O céu tingido de laranja anunciava o fim de mais um dia quando Elisa, de pés descalços e vestido leve, caminhou pela areia da praia em frente à casa. O vento suave bagunçava seus cabelos enquanto o mar sussurrava segredos antigos. Era a véspera de seu casamento, e apesar da serenidade do momento, seu coração pulsava como um tambor apressado.— Fugindo da noiva? — Rafael perguntou, se aproximando com duas taças de vinho tinto nas mãos.Ela sorriu, aceitando a taça.— Tentando respirar. Amanhã… tudo muda.— Já mudou, Elisa. Desde o dia em que você me deixou entrar de novo na sua vida.Ela olhou para ele, aquele homem alto, de ombros largos, com a barba por fazer e os olhos castanhos que, mesmo depois de tantas decepções, ainda sabiam amá-la como ninguém.— Você tem noção de como me quebrou? — ela perguntou, com a voz embargada. — E de como está me juntando aos poucos?— Tenho. E por isso, cada dia que acordo ao seu lado é um pedido de perdão disfarçado de carinho.Eles se sentaram na ar
O som suave de um violão embalava o ambiente enquanto Elisa caminhava lentamente pela areia, cada passo ecoando na alma de Rafael. Ele nunca a viu tão linda. O vestido, leve como a brisa do mar, dançava ao redor de suas pernas bronzeadas. Os cabelos soltos reluziam com a luz do sol e seus olhos, marejados, estavam cravados nos dele.Leo, posicionado ao lado do altar, observava os pais com um sorriso sapeca. Ele sabia que aquele dia era especial. Tinha praticado com a tia Clara durante a semana inteira a fala que deveria dizer após o beijo. “Agora vocês são felizes para sempre!” — era o que ele ensaiava. Mal podia esperar pelo momento.Rafael estendeu a mão assim que Elisa chegou mais perto. Ela a segurou com firmeza, como quem segura o destino nas mãos.O celebrante sorriu com emoção, olhando o casal à frente.— Estamos aqui hoje para celebrar um amor que, mesmo ferido, soube florescer outra vez. Um amor que se perdeu, se reencontrou e decidiu recomeçar.Os olhos de Elisa se encheram
O sol nasceu tímido, derramando raios dourados sobre o quarto com vista para o mar. A brisa matinal balançava levemente as cortinas brancas, que dançavam como véus ao redor da varanda. Dentro do quarto, o som mais doce era o da respiração compassada de Rafael e Elisa, entrelaçados sob o lençol de linho.Elisa foi a primeira a abrir os olhos. Ainda meio sonolenta, levou alguns segundos para perceber onde estava. Mas bastou sentir o braço firme de Rafael sobre sua cintura e o leve roçar da barba em seu pescoço para lembrar: ela estava casada. De novo. Com ele.Ela sorriu sozinha, virando-se devagar. Rafael ainda dormia, com os cabelos levemente bagunçados e a boca entreaberta. Parecia um menino perdido no tempo. Era difícil acreditar que aquele homem, que já tinha partido seu coração em pedaços, agora dormia ao seu lado com tanto amor impresso no rosto.— Você tá me encarando, ou tá planejando fugir de novo? — ele murmurou, ainda de olhos fechados.— Nenhuma das opções. Tava só pensando
Era o fim da tarde quando voltaram da praia. Os cabelos de Elisa estavam cheios de areia, o vestido leve grudava no corpo por causa da água salgada, e Rafael carregava Leo no colo, que dormia profundamente após tanta brincadeira. O cenário era tão cotidiano quanto mágico.Na varanda da casa de praia, Clara os aguardava com um sorriso indecifrável e uma taça de vinho na mão.— Estavam lindos! Pareciam até parte de um comercial de margarina — disse, provocando.— Só se a margarina tiver sabor de areia e suor — rebateu Elisa, soltando uma risada enquanto tentava ajeitar o vestido.Rafael colocou Leo no sofá de rede, cobriu-o com cuidado e se juntou às duas na mesa da varanda.— Tá com essa cara porque quer contar alguma bomba, Clara. Fala logo.Clara girou o vinho na taça como se estivesse saboreando o momento.— Talvez uma bomba... talvez um presente. Depende do ponto de vista.— Desembucha! — Elisa insistiu.Clara colocou um envelope sobre a mesa.— Lembram da antiga chefe da Elisa? A
