A casa não era como antes de sua partida dali. Estava totalmente reformada, como nova. Os muros estavam novamente de pé, o pequeno cercado não apresentava nenhuma falha. Nenhuma das tiras de madeira estava caída no chão, ou descolada dos pregos e arames. Toda a pintura da residência estava como a original. O amarelo da frente não possuía mancha alguma. O telhado, que evitava o chapisco de agua da chuva, que mofava as paredes, estava totalmente limpo, sem um limo sequer. As portas pareciam recém-colocadas, porém eram exatamente como as portas de suas lembranças de quando era criança. O marrom verniz e o dourado da maçaneta brilhavam ao reflexo do vermelho no céu.
Ao chegar a apenas alguns passos de distancia da entrada reparou que o tornado desaparecera por completo. O caos acalmara-se repentinamente. Até o vento havia se arre
— Então diga cabo Sérgio Alcântara. O que está acontecendo? Fiquei sabendo por intermédio do segundo sargento Henrique que você anda meio desligado nos horários de ronda e que no ultimo caso, em que sua equipe foi solicitada, o senhor chegou a chorar por um momento na cena do crime. Estou correto sobre isso cabo? Sergio acabara de ser chamada para a sala do primeiro tenente de seu pelotão. Um homem baixinho e de físico frágil. Seu rosto aparentava uma coloração acinzentada e seus lábios eram de uma cor pendendo ao arroxeado. O tenente não tinha das melhores condições de saúde daquele lugar. Há alguns anos precisou de um transplante de rim e desde então vinha decaindo-se em condicionamento físico. Mesmo com esse histórico mantinha-se fiel ao seu cigarro e a cafeína co
1. Estava voando nos céus. Atravessava a grossa camada de nuvens. Sentia as gotículas se condensando em seu corpo. Estava muito frio. Não tinha consciência de que a temperatura ali poderia ser tão baixa. Cristais de gelo raspavam em sua pele, mas não o machucavam. Eram finos como flocos de neve. Foi jogado mais ao alto. Ficou sobre o vapor de água e gelo em suspensão. Olhava para o universo enquanto flutuava nas altas altitudes, era uma imensidão de estrelas e marcas horizontais da galáxia que pertencia. O rastro esbranquiçado cobria aquela imensidade de névoa de estrelada. Ali não tinha vento, não havia barulho algum. Apenas o silencio mais agudo. Nada tocava seu corpo, nada chegava aos seus ouvidos. Nenhum de seus sentidos estava sendo aguçados além de sua visão. Estava em um lugar simplesmente perfeito. Mas assi
Uma pessoa vinha caminhando a passos largos numa estrada em companhia de seu cachorro de cor preta. O animal a vigiava e mantinha seus ouvidos atentos em tudo que se mexia ao redor. A mulher sabia dos sinais que ele podia lhe passar, ela também estava ligada a tudo quanto o cão pudesse lhe dizer. O perigo sempre foi iminente naquele mundo. A razão havia se perdido a muito e os poucos que ainda tinham não agiam de acordo com os padrões que a sociedade havia sido um dia, as correntes foram quebradas, todavia, os que se libertaram não eram tão inocentes assim.Ela sabia que estava próxima de seu destino. Estava a dias caminhando e se localizava por um pequeno mapa velho que pegou em uma escola abandonada nas redondezas de um lugar antigo chamado Sulacap. Havia poucos deles ainda existentes nesse mundo. Tudo havia se informatizado, antes da queda, e com a destruição da sociedade da informaç
