O caminho até o apartamento de Isabela foi silencioso, mas carregado de tensão. Leonardo dirigia com os olhos atentos ao retrovisor, como se esperasse ser seguido a qualquer momento. Isabela, sentada ao lado, tentava ignorar o frio na barriga que a dominava. Tudo parecia surreal demais.
Ela passou cinco anos acreditando que Leonardo era um covarde que a abandonou no altar. Agora, descobria que sua vida estava entrelaçada a uma conspiração perigosa.
— Você está estranho — ela disse, quebrando o silêncio.
Leonardo manteve os olhos na estrada.
— Só estou sendo cauteloso. Se Otávio souber que estamos juntos, pode agir mais rápido do que imaginamos.
Isabela soltou uma risada curta e amarga.
— Então você voltou para minha vida trazendo um inimigo poderoso e agora espera que eu simplesmente confie em você?
Leonardo finalmente a olhou, sua expressão carregada de algo entre culpa e determinação.
— Não espero que confie em mim. Espero que confie na verdade.
Isabela não respondeu. Ela queria acreditar, queria entender tudo, mas o medo e a mágoa ainda pesavam.
Quando chegaram ao prédio, Leonardo desligou o carro, mas não se moveu.
— Deixe-me entrar primeiro — ele disse, sem olhar para ela.
Isabela arqueou a sobrancelha.
— Por quê?
— Preciso ter certeza de que ninguém esteve aqui antes de nós.
Ela revirou os olhos, mas no fundo sabia que ele estava certo.
— Ótimo. Seja meu convidado.
Leonardo saiu do carro e olhou ao redor antes de entrar no prédio. Isabela observou pela janela, seu coração batendo mais forte a cada segundo.
Cinco minutos se passaram. Dez.
Ela estava começando a ficar impaciente quando, finalmente, a porta do prédio se abriu e Leonardo acenou para ela.
Isabela saiu do carro, respirou fundo e entrou no elevador ao lado dele.
— Está tudo certo? — ela perguntou.
— Parece que sim.
A resposta não a tranquilizou.
Quando entraram no apartamento, Isabela sentiu um arrepio. Algo parecia fora do lugar, mas ela não conseguia identificar o quê.
— O que exatamente estamos procurando? — ela perguntou.
Leonardo caminhou até a estante, passando os dedos pelos livros.
— Algo que você tenha guardado nos últimos cinco anos. Um presente, um bilhete, algo que você nunca tenha jogado fora.
Isabela franziu a testa, tentando se lembrar.
Foi então que seus olhos caíram sobre uma pequena caixa guardada no fundo do armário.
Seu coração deu um salto.
Ela caminhou até lá, pegou a caixa com as mãos trêmulas e a abriu. Dentro, havia uma aliança. A aliança de casamento que nunca foi usada.
O peito dela apertou ao lembrar da noite em que guardou aquilo.
— Eu… nunca consegui me livrar dela — sussurrou.
Leonardo pegou a aliança e a examinou. Então, sem dizer nada, pegou um canivete do bolso e começou a raspar o interior da peça.
— O que está fazendo? — Isabela perguntou, confusa.
Segundos depois, um pequeno pedaço de papel apareceu, escondido na espessura da aliança.
Isabela prendeu a respiração.
Leonardo desdobrou o papel e leu em silêncio. Quando ergueu os olhos para ela, havia algo sombrio em sua expressão.
— Precisamos sair daqui. Agora.
Antes que ela pudesse perguntar por quê, um barulho forte ecoou pela sala.
Alguém estava tentando arrombar a porta.
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O som do impacto contra a porta fez o sangue de Isabela congelar. O barulho vinha de fora, forte e crescente, como se alguém estivesse tentando arrombar a entrada do apartamento.— Rápido! — Leonardo gritou, puxando Isabela pela mão e a guiando em direção à janela. — Não temos tempo!Isabela sentiu o pânico crescer dentro dela, mas tentou manter a calma. A cada passo, sua mente trabalhava a mil por hora. Quem estava lá fora? E, mais importante, como Leonardo sabia que isso aconteceria?Leonardo puxou uma corda de nylon da mochila e a amarrou rapidamente no batente da janela. Ele estava calmamente realizando cada movimento, como se já estivesse preparado para isso há muito tempo.— O que está acontecendo? — Isabela sussurrou, aterrorizada.Leonardo não olhou para ela, apenas fez um gesto para que ela se aproximasse.— Eles sabem que encontramos o que procurávamos. Agora precisamos sair antes que a porta caia.Sem pensar, Isabela seguiu-o até a janela. Lá de cima, ela conseguiu ver uma
A cidade parecia se distorcer à medida que corriam pelas ruas escuras. As luzes dos postes piscavam, como se quisessem avisá-los de algo que estava por vir, algo que estava além de seu controle. Isabela sentia a respiração pesada, seu corpo cansado e o coração batendo descompassado. Mas o medo era maior do que qualquer exaustão.Leonardo, por outro lado, estava focado. Seu olhar era intenso, calculista. Cada passo que ele dava parecia ter sido previamente planejado. Ele conhecia o caminho, sabia onde estavam indo, e, mesmo com o perigo iminente, não vacilava.— Você tem certeza de que estamos indo para o lugar certo? — Isabela perguntou, tentando recuperar o fôlego enquanto olhava para trás. A sensação de que estavam sendo seguidos era palpável, e ela não conseguia afastar a ideia de que não estavam a salvo.— Confie em mim, Isabela — respondeu Leonardo, sem olhar para ela, mantendo o passo firme. — Sei onde nos esconderemos.Isabela queria confiar, mas as dúvidas continuavam a rondá-
