A cidade já não a via mais como a jovem assustada que buscava refúgio no convento. Valentina havia renascido das cinzas, e agora cada passo seu era calculado, cada olhar lançado, uma promessa silenciosa de que nada mais a derrubaria.
Seis meses haviam se passado desde o acidente de Gabriel. Seis meses desde que a culpa e o luto quase a destruíram. Agora, ela usava tudo isso como combustível. E a cidade começou a notar. As Noites de Poder A primeira vez que apareceu publicamente, foi no jantar beneficente da Fundação Esperança, um dos eventos mais importantes da elite local. A noite era um desfile de políticos, empresários e velhos lobos do mercado financeiro. Valentina chegou atrasada de propósito, fazendo questão de que todos já estivessem presentes quando ela entrasse. O vestido preto, longo e ajustado ao corpo, exalava uma elegância perigosa. Os cabelos estavam soltos, caindo como uma cascata escura sobreO brilho dos holofotes refletia no rosto de Valentina enquanto ela subia ao palco montado no centro da cidade. O eco dos aplausos vibrava pelo ar, misturado ao som dos cânticos de seus apoiadores. O nome dela era entoado como um hino, um símbolo de mudança, um novo ciclo para a cidade.Seis meses. Seis meses desde que abandonou o convento, desde que jurou a si mesma que não seria apenas um nome herdado. Seis meses desde que decidiu que o poder seria sua nova pele.Agora, ali estava ela. Eleita.A multidão rugia em celebração, mas por dentro, Valentina sentia apenas um silêncio ensurdecedor.A Ascensão de ValentinaSeu discurso era impecável, meticulosamente ensaiado. Cada palavra carregava peso, cada frase moldava sua imagem como líder. Ela prometeu justiça, reestruturação, progresso. Aplaudiram. Aclamaram. Ela venceu.Mas enquanto o povo a via como uma figura vitoriosa, ela só conseguia pensar em Gabriel.O va
O quarto de hospital estava silencioso, iluminado apenas pela luz fraca da lua filtrando-se pelas persianas. Valentina estava sentada ao lado da cama, segurando a mão fria de Gabriel, como fazia todas as noites nos últimos seis meses. Mas, dessa vez, algo estava diferente. O ritmo da respiração dele mudara. O peito subia e descia de forma irregular. As pálpebras tremularam, e então, com um suspiro profundo, Gabriel abriu os olhos. O coração de Valentina parou por um instante. — Gabriel…? — Sua voz saiu em um sussurro carregado de emoção. Os olhos dele estavam desfocados, como se sua alma ainda estivesse perdida em algum lugar entre a escuridão e a realidade. Mas, ao pousar o olhar sobre Valentina, algo no fundo de sua expressão mudou. Ele franziu o cenho, como se tentasse reconhecer o rosto à sua frente. — Quem é você? As palavras atingiram Valentina como uma faca no peito. Ela piscou, confusa, tentando processar o que acabara de ouvir. — Sou eu, Valentina. — A voz de
O apartamento estava mergulhado em um silêncio inquietante. Gabriel olhava ao redor, sentindo uma familiaridade estranha com aquele lugar. Algo dentro dele sussurrava que já havia estado ali antes, mas sua mente ainda era um labirinto de sombras. Valentina, por outro lado, não aceitaria a distância. Ela se aproximou lentamente, o salto ecoando pelo piso de mármore. Vestia um vestido preto justo, elegante, mas sedutor. Cada detalhe daquela noite havia sido planejado para despertar Gabriel. — Você se sente em casa? — ela perguntou, a voz suave, quase um sussurro. Gabriel apertou a mandíbula. — Eu não sei. Valentina sorriu. — Então, deixe-me te ajudar a lembrar. Ela pegou a mão dele e o guiou pelo apartamento. Cada cômodo trazia um pedaço de uma história que ele não lembrava, mas que o corpo parecia conhecer. O sofá onde, certa vez, ele a deitou e arran
A atração era inegável.Desde o momento em que Valentina o beijara, Gabriel sentia um fogo crescendo dentro dele, algo que não conseguia explicar, mas que o consumia por dentro.Seu corpo reagia antes da mente. Seus dedos ansiavam por tocá-la. Seu coração disparava sempre que ela se aproximava. E seus sonhos…Ah, os sonhos.Eles estavam se tornando cada vez mais vívidos. Pele contra pele. Gemidos abafados. Unhas cravadas nas costas.O corpo dela tremendo sob o seu.Ele acordava suado, o peito subindo e descendo pesadamente.O pior? Ele não sabia se eram lembranças ou apenas desejos reprimidos.---Valentina percebia cada detalhe.O modo como os olhos dele seguiam seus movimentos.A forma como ele prendia a respiração sempre que ela ficava perto demais.O desejo bruto que ardia por trás da confusão em seu olhar.Ela sorriu. Estava ganhando.
Valentina acordou antes mesmo que os primeiros raios do sol invadissem os vitrais do convento. A luz suave das velas ainda iluminava os corredores frios e silenciosos, onde seus passos ecoavam discretamente. Era um novo dia, e como noviça recém-aceita, ela tinha uma lista de tarefas que lhe eram tanto um fardo quanto uma bênção. Vestindo o hábito simples e amarrando o véu com cuidado. Valentina sentia o peso das escolhas que a haviam levado até ali. Aos 22 anos, ela havia deixado para trás um mundo cheio de incertezas e uma vida que, apesar de não ser trágica, era cheia de perguntas sem respostas. Aqui, no convento de Sant’Elisa, acreditava ter encontrado paz, um propósito. No entanto, enquanto carregava um balde de água para o jardim, percebeu algo inquietante no fundo, de sua alma: uma leve sensação de que talvez houvesse algo mais à espera do lado de fora das altas paredes de pedra. O jardim do convento era um refúgio de serenidade. Rosas perfumadas, arbustos bem podados e um pequ
O dia começou agitado no convento de Sant’Elisa. As freiras andavam de um lado para o outro, preparando-se para receber um grupo de visitantes locais interessados na história do lugar. Valentina, que ainda se adaptava à rotina como noviça, estava no jardim, podando rosas com cuidado. Ela respirava fundo, tentando acalmar a mente que, inexplicavelmente, insistia em revisitar o encontro do dia anterior.Mas antes que pudesse se concentrar em seus pensamentos, ouviu passos rápidos ecoando pelo pátio. Quando se virou, viu Gabriel atravessando os portões do convento com a mesma determinação que carregava no olhar.Ele parecia um homem em missão, vestindo um terno impecável que contrastava com a simplicidade daquele lugar sagrado. Seu olhar varreu o jardim até pousar nela. Um sorriso leve — talvez até desafiador — surgiu em seus lábios.“Valentina, não é?” ele perguntou, como se fossem velhos conhecidos.“Senhor… Gabriel, não deveria estar aqui. Este é um lugar restrito.” Valentina ergueu o
A capela estava silenciosa, exceto pelo som suave da respiração de Valentina. Ela estava ajoelhada diante do altar, as mãos unidas em prece. Tentava acalmar o coração que ainda pulsava descompassado desde o encontro com Gabriel. “Senhor, guia-me em Tuas verdades,” ela sussurrou, os olhos fechados com força. “Afasta de mim tudo o que não pertence ao Teu plano. Não permita que eu me perca.” Mas, mesmo em oração, a lembrança dos olhos intensos de Gabriel surgia em sua mente. A maneira como ele a desafiara, como se enxergasse algo que nem ela mesma sabia existir, a deixava inquieta. De repente, Irmã Amélia apareceu silenciosamente ao seu lado. “Valentina,” a freira disse em tom sério, “você está bem?” Valentina abriu os olhos lentamente, respirando fundo. “Sim, Irmã Amélia. Só… tentando encontrar paz.” A mais velha inclinou a cabeça, estudando-a por um momento. “Você precisa ser forte. Homens como Gabriel não têm escrúpulos. Ele está aqui para destruir tudo o que amamos. Não per
O sol de Sant’Elisa brilhava intensamente naquela manhã, iluminando a cidade pacata e suas ruas movimentadas. Gabriel caminhava pelo centro, de olho nos habitantes locais que passavam por ele com olhares curiosos. Era evidente que sua presença incomodava, mas ele estava acostumado com isso. No entanto, algo o incomodava mais: Valentina.Desde que lera o relatório sobre ela, Gabriel não conseguia parar de pensar nos dois anos misteriosos de sua vida. O que acontecera antes de ela decidir se refugiar no convento? Havia uma história ali, e ele estava determinado a descobrir.Ele parou na frente de uma padaria charmosa, onde o aroma de pão fresco e café o envolveu. Dentro, para sua surpresa, lá estava Valentina. Ela estava sentada perto da janela, com um livro nas mãos e uma xícara de chá à sua frente.Por um momento, Gabriel hesitou. Observou-a em silêncio, notando como a luz do sol iluminava seu rosto sereno. Ela parecia tão distante do mundo ao seu redor, como se estivesse protegida po