— Certo, podemos ir — disse Edward, a contragosto.Ao chegarem ao castelo, foram levados ao grande salão, onde o rei Esteban os esperava sentado em seu trono. Sua postura relaxada e o sorriso jocoso nos lábios indicavam que ele estava de bom humor. Keenan, no entanto, não deixou de notar o olhar cúmplice trocado entre o rei e o duque. Aquilo não passou despercebido.— Ed! Que cara é essa, meu velho? — perguntou o monarca, rindo. — Tenha ânimo, afinal, ainda está vivo, não está?Edward manteve a expressão fechada.— Eu não sou mais o xerife?— Não — respondeu o rei com frieza, embora seu sorriso não desaparecesse. — Seus atos ultimamente não têm me impressionado. Cheguei a pensar que talvez você não estivesse tão empenhado em capturar o famoso rei dos ladrões.— Majestade, eu jamais faria tal coisa! — protestou Edward, a voz carregada de indignação.— Ah, se acalme, Edward — replicou Esteban, fazendo um gesto desdenhoso. — Eu sei que não apoia o homem. Afinal, sabemos o que aconteceria
Quando Anna voltou para casa depois daquele episódio assustador na praça, não conseguia pensar em outra coisa senão nos problemas que estavam por vir. O duque era uma pessoa horrível, sem nenhum traço de amor ou piedade. Bastava olhar para ele e perceber o quanto gostava de causar dor.O homem era a personificação da maldade.Anna estremeceu ao se lembrar daquele olho verde frio, desprovido de qualquer emoção, fixado nela. Lembrou-se vagamente de uma conversa antiga com seu pai, na qual ele mencionara que até a corte evitava convidar esse nobre para reuniões — somente o faziam quando era absolutamente necessário. Diziam que ele vivia em um castelo tão sombrio quanto ele próprio, onde os criados eram torturados por diversão.Antes, Anna nunca acreditara muito nessas histórias. Mas, ao vê-lo em ação na praça, constatou que tudo era real. Na verdade, era até pior.Perto da hora do almoço, seu pai chegou em casa estarrecido. Ele se sentou, pálido, e precisou de alguns minutos para recuper
Apolo andava de um lado para o outro no pátio da aldeia. O dia mal havia amanhecido, e nada do filho chegar. Infelizmente, o garoto não compreendia a gravidade da situação. Se Esteban sozinho já era perigoso, com a ajuda de Viktor Kairus, a ameaça era ainda pior.O duque era um homem excepcionalmente esperto e cruel. Um sujeito sem coração, sem um pingo de bondade. Quando agia, era certeiro. Desde que Apolo fingiu sua morte, evitava estar no mesmo ambiente que Viktor. Tinha certeza de que aquele homem poderia descobrir sua verdadeira identidade.Viktor não era um homem velho, talvez tivesse apenas dez anos a mais que Keenan, pelo que recordava. Suas amizades sempre vinham acompanhadas de segundas intenções.O irmão de Apolo havia atingido o limite da loucura ao chamá-lo. Ainda assim, era incrível que ele se espantasse — Esteban e Viktor eram iguais. Ambos grotescos.— Estamos ferrados! — Jordan exclamou. — O Duque de um olho só está aqui. Devíamos fugir antes que ele descubra algo.Os
Quando tudo parecia seguro, Keenan voltou à floresta. A entrada do túnel estava desprotegida, e ele balançou a cabeça, ficando mal-humorado. Assim que chegou à aldeia, avistou os garotos junto de Apolo e sua mãe. Todos o encaravam com expressões espantadas.Keenan ignorou os olhares, desceu as escadas calmamente, colocou as mãos no bolso da calça e agiu como se nada estivesse fora do comum.— Alguém pode me explicar por que o nosso túnel está desprotegido? — perguntou, erguendo uma sobrancelha ao se aproximar.— Onde você estava? — A voz de Gweneth soou histérica enquanto o olhava com severidade. — Tem ideia da preocupação que nos causou?— Mãe — respondeu, com calma —, eu disse que precisava de um momento sozinho. Estava com Annabeth. — Antes que ela pudesse começar outro sermão, completou: — Na casa dela.— Dormiu lá?Ele assentiu com a cabeça, desviando o olhar para Apito e Tina.— Keenan, o que faremos agora? Vamos sair daqui, certo? — perguntou Jordan, com evidente preocupação.—
