O dia da primeira audiência havia chegado. O sol ainda nem despontava no céu quando Elisa já estava de pé, encarando o espelho com um nó no estômago. Vestia um conjunto social discreto — blazer bege, blusa de seda branca e calça preta. Prendeu os cabelos num coque firme, deixando apenas duas mechas soltas nas laterais. Seus olhos estavam levemente marcados com delineador, mas seu olhar era firme, decidido.Rafael apareceu na porta do quarto com uma caneca de café em mãos e um sorriso doce.— Você está linda. Séria, mas linda.Ela sorriu, meio sem graça.— Acho que é a primeira vez que ouço isso às seis da manhã.— É porque hoje você vai mostrar ao mundo a mulher forte que é. E eu estarei lá, aplaudindo.Elisa tomou o café em silêncio, cada gole aquecendo sua coragem.— O Leo ainda dorme?— Sim. Mas preparei o lanche da escola. Vou levá-lo enquanto você vai para o fórum. Já falei com o advogado, ele vai te encontrar lá.Elisa assentiu, mas antes de sair, se aproximou de Rafael e seguro
O sábado chegou com céu nublado e vento frio, o tipo de dia que Elisa costumava usar como desculpa para um cobertor, chocolate quente e desenhos animados com Leo. Mas naquele sábado, nada disso seria possível.Era o dia da primeira visita supervisionada entre Henrique e Leo.Elisa passou a manhã preparando o filho com cuidado. Leo usava uma calça jeans azul escura, camisa vermelha com estampa de dinossauros e um casaco de moletom cinza. Ela fez questão de arrumar seu cabelo com gel, deixando os fios castanhos assentados para trás.— Mamãe, por que eu vou ver aquele moço hoje? — perguntou Leo, com os olhinhos inocentes, sentando-se na beira da cama.Elisa se agachou na frente dele, segurando suas mãozinhas.— Porque ele é seu pai, filho. E agora ele quer te conhecer melhor.Leo franziu a testa.— Mas meu pai é o Rafa.Ela sentiu o coração apertar, mas sorriu com carinho.— O Rafa é muito especial, sim. Ele cuida da gente e te ama muito. Mas você também tem outro pai, que quer passar um
O sol se despedia atrás do mar calmo, tingindo o céu com tons alaranjados e dourados. Helena caminhava descalça pela areia morna da casa de praia onde tudo havia começado a se reencaixar. O vestido leve branco voava suavemente com o vento, e o som das ondas batendo ritmadamente era como uma canção de despedida dos dias difíceis.Dante apareceu atrás dela, agora com aquele olhar sereno e apaixonado que só ele sabia ter. Usava uma camisa de linho aberta no peito, revelando a pele bronzeada, e uma bermuda clara. Em suas mãos, uma caixinha pequena, forrada de veludo azul.— Você está tão linda — ele disse, com um sorriso nos lábios e os olhos brilhando. — Quase não consigo acreditar que essa mulher maravilhosa é minha esposa... de novo.Helena se virou, sorrindo, mas com os olhos marejados.— Nem nos meus melhores sonhos eu imaginei que a vida nos daria uma segunda chance... E que ela seria ainda melhor que a primeira.Ele a abraçou por trás, encostando o rosto em seu pescoço.— Porque ag
O salão do hotel estava lotado. O som dos copos tilintando, risadas e conversas paralelas criava uma melodia abafada no ambiente luxuoso. Lustres imponentes pendiam do teto, refletindo a luz dourada sobre os convidados vestidos com trajes impecáveis.Isabela caminhava entre eles com postura impecável, seu vestido preto justo ressaltando cada curva com elegância e sofisticação. Seu olhar estava firme, seu sorriso ensaiado, sua máscara bem ajustada. Afinal, ela aprendera, à força, que fraqueza não tinha espaço no mundo que conquistara.E, naquele momento, mais do que nunca, precisava sustentar essa armadura.— Dra. Isabela, parabéns pela conquista! — Um dos investidores mais influentes do setor aproximou-se, segurando uma taça de champanhe. Ele apertou sua mão com um sorriso admirado. — Sua nova campanha foi um sucesso absoluto.— Fico feliz que tenha gostado, Sr. Albuquerque. Trabalhamos duro para isso.Ela agradeceu com um aceno discreto e ergueu a taça para um brinde silencioso. Esse
Isabela entrou apressada no elevador, sentindo a respiração irregular. Assim que as portas se fecharam, ela encostou-se à parede fria e fechou os olhos por um instante, tentando recuperar o controle.Não podia se permitir fraquejar. Não por ele.Cinco anos. Cinco anos sem uma ligação, uma explicação, um pedido de desculpas. E agora Leonardo reaparecia como se nada tivesse acontecido? Como se pudesse simplesmente pedir para conversar e ela fosse aceitar?Ridículo.O elevador fez um pequeno som ao chegar ao andar de sua suíte. Isabela abriu os olhos e ergueu o queixo, retomando sua postura implacável. Saiu apressada, ignorando os olhares discretos dos funcionários do hotel. Tudo que queria era um momento de silêncio. De solidão.Mas, ao abrir a porta do quarto, seu corpo paralisou.Leonardo estava lá.Sentado confortavelmente em uma das poltronas de couro, uma taça de uísque na mão, observando-a com um olhar intenso.O choque rapidamente se transformou em raiva.— Como diabos você entro
O silêncio entre eles era sufocante.Isabela cruzou os braços, tentando conter a inquietação que crescia dentro de si. O olhar de Leonardo queimava sobre ela, carregado de algo que ela não conseguia decifrar.— Você quer me proteger de você? — repetiu, sem esconder a incredulidade. — Isso é uma piada?Leonardo não respondeu de imediato. Ele a observava como se estivesse lutando consigo mesmo, como se cada palavra que pensava em dizer pudesse mudar tudo.E, no fundo, Isabela sabia que poderia.— Eu não posso explicar agora. — A voz dele carregava uma tensão palpável. — Mas você precisa confiar em mim.Ela soltou uma risada amarga.— Confiar em você? Depois de tudo?Ele fechou os olhos por um breve segundo, como se esperasse essa reação.— Eu nunca quis te machucar, Isabela.— Mas machucou. — O tom dela era cortante. — E agora quer que eu simplesmente aceite essa desculpa vazia?Leonardo avançou um passo. Isabela sentiu sua presença como uma corrente elétrica, e isso a deixou furiosa. M
---O ar do quarto parecia mais denso após a revelação de Leonardo. Isabela, com os olhos ainda marejados pela mistura de raiva e curiosidade, respirou fundo, tentando encontrar firmeza em meio ao turbilhão de emoções. Ela não conseguia acreditar que aquele homem, que havia abandonado seu coração e sua vida, agora se colocava no centro de uma trama tão obscura e perigosa.— Protegê-la de mim? De que ou de quem você está falando? — Isabela insistiu, a voz trêmula, mas repleta de determinação. Seus dedos tamborilavam nervosamente na beira da mesa enquanto ela aguardava uma resposta.Leonardo desviou o olhar por um breve instante, como se pesasse cada palavra antes de proferi-la. Finalmente, com um tom baixo e carregado de pesar, ele respondeu:— Eu não posso explicar tudo de uma vez, mas há forças obscuras, grupos que operam nas sombras, manipulando destinos e espalhando o medo. Há pessoas que acreditam no controle absoluto sobre a vida dos outros, e fui coagido a fazer escolhas que hoj
---Isabela sentia o peso da escolha que acabara de fazer. Aceitar a presença de Leonardo em sua vida novamente, mesmo que por uma necessidade urgente de respostas, significava abrir as portas para uma dor que ela levou anos para tentar superar. Mas seu coração pulsava com uma mistura perigosa de medo e desejo.Ela puxou a mão antes que o toque dele se prolongasse, precisando manter a distância emocional.— Se vamos lidar com isso juntos, Leonardo, quero uma coisa clara — sua voz saiu firme. — Eu não sou mais a mesma mulher que você deixou para trás. Não vou aceitar desculpas vazias nem segredos pela metade. Se estamos nisso, quero a verdade. Toda ela.Leonardo sustentou seu olhar por um momento antes de assentir.— Eu entendo. E prometo que, desta vez, não vou esconder nada de você.As palavras eram bonitas, mas Isabela já não confiava tão facilmente.— Ótimo. Então comece me contando quem está por trás disso. Quem nos separou cinco anos atrás?Leonardo suspirou e passou a mão pelos