Era o fim da tarde quando voltaram da praia. Os cabelos de Elisa estavam cheios de areia, o vestido leve grudava no corpo por causa da água salgada, e Rafael carregava Leo no colo, que dormia profundamente após tanta brincadeira. O cenário era tão cotidiano quanto mágico.Na varanda da casa de praia, Clara os aguardava com um sorriso indecifrável e uma taça de vinho na mão.— Estavam lindos! Pareciam até parte de um comercial de margarina — disse, provocando.— Só se a margarina tiver sabor de areia e suor — rebateu Elisa, soltando uma risada enquanto tentava ajeitar o vestido.Rafael colocou Leo no sofá de rede, cobriu-o com cuidado e se juntou às duas na mesa da varanda.— Tá com essa cara porque quer contar alguma bomba, Clara. Fala logo.Clara girou o vinho na taça como se estivesse saboreando o momento.— Talvez uma bomba... talvez um presente. Depende do ponto de vista.— Desembucha! — Elisa insistiu.Clara colocou um envelope sobre a mesa.— Lembram da antiga chefe da Elisa? A
Os dias seguintes foram uma mistura de euforia e saudade. Elisa começava a encaixotar os livros, organizar papéis, e fazer listas intermináveis de tudo o que precisavam levar. A casa de praia se transformara num quartel de mudanças — caixas por todos os lados, Leo correndo entre elas com um capacete de brinquedo, fingindo ser um operário.— Mamãe, essa caixa vai no foguete? — ele perguntou, apontando para a que continha os sapatos de salto de Elisa.— Vai sim, meu amor — ela respondeu, rindo. — Mas só se o foguete for rosa e cheio de glitter!Rafael aparecia com fita adesiva na testa, marcadores coloridos nos bolsos e um olhar confuso.— Amor, você etiquetou essa caixa como "urgente-dramática-com-salto". Isso é algum código secreto?— Claro. Quer dizer que são meus sapatos preferidos e que você não pode esquecer dela nem se o caminhão de mudança pegar fogo — disse, se aproximando e selando seus lábios nos dele com um beijo rápido.Apesar da leveza, o clima tinha um peso sutil. Elisa p
O salão do hotel estava lotado. O som dos copos tilintando, risadas e conversas paralelas criava uma melodia abafada no ambiente luxuoso. Lustres imponentes pendiam do teto, refletindo a luz dourada sobre os convidados vestidos com trajes impecáveis.Isabela caminhava entre eles com postura impecável, seu vestido preto justo ressaltando cada curva com elegância e sofisticação. Seu olhar estava firme, seu sorriso ensaiado, sua máscara bem ajustada. Afinal, ela aprendera, à força, que fraqueza não tinha espaço no mundo que conquistara.E, naquele momento, mais do que nunca, precisava sustentar essa armadura.— Dra. Isabela, parabéns pela conquista! — Um dos investidores mais influentes do setor aproximou-se, segurando uma taça de champanhe. Ele apertou sua mão com um sorriso admirado. — Sua nova campanha foi um sucesso absoluto.— Fico feliz que tenha gostado, Sr. Albuquerque. Trabalhamos duro para isso.Ela agradeceu com um aceno discreto e ergueu a taça para um brinde silencioso. Esse
Isabela entrou apressada no elevador, sentindo a respiração irregular. Assim que as portas se fecharam, ela encostou-se à parede fria e fechou os olhos por um instante, tentando recuperar o controle.Não podia se permitir fraquejar. Não por ele.Cinco anos. Cinco anos sem uma ligação, uma explicação, um pedido de desculpas. E agora Leonardo reaparecia como se nada tivesse acontecido? Como se pudesse simplesmente pedir para conversar e ela fosse aceitar?Ridículo.O elevador fez um pequeno som ao chegar ao andar de sua suíte. Isabela abriu os olhos e ergueu o queixo, retomando sua postura implacável. Saiu apressada, ignorando os olhares discretos dos funcionários do hotel. Tudo que queria era um momento de silêncio. De solidão.Mas, ao abrir a porta do quarto, seu corpo paralisou.Leonardo estava lá.Sentado confortavelmente em uma das poltronas de couro, uma taça de uísque na mão, observando-a com um olhar intenso.O choque rapidamente se transformou em raiva.— Como diabos você entro