Os dias seguintes foram uma mistura de euforia e saudade. Elisa começava a encaixotar os livros, organizar papéis, e fazer listas intermináveis de tudo o que precisavam levar. A casa de praia se transformara num quartel de mudanças — caixas por todos os lados, Leo correndo entre elas com um capacete de brinquedo, fingindo ser um operário.— Mamãe, essa caixa vai no foguete? — ele perguntou, apontando para a que continha os sapatos de salto de Elisa.— Vai sim, meu amor — ela respondeu, rindo. — Mas só se o foguete for rosa e cheio de glitter!Rafael aparecia com fita adesiva na testa, marcadores coloridos nos bolsos e um olhar confuso.— Amor, você etiquetou essa caixa como "urgente-dramática-com-salto". Isso é algum código secreto?— Claro. Quer dizer que são meus sapatos preferidos e que você não pode esquecer dela nem se o caminhão de mudança pegar fogo — disse, se aproximando e selando seus lábios nos dele com um beijo rápido.Apesar da leveza, o clima tinha um peso sutil. Elisa p
O salão do hotel estava lotado. O som dos copos tilintando, risadas e conversas paralelas criava uma melodia abafada no ambiente luxuoso. Lustres imponentes pendiam do teto, refletindo a luz dourada sobre os convidados vestidos com trajes impecáveis.Isabela caminhava entre eles com postura impecável, seu vestido preto justo ressaltando cada curva com elegância e sofisticação. Seu olhar estava firme, seu sorriso ensaiado, sua máscara bem ajustada. Afinal, ela aprendera, à força, que fraqueza não tinha espaço no mundo que conquistara.E, naquele momento, mais do que nunca, precisava sustentar essa armadura.— Dra. Isabela, parabéns pela conquista! — Um dos investidores mais influentes do setor aproximou-se, segurando uma taça de champanhe. Ele apertou sua mão com um sorriso admirado. — Sua nova campanha foi um sucesso absoluto.— Fico feliz que tenha gostado, Sr. Albuquerque. Trabalhamos duro para isso.Ela agradeceu com um aceno discreto e ergueu a taça para um brinde silencioso. Esse
Isabela entrou apressada no elevador, sentindo a respiração irregular. Assim que as portas se fecharam, ela encostou-se à parede fria e fechou os olhos por um instante, tentando recuperar o controle.Não podia se permitir fraquejar. Não por ele.Cinco anos. Cinco anos sem uma ligação, uma explicação, um pedido de desculpas. E agora Leonardo reaparecia como se nada tivesse acontecido? Como se pudesse simplesmente pedir para conversar e ela fosse aceitar?Ridículo.O elevador fez um pequeno som ao chegar ao andar de sua suíte. Isabela abriu os olhos e ergueu o queixo, retomando sua postura implacável. Saiu apressada, ignorando os olhares discretos dos funcionários do hotel. Tudo que queria era um momento de silêncio. De solidão.Mas, ao abrir a porta do quarto, seu corpo paralisou.Leonardo estava lá.Sentado confortavelmente em uma das poltronas de couro, uma taça de uísque na mão, observando-a com um olhar intenso.O choque rapidamente se transformou em raiva.— Como diabos você entro
O silêncio entre eles era sufocante.Isabela cruzou os braços, tentando conter a inquietação que crescia dentro de si. O olhar de Leonardo queimava sobre ela, carregado de algo que ela não conseguia decifrar.— Você quer me proteger de você? — repetiu, sem esconder a incredulidade. — Isso é uma piada?Leonardo não respondeu de imediato. Ele a observava como se estivesse lutando consigo mesmo, como se cada palavra que pensava em dizer pudesse mudar tudo.E, no fundo, Isabela sabia que poderia.— Eu não posso explicar agora. — A voz dele carregava uma tensão palpável. — Mas você precisa confiar em mim.Ela soltou uma risada amarga.— Confiar em você? Depois de tudo?Ele fechou os olhos por um breve segundo, como se esperasse essa reação.— Eu nunca quis te machucar, Isabela.— Mas machucou. — O tom dela era cortante. — E agora quer que eu simplesmente aceite essa desculpa vazia?Leonardo avançou um passo. Isabela sentiu sua presença como uma corrente elétrica, e isso a deixou furiosa. M