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CAPÍTULO 4 - ALÉM DA DOR, A VIDA

               Os dias pareciam se arrastar na rotina árdua de Evelyn. Depois do telefonema que a abalou, ela havia decidido não fazer o aborto. Algo em seu interior dizia que os sobrenomes coincidiam por mais do que simples acaso. Havia algo mais por trás disso, algo que ela precisava descobrir. A verdade estava ao seu alcance, e ela sentia que não poderia ignorá-la.

Era uma manhã comum, e Evelyn estava preparando o café, quando o som da campainha quebrou sua concentração. Um freguês havia chegado. Ela não se virou, mas, com a voz firme, falou:

— Pode sentar, já irei atendê-lo.

Ela viu Beth, a atendente mais velha, ajeitando os cabelos e passando batom, como sempre fazia antes de ir para o atendimento. Com rapidez, ela pegou o bloco de notas e foi até o cliente, mas retornou logo depois, com um olhar carregado de desagrado.

— Ele quer ser atendido por você — disse, seu tom de incompreensão evidente. — E ainda falou o seu nome.

Evelyn franziu a testa, um desconforto imediato a percorrendo. Ela olhou para trás e, quando seus olhos encontraram os do desconhecido, um arrepio percorreu sua espinha. Seus olhos eram negros, profundos, como se ele pudesse ver através dela. Um olhar tão penetrante que Evelyn sentiu como se estivesse sendo consumida por ele. Sua mão tremia ao pegar o bloco de notas e, com um esforço imenso, ela se aproximou da mesa.

— Bom dia — disse, tentando manter a calma em sua voz. — O que vai querer?

Ele a analisou sem disfarçar, seus olhos varrendo-a da cabeça aos pés. Evelyn sentiu seu rosto queimar, suas palmas das mãos suarem. Era como se ela fosse apenas um objeto sendo estudado minuciosamente. Ela teve vontade de pegar o café quente e derramar na cabeça daquele homem insolente, mas se controlou, mantendo a compostura.

— O que vai querer, senhor? — repetiu, agora com um tom mais firme.

Foi então que ele falou, sua voz profunda e imponente, penetrando seus ouvidos e fazendo seu corpo estremecer.

— Foi você quem ligou para a casa dos Ashbourne.

A pergunta, ou melhor, a afirmação, pegou-a de surpresa. Evelyn se recompôs rapidamente, mas não conseguiu esconder a tensão no rosto.

— Eu… Eu… — Ela não conseguia pronunciar as palavras.

Ele continuou, como se tivesse tudo sob controle, seus olhos ainda fixos nela.

— Foi Donovan quem pediu para ligar? Onde ele está? O garoto fujão.

A irritação de Evelyn cresceu, uma onda de raiva a invadindo. Ela deu um passo à frente, olhando-o diretamente nos olhos.

— Quem é você? — Sua voz se elevou, carregada de frustração, desafiando a arrogância do homem. Mas também sabia, sem querer admitir, que o olhar do homem à sua frente lembrava o olhar de seu falecido marido.

O desconhecido, como se nada pudesse abalar sua confiança, se acomodou melhor na cadeira e cruzou os braços, uma postura que exalava segurança absoluta.

— Sou o tio dele — disse calmamente, com uma leveza que só aumentava a irritação de Evelyn. — Vim buscar meu sobrinho, levá-lo de volta, de onde ele nunca deveria ter saído.

Evelyn parou por um momento, atônita, mas se controlou rapidamente. Não havia tempo para se perder em confusão.

— Então, sinto muito, você errou de pessoa. Meu marido... — Ela parou, sentindo uma dor aguda no peito ao mencionar Donovan. — Meu marido não é a pessoa que está procurando. Ele não tem parentes, é órfão e foi criado em um orfanato.

Ela deu um passo para trás, tentando se afastar, mas o homem a interrompeu com um sorriso de escárnio.

— Seu marido... — falou devagar, como se duvidasse de que ela realmente tivesse se casado. — Foi essa a história que ele contou para você? — perguntou ele, com uma risada contida. — É bem típico dele. Sempre teve um talento para criar histórias convincentes. Eu até disse a ele que, além de herdeiro de uma vasta fortuna, poderia muito bem ser um escritor talentoso.

Evelyn o encarou com uma intensidade crescente, seu rosto agora endurecido pela raiva.

— Já falei, você está enganado. Esse Donovan que está procurando não é o meu marido.

O silêncio se abateu sobre o lugar, pesado e carregado de tensão. Todos os olhares estavam voltados para eles, expectantes, ninguém ousava piscar, não queriam perder qualquer detalhe. O desconhecido, sem perder a compostura, continuou a encará-la.

— Está certo. Diga onde ele está. Meu sobrinho... Se não for ele, então... — Ele fez uma pausa, seu tom agora mais ameaçador. — Volto para a Inglaterra e deixo vocês em paz.

A frustração tomou conta de Evelyn, e a dor que sentia a cada palavra daquele homem foi se transformando em uma mistura de raiva e impotência. Os dias sem Donovan, a gravidez inesperada, as dívidas, somadas àquele homem arrogante, a fizeram finalmente explodir, sem se importar com os olhares à sua volta.

— Está bem — ela disse, as palavras saindo com uma ferocidade inesperada, colocando as mãos sobre a mesa e o encarando bem de perto. — Meu marido está enterrado no cemitério municipal, do outro lado da cidade, nos fundos da igreja.

Aquelas palavras foram como um bálsamo, e Evelyn sentiu uma sensação de paz se espalhar por seu corpo. Com um soluço profundo, ela abriu a porta e correu para fora, sem olhar para trás. Não percebeu o rosto pálido do homem, nem seus olhos arregalados de surpresa. Ela apenas fugiu, desesperada.

Evelyn foi para casa, jogou-se na cama e chorou. Chorou por ela, por Donovan, pelo bebê que iria nascer em um mundo sem o pai. Chorou por ter sido, pela primeira vez após tanto tempo, arrancada de sua agonia — aquele desconhecido a fizera sentir, mesmo que por um momento, um frágil suspiro de paz, como se tivesse finalmente encontrado um caminho. O travesseiro absorveu cada lágrima, cada gemido abafado, até que o cansaço venceu sua dor, e ela adormeceu com as mãos sobre a barriga ainda plana, onde uma vida minúscula insistia em crescer.

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