exposta. Cada passo parecia levá-la mais perto de algo inevitável. E foi então que o destino agiu novamente.
No final da rua, lá estava ele. Gabriel, encostado no carro, com as mãos nos bolsos e aquele sorriso que fazia seu coração bater mais rápido.
"Valentina," ele chamou, aproximando-se.
Ela parou, sentindo o calor subir pelo rosto.
"Você... de novo?""Eu poderia dizer o mesmo," disse ele, sorrindo. "Mas parece que o destino gosta de nos colocar no mesmo caminho."
Ela respirou fundo, tentando manter a compostura.
"Tenho tarefas a cumprir, Gabriel. Não tenho tempo para isso.""Isso?" ele perguntou, inclinando-se levemente. "E o que exatamente é 'isso'?"
Ela o encarou, sem saber como responder. Era como se ele pudesse ver através dela, como se soubesse exatamente o que estava sentindo.
Enquanto caminhavam lado a lado – porque Gabriel insistiu em acompanhá-la – a tensão entre eles crescia a cada segundo. Ele fazia perguntas sobre o convento, sobre sua vida, mas ela evitava responder diretamente.
"Você sempre foi assim?" ele perguntou de repente.
"Assim como?"
"Tão determinada a esconder quem realmente é."
Valentina parou, virando-se para ele com os olhos brilhando de raiva e algo mais, algo que ela não queria admitir.
"Eu não estou escondendo nada.""Está sim," disse ele, a voz suave, mas firme. "E isso te consome."
Ela abriu a boca para responder, mas não conseguiu. Porque, no fundo, sabia que ele tinha razão.
Mais tarde, quando finalmente chegou ao convento, Valentina sentiu uma onda de alívio e culpa ao mesmo tempo. Ela não podia continuar assim. Precisava se afastar de Gabriel, precisava voltar a se concentrar em sua fé.
Mas naquela noite, enquanto tentava dormir, seus pensamentos voltaram para ele. Para o jeito como ele a olhava, como se pudesse ver além das paredes que ela construíra.
Gabriel, por outro lado, estava sentado em seu quarto, olhando para a janela. Ele sempre foi um homem prático, focado em seus objetivos, mas Valentina o fazia questionar tudo.
"Por que ela?" ele sussurrou para si mesmo. "Por que não consigo tirá-la da cabeça?"
Ele sabia que deveria desistir, mas algo dentro dele o empurrava para continuar. Porque, pela primeira vez em muito tempo, ele sentia algo real.
Os encontros entre Gabriel e Valentina estavam longe de acabar, e cada vez que seus caminhos se cruzavam, a tensão entre eles aumentava. Mas até onde poderiam ir antes que tudo desmoronasse?A manhã no convento amanheceu mais silenciosa que o habitual, como se o vento soubesse que algo estava por vir. Valentina, ajoelhada na capela, mal podia concentrar-se em suas preces. Cada palavra das orações parecia pesar, carregada pela lembrança de Gabriel — seu sorriso confiante, o olhar que parecia enxergar além da superfície e a proximidade que fazia seu coração disparar de maneira assustadora.A tranquilidade foi quebrada pelo som suave dos passos da Madre Superiora entrando no recinto.— Valentina, preciso conversar com você — disse ela, com um tom de preocupação que fez o estômago da jovem noviça se apertar.Valentina levantou-se rapidamente, ajustando o véu.— Sim, Madre.As duas caminharam até o jardim do convento, onde a Madre Superiora parou ao lado de uma pequena fonte de pedra.— Você sabe quem é Gabriel Santos? — perguntou, seus olhos fixos nos de Valentina.Valentina hesitou. Mentir não era uma opção.— Ele veio até o convento há alguns dias. Tivemos... uma conversa b
O escritório de Gabriel estava mergulhado no caos. Papéis espalhados, arquivos abertos, e uma pilha de documentos antigos sobre a mesa. Ele segurava uma folha amarelada pelo tempo, os olhos brilhando com uma mistura de excitação e frustração.— Então é isso... — murmurou para si mesmo.O documento, encontrado nos arquivos históricos da cidade, mencionava uma cláusula que poderia preservar o convento como patrimônio religioso e cultural, protegendo-o de qualquer intervenção. Mas havia um porém: a cláusula só teria efeito com a assinatura da Madre Superiora, algo que Gabriel sabia ser quase impossível de conseguir.Ele tamborilou os dedos na mesa, pensativo. Havia uma possibilidade — Valentina. Desde o primeiro encontro, ela parecia ser a chave que poderia destrancar portas no convento, talvez até no coração da Madre Superiora. Mas usá-la para isso trazia complicações que ele não queria admitir.Gabriel recostou-se na cadeira, um sorriso aparecendo no canto dos lábios. Ele sabia como jo
O dia estava nublado, como se o céu refletisse a tempestade que se formava dentro de Valentina. Desde que Gabriel lhe entregara aquele documento, ela se sentia dividida. Ele era carismático, mas também perigosamente persuasivo. Sua mente sabia que deveria manter distância, mas seu coração — ou talvez algo mais profundo — insistia em desafiá-la.Valentina caminhava pelo jardim, perdida em seus pensamentos, quando ouviu uma voz familiar.— Pensativa de novo? — Gabriel estava encostado em uma árvore, observando-a com aquele sorriso que parecia tanto um convite quanto uma armadilha.Ela parou, surpresa, mas logo recuperou a compostura. — O que está fazendo aqui, Gabriel? Este é um lugar privado.Ele deu de ombros, caminhando em sua direção. — Não sabia que jardins eram restritos. Só vim dar uma volta.— Você nunca "só vem dar uma volta". Sempre tem um motivo — respondeu ela, cruzando os braços.Ele parou a poucos passos dela, as mãos nos bolsos, mas os olhos fixos nos dela. — Talvez o