Essa noite pareceu longa para Pedro de uma forma que não conseguia explicar. O sono o pegou e lhe arrastou para um precipício muito fundo, íngreme e perpendicular, tornando cada vez maior sua queda, causando o continuo aprofundamento, diretamente ao mais fundo do seu próprio interior. Dormiu por tantas horas que pareciam infinitas. Não que isso seja incomum para ele, mas dessa vez foi diferente. É de se admirar que ainda esteja cansado, mesmo após todas as horas que permaneceu apagado. Um cansaço que seu corpo não permitia que conseguisse abrir os olhos para o nascer de um novo dia. O mundo tem tantos problemas difíceis de serem encarados que muitos fazem a escolha, por diversas vezes, de que é melhor fechar os olhos e não abri-los mais. Não há cortina mais expressa do que a membranas que tapam nossas janelas. Não há luz que penetre quando estamos dispostos a e
Minha mãe é a pessoa mais forte que já conheci. Ela sozinha tomou conta de mim, minha irmã e minha avó. Sempre trabalhou duro na casa de outras pessoas. Certa vez fui acompanha-la em um trabalho e quis ajuda-la em seu serviço, isso não foi muito fácil. A prática a levou a um nível de competência no que fazia que me espantava. Como uma mulher que pouco dormia, mal conseguia comer bem com o dinheiro que tinha, e pouco descansava, pois ainda chegava em casa e tinha que cuidar dos seus, fazia aquele trabalho duro e desgastante tão bem feito? Acredito que isso seja coisa de mãe. Mães nascem com um espírito diferente dos demais seres. Sua energia é distinta biologicamente ou seu espirito é evoluído e programado para cuidar, não sei explicar bem. Acredito que a natureza deu a aquela que gera um amor diferente dos outros, que trás a tona o
Estava magro, ao ponto de conseguir ver suas costelas sobressaindo sobre a parte lateral do tronco. Passou os dedos sobre a pele e sentia o relevo que o esqueleto fazia sobre todo seu lado direito e esquerdo. Parecia que estava sem comer há séculos, ou mesmo que era um viciado em drogas, como aqueles que vemos perambulando pelas ruas, embora não estivesse sujo, mas sentia sua pele áspera como se a beira de escamar. Notava uma coceira incômoda entre as juntas. Seus joelhos estavam enrugados, os tornozelos e pés irreconhecíveis. Quando subiu sua visão até a imagem do espelho percebeu que estava com os cabelos compridos, haviam crescido até a altura dos seus ombros. Pedro Ferreira Rodrigues tinha o cabelo liso, fino e ralo, quando ele crescia logo caia para os lados e se dividia ao meio naturalmente. Porém naquele momento o que se apresentava a sua
Não vou dizer que meu relacionamento com minha irmã era dos melhores. Afinal, somos irmãos. Conhecem irmãos que não brigam? Ela é dois anos mais velha do que eu. Sempre mais calada e na dela. Não gostava quando eu estava por perto e junto dos meus amigos, mas nunca mexeu comigo. Apenas gostava de mim do jeito dela. Diz minha avó que Clarice foi quem mais sofreu com a morte do meu pai após minha mãe. Mesmo quando era uma criança bem pequena ela era muito apegada a ele, e ele a ela. Faziam tudo juntos. Mesmo não possuindo muitas condições ele adorava trazer pequenos presentes pra ela. — Seu pai adorava a Clara. Era encantado pela pequena dele, como ele mesmo a chamava. Acredita que uma vez ele comprou uma
Quando recobrou a consciência percebeu que havia ficado naquele lugar por horas. Tudo estava escuro. Sabia que tinha anoitecido. O ar estava frio e sentia coisas sinistras o observando por todos os lugares. Levantou-se e tentou se orientar pra saber onde exatamente estava. Descobriu que tinha dormido por horas numa rua próxima da sua casa. Nunca tinha feito algo do tipo. — Nossa que estranho. Sempre dormi na minha própria cama. Como pude dormir tanto tempo aqui? — Caminhou até a entrada da ruela e olhou em volta. Onde estava não havia seres vivos. — Onde estão todos? — Todavia percebeu que existiam sombras furtivas lhe observando curiosas, mas que mesmo olhando para ele de onde estavam não se aproximavam para incomoda-lo, apenas o vigiavam. Sentiu um peso sobre si, como uma g