O silêncio entre eles era sufocante.Isabela cruzou os braços, tentando conter a inquietação que crescia dentro de si. O olhar de Leonardo queimava sobre ela, carregado de algo que ela não conseguia decifrar.— Você quer me proteger de você? — repetiu, sem esconder a incredulidade. — Isso é uma piada?Leonardo não respondeu de imediato. Ele a observava como se estivesse lutando consigo mesmo, como se cada palavra que pensava em dizer pudesse mudar tudo.E, no fundo, Isabela sabia que poderia.— Eu não posso explicar agora. — A voz dele carregava uma tensão palpável. — Mas você precisa confiar em mim.Ela soltou uma risada amarga.— Confiar em você? Depois de tudo?Ele fechou os olhos por um breve segundo, como se esperasse essa reação.— Eu nunca quis te machucar, Isabela.— Mas machucou. — O tom dela era cortante. — E agora quer que eu simplesmente aceite essa desculpa vazia?Leonardo avançou um passo. Isabela sentiu sua presença como uma corrente elétrica, e isso a deixou furiosa. M
---O ar do quarto parecia mais denso após a revelação de Leonardo. Isabela, com os olhos ainda marejados pela mistura de raiva e curiosidade, respirou fundo, tentando encontrar firmeza em meio ao turbilhão de emoções. Ela não conseguia acreditar que aquele homem, que havia abandonado seu coração e sua vida, agora se colocava no centro de uma trama tão obscura e perigosa.— Protegê-la de mim? De que ou de quem você está falando? — Isabela insistiu, a voz trêmula, mas repleta de determinação. Seus dedos tamborilavam nervosamente na beira da mesa enquanto ela aguardava uma resposta.Leonardo desviou o olhar por um breve instante, como se pesasse cada palavra antes de proferi-la. Finalmente, com um tom baixo e carregado de pesar, ele respondeu:— Eu não posso explicar tudo de uma vez, mas há forças obscuras, grupos que operam nas sombras, manipulando destinos e espalhando o medo. Há pessoas que acreditam no controle absoluto sobre a vida dos outros, e fui coagido a fazer escolhas que hoj
---Isabela sentia o peso da escolha que acabara de fazer. Aceitar a presença de Leonardo em sua vida novamente, mesmo que por uma necessidade urgente de respostas, significava abrir as portas para uma dor que ela levou anos para tentar superar. Mas seu coração pulsava com uma mistura perigosa de medo e desejo.Ela puxou a mão antes que o toque dele se prolongasse, precisando manter a distância emocional.— Se vamos lidar com isso juntos, Leonardo, quero uma coisa clara — sua voz saiu firme. — Eu não sou mais a mesma mulher que você deixou para trás. Não vou aceitar desculpas vazias nem segredos pela metade. Se estamos nisso, quero a verdade. Toda ela.Leonardo sustentou seu olhar por um momento antes de assentir.— Eu entendo. E prometo que, desta vez, não vou esconder nada de você.As palavras eram bonitas, mas Isabela já não confiava tão facilmente.— Ótimo. Então comece me contando quem está por trás disso. Quem nos separou cinco anos atrás?Leonardo suspirou e passou a mão pelos
O coração de Isabela martelava contra o peito. A cada nova revelação de Leonardo, um peso invisível se acumulava sobre seus ombros. Ela passou anos tentando enterrar aquele passado, seguir em frente sem olhar para trás, mas agora estava presa em uma rede de mistérios e segredos que pareciam se aprofundar a cada minuto.Ela cruzou os braços, mantendo a postura firme, a mente em um turbilhão. O que mais ele tinha para dizer? O que mais ela ainda precisava saber para entender o que realmente estava acontecendo?— Se você quer que eu confie em você, Leonardo, preciso saber exatamente o que estamos enfrentando. Onde estão essas provas que Otávio tanto quer?Leonardo hesitou, seus olhos observando cada reação dela com uma intensidade desconcertante.— Em um lugar seguro.Isabela estreitou os olhos.— Isso não responde a minha pergunta.Ele passou a mão pelo queixo, respirando fundo antes de continuar.— Antes de desaparecer, escondi tudo em um cofre fora do país. O problema é que, para aces