A praça principal da cidade estava cheia de vida naquela tarde ensolarada. Barracas de comida, música ao vivo e um aroma doce de algodão-doce preenchiam o ar. O evento anual de arrecadação de fundos do convento sempre atraía uma multidão, e Valentina estava ocupada ajudando na organização, tentando manter sua mente ocupada.
Ela sabia que Gabriel estaria lá. Ele sempre estava onde não deveria, especialmente quando se tratava dela. Desde o último confronto, Valentina lutava para controlar o turbilhão de emoções que ele despertava. Culpa, raiva, atração — tudo se misturava de uma forma que a deixava confusa e vulnerável.Enquanto ajustava os arranjos de flores em uma das mesas, sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Não precisava olhar para saber que ele estava lá. A presença de Gabriel era como um calor sufocante que a envolvia, e quando ela finalmente ergueu os olhos, lá estava ele, de terno casual, parado a poucos metros, observando-a com aquele sorriso desafiadoA tarde estava nublada, o vento sussurrava entre as árvores que cercavam a praça do convento. Gabriel estava encostado em seu carro, observando a fachada do edifício sagrado. Seus pensamentos estavam dispersos, divididos entre os negócios que vinham acumulando problemas e a figura de Valentina, que insistia em invadir sua mente como uma tempestade silenciosa.Ele inalou profundamente o ar fresco, como se isso pudesse clarear sua confusão, mas foi interrompido por uma presença inesperada. Irmã Amélia estava ali, parada a poucos metros, seu olhar severo cravado nele. Gabriel arqueou uma sobrancelha, surpreso pela ousadia da freira.— Veio rezar por mim, irmã? — perguntou, com um sorriso de canto que carregava mais ironia do que gentileza.Amélia cruzou os braços, permanecendo imóvel.— Não estou aqui para preces. Estou aqui para falar sobre Valentina.Gabriel deixou escapar uma risada baixa.— Sempre ela, não é? Parece que todos nesse conven
O fim da tarde em Sant’Elisa trouxe um céu tingido de laranja e vermelho, como se o próprio horizonte estivesse preso entre a paz e o caos. Valentina caminhava pelo jardim do convento, o coração apertado. As palavras de Irmã Amélia ainda ecoavam em sua mente. "Você precisa escolher, Valentina. Não entre ele e Deus, mas entre medo e coragem."Ela se sentou no banco de pedra sob a sombra de uma grande árvore. As mãos tremiam levemente enquanto seguravam o terço, os dedos passando pelas contas como se aquilo pudesse acalmar o turbilhão dentro dela. Mas não era suficiente. O conflito entre sua devoção e os sentimentos confusos por Gabriel parecia crescer a cada dia."Está fugindo de mim, Valentina?" A voz grave de Gabriel quebrou o silêncio. Ele estava parado a poucos metros, as mãos no bolso, os olhos fixos nela. Havia algo em seu olhar que a fazia sentir-se exposta, como se ele pudesse enxergar muito além do que ela queria mostrar."Eu não estou fugindo", re
A manhã em Sant’Elisa começou com um céu cinzento, prometendo chuva. Gabriel estava no escritório improvisado que montara no único hotel da cidade, revisando papéis e arquitetando estratégias. A tensão em seu maxilar denunciava que algo não estava bem. Ele ainda pensava na conversa com Valentina no jardim do convento. Mas, antes que pudesse mergulhar mais fundo nesses pensamentos, a porta se abriu bruscamente."Gabriel Moretti. Sempre cheio de planos."A voz era carregada de sarcasmo. Gabriel ergueu o olhar e encontrou o rosto familiar de Leonardo Vargas, um antigo parceiro de negócios que ele não via há anos — e nem queria ver."Leonardo." Gabriel se levantou, mantendo a postura firme. "O que você está fazendo aqui?"Leonardo fechou a porta com força e caminhou lentamente até a mesa, seu sorriso era uma mistura de ironia e ameaça. "Acho que você sabe muito bem. Vim buscar o que é meu."Gabriel arqueou uma sobrancelha. "Não há nada aqui q
O dia amanheceu com uma calmaria enganosa em Sant’Elisa. Valentina estava no jardim do convento, cuidando das rosas com um olhar distante. A conversa com Gabriel ainda ecoava em sua mente. A intensidade de seus sentimentos era um misto de confusão e calor que a deixava vulnerável.Ela se abaixou para arrancar algumas ervas daninhas, mas ouviu passos atrás de si. Mesmo sem olhar, sabia quem era."Gabriel, você não deveria estar aqui," disse ela, sem se virar."Precisamos conversar, Valentina." Sua voz era firme, mas havia um toque de preocupação que chamou sua atenção.Ela se levantou lentamente e se virou para encará-lo. Ele estava mais sério do que o normal, seus olhos fixos nela de um jeito que parecia atravessar qualquer barreira que ela tentasse construir."Já falamos ontem," respondeu ela, cruzando os braços em um gesto defensivo."Não como devíamos." Gabriel deu um passo à frente, reduzindo a distância entre eles. "Eu sei q
