O salão do hotel estava lotado. O som dos copos tilintando, risadas e conversas paralelas criava uma melodia abafada no ambiente luxuoso. Lustres imponentes pendiam do teto, refletindo a luz dourada sobre os convidados vestidos com trajes impecáveis.
Isabela caminhava entre eles com postura impecável, seu vestido preto justo ressaltando cada curva com elegância e sofisticação. Seu olhar estava firme, seu sorriso ensaiado, sua máscara bem ajustada. Afinal, ela aprendera, à força, que fraqueza não tinha espaço no mundo que conquistara.
E, naquele momento, mais do que nunca, precisava sustentar essa armadura.
— Dra. Isabela, parabéns pela conquista! — Um dos investidores mais influentes do setor aproximou-se, segurando uma taça de champanhe. Ele apertou sua mão com um sorriso admirado. — Sua nova campanha foi um sucesso absoluto.
— Fico feliz que tenha gostado, Sr. Albuquerque. Trabalhamos duro para isso.
Ela agradeceu com um aceno discreto e ergueu a taça para um brinde silencioso. Esse evento representava a consagração de anos de luta. Isabela havia transformado sua empresa de marketing em um império, uma potência no mercado. Ninguém lhe dera nada de graça. Cada vitória foi conquistada com suor, resiliência e noites insones.
Mas, por mais que tentasse ignorar, uma parte dela sabia que aquele sucesso também era uma resposta. Uma resposta ao homem que a abandonara no pior momento da sua vida.
Ela havia superado tudo.
Ou, pelo menos, era o que gostava de acreditar.
Mas então, um arrepio gelado percorreu sua espinha.
Uma presença. Uma sombra do passado.
Seu corpo inteiro enrijeceu antes mesmo que seus olhos confirmassem o que sua intuição já gritava.
Ela se virou lentamente, e então o viu.
Leonardo.
O coração de Isabela martelou no peito, mas sua expressão permaneceu fria, inabalável. Ele não merecia saber que sua simples presença ainda a afetava.
Cinco anos. Esse era o tempo que havia passado desde que ele desaparecera da sua vida sem deixar rastros. Desde que ele a deixara sozinha, devastada, sem qualquer explicação.
Agora, ali estava ele. Terno impecável, postura imponente, os mesmos olhos intensos que um dia a fizeram sonhar.
O salão parecia ter encolhido. O ar ficou pesado, cada batida do coração dela se tornou mais audível. Mas ela se recusava a demonstrar qualquer fraqueza.
— Faz tempo, Isabela.
A voz dele era grave, familiar demais. A mesma que um dia lhe sussurrava promessas vazias.
Ela arqueou a sobrancelha, segurando a taça com firmeza.
— Não o suficiente.
Os lábios de Leonardo se curvaram levemente, mas o brilho nos olhos dele não era de diversão. Havia algo mais ali. Algo que ela não queria decifrar.
— Precisamos conversar.
Isabela soltou um riso seco, inclinando a cabeça levemente para o lado.
— Você perdeu esse direito há cinco anos.
Ela se virou para sair. Não queria prolongar aquilo. Não queria permitir que ele despertasse memórias que deveriam estar enterradas.
Mas então sentiu.
O toque quente dele em seu pulso.
Não forte, não bruto, mas o suficiente para fazer cada terminação nervosa do seu corpo despertar.
— Por favor.
Havia algo diferente na voz dele. Algo que não era arrogância. Nem confiança.
Dúvida. Culpa.
E, estranhamente, um toque de desespero.
O olhar de Isabela encontrou o dele novamente, e seu coração vacilou. Apenas por um segundo. Apenas o tempo suficiente para que ela se odiasse por isso.
Ela puxou o braço com firmeza, afastando-se do toque.
— Não há mais nada a dizer, Leonardo. Agora, se me der licença…
Com passos decididos, afastou-se dele.
Mas, mesmo sem olhar para trás, sentiu o peso do olhar dele queimando suas costas.
E algo dentro dela dizia que aquele reencontro não era o fim.
Era apenas o começo.