A manhã era fresca, mas Valentina sentia o peso do dia antes mesmo de ele começar. O documento que Gabriel lhe entregara estava escondido no fundo de sua gaveta, mas ocupava espaço demais em seus pensamentos. Cada vez que tentava rezar, o rosto dele surgia em sua mente, junto com a pergunta que não conseguia evitar: "Por que ele mexe tanto comigo?"Enquanto realizava suas tarefas, os olhares das outras irmãs eram difíceis de ignorar. Cochichos seguiam cada passo seu, e Valentina sabia que algo havia mudado. Até mesmo Irmã Amélia, que sempre fora sua confidente, parecia inquieta.— Valentina, precisamos conversar — disse a Madre Superiora mais tarde, com um tom severo que não permitia recusas.Valentina assentiu e seguiu a líder até o escritório. Lá dentro, o ar era ainda mais pesado.— O que está acontecendo? — perguntou Valentina, mesmo sabendo que não gostava da resposta que estava por vir.A Madre Superiora pousou uma carta sobre a mesa, sem perder tempo. — Existem rumores, minha
A noite estava fria, e Gabriel, sentado em um bar discreto na periferia da cidade, girava o copo de uísque nas mãos, perdido em pensamentos. O lugar era pequeno e vazio, exceto por ele e outro homem sentado à sua frente. Este era Raul, um amigo de longa data, alguém que conhecia o Gabriel antes de todo o poder e ambição. — Nunca imaginei que te veria assim, Gabriel — disse Raul, recostando-se na cadeira e cruzando os braços. — O que está acontecendo com você?Gabriel riu, mas era um som vazio. — Talvez eu esteja perdendo o controle.— Não, isso não é do seu feitio. Você sempre tem controle de tudo, até do que sente.Gabriel inclinou-se para frente, o rosto tenso. — É aí que está o problema, Raul. Não tenho mais controle.Raul arqueou uma sobrancelha, intrigado. — Isso tem a ver com o convento? Ou... com alguém de lá?O silêncio de Gabriel foi resposta suficiente. Raul riu, balançando a cabeça. — Então é isso. Você, Gabriel de Morais, está mexido por uma mulher.— Não é só isso. —
A praça principal da cidade estava cheia de vida naquela tarde ensolarada. Barracas de comida, música ao vivo e um aroma doce de algodão-doce preenchiam o ar. O evento anual de arrecadação de fundos do convento sempre atraía uma multidão, e Valentina estava ocupada ajudando na organização, tentando manter sua mente ocupada.Ela sabia que Gabriel estaria lá. Ele sempre estava onde não deveria, especialmente quando se tratava dela. Desde o último confronto, Valentina lutava para controlar o turbilhão de emoções que ele despertava. Culpa, raiva, atração — tudo se misturava de uma forma que a deixava confusa e vulnerável.Enquanto ajustava os arranjos de flores em uma das mesas, sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Não precisava olhar para saber que ele estava lá. A presença de Gabriel era como um calor sufocante que a envolvia, e quando ela finalmente ergueu os olhos, lá estava ele, de terno casual, parado a poucos metros, observando-a com aquele sorriso desafiado
A tarde estava nublada, o vento sussurrava entre as árvores que cercavam a praça do convento. Gabriel estava encostado em seu carro, observando a fachada do edifício sagrado. Seus pensamentos estavam dispersos, divididos entre os negócios que vinham acumulando problemas e a figura de Valentina, que insistia em invadir sua mente como uma tempestade silenciosa.Ele inalou profundamente o ar fresco, como se isso pudesse clarear sua confusão, mas foi interrompido por uma presença inesperada. Irmã Amélia estava ali, parada a poucos metros, seu olhar severo cravado nele. Gabriel arqueou uma sobrancelha, surpreso pela ousadia da freira.— Veio rezar por mim, irmã? — perguntou, com um sorriso de canto que carregava mais ironia do que gentileza.Amélia cruzou os braços, permanecendo imóvel.— Não estou aqui para preces. Estou aqui para falar sobre Valentina.Gabriel deixou escapar uma risada baixa.— Sempre ela, não é? Parece que todos nesse conven
O fim da tarde em Sant’Elisa trouxe um céu tingido de laranja e vermelho, como se o próprio horizonte estivesse preso entre a paz e o caos. Valentina caminhava pelo jardim do convento, o coração apertado. As palavras de Irmã Amélia ainda ecoavam em sua mente. "Você precisa escolher, Valentina. Não entre ele e Deus, mas entre medo e coragem."Ela se sentou no banco de pedra sob a sombra de uma grande árvore. As mãos tremiam levemente enquanto seguravam o terço, os dedos passando pelas contas como se aquilo pudesse acalmar o turbilhão dentro dela. Mas não era suficiente. O conflito entre sua devoção e os sentimentos confusos por Gabriel parecia crescer a cada dia."Está fugindo de mim, Valentina?" A voz grave de Gabriel quebrou o silêncio. Ele estava parado a poucos metros, as mãos no bolso, os olhos fixos nela. Havia algo em seu olhar que a fazia sentir-se exposta, como se ele pudesse enxergar muito além do que ela queria mostrar."Eu não estou fugindo", re