O sol de Sant’Elisa brilhava intensamente naquela manhã, iluminando a cidade pacata e suas ruas movimentadas. Gabriel caminhava pelo centro, de olho nos habitantes locais que passavam por ele com olhares curiosos. Era evidente que sua presença incomodava, mas ele estava acostumado com isso. No entanto, algo o incomodava mais: Valentina.
Desde que lera o relatório sobre ela, Gabriel não conseguia parar de pensar nos dois anos misteriosos de sua vida. O que acontecera antes de ela decidir se refugiar no convento? Havia uma história ali, e ele estava determinado a descobrir.
Ele parou na frente de uma padaria charmosa, onde o aroma de pão fresco e café o envolveu. Dentro, para sua surpresa, lá estava Valentina. Ela estava sentada perto da janela, com um livro nas mãos e uma xícara de chá à sua frente.
Por um momento, Gabriel hesitou. Observou-a em silêncio, notando como a luz do sol iluminava seu rosto sereno. Ela parecia tão distante do mundo ao seu redor, como se estivesse protegida por uma barreira invisível.
Então, com seu típico sorriso confiante, ele entrou na padaria.
“Valentina,” ele disse, aproximando-se da mesa dela.
Ela levantou os olhos, surpresa e um pouco irritada.
“Você me segue agora?”Gabriel deu de ombros.
“Não sabia que você gostava de chá. Eu imaginava algo mais forte, como café.”“E por que isso importa para você?” ela rebateu, fechando o livro.
“Curiosidade,” respondeu ele, puxando uma cadeira sem esperar permissão. “Você me intriga, Valentina. Não parece o tipo de pessoa que escolhe o caminho mais fácil.”
“Entrar para o convento não é o caminho mais fácil,” disse ela, encarando-o.
“Talvez,” ele admitiu. “Mas também parece que você está fugindo de algo.”
Valentina sentiu o coração acelerar. Ele estava provocando-a, testando suas reações.
“E se eu estiver?” ela desafiou, inclinando-se ligeiramente para frente. “Isso muda alguma coisa para você?”Gabriel sorriu, encantado pela chama de determinação nos olhos dela.
“Muda tudo. Porque significa que há uma Valentina que você não quer que ninguém veja.”Depois desse encontro, Gabriel começou a aparecer em lugares inesperados pela cidade. Sempre que Valentina saía para cumprir tarefas fora do convento, ele parecia estar por perto. Primeiro, foi na livraria, onde ele a provocou sobre suas escolhas de leitura.
“Romances históricos?” ele disse, pegando um dos livros que ela estava analisando. “Achei que você preferisse algo mais... sagrado.”
“Eu não preciso de sua aprovação para ler o que gosto,” retrucou Valentina, irritada, enquanto pegava o livro de volta.
Depois, foi no mercado, onde ele a encontrou comprando frutas para o convento.
“Maçãs, Valentina? Uma escolha bíblica, não acha?” ele disse com um sorriso provocador.
“Você sempre tem algo a dizer, não é?” ela respondeu, tentando ignorá-lo.
“Só estou tentando entender,” ele disse, aproximando-se. “Quem é você, de verdade?”
No final da tarde, Valentina decidiu que precisava de um momento de paz. Foi até o parque da cidade, um lugar que sempre lhe trouxera conforto. Sentou-se em um banco sob uma grande árvore, observando as crianças brincarem e o som das folhas ao vento.
“Lugar bonito,” disse uma voz familiar atrás dela.
Ela suspirou, sem nem precisar se virar.
“Você realmente me segue, Gabriel?”Ele riu e sentou-se ao lado dela.
“Você é a pessoa mais interessante que já conheci em Sant’Elisa. Não posso evitar.”Valentina virou-se para ele, frustrada.
“O que você quer de mim, Gabriel? Por que está tão interessado na minha vida?”Ele a encarou por um momento, o sorriso desaparecendo.
“Porque você é um mistério. E eu não gosto de coisas que não consigo entender.”Ela respirou fundo, tentando manter a calma.
“Então, deixe-me facilitar para você: eu sou uma noviça. Escolhi essa vida porque acredito nela. E nada do que você faça vai mudar isso.”“Será mesmo?” ele perguntou, a voz suave, mas cheia de intensidade. “Porque, pelo que eu vejo, você ainda está lutando contra algo. E não sou eu quem está dizendo isso... são seus olhos.”
Valentina sentiu um calafrio. Era como se Gabriel pudesse enxergar além das suas palavras, direto para o que ela tentava esconder.
