Keenan ajustou a armadura e verificou a máscara, certificando-se de que estava bem presa, enquanto o capuz lhe cobria o rosto. Pegou sua aljava e as bolsas de ouro antes de sair. Do lado de fora, os garotos já o aguardavam ao lado de Apolo, cuja convivência com ele mudara significativamente nas últimas semanas.Embora tanto Apolo quanto sua mãe estivessem respeitando seu espaço, Keenan sabia que as conversas mais difíceis ainda estavam por vir. Mas, por ora, precisava de tempo para processar tudo.— Apito, fique de olhos abertos. Qualquer sinal de perigo, você sabe o que fazer — ordenou com firmeza.— Mas eu queria ir com vocês, fazer a entrega.Keenan suspirou, avaliando o garoto.— Escute, essa já é uma responsabilidade enorme. Não vou te colocar no grupo se não estiver preparado. Tem certeza de que quer vir?— Tenho! Estou pronto.Ele não insistiu mais. Concordando com a cabeça, liderou o grupo para fora da floresta. O objetivo era claro: entregar as bolsas de ouro às casas da alde
Keenan segurava o pai pelos ombros enquanto Sinan o carregava pelas pernas. Apito e Jordan iam na frente, abrindo caminho. Assim que entraram na aldeia, o grupo no pátio, ainda acordado, se levantou assustado, inclusive Gweneth e Tina. — Ah, meu Deus! — Gweneth exclamou ao ver Apolo desacordado, com o corpo ensanguentado. — O que aconteceu? — Acordem o William! Temos que fechar esse sangramento rápido! — gritou Keenan, seguindo direto para a ferraria. Colocaram Apolo de barriga para baixo sobre uma bancada improvisada. Sinan o segurou pelos lados enquanto Keenan rasgava a camisa do pai e examinava a ferida. Por sorte, a flecha não atingira órgãos vitais. Gweneth apareceu com uma garrafa de bebida alcoólica e, sem hesitar, derramou o líquido na ferida. Apolo gritou, se contorcendo de dor, mas Keenan e Sinan o mantinham firme. — Eu estou aqui! — William anunciou, ofegante, ao entrar correndo. O ferreiro acendeu as brasas, pegou um pedaço de lâmina e jogou bebida sobre ela ant
Anna acordou naquela manhã sentindo uma pontada no coração. Desde que Lewis veio pessoalmente entregar uma carta de Keenan informando que ele estava doente e precisava de cuidados em outro reino, ela não conseguia encontrar paz.Um mês havia se passado sem nenhuma notícia. Ela temia que seu noivo tivesse contraído a mesma doença que levou o pai dele. Não se lembrava muito bem do ocorrido, mas sabia que Benedict esbanjava saúde antes de cair doente de forma repentina — tudo por causa de um simples resfriado.A aflição não a deixava. Algo lhe dizia que Keenan precisava dela mais do que nunca. Se ao menos soubesse onde ele estava...Da janela do quarto, viu pequenos flocos brancos caindo do céu. A neve sempre tinha algo mágico. Observá-la trazia um conforto momentâneo, quase como uma promessa de renovação. Mas em Forwood, as promessas de dias melhores pareciam tão distantes quanto o brilho de um sol no inverno.A aldeia havia se transformado num lugar tenebroso. Com o duque de Bunterllin
Sinan balançou a cabeça enquanto encarava a última casa no alto da árvore. Reprimiu o desejo de arremessar uma pedra. Aquele idiota não sairia de lá nunca mais? A lembrança da última conversa entre eles surgiu nítida, como uma ferida aberta.Era logo após Keenan ter anunciado a toda aldeia que não vestiria mais o manto do rei dos ladrões.— Que história é essa de deixar de ser o rei dos ladrões? — Sinan irrompeu pela sala de reuniões, a irritação evidente em sua voz.— Não é história, é realidade. Só piorei as coisas — respondeu Keenan, sem olhar para ele. Pegou seu arco e flecha e o estendeu para o primo. — É seu agora.— Eu não quero isso. Tenho o meu próprio arco, você sabe disso.— Então vou queimá-lo.— Keenan! Que droga é essa? Dá para parar com isso? — Sinan explodiu, o tom cortando o ar. — Nada disso foi culpa sua!— Ah, não? — A voz de Keenan ecoou pela sala, carregada de dor. — Não é isso que minha cabeça me diz. Eu condenei Luca à morte... Eu mesmo tive que matá-lo!Sinan o
Os garotos apontaram as flechas para Milo no instante em que ele afirmou saber a identidade de Keenan. Sinan, que ainda mantinha a espada contra a cabeça do rapaz, o agarrou pelo colarinho da beca e o ergueu do chão como se ele não pesasse nada.Ninguém de fora do esconderijo jamais descobrira quem era Keenan. Isso era impossível.— Quem lhe disse isso, rapaz? — Sinan rosnou, o tom carregado de ameaça.Milo arregalou os olhos e segurou nos braços dele, os pés balançando no ar como se tentasse correr sem sair do lugar.— Espera! Eu sou vidente! É por isso que sei!— Vidente? — Sinan repetiu, os olhos semicerrados.— Sim! Por favor, eu posso explicar tudo. Só não me machuque! — suplicou o jovem ex-monge, claramente assustado.Sinan encarou os olhos escuros de Milo, procurando qualquer sinal de mentira. Ao invés disso, viu algo familiar: um brilho estranho, algo que só as pessoas que já perderam alguém carregavam.Ele soltou Milo, que caiu de pé na neve com um suspiro de alívio.— Como p
Quando Keenan finalmente saiu da cabana com o pai, o ar gelado do inverno o atingiu em cheio. Ele olhou para cima, observando o teto de madeira que cobria a aldeia, agora quase todo branco devido à nevasca. A estrutura, construída para protegê-los do frio implacável, permitia que a neve caísse em cascatas em algumas áreas específicas, como no centro do pátio. Ali, crianças brincavam, jogando bolas de neve umas nas outras.— Tio Keenan! — gritou uma voz infantil. — Tio Keenan saiu!Imediatamente, os aldeões pararam o que faziam e se voltaram para ele e Apolo. Keenan sentiu o peso daqueles olhares. Era como se o tempo tivesse congelado junto com o inverno.Ele coçou a barba por fazer, ajeitou os cabelos longos e, hesitante, deu um leve aceno para as crianças antes de seguir pela passarela em direção à casa dos pais.— Amor? — Apolo chamou ao entrar na casa. — Acho melhor você colocar mais um prato na mesa.O aroma da comida encheu o ar, fazendo o estômago de Keenan roncar alto. Ele pres
Keenan não sabia de onde vinha a força, mas ao ouvir que sua garota estava em perigo, sentiu-se como um urso prestes a atacar. Mesmo assim, conseguiu resistir à impulsividade de agarrar Milo e exigir respostas imediatas. Não era mais o mesmo homem que agia primeiro e pensava depois. Agora, ele buscava clareza e sabia que perguntar antes de atirar era o melhor caminho.Ele lançou um olhar rápido para os amigos, percebendo que todos pareciam prender a respiração, esperando uma explosão sua. Apenas Apolo, ao seu lado, mantinha uma expressão serena.— O que você sabe sobre Annabeth Riley? — Sua voz saiu calma, mas o olhar severo foi suficiente para fazer o jovem vestido de monge tremer. — Que tipo de perigo ela está correndo?— Eu sei que vocês dois se amam desde pequenos. Sei que ela é filha do ex-xerife. Mas o mais importante agora é você voltar. O rei tem uma certa fascinação por Anna, mas não é amor. Ele é incapaz de sentir isso. Para ele, ela é apenas um objeto de uso.— Aquele desgr
A carruagem parou em frente ao castelo, e Anna sentiu uma vontade irresistível de correr para o lado oposto. Esteban os aguardava na entrada, ansioso. O desprezo que ela sentia por aquele homem era ilimitado. A única coisa boa naquela cena era a ausência do duque, outro que também lhe causava um medo terrível.Como sempre, foi a última a sair da carruagem, relutante. Sabia que, para Esteban, convocar um almoço de última hora não era sinal de coisa boa.— Edward, senhora Riley! É sempre um enorme prazer recebê-los em meu castelo — disse o rei, com uma cortesia falsamente efusiva. Quem o conhecia bem sabia o quão exagerado aquilo era. — Senhorita Riley — completou, dirigindo a ela um sorriso estranho e amplo. — A senhorita é sempre uma visão encantadora.Anna respondeu com uma reverência breve, mas não retribuiu o sorriso. Não tinha intenção de disfarçar que não queria estar ali.— Vamos entrar! — disse Esteban, gesticulando para segui-lo. — Como sempre, aguardaremos na sala de estar en