Esteban observava, impaciente, enquanto o duque fazia flexões rápidas e aparentemente sem esforço. Já fazia quase um mês desde a chegada de Kairus a Forwood, e ainda não havia qualquer avanço significativo sobre o paradeiro do rei dos ladrões. A frustração fervilhava dentro de Esteban. Ele esperava que aquele homem medonho resolvesse tudo com a eficiência que prometera, mas até agora, nada.Enquanto isso, a última carga — tanto de comida quanto de ouro — havia sido roubada na floresta, sem qualquer represália significativa. Pelo menos Edward, apesar de sua incompetência, ao menos tentava confrontar os ladrões. Viktor, por outro lado, limitava-se a intimidar os aldeões. É verdade que os impostos agora eram pagos rigorosamente, mas quando isso não acontecia, o duque era impiedoso em seus castigos públicos.Esteban estava no limite de sua paciência. Queria resultados.— Você sempre transporta o seu ouro nessas mesmas carruagens? — a voz grave de Kairus interrompeu seus pensamentos.O rei
Keenan ajustou a armadura e verificou a máscara, certificando-se de que estava bem presa, enquanto o capuz lhe cobria o rosto. Pegou sua aljava e as bolsas de ouro antes de sair. Do lado de fora, os garotos já o aguardavam ao lado de Apolo, cuja convivência com ele mudara significativamente nas últimas semanas.Embora tanto Apolo quanto sua mãe estivessem respeitando seu espaço, Keenan sabia que as conversas mais difíceis ainda estavam por vir. Mas, por ora, precisava de tempo para processar tudo.— Apito, fique de olhos abertos. Qualquer sinal de perigo, você sabe o que fazer — ordenou com firmeza.— Mas eu queria ir com vocês, fazer a entrega.Keenan suspirou, avaliando o garoto.— Escute, essa já é uma responsabilidade enorme. Não vou te colocar no grupo se não estiver preparado. Tem certeza de que quer vir?— Tenho! Estou pronto.Ele não insistiu mais. Concordando com a cabeça, liderou o grupo para fora da floresta. O objetivo era claro: entregar as bolsas de ouro às casas da alde
Keenan segurava o pai pelos ombros enquanto Sinan o carregava pelas pernas. Apito e Jordan iam na frente, abrindo caminho. Assim que entraram na aldeia, o grupo no pátio, ainda acordado, se levantou assustado, inclusive Gweneth e Tina.— Ah, meu Deus! — Gweneth exclamou ao ver Apolo desacordado, com o corpo ensanguentado. — O que aconteceu?— Acordem o William! Temos que fechar esse sangramento rápido! — gritou Keenan, seguindo direto para a ferraria.Colocaram Apolo de barriga para baixo sobre uma bancada improvisada. Sinan o segurou pelos lados enquanto Keenan rasgava a camisa do pai e examinava a ferida. Por sorte, a flecha não atingira órgãos vitais. Gweneth apareceu com uma garrafa de bebida alcoólica e, sem hesitar, derramou o líquido na ferida.Apolo gritou, se contorcendo de dor, mas Keenan e Sinan o mantinham firme.— Eu estou aqui! — William anunciou, ofegante, ao entrar correndo.O ferreiro acendeu as brasas, pegou um pedaço de lâmina e jogou bebida sobre ela antes de levá-
Anna acordou naquela manhã sentindo uma pontada no coração. Desde que Lewis veio pessoalmente entregar uma carta de Keenan informando que ele estava doente e precisava de cuidados em outro reino, ela não conseguia encontrar paz.Um mês havia se passado sem nenhuma notícia. Ela temia que seu noivo tivesse contraído a mesma doença que levou o pai dele. Não se lembrava muito bem do ocorrido, mas sabia que Benedict esbanjava saúde antes de cair doente de forma repentina — tudo por causa de um simples resfriado.A aflição não a deixava. Algo lhe dizia que Keenan precisava dela mais do que nunca. Se ao menos soubesse onde ele estava...Da janela do quarto, viu pequenos flocos brancos caindo do céu. A neve sempre tinha algo mágico. Observá-la trazia um conforto momentâneo, quase como uma promessa de renovação. Mas em Forwood, as promessas de dias melhores pareciam tão distantes quanto o brilho de um sol no inverno.A aldeia havia se transformado num lugar tenebroso. Com o duque de Bunterllin