“Você não sabe nada sobre mim,” disse ela, levantando-se para ir embora.
Mas antes que pudesse dar mais um passo, ele segurou suavemente seu braço.
“Talvez,” ele disse, os olhos fixos nos dela, “mas vou descobrir.”Naquela noite, de volta ao hotel, Gabriel pediu a Felipe que investigasse mais. Ele queria saber o que Valentina escondia nos dois anos que faltavam em sua história. Enquanto isso, Valentina, sozinha em sua cela no convento, ajoelhava-se em oração, tentando afastar os pensamentos de Gabriel e suas palavras provocativas.
Na mente de ambos, uma pergunta pairava no ar: até onde iriam para proteger seus mundos tão diferentes? Gabriel queria respostas, e Valentina queria paz, mas o destino parecia ter outros planos.Valentina acordou antes do amanhecer, como sempre fazia, mas dessa vez o peso da culpa parecia maior. Sentia-se inquieta, como se estivesse carregando um segredo proibido. Toda vez que fechava os olhos, via o rosto de Gabriel, seus olhos intensos, e ouvia sua voz provocadora.Ela tentou afastar esses pensamentos com a oração, mas as palavras pareciam vazias, como se algo dentro dela estivesse mudando. Ao sair de sua cela para ajudar nas tarefas matinais, encontrou a Madre Superiora no corredor."Valentina, está tudo bem?" perguntou a madre, com um olhar preocupado."Sim, madre. Apenas cansada," respondeu ela, evitando o olhar da superiora.Mas a verdade era outra. Algo dentro dela estava diferente, e ela não sabia como lidar com isso.Enquanto isso, Gabriel estava no café do hotel, olhando pela janela enquanto segurava uma xícara de café. Ele não conseguia tirar Valentina da cabeça. Havia algo nela que o desarmava, uma força que ele não conseguia compreender.“Gabriel, você parece dis
A manhã no convento amanheceu mais silenciosa que o habitual, como se o vento soubesse que algo estava por vir. Valentina, ajoelhada na capela, mal podia concentrar-se em suas preces. Cada palavra das orações parecia pesar, carregada pela lembrança de Gabriel — seu sorriso confiante, o olhar que parecia enxergar além da superfície e a proximidade que fazia seu coração disparar de maneira assustadora.A tranquilidade foi quebrada pelo som suave dos passos da Madre Superiora entrando no recinto.— Valentina, preciso conversar com você — disse ela, com um tom de preocupação que fez o estômago da jovem noviça se apertar.Valentina levantou-se rapidamente, ajustando o véu.— Sim, Madre.As duas caminharam até o jardim do convento, onde a Madre Superiora parou ao lado de uma pequena fonte de pedra.— Você sabe quem é Gabriel Santos? — perguntou, seus olhos fixos nos de Valentina.Valentina hesitou. Mentir não era uma opção.— Ele veio até o convento há alguns dias. Tivemos... uma conversa b
O escritório de Gabriel estava mergulhado no caos. Papéis espalhados, arquivos abertos, e uma pilha de documentos antigos sobre a mesa. Ele segurava uma folha amarelada pelo tempo, os olhos brilhando com uma mistura de excitação e frustração.— Então é isso... — murmurou para si mesmo.O documento, encontrado nos arquivos históricos da cidade, mencionava uma cláusula que poderia preservar o convento como patrimônio religioso e cultural, protegendo-o de qualquer intervenção. Mas havia um porém: a cláusula só teria efeito com a assinatura da Madre Superiora, algo que Gabriel sabia ser quase impossível de conseguir.Ele tamborilou os dedos na mesa, pensativo. Havia uma possibilidade — Valentina. Desde o primeiro encontro, ela parecia ser a chave que poderia destrancar portas no convento, talvez até no coração da Madre Superiora. Mas usá-la para isso trazia complicações que ele não queria admitir.Gabriel recostou-se na cadeira, um sorriso aparecendo no canto dos lábios. Ele sabia como jo
O dia estava nublado, como se o céu refletisse a tempestade que se formava dentro de Valentina. Desde que Gabriel lhe entregara aquele documento, ela se sentia dividida. Ele era carismático, mas também perigosamente persuasivo. Sua mente sabia que deveria manter distância, mas seu coração — ou talvez algo mais profundo — insistia em desafiá-la.Valentina caminhava pelo jardim, perdida em seus pensamentos, quando ouviu uma voz familiar.— Pensativa de novo? — Gabriel estava encostado em uma árvore, observando-a com aquele sorriso que parecia tanto um convite quanto uma armadilha.Ela parou, surpresa, mas logo recuperou a compostura. — O que está fazendo aqui, Gabriel? Este é um lugar privado.Ele deu de ombros, caminhando em sua direção. — Não sabia que jardins eram restritos. Só vim dar uma volta.— Você nunca "só vem dar uma volta". Sempre tem um motivo — respondeu ela, cruzando os braços.Ele parou a poucos passos dela, as mãos nos bolsos, mas os olhos fixos nos dela. — Talvez o