Isabela entrou apressada no elevador, sentindo a respiração irregular. Assim que as portas se fecharam, ela encostou-se à parede fria e fechou os olhos por um instante, tentando recuperar o controle.Não podia se permitir fraquejar. Não por ele.Cinco anos. Cinco anos sem uma ligação, uma explicação, um pedido de desculpas. E agora Leonardo reaparecia como se nada tivesse acontecido? Como se pudesse simplesmente pedir para conversar e ela fosse aceitar?Ridículo.O elevador fez um pequeno som ao chegar ao andar de sua suíte. Isabela abriu os olhos e ergueu o queixo, retomando sua postura implacável. Saiu apressada, ignorando os olhares discretos dos funcionários do hotel. Tudo que queria era um momento de silêncio. De solidão.Mas, ao abrir a porta do quarto, seu corpo paralisou.Leonardo estava lá.Sentado confortavelmente em uma das poltronas de couro, uma taça de uísque na mão, observando-a com um olhar intenso.O choque rapidamente se transformou em raiva.— Como diabos você entro
O silêncio entre eles era sufocante.Isabela cruzou os braços, tentando conter a inquietação que crescia dentro de si. O olhar de Leonardo queimava sobre ela, carregado de algo que ela não conseguia decifrar.— Você quer me proteger de você? — repetiu, sem esconder a incredulidade. — Isso é uma piada?Leonardo não respondeu de imediato. Ele a observava como se estivesse lutando consigo mesmo, como se cada palavra que pensava em dizer pudesse mudar tudo.E, no fundo, Isabela sabia que poderia.— Eu não posso explicar agora. — A voz dele carregava uma tensão palpável. — Mas você precisa confiar em mim.Ela soltou uma risada amarga.— Confiar em você? Depois de tudo?Ele fechou os olhos por um breve segundo, como se esperasse essa reação.— Eu nunca quis te machucar, Isabela.— Mas machucou. — O tom dela era cortante. — E agora quer que eu simplesmente aceite essa desculpa vazia?Leonardo avançou um passo. Isabela sentiu sua presença como uma corrente elétrica, e isso a deixou furiosa. M
---O ar do quarto parecia mais denso após a revelação de Leonardo. Isabela, com os olhos ainda marejados pela mistura de raiva e curiosidade, respirou fundo, tentando encontrar firmeza em meio ao turbilhão de emoções. Ela não conseguia acreditar que aquele homem, que havia abandonado seu coração e sua vida, agora se colocava no centro de uma trama tão obscura e perigosa.— Protegê-la de mim? De que ou de quem você está falando? — Isabela insistiu, a voz trêmula, mas repleta de determinação. Seus dedos tamborilavam nervosamente na beira da mesa enquanto ela aguardava uma resposta.Leonardo desviou o olhar por um breve instante, como se pesasse cada palavra antes de proferi-la. Finalmente, com um tom baixo e carregado de pesar, ele respondeu:— Eu não posso explicar tudo de uma vez, mas há forças obscuras, grupos que operam nas sombras, manipulando destinos e espalhando o medo. Há pessoas que acreditam no controle absoluto sobre a vida dos outros, e fui coagido a fazer escolhas que hoj
---Isabela sentia o peso da escolha que acabara de fazer. Aceitar a presença de Leonardo em sua vida novamente, mesmo que por uma necessidade urgente de respostas, significava abrir as portas para uma dor que ela levou anos para tentar superar. Mas seu coração pulsava com uma mistura perigosa de medo e desejo.Ela puxou a mão antes que o toque dele se prolongasse, precisando manter a distância emocional.— Se vamos lidar com isso juntos, Leonardo, quero uma coisa clara — sua voz saiu firme. — Eu não sou mais a mesma mulher que você deixou para trás. Não vou aceitar desculpas vazias nem segredos pela metade. Se estamos nisso, quero a verdade. Toda ela.Leonardo sustentou seu olhar por um momento antes de assentir.— Eu entendo. E prometo que, desta vez, não vou esconder nada de você.As palavras eram bonitas, mas Isabela já não confiava tão facilmente.— Ótimo. Então comece me contando quem está por trás disso. Quem nos separou cinco anos atrás?Leonardo suspirou e passou a mão pelos