Isabela não sabia exatamente o que a impulsionava agora. Era o medo? A raiva? Ou talvez a curiosidade de descobrir o que mais estava escondido por trás daquele contrato e da relação de Leonardo com Otávio? De qualquer forma, ela não podia mais voltar atrás. Estava tão envolvida quanto ele, e o perigo era palpável.Leonardo a observou por um longo momento, e ela podia ver a dor em seus olhos. Ele se aproximou dela, mas não tocou. A distância entre eles parecia maior do que nunca. O que deveria ser um abraço reconfortante, uma reconciliação, agora parecia um abismo intransponível. Ela queria, mas não podia simplesmente ignorar tudo o que ele havia feito, o silêncio durante todos esses anos, as mentiras que ele espalhou como uma teia que agora a prendia.— O que aconteceu, Leonardo? — Isabela perguntou, sua voz mais baixa, mas firme. — O que você fez para me afastar?Ele respirou fundo e olhou para ela, como se as palavras estivessem presas em sua garganta.— Eu… eu te deixei porque Otáv
A manhã seguinte chegou com um manto de silêncio desconfortável sobre a cidade. Isabela estava sentada à mesa, com o envelope em suas mãos, a última peça do quebra-cabeça que ela havia procurado por tanto tempo. Cada minuto que passava parecia mais pesado, como se o tempo estivesse paralisado, aguardando a próxima jogada. Mas ela sabia que não havia mais tempo para hesitar. As peças estavam todas no lugar, e a verdade, por mais dolorosa que fosse, precisava ser enfrentada.Leonardo estava ao seu lado, observando-a atentamente. Ele havia dado a ela o controle da situação, mas seus olhos não mentiam. Ele sabia que ela precisava tomar a decisão final.Isabela olhou para o envelope, sentindo o peso da responsabilidade. Ela nunca imaginou que sua vida tomaria esse rumo. Desde que o conhecera, Leonardo a fizera sentir-se viva novamente, apesar de todas as mentiras e segredos. Mas agora, com tudo o que sabia, ela se via diante de uma encruzilhada. Era hora de decidir não apenas pelo seu futu
O relógio parecia acelerar enquanto Isabela se preparava para dar o passo mais arriscado de sua vida. Ela sentia seu coração pulsando no peito, mais forte que nunca, e a pressão da situação fazia com que o ar ao seu redor se tornasse denso e abafado. Estava no limite, mas não havia mais volta. Tudo o que ela conhecia estava prestes a mudar, e a decisão estava tomada.Era uma manhã nublada, o céu cinza pairando sobre a cidade, com nuvens carregadas, como se o próprio tempo estivesse presagiando a tempestade que se aproximava. Isabela olhou para o espelho no pequeno apartamento que dividia com sua mãe, o reflexo a encarando com um semblante de mulher decidida, mas também de alguém que carregava o peso do desconhecido.Ela tinha 28 anos, um rosto delicado, mas marcado pela experiência de quem já havia enfrentado perdas profundas. Seus cabelos castanhos, ondulados até os ombros, caíam de forma desordenada sobre o rosto, mas ela não tinha tempo para se importar com isso. Seu corpo, curvilí
O escritório de Otávio era um reflexo perfeito do homem que o possuía: luxuoso, frio e meticulosamente organizado. As paredes eram revestidas de madeira escura, e móveis de design moderno e caro estavam espalhados pelo ambiente, mas sem dar qualquer sensação de aconchego. As janelas do local estavam fechadas com pesados cortinados, bloqueando a luz natural e criando uma atmosfera ainda mais opressiva. A única luz vinha de uma lâmpada de mesa, cujo brilho fraco era suficiente para iluminar as prateleiras repletas de documentos e livros de negócios. O ar estava pesado, saturado com a fragrância sutil de couro e tabaco.Isabela parou por um momento à porta, seus olhos percorrendo o ambiente com atenção. O cheiro de pólvora estava no ar, como se cada objeto ali tivesse sido escolhido cuidadosamente para representar o poder imenso de Otávio. Ela sentia o peso da sit
O som do vento lá fora parecia mais intenso agora, como se a tempestade estivesse prestes a explodir. Isabela sentia o cheiro da chuva no ar, misturado ao seu próprio suor. A tensão no ambiente estava palpável, e cada passo que ela dava em direção à saída da mansão parecia um desafio maior do que o anterior. Eles não podiam perder mais tempo. O relógio estava contra eles, e a iminente chegada de Otávio os deixava em alerta constante.Leonardo, à sua frente, se movia com a precisão de alguém que havia passado anos evitando a detecção. Ele já sabia os caminhos mais rápidos para escapar, os pontos cegos da mansão, e estava tão focado no que vinha a seguir que Isabela teve de se esforçar para não ser consumida pela ansiedade. O som de seus próprios passos parecia alto demais, e, por mais que tentasse,
A tensão na sala era palpável. Cada segundo que passava parecia aumentar ainda mais a pressão sobre os três presentes naquele confronto. O ar estava carregado de um calor sufocante, apesar da chuva que já começava a cair do lado de fora. O som distante dos trovões reverberava pela mansão, mas, dentro daquela sala, a única coisa que importava era o que estava prestes a acontecer.Otávio fixou seus olhos em Isabela, seu sorriso agora desaparecendo completamente. O jogo estava mudando rapidamente, e ele não estava pronto para perder. Ele sabia que, se não conseguisse controlar a situação, todo o seu império poderia desmoronar diante de seus olhos. Ele não era mais o predador, mas a presa.Isabela sentiu o peso do olhar de Otávio sobre ela, mas não se afastou. Sua postura estava mais forte, mais imponente. Ela podia sentir