Os garotos apontaram as flechas para Milo no instante em que ele afirmou saber a identidade de Keenan. Sinan, que ainda mantinha a espada contra a cabeça do rapaz, o agarrou pelo colarinho da beca e o ergueu do chão como se ele não pesasse nada.Ninguém de fora do esconderijo jamais descobrira quem era Keenan. Isso era impossível.— Quem lhe disse isso, rapaz? — Sinan rosnou, o tom carregado de ameaça.Milo arregalou os olhos e segurou nos braços dele, os pés balançando no ar como se tentasse correr sem sair do lugar.— Espera! Eu sou vidente! É por isso que sei!— Vidente? — Sinan repetiu, os olhos semicerrados.— Sim! Por favor, eu posso explicar tudo. Só não me machuque! — suplicou o jovem ex-monge, claramente assustado.Sinan encarou os olhos escuros de Milo, procurando qualquer sinal de mentira. Ao invés disso, viu algo familiar: um brilho estranho, algo que só as pessoas que já perderam alguém carregavam.Ele soltou Milo, que caiu de pé na neve com um suspiro de alívio.— Como p
Quando Keenan finalmente saiu da cabana com o pai, o ar gelado do inverno o atingiu em cheio. Ele olhou para cima, observando o teto de madeira que cobria a aldeia, agora quase todo branco devido à nevasca. A estrutura, construída para protegê-los do frio implacável, permitia que a neve caísse em cascatas em algumas áreas específicas, como no centro do pátio. Ali, crianças brincavam, jogando bolas de neve umas nas outras.— Tio Keenan! — gritou uma voz infantil. — Tio Keenan saiu!Imediatamente, os aldeões pararam o que faziam e se voltaram para ele e Apolo. Keenan sentiu o peso daqueles olhares. Era como se o tempo tivesse congelado junto com o inverno.Ele coçou a barba por fazer, ajeitou os cabelos longos e, hesitante, deu um leve aceno para as crianças antes de seguir pela passarela em direção à casa dos pais.— Amor? — Apolo chamou ao entrar na casa. — Acho melhor você colocar mais um prato na mesa.O aroma da comida encheu o ar, fazendo o estômago de Keenan roncar alto. Ele pres
Keenan não sabia de onde vinha a força, mas ao ouvir que sua garota estava em perigo, sentiu-se como um urso prestes a atacar. Mesmo assim, conseguiu resistir à impulsividade de agarrar Milo e exigir respostas imediatas. Não era mais o mesmo homem que agia primeiro e pensava depois. Agora, ele buscava clareza e sabia que perguntar antes de atirar era o melhor caminho.Ele lançou um olhar rápido para os amigos, percebendo que todos pareciam prender a respiração, esperando uma explosão sua. Apenas Apolo, ao seu lado, mantinha uma expressão serena.— O que você sabe sobre Annabeth Riley? — Sua voz saiu calma, mas o olhar severo foi suficiente para fazer o jovem vestido de monge tremer. — Que tipo de perigo ela está correndo?— Eu sei que vocês dois se amam desde pequenos. Sei que ela é filha do ex-xerife. Mas o mais importante agora é você voltar. O rei tem uma certa fascinação por Anna, mas não é amor. Ele é incapaz de sentir isso. Para ele, ela é apenas um objeto de uso.— Aquele desgr
A carruagem parou em frente ao castelo, e Anna sentiu uma vontade irresistível de correr para o lado oposto. Esteban os aguardava na entrada, ansioso. O desprezo que ela sentia por aquele homem era ilimitado. A única coisa boa naquela cena era a ausência do duque, outro que também lhe causava um medo terrível.Como sempre, foi a última a sair da carruagem, relutante. Sabia que, para Esteban, convocar um almoço de última hora não era sinal de coisa boa.— Edward, senhora Riley! É sempre um enorme prazer recebê-los em meu castelo — disse o rei, com uma cortesia falsamente efusiva. Quem o conhecia bem sabia o quão exagerado aquilo era. — Senhorita Riley — completou, dirigindo a ela um sorriso estranho e amplo. — A senhorita é sempre uma visão encantadora.Anna respondeu com uma reverência breve, mas não retribuiu o sorriso. Não tinha intenção de disfarçar que não queria estar ali.— Vamos entrar! — disse Esteban, gesticulando para segui-lo. — Como sempre, aguardaremos na sala de estar en
Enquanto voltavam para casa, Anna abraçou Keenan com mais força, como se sua vida dependesse disso. Enterrou o nariz no pescoço dele e sentiu o cheiro de coco misturado com menta. Como sentia saudade daquele cheiro!Sem conseguir resistir, passou a ponta do nariz pela pele dele, e o sentiu estremecer. Ele havia evitado o caminho da aldeia para não chamar atenção e optou pela estrada mais curta. Anna apenas queria passar um tempo com ele, saber o que acontecera, e encher Keenan de carinho.Para o inferno aquela aposta que fizeram, agora não fazia sentido. A saudade que sentia dele era imensa, e não queria mais perder tempo com brincadeiras. Só o queria por inteiro. Após o aviso do duque, ela temia por tudo.Ao chegarem à mansão, Keenan saltou do cavalo e a segurou pela cintura, ajudando-a a descer. Anna o abraçou novamente e afastou a cabeça apenas para poder observá-lo. Notou as olheiras em volta dos olhos e a expressão cansada, também. Ele havia emagrecido.Podia julgar que ele realm
Milo sempre foi um rapaz alegre, embora sua história não fosse tão feliz assim. Crescera com sua irmã e mãe em um casebre entre a fronteira de Bunterlling e o reino de Gotril. A magia sempre esteve presente entre eles. Amara, sua mãe, os ensinou tudo sobre feitiços e bruxaria, além de explicar seus dons: ele nascera com a marca da Lua, um grande poder para prever o futuro, e sua irmã, Rhoslyn, herdara o poder de luz muito poderoso, o mesmo de Amara.Antes de sua mãe ser exterminada pelas irmãs — as três bruxas velhas das trevas —, ela escondeu ele e Rhoslyn para que as tias não os encontrassem.Isso funcionou durante algum tempo. Ele e a irmã passaram por muitas dificuldades, incluindo fome, até conseguirem se acostumar a viver sem Amara. Porém, quando a magia de Rhoslyn começou a se manifestar e ele começou a ter visões, algo se acendeu como um farol para as bruxas. Foi quando tiveram que se separar, e, quando se reencontraram, ela estava noiva e grávida do duque de Bunterlling.Milo
— Viktor… Viktor… Viktor…Os sussurros pelo seu nome ecoavam distantes, gradualmente se aproximando. Quando as vozes começaram a soar familiares, uma onda de arrepios percorreu seu corpo. Enquanto uma o chamava, outra soltava uma risada diabolicamente familiar.O Duque despertou de repente, levantando-se rapidamente da cama. Seus olhos se fixaram nas três bruxas velhas paradas ao pé da cama, segurando seus cajados inseparáveis com a mão direita. O som das risadas ecoava pelo quarto. Hylda, Agatha, Matilda.— Eu disse que nosso filho acordaria — comentou Hylda, a mais velha.— Demorou muito para isso acontecer — rebateu Agatha, a irmã do meio.— Sim… demorou — Matilda, a mais nova, concordou com um sorriso cruel.Viktor esfregou os olhos, fitando as três. Logo percebeu que eram apenas imagens fantasmagóricas. Sempre que uma falava, as outras duas completavam suas palavras, como se estivessem em perfeita sincronia. Uma sintonia assustadora.— Mamães