A manhã era fresca, mas Valentina sentia o peso do dia antes mesmo de ele começar. O documento que Gabriel lhe entregara estava escondido no fundo de sua gaveta, mas ocupava espaço demais em seus pensamentos. Cada vez que tentava rezar, o rosto dele surgia em sua mente, junto com a pergunta que não conseguia evitar: "Por que ele mexe tanto comigo?"Enquanto realizava suas tarefas, os olhares das outras irmãs eram difíceis de ignorar. Cochichos seguiam cada passo seu, e Valentina sabia que algo havia mudado. Até mesmo Irmã Amélia, que sempre fora sua confidente, parecia inquieta.— Valentina, precisamos conversar — disse a Madre Superiora mais tarde, com um tom severo que não permitia recusas.Valentina assentiu e seguiu a líder até o escritório. Lá dentro, o ar era ainda mais pesado.— O que está acontecendo? — perguntou Valentina, mesmo sabendo que não gostava da resposta que estava por vir.A Madre Superiora pousou uma carta sobre a mesa, sem perder tempo. — Existem rumores, minha
A noite estava fria, e Gabriel, sentado em um bar discreto na periferia da cidade, girava o copo de uísque nas mãos, perdido em pensamentos. O lugar era pequeno e vazio, exceto por ele e outro homem sentado à sua frente. Este era Raul, um amigo de longa data, alguém que conhecia o Gabriel antes de todo o poder e ambição. — Nunca imaginei que te veria assim, Gabriel — disse Raul, recostando-se na cadeira e cruzando os braços. — O que está acontecendo com você?Gabriel riu, mas era um som vazio. — Talvez eu esteja perdendo o controle.— Não, isso não é do seu feitio. Você sempre tem controle de tudo, até do que sente.Gabriel inclinou-se para frente, o rosto tenso. — É aí que está o problema, Raul. Não tenho mais controle.Raul arqueou uma sobrancelha, intrigado. — Isso tem a ver com o convento? Ou... com alguém de lá?O silêncio de Gabriel foi resposta suficiente. Raul riu, balançando a cabeça. — Então é isso. Você, Gabriel de Morais, está mexido por uma mulher.— Não é só isso. —
A praça principal da cidade estava cheia de vida naquela tarde ensolarada. Barracas de comida, música ao vivo e um aroma doce de algodão-doce preenchiam o ar. O evento anual de arrecadação de fundos do convento sempre atraía uma multidão, e Valentina estava ocupada ajudando na organização, tentando manter sua mente ocupada.Ela sabia que Gabriel estaria lá. Ele sempre estava onde não deveria, especialmente quando se tratava dela. Desde o último confronto, Valentina lutava para controlar o turbilhão de emoções que ele despertava. Culpa, raiva, atração — tudo se misturava de uma forma que a deixava confusa e vulnerável.Enquanto ajustava os arranjos de flores em uma das mesas, sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Não precisava olhar para saber que ele estava lá. A presença de Gabriel era como um calor sufocante que a envolvia, e quando ela finalmente ergueu os olhos, lá estava ele, de terno casual, parado a poucos metros, observando-a com aquele sorriso desafiado
A tarde estava nublada, o vento sussurrava entre as árvores que cercavam a praça do convento. Gabriel estava encostado em seu carro, observando a fachada do edifício sagrado. Seus pensamentos estavam dispersos, divididos entre os negócios que vinham acumulando problemas e a figura de Valentina, que insistia em invadir sua mente como uma tempestade silenciosa.Ele inalou profundamente o ar fresco, como se isso pudesse clarear sua confusão, mas foi interrompido por uma presença inesperada. Irmã Amélia estava ali, parada a poucos metros, seu olhar severo cravado nele. Gabriel arqueou uma sobrancelha, surpreso pela ousadia da freira.— Veio rezar por mim, irmã? — perguntou, com um sorriso de canto que carregava mais ironia do que gentileza.Amélia cruzou os braços, permanecendo imóvel.— Não estou aqui para preces. Estou aqui para falar sobre Valentina.Gabriel deixou escapar uma risada baixa.— Sempre ela, não é? Parece que todos nesse conven