O escritório improvisado de Gabriel, no pequeno hotel de Sant’Elisa, estava mais caótico do que o habitual. Pilhas de documentos estavam espalhadas pela mesa, enquanto ele revisava relatórios com um olhar cada vez mais sombrio. As notícias que recebeu pela manhã foram um golpe inesperado. Seu assistente pessoal, Eduardo, havia lhe informado que contratos importantes estavam sendo cancelados sem explicação, e parceiros de negócios estavam reconsiderando os projetos planejados para a cidade. Algo estava errado, e Gabriel sentia que não era apenas coincidência. "Alguém está interferindo," murmurou para si mesmo, apertando os olhos. Eduardo entrou na sala com mais um envelope nas mãos. "Recebi isso agora. Parece que outra empresa apresentou uma proposta para comprar terras próximas ao convento. E pelo valor oferecido, é claro que querem nos tirar da jogada." Gabriel pegou o envelope com firmeza. "Quem está por trás disso?"
Valentina acordou antes mesmo que os primeiros raios do sol invadissem os vitrais do convento. A luz suave das velas ainda iluminava os corredores frios e silenciosos, onde seus passos ecoavam discretamente. Era um novo dia, e como noviça recém-aceita, ela tinha uma lista de tarefas que lhe eram tanto um fardo quanto uma bênção.Vestindo o hábito simples e amarrando o véu com cuidado. Valentina sentia o peso das escolhas que a haviam levado até ali. Aos 22 anos, ela havia deixado para trás um mundo cheio de incertezas e uma vida que, apesar de não ser trágica, era cheia de perguntas sem respostas. Aqui, no convento de Sant’Elisa, acreditava ter encontrado paz, um propósito. No entanto, enquanto carregava um balde de água para o jardim, percebeu algo inquietante no fundo, de sua alma: uma leve sensação de que talvez houvesse algo mais à espera do lado de fora das altas paredes de pedra.O jardim do convento era um refúgio de serenidade. Rosas perfumadas, arbustos bem podados e um peque
O dia começou agitado no convento de Sant’Elisa. As freiras andavam de um lado para o outro, preparando-se para receber um grupo de visitantes locais interessados na história do lugar. Valentina, que ainda se adaptava à rotina como noviça, estava no jardim, podando rosas com cuidado. Ela respirava fundo, tentando acalmar a mente que, inexplicavelmente, insistia em revisitar o encontro do dia anterior.Mas antes que pudesse se concentrar em seus pensamentos, ouviu passos rápidos ecoando pelo pátio. Quando se virou, viu Gabriel atravessando os portões do convento com a mesma determinação que carregava no olhar.Ele parecia um homem em missão, vestindo um terno impecável que contrastava com a simplicidade daquele lugar sagrado. Seu olhar varreu o jardim até pousar nela. Um sorriso leve — talvez até desafiador — surgiu em seus lábios.“Valentina, não é?” ele perguntou, como se fossem velhos conhecidos.“Senhor… Gabriel, não deveria estar aqui. Este é um lugar restrito.” Valentina ergueu o
A capela estava silenciosa, exceto pelo som suave da respiração de Valentina. Ela estava ajoelhada diante do altar, as mãos unidas em prece. Tentava acalmar o coração que ainda pulsava descompassado desde o encontro com Gabriel.“Senhor, guia-me em Tuas verdades,” ela sussurrou, os olhos fechados com força. “Afasta de mim tudo o que não pertence ao Teu plano. Não permita que eu me perca.”Mas, mesmo em oração, a lembrança dos olhos intensos de Gabriel surgia em sua mente. A maneira como ele a desafiara, como se enxergasse algo que nem ela mesma sabia existir, a deixava inquieta.De repente, Irmã Amélia apareceu silenciosamente ao seu lado.“Valentina,” a freira disse em tom sério, “você está bem?”Valentina abriu os olhos lentamente, respirando fundo.“Sim, Irmã Amélia. Só… tentando encontrar paz.”A mais velha inclinou a cabeça, estudando-a por um momento.“Você precisa ser forte. Homens como Gabriel não têm escrúpulos. Ele está aqui para destruir tudo o que amamos. Não permita que e