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CAPÍTULO 2 - O DOCE E O AMARGO DA VIDA

                          Eram quase oito e meia da manhã quando Donavan despertou. O calor do corpo de Evelyn ainda envolvia seus sentidos, e a lembrança da noite maravilhosa de amor o fez sorrir. Há muito tempo não sentia aquela mistura de liberdade e autonomia. Com cuidado para não acordá-la, saiu da cama, calçou os chinelos e vestiu o roupão. Antes de sair do quarto, ficou ali, parado, admirando-a. Evelyn dormia tranquilamente, sua respiração suave, os fios de cabelo espalhados pelo travesseiro. Uma pontada no estômago o atingiu. O peso do passado sempre voltava, e ele se condenava por não ter contado toda a verdade a ela.

— Espero que um dia você me perdoe, minha Evelyn... Queria ter te conhecido antes das decisões que tomei — sussurrou, sua voz carregada de arrependimento.

Seguiu para a cozinha, sentindo falta dos cafés da manhã londrinos. Por mais que quisesse esquecer sua vida passada, certos hábitos eram difíceis de abandonar.

Enquanto preparava o café, Evelyn acordou ao escutar o leve barulho vindo da cozinha. Espreguiçou-se, ainda envolta na preguiça da manhã, e um sorriso surgiu em seus lábios ao sentir o aroma delicioso de café recém-passado e pão assando. A porta do quarto se abriu lentamente, e lá estava Donavan, com uma bandeja nas mãos. Vestia o uniforme do trabalho, mas era seu olhar — aquele olhar cheio de ternura — que aquecia seu coração.

— Bom dia, meu amor — disse ele, com um sorriso que ela conhecia tão bem.

Evelyn se ergueu um pouco na cama, os olhos brilhando. Donavan se aproximou, colocando a bandeja ao lado dela. Na xícara simples, um café fumegante, frutas frescas e fatias de pão dourado com manteiga derretendo.

— Você fez tudo isso para mim? — perguntou, emocionada.

— Não podia deixar você acordar sem um bom café da manhã. Além do mais, queria ver esse sorriso logo cedo — disse ele, tocando suavemente seu rosto.

Ela estendeu os braços, puxando-o para perto. Um beijo demorado selou aquele momento. Depois, aconchegada contra ele, pegou um pedaço de pão e levou à boca, fechando os olhos ao sentir o sabor.

— Nossa, que delícia esse pãozinho! Foi você quem fez?

Donavan assentiu com um sorriso orgulhoso.

— Só farinha, ovo e fermento. Uma receitinha que aprendi com um dos rapazes.

Ele pegou um copo de café, bebeu um pouco e suspirou. Levantou-se devagar, relutante em quebrar a magia daquele instante.

— Preciso ir. Solano me ligou perguntando se eu queria fazer um extra agora pela manhã.

Evelyn fez um leve biquinho de desapontamento, e ele riu, tocando seu nariz de leve.

— Não fique com essa expressão, precisamos do dinheiro. Mas estarei de volta para o almoço. Nem se preocupe em cozinhar, ainda temos o jantar de ontem.

Os dois riram juntos, cúmplices de uma vida simples, mas cheia de amor.

Assim que Donavan saiu, Evelyn se enroscou novamente entre os cobertores. Sentia-se feliz, plena. Suspirando, fechou os olhos e logo o sono chegou.

O som das batidas fortes na porta ecoou pela casa, arrancando-a bruscamente do sono. O coração acelerou. Por um momento, ficou paralisada, tentando entender o que estava acontecendo. Novamente, as batidas insistiram, firmes e urgentes. Rapidamente, levantou-se e cobriu o corpo nu com o roupão de Donavan. Caminhou até a porta, olhou pelo canto da vidraça e viu o xerife John Michaels parado na soleira. Uma sensação de presságio ruim percorreu sua espinha. Com o coração martelando no peito, abriu a porta.

— Bom dia, xerife. O que aconteceu?

O homem hesitou por um instante antes de falar, como se estivesse reunindo coragem.

— Bom dia, Evelyn. Desculpe te acordar dessa forma, mas o motivo é urgente. Seu marido sofreu um acidente de moto e foi levado às pressas para o hospital.

Ela levou as mãos à cabeça, sentindo uma vertigem tomar conta de seu corpo.

— Como ele está? Ele... está muito ferido? — Sua voz saiu trêmula, quase um sussurro.

— Sinto muito, Evelyn. A batida foi forte. Um rapaz bêbado dirigindo na contramão jogou a moto dele longe. Vista-se, vou te levar ao Providence Medical Center.

Dez minutos depois, Evelyn entrou na Unidade de Terapia Intensiva. Suas pernas bambearam ao ver Donavan deitado na cama, ligado a aparelhos. Seu rosto estava irreconhecível, pálido, com cortes profundos na testa e no queixo - a pele marcada por hematomas azulados, os lábios rachados e secos. Cada respiração vinha acompanhada de um gemido mecânico da máquina que o mantinha vivo. Um tubo saía de sua boca, fixado com esparadrapo em pele ensanguentada.

Com cuidado, ela pegou a mão dele entre as suas.

— Donavan, meu amor... estou aqui. Vai ficar tudo bem.

Ele apertou fracamente sua mão. Seus lábios começaram a se mover. Evelyn se inclinou, colocando o ouvido próximo à sua boca para entender as palavras soltas que escapavam de seus lábios.

— Perdão... capacete...

— Não se preocupe com o capacete, meu amor. Compramos outro quando você sair daqui — disse ela, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

Ele repetiu com esforço:

— Capacete... perdão...

E então, com um último respiro, sussurrou:

— Eu te amo...

Os aparelhos começaram a apitar freneticamente. O som dos alarmes foi a última coisa que Evelyn ouviu antes de ser afastada pelos médicos. Minutos se passaram — uma eternidade para ela — até que um dos médicos se aproximou. Ele não precisava dizer nada. O semblante dele já dizia tudo.

— Não... — murmurou Evelyn, levando as mãos à boca.

— Sinto muito, senhora. Os ferimentos eram graves demais, quando a moto bateu, seu marido não teve chance. O trauma craniano foi imediato. ...

A voz do médico foi ficando distante, e tudo ao seu redor se apagou.

Diante do caixão de madeira escura, Evelyn estendeu a mão trêmula. O verniz gelado sob seus dedos a fez retrair - tão diferente do calor da pele dele na manhã de ontem. As lágrimas secaram antes mesmo de nascerem. Estava entorpecida, como se sua alma tivesse se separado de seu corpo. Em menos de vinte e quatro horas, havia ido do paraíso ao inferno. Ao seu lado, Beth, sua colega de trabalho, segurava seus ombros em um gesto de apoio silencioso.

Aos poucos, os colegas de trabalho de Donavn e alguns conhecidos de Evelyn foram deixando o cemitério. Beth a conduziu para casa, preparou um chá e ficou com ela por um tempo. Antes de ir, beijou sua testa e disse:

— Tire alguns dias para descansar. Já falei com o senhor Mariva, ele concordou. Se precisar, peço reforço.

Sozinha, Evelyn ficou ali, fitando o vazio. E então, finalmente, as lágrimas começaram a rolar, seguidas por um choro desesperado, carregado de dor. Chorou até o corpo se render ao cansaço e adormeceu.

3

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