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CAPÍTULO 3 - QUANDO A DOR SE REFAZ

                           O tempo passava lentamente, e Evelyn se arrastava com ele. Alguns dias depois, retornou ao trabalho, tentando esquecer sua dor. Mas a saudade rasgava seu peito a cada manhã, a cada vez que se levantava, e nas longas noites mal dormidas. Alguns fregueses a olhavam com dó, outros trocavam palavras de encorajamento. O xerife entrava todos os dias para tomar um café e perguntar como ela estava indo. "Conforme o tempo", ela respondia, agradecida, mas vazia.

Os dias seguiam, e as contas começaram a se acumular. A conta do hospital, o aluguel da casa, as dívidas... Sem seguro e sem conseguir localizar o responsável pela tragédia, tudo estava se agravando. O dono da casa onde morava exigiu que ela desocupasse o imóvel. Sem alternativas, Evelyn retornou ao antigo quarto alugado, aquele lugar onde nunca imaginara que voltaria.

Ainda fechada em sua dor, tentando lidar com a perda, algo inesperado aconteceu. Após um longo expediente na lanchonete, Evelyn desmaiou. A outra garçonete, ao encontrá-la caída no chão, a observou com preocupação. Quando Evelyn acordou, a colega a encarou por um momento antes de entregar-lhe um teste de gravidez.

— "Tenho sempre um na bolsa para essas emergências", disse ela, sorrindo e piscando.

— Isso não é possível, disse Evelyn, ainda atordoada. — Deve ser só o estresse.

Mas, ao tentar se lembrar de quando foi sua última menstruação, ela percebeu que não tinha certeza. Com o coração batendo mais forte, ela foi para casa e fez o teste. O resultado foi positivo. Ela chorou desconsolada. Como poderia estar grávida, com tantas dívidas e uma vida em ruínas? Como poderia criar e educar uma criança, quando mal conseguia cuidar de si mesma?

Naquele momento, Evelyn não pôde evitar pensar em sua mãe, que, em algum ponto do passado, havia enfrentado um dilema parecido. Sua mãe, tão jovem e cheia de sonhos, escolhera a vida, embora isso significasse abandonar todos os seus próprios planos e entregá-la a um orfanato. Evelyn cresceu sem saber o peso dessa decisão, mas agora, diante de sua própria escolha, entendia o peso de tudo. Sua mãe não tivera coragem de interromper a vida que gerava dentro de si, e agora, Evelyn se via diante da mesma encruzilhada. A decisão seria difícil, talvez mais do que ela fosse capaz de suportar, mas sabia que não podia fugir dessa responsabilidade. Talvez fosse ela mesma a tomar uma decisão que mudaria tudo, assim como sua mãe fez anos antes.

Na manhã seguinte, atrasada e prestes a sair para o trabalho, uma vizinha que tinha uma moto lhe ofereceu uma carona. Porém, informou que não tinha capacete extra. Evelyn, apressada, aceitou.

— Eu tenho um capacete. Vou pegar.

Ela correu até o quarto, pegou o capacete de Donovan e o colocou na cabeça. No momento em que o fez, um desconforto estranho a atingiu, como se algo no fundo estivesse fora do lugar. Mas, com a rotina iniciando agitada, ela esqueceu desse pequeno incômodo.

No final do expediente, enquanto voltava para casa, Evelyn adormeceu. Durante o sono, teve um sonho vívido. Olhava pela janela e via Donovan caminhando pela calçada. Ele a observava, sorria e, com um gesto, apontava para sua própria cabeça. Ela não entendia o que ele dizia, mas via claramente que ele estava tentando dizer algo.

Assustada, Evelyn acordou abruptamente. Um rapaz a chamava:

— Moça, você deixou cair seu capacete!

Ela o olhou, confusa. O rapaz repetiu:

— Você deixou cair o capacete enquanto dormia.

Ela agradeceu com um sorriso tenso e, ao descer na sua parada, apressada, foi para o quarto. Uma vez lá, a memória a atingiu com força: Donovan tinha mencionado algo sobre o capacete.

Sem perder tempo, Evelyn arrancou o tecido do interior. A sensação de urgência a dominou. E, de fato, ao retirar o forro, encontrou algo: um pequeno envelope. O coração de Evelyn disparou. Ela o abriu com mãos trêmulas e encontrou uma foto de um garoto, de aproximadamente 16 anos, ou menos, com uma semelhança notável com Donovan. Ao lado do garoto, havia um rapaz mais velho e um casal, todos com uma expressão séria, vestindo roupas formais e de classe alta, com a elegância que só a nobreza inglesa possui.

No verso da foto, estava o brasão de uma família imponente, acompanhado de um número de telefone da Inglaterra. A conexão foi instantânea. A mente de Evelyn começou a girar com mil pensamentos. Ela precisava agir. Sem hesitar, pegou o celular e discou o número. O telefone tocou por alguns segundos, até que uma voz forte e séria atendeu.

— Residência dos Ashbourne, bom dia.

Ela congelou. O nome Ashbourne. O peso daquilo a paralisou. Sem dizer uma palavra, ela desligou.

Segundos depois, o celular vibrou novamente. Evelyn olhou o visor, o coração acelerado. Era o número que acabara de discar. Ficou olhando, a dúvida e a curiosidade a corroem. O que ela deveria fazer agora? Atender? Ignorar? As perguntas martelavam em sua mente.

Mas, antes que pudesse decidir, o celular silenciou.

Ela respirou aliviada, mas algo dentro dela a inquietou. Desligou o telefone e se deitou, tentando não pensar no que acabara de descobrir. Mas a semente já havia sido plantada. Agora entendia o significado do pedido de perdão. Quem, de fato, era Donovan?

Mal sabia Evelyn que a resposta à sua pergunta não demoraria a chegar.

4

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