A condessa olhava fixamente para Evelyn, os olhos marejados brilhando sob a luz suave do abajur. Com um gesto hesitante, segurou as mãos da jovem, sentindo o leve tremor que as percorria. A respiração lhe ficou presa na garganta. Fitava os olhos de Evelyn como se quisesse confirmar, nas profundezas deles, que era mesmo verdade.O silêncio no quarto pesava como um véu de incerteza, até que a condessa murmurou:— Grávida... — repetiu, como se precisasse ouvir a palavra em voz alta para acreditar.As lágrimas deslizaram por seu rosto, mas não era apenas felicidade. Havia algo mais — um toque de arrependimento, uma sombra do passado voltando a assombrá-la. Lentamente, sua mão se moveu, pousando sobre o ventre de Evelyn. Fechou os olhos por um breve momento e, num murmúrio quase imperceptível, sussurrou:— Me perdoe...Me perdoe? Repetiu, Evelyn, mentalmente. Franziu levemente a testa, sem entender completamente aquelas palavras. Mas antes que pudesse perguntar, o con
Ao descer para a sala de chá, o conde foi direto ao carrinho de bebidas, servindo-se de uma dose de uísque.Reginald o observou e comentou:— Henry, sabes que não podes beber. A sua pressão...Henry deu de ombros, com um meio sorriso cínico.— Só alguns goles não vão me matar, Reginald.— Se quiser correr o risco… — retrucou o irmão, seco. — E está tudo certo com a viúva de Donovan? Algum problema de saúde?Henry virou-se devagar, saboreando o momento. Seu sorriso se alargou, carregado de sarcasmo.— Evelyn está ótima. Mais do que isso — está grávida. Uma bênção inesperada, não acha? Finalmente, um herdeiro direto.Deu um gole demorado, antes de completar:— Posso finalmente parar de me preocupar com o futuro. Agora é só nomear um conselho, manter a engrenagem funcionando... até que o pequeno esteja pronto para ocupar seu lugar de direito.Colocou o copo de volta no carrinho de bebidas com um estalo leve, como um ponto final. E, com aquele mesmo sorriso frio, despedi
Desde a noite em que revelou sua gravidez, Evelyn não tinha mais visto Reginald. Já se passavam duas semanas. E, por mais que tentasse não pensar nisso, a ausência dele era um vazio inquieto. Justificava para si mesma que era apenas pela semelhança com Donovan — os olhos idênticos, o modo como erguiam a sobrancelha quando contrariados, a forma como caminhavam com elegância distraída. Mas, no fundo, sabia que era mais do que isso.Era um misto confuso de saudade, raiva e rejeição. Evelyn oscilava entre a mágoa de ter sido ignorada e o alívio de não ter de lidar com o desprezo silencioso de Reginald. Às vezes, sonhava com ele — não como ele era agora, frio e distante, mas como nos primeiros dias, quando seu olhar parecia curioso, talvez até gentil. Depois acordava aflita, com a sensação de que havia se perdido em um labirinto emocional sem saída.Nos jantares formais organizados pelos sogros, onde era apresentada a parentes e acionistas da empresa, Evelyn sentia-se como uma peça fora do
A manhã nasceu com cheiro de decisão. Evelyn olhava pela janela do quarto, sentindo no rosto o toque leve do sol. Apesar da acolhida calorosa na mansão dos sogros, ela precisava de mais. Não apenas espaço, mas autonomia. Independência. Algo que refletisse quem ela era — não quem esperavam que fosse.Na sala de estar, com as mãos pousadas sobre o ventre ainda discreto, Evelyn falou com firmeza: — Eu não tenho do que reclamar, de verdade. Vocês foram maravilhosos comigo. Mas eu preciso de privacidade, de liberdade para tomar as rédeas da minha vida. De um espaço só meu.Cecil, com o rosto materno um tanto aflito, tentou disfarçar a decepção.— Mas, minha querida, e o bebê? Você não deveria enfrentar isso sozinha...Henry se adiantou, franzindo o cenho.— Você terá ajuda aqui. Segurança. Conforto.— Eu sei — respondeu ela, a voz embargada. — Mas também preciso respirar, fazer minhas escolhas. Quero criar meu filho com dignidade, não como uma hóspede eterna.A tensão cres
"O FUTURO ÀS VEZES CHEGA DISFARÇADO: DE CAFÉ OU DE SORRISO" C.R.SANTOS Evelyn acordou com a chuva forte batendo na janela do pequeno quarto que alugava no subúrbio de Bell Buckle, no Tennessee. Olhou as horas no pequeno relógio da mesa de cabeceira e percebeu que ainda faltava meia hora para se levantar, mas já não conseguia mais dormir. Levantou-se e foi tomar um banho.Uma hora depois, estava dentro do trem a caminho do Daisy's, uma charmosa lanchonete com estilo anos oitenta, onde trabalhava. Olhando pela janela, avistou uma mulher com duas crianças caminhando pela calçada. O grande guarda-chuva protegia os três. A menina mais nova carregava uma mochila rosa nas costas, o objeto parecia maior que ela, deixando-a um pouco curvada para frente. Órfã de pai e mãe, Evelyn nunca conheceu aquela sensação de proteção que toda mãe deveria ter po
Eram quase oito e meia da manhã quando Donavan despertou. O calor do corpo de Evelyn ainda envolvia seus sentidos, e a lembrança da noite maravilhosa de amor o fez sorrir. Há muito tempo não sentia aquela mistura de liberdade e autonomia. Com cuidado para não acordá-la, saiu da cama, calçou os chinelos e vestiu o roupão. Antes de sair do quarto, ficou ali, parado, admirando-a. Evelyn dormia tranquilamente, sua respiração suave, os fios de cabelo espalhados pelo travesseiro. Uma pontada no estômago o atingiu. O peso do passado sempre voltava, e ele se condenava por não ter contado toda a verdade a ela.— Espero que um dia você me perdoe, minha Evelyn... Queria ter te conhecido antes das decisões que tomei — sussurrou, sua voz carregada de arrependimento.Seguiu para a cozinha, sentindo falta dos cafés da manhã londrinos. Por mais que quisesse esquecer sua vida passada, certos hábitos eram difíceis de abandonar.Enquanto preparava o café, Evelyn acordou ao escu
O tempo passava lentamente, e Evelyn se arrastava com ele. Alguns dias depois, retornou ao trabalho, tentando esquecer sua dor. Mas a saudade rasgava seu peito a cada manhã, a cada vez que se levantava, e nas longas noites mal dormidas. Alguns fregueses a olhavam com dó, outros trocavam palavras de encorajamento. O xerife entrava todos os dias para tomar um café e perguntar como ela estava indo. "Conforme o tempo", ela respondia, agradecida, mas vazia.Os dias seguiam, e as contas começaram a se acumular. A conta do hospital, o aluguel da casa, as dívidas... Sem seguro e sem conseguir localizar o responsável pela tragédia, tudo estava se agravando. O dono da casa onde morava exigiu que ela desocupasse o imóvel. Sem alternativas, Evelyn retornou ao antigo quarto alugado, aquele lugar onde nunca imaginara que voltaria.Ainda fechada em sua dor, tentando lidar com a perda, algo inesperado aconteceu. Após um longo expediente na lanchonete, Evelyn desmaiou. A out
Os dias pareciam se arrastar na rotina árdua de Evelyn. Depois do telefonema que a abalou, ela havia decidido não fazer o aborto. Algo em seu interior dizia que os sobrenomes coincidiam por mais do que simples acaso. Havia algo mais por trás disso, algo que ela precisava descobrir. A verdade estava ao seu alcance, e ela sentia que não poderia ignorá-la.Era uma manhã comum, e Evelyn estava preparando o café, quando o som da campainha quebrou sua concentração. Um freguês havia chegado. Ela não se virou, mas, com a voz firme, falou:— Pode sentar, já irei atendê-lo.Ela viu Beth, a atendente mais velha, ajeitando os cabelos e passando batom, como sempre fazia antes de ir para o atendimento. Com rapidez, ela pegou o bloco de notas e foi até o cliente, mas retornou logo depois, com um olhar carregado de desagrado.— Ele quer ser atendido por você — disse, seu tom de incompreensão evidente. — E ainda falou o seu nome.Evelyn franziu a testa, um desconforto imediato a percorr