O coração de Isabela martelava contra o peito. A cada nova revelação de Leonardo, um peso invisível se acumulava sobre seus ombros. Ela passou anos tentando enterrar aquele passado, seguir em frente sem olhar para trás, mas agora estava presa em uma rede de mistérios e segredos que pareciam se aprofundar a cada minuto.Ela cruzou os braços, mantendo a postura firme, a mente em um turbilhão. O que mais ele tinha para dizer? O que mais ela ainda precisava saber para entender o que realmente estava acontecendo?— Se você quer que eu confie em você, Leonardo, preciso saber exatamente o que estamos enfrentando. Onde estão essas provas que Otávio tanto quer?Leonardo hesitou, seus olhos observando cada reação dela com uma intensidade desconcertante.— Em um lugar seguro.Isabela estreitou os olhos.— Isso não responde a minha pergunta.Ele passou a mão pelo queixo, respirando fundo antes de continuar.— Antes de desaparecer, escondi tudo em um cofre fora do país. O problema é que, para aces
O caminho até o apartamento de Isabela foi silencioso, mas carregado de tensão. Leonardo dirigia com os olhos atentos ao retrovisor, como se esperasse ser seguido a qualquer momento. Isabela, sentada ao lado, tentava ignorar o frio na barriga que a dominava. Tudo parecia surreal demais.Ela passou cinco anos acreditando que Leonardo era um covarde que a abandonou no altar. Agora, descobria que sua vida estava entrelaçada a uma conspiração perigosa.— Você está estranho — ela disse, quebrando o silêncio.Leonardo manteve os olhos na estrada.— Só estou sendo cauteloso. Se Otávio souber que estamos juntos, pode agir mais rápido do que imaginamos.Isabela soltou uma risada curta e amarga.— Então você voltou para minha vida trazendo um inimigo poderoso e agora espera que eu simplesmente confie em você?Leonardo finalmente a olhou, sua expressão carregada de algo entre culpa e determinação.— Não espero que confie em mim. Espero que confie na verdade.Isabela não respondeu. Ela queria acr
O som do impacto contra a porta fez o sangue de Isabela congelar. O barulho vinha de fora, forte e crescente, como se alguém estivesse tentando arrombar a entrada do apartamento.— Rápido! — Leonardo gritou, puxando Isabela pela mão e a guiando em direção à janela. — Não temos tempo!Isabela sentiu o pânico crescer dentro dela, mas tentou manter a calma. A cada passo, sua mente trabalhava a mil por hora. Quem estava lá fora? E, mais importante, como Leonardo sabia que isso aconteceria?Leonardo puxou uma corda de nylon da mochila e a amarrou rapidamente no batente da janela. Ele estava calmamente realizando cada movimento, como se já estivesse preparado para isso há muito tempo.— O que está acontecendo? — Isabela sussurrou, aterrorizada.Leonardo não olhou para ela, apenas fez um gesto para que ela se aproximasse.— Eles sabem que encontramos o que procurávamos. Agora precisamos sair antes que a porta caia.Sem pensar, Isabela seguiu-o até a janela. Lá de cima, ela conseguiu ver uma
A cidade parecia se distorcer à medida que corriam pelas ruas escuras. As luzes dos postes piscavam, como se quisessem avisá-los de algo que estava por vir, algo que estava além de seu controle. Isabela sentia a respiração pesada, seu corpo cansado e o coração batendo descompassado. Mas o medo era maior do que qualquer exaustão.Leonardo, por outro lado, estava focado. Seu olhar era intenso, calculista. Cada passo que ele dava parecia ter sido previamente planejado. Ele conhecia o caminho, sabia onde estavam indo, e, mesmo com o perigo iminente, não vacilava.— Você tem certeza de que estamos indo para o lugar certo? — Isabela perguntou, tentando recuperar o fôlego enquanto olhava para trás. A sensação de que estavam sendo seguidos era palpável, e ela não conseguia afastar a ideia de que não estavam a salvo.— Confie em mim, Isabela — respondeu Leonardo, sem olhar para ela, mantendo o passo firme. — Sei onde nos esconderemos.Isabela queria confiar, mas as dúvidas continuavam a rondá-