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Isabela sentia o peso da escolha que acabara de fazer. Aceitar a presença de Leonardo em sua vida novamente, mesmo que por uma necessidade urgente de respostas, significava abrir as portas para uma dor que ela levou anos para tentar superar. Mas seu coração pulsava com uma mistura perigosa de medo e desejo.
Ela puxou a mão antes que o toque dele se prolongasse, precisando manter a distância emocional.
— Se vamos lidar com isso juntos, Leonardo, quero uma coisa clara — sua voz saiu firme. — Eu não sou mais a mesma mulher que você deixou para trás. Não vou aceitar desculpas vazias nem segredos pela metade. Se estamos nisso, quero a verdade. Toda ela.
Leonardo sustentou seu olhar por um momento antes de assentir.
— Eu entendo. E prometo que, desta vez, não vou esconder nada de você.
As palavras eram bonitas, mas Isabela já não confiava tão facilmente.
— Ótimo. Então comece me contando quem está por trás disso. Quem nos separou cinco anos atrás?
Leonardo suspirou e passou a mão pelos cabelos, o olhar carregado de um cansaço que parecia vir de muito antes daquele reencontro.
— Um homem chamado Otávio Villar.
Isabela franziu a testa.
— Nunca ouvi falar.
— E nem deveria. Ele é um empresário poderoso, mas não é só isso. Otávio tem influência onde poucos conseguem entrar. Políticos, juízes, corporações inteiras… Ele controla tudo nas sombras. E quando percebeu que eu não estava disposto a fazer parte do jogo sujo dele, me deu um aviso.
Isabela cruzou os braços, a mente processando cada palavra.
— E esse aviso era me deixar?
Leonardo assentiu lentamente.
— Ele descobriu que eu estava vulnerável por sua causa. Disse que, se eu não terminasse tudo, você pagaria o preço. Não podia arriscar sua vida, Isabela.
Ela sentiu um frio na espinha.
— Mas por quê? O que você tinha de tão valioso para ele querer te destruir dessa forma?
Leonardo hesitou, e Isabela percebeu que aquela ainda não era toda a verdade.
— Eu tinha algo que ele queria. Informações. Provas contra ele. Algo que poderia derrubar seu império.
— E você entregou?
Os olhos dele se tornaram sombrios.
— Eu fiz pior. Escondi essas provas. E agora, Otávio quer recuperá-las.
Um silêncio pesado se instalou no quarto. Isabela tentou entender o que aquilo significava para ela, para eles.
— Então, se ele quer essas provas, por que não veio atrás de você antes?
Leonardo passou a mão pelo queixo, como se estivesse juntando as peças.
— Porque ele achava que eu tinha desistido. Mas, de alguma forma, ele descobriu que eu nunca parei de tentar derrubá-lo. E agora, ele não vai parar até conseguir o que quer.
Isabela sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
— Então eu estou no meio disso sem nem saber.
Leonardo se aproximou, e dessa vez ela não recuou.
— Eu não vou deixar que nada aconteça com você, Isabela.
Os olhos dela procuraram algum vestígio de mentira naqueles olhos escuros e intensos. Mas, por mais que quisesse duvidar, uma parte dela ainda queria acreditar que ele realmente tentava protegê-la.
Mas a pergunta que não queria calar era: seria o suficiente?
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O coração de Isabela martelava contra o peito. A cada nova revelação de Leonardo, um peso invisível se acumulava sobre seus ombros. Ela passou anos tentando enterrar aquele passado, seguir em frente sem olhar para trás, mas agora estava presa em uma rede de mistérios e segredos que pareciam se aprofundar a cada minuto.Ela cruzou os braços, mantendo a postura firme, a mente em um turbilhão. O que mais ele tinha para dizer? O que mais ela ainda precisava saber para entender o que realmente estava acontecendo?— Se você quer que eu confie em você, Leonardo, preciso saber exatamente o que estamos enfrentando. Onde estão essas provas que Otávio tanto quer?Leonardo hesitou, seus olhos observando cada reação dela com uma intensidade desconcertante.— Em um lugar seguro.Isabela estreitou os olhos.— Isso não responde a minha pergunta.Ele passou a mão pelo queixo, respirando fundo antes de continuar.— Antes de desaparecer, escondi tudo em um cofre fora do país. O problema é que, para aces
O caminho até o apartamento de Isabela foi silencioso, mas carregado de tensão. Leonardo dirigia com os olhos atentos ao retrovisor, como se esperasse ser seguido a qualquer momento. Isabela, sentada ao lado, tentava ignorar o frio na barriga que a dominava. Tudo parecia surreal demais.Ela passou cinco anos acreditando que Leonardo era um covarde que a abandonou no altar. Agora, descobria que sua vida estava entrelaçada a uma conspiração perigosa.— Você está estranho — ela disse, quebrando o silêncio.Leonardo manteve os olhos na estrada.— Só estou sendo cauteloso. Se Otávio souber que estamos juntos, pode agir mais rápido do que imaginamos.Isabela soltou uma risada curta e amarga.— Então você voltou para minha vida trazendo um inimigo poderoso e agora espera que eu simplesmente confie em você?Leonardo finalmente a olhou, sua expressão carregada de algo entre culpa e determinação.— Não espero que confie em mim. Espero que confie na verdade.Isabela não respondeu. Ela queria acr
O som do impacto contra a porta fez o sangue de Isabela congelar. O barulho vinha de fora, forte e crescente, como se alguém estivesse tentando arrombar a entrada do apartamento.— Rápido! — Leonardo gritou, puxando Isabela pela mão e a guiando em direção à janela. — Não temos tempo!Isabela sentiu o pânico crescer dentro dela, mas tentou manter a calma. A cada passo, sua mente trabalhava a mil por hora. Quem estava lá fora? E, mais importante, como Leonardo sabia que isso aconteceria?Leonardo puxou uma corda de nylon da mochila e a amarrou rapidamente no batente da janela. Ele estava calmamente realizando cada movimento, como se já estivesse preparado para isso há muito tempo.— O que está acontecendo? — Isabela sussurrou, aterrorizada.Leonardo não olhou para ela, apenas fez um gesto para que ela se aproximasse.— Eles sabem que encontramos o que procurávamos. Agora precisamos sair antes que a porta caia.Sem pensar, Isabela seguiu-o até a janela. Lá de cima, ela conseguiu ver uma
A cidade parecia se distorcer à medida que corriam pelas ruas escuras. As luzes dos postes piscavam, como se quisessem avisá-los de algo que estava por vir, algo que estava além de seu controle. Isabela sentia a respiração pesada, seu corpo cansado e o coração batendo descompassado. Mas o medo era maior do que qualquer exaustão.Leonardo, por outro lado, estava focado. Seu olhar era intenso, calculista. Cada passo que ele dava parecia ter sido previamente planejado. Ele conhecia o caminho, sabia onde estavam indo, e, mesmo com o perigo iminente, não vacilava.— Você tem certeza de que estamos indo para o lugar certo? — Isabela perguntou, tentando recuperar o fôlego enquanto olhava para trás. A sensação de que estavam sendo seguidos era palpável, e ela não conseguia afastar a ideia de que não estavam a salvo.— Confie em mim, Isabela — respondeu Leonardo, sem olhar para ela, mantendo o passo firme. — Sei onde nos esconderemos.Isabela queria confiar, mas as dúvidas continuavam a rondá-
Isabela não sabia exatamente o que a impulsionava agora. Era o medo? A raiva? Ou talvez a curiosidade de descobrir o que mais estava escondido por trás daquele contrato e da relação de Leonardo com Otávio? De qualquer forma, ela não podia mais voltar atrás. Estava tão envolvida quanto ele, e o perigo era palpável.Leonardo a observou por um longo momento, e ela podia ver a dor em seus olhos. Ele se aproximou dela, mas não tocou. A distância entre eles parecia maior do que nunca. O que deveria ser um abraço reconfortante, uma reconciliação, agora parecia um abismo intransponível. Ela queria, mas não podia simplesmente ignorar tudo o que ele havia feito, o silêncio durante todos esses anos, as mentiras que ele espalhou como uma teia que agora a prendia.— O que aconteceu, Leonardo? — Isabela perguntou, sua voz mais baixa, mas firme. — O que você fez para me afastar?Ele respirou fundo e olhou para ela, como se as palavras estivessem presas em sua garganta.— Eu… eu te deixei porque Otáv
A manhã seguinte chegou com um manto de silêncio desconfortável sobre a cidade. Isabela estava sentada à mesa, com o envelope em suas mãos, a última peça do quebra-cabeça que ela havia procurado por tanto tempo. Cada minuto que passava parecia mais pesado, como se o tempo estivesse paralisado, aguardando a próxima jogada. Mas ela sabia que não havia mais tempo para hesitar. As peças estavam todas no lugar, e a verdade, por mais dolorosa que fosse, precisava ser enfrentada.Leonardo estava ao seu lado, observando-a atentamente. Ele havia dado a ela o controle da situação, mas seus olhos não mentiam. Ele sabia que ela precisava tomar a decisão final.Isabela olhou para o envelope, sentindo o peso da responsabilidade. Ela nunca imaginou que sua vida tomaria esse rumo. Desde que o conhecera, Leonardo a fizera sentir-se viva novamente, apesar de todas as mentiras e segredos. Mas agora, com tudo o que sabia, ela se via diante de uma encruzilhada. Era hora de decidir não apenas pelo seu futu
O relógio parecia acelerar enquanto Isabela se preparava para dar o passo mais arriscado de sua vida. Ela sentia seu coração pulsando no peito, mais forte que nunca, e a pressão da situação fazia com que o ar ao seu redor se tornasse denso e abafado. Estava no limite, mas não havia mais volta. Tudo o que ela conhecia estava prestes a mudar, e a decisão estava tomada.Era uma manhã nublada, o céu cinza pairando sobre a cidade, com nuvens carregadas, como se o próprio tempo estivesse presagiando a tempestade que se aproximava. Isabela olhou para o espelho no pequeno apartamento que dividia com sua mãe, o reflexo a encarando com um semblante de mulher decidida, mas também de alguém que carregava o peso do desconhecido.Ela tinha 28 anos, um rosto delicado, mas marcado pela experiência de quem já havia enfrentado perdas profundas. Seus cabelos castanhos, ondulados até os ombros, caíam de forma desordenada sobre o rosto, mas ela não tinha tempo para se importar com isso. Seu corpo, curvilí
O escritório de Otávio era um reflexo perfeito do homem que o possuía: luxuoso, frio e meticulosamente organizado. As paredes eram revestidas de madeira escura, e móveis de design moderno e caro estavam espalhados pelo ambiente, mas sem dar qualquer sensação de aconchego. As janelas do local estavam fechadas com pesados cortinados, bloqueando a luz natural e criando uma atmosfera ainda mais opressiva. A única luz vinha de uma lâmpada de mesa, cujo brilho fraco era suficiente para iluminar as prateleiras repletas de documentos e livros de negócios. O ar estava pesado, saturado com a fragrância sutil de couro e tabaco.Isabela parou por um momento à porta, seus olhos percorrendo o ambiente com atenção. O cheiro de pólvora estava no ar, como se cada objeto ali tivesse sido escolhido cuidadosamente para representar o poder imenso de Otávio. Ela sentia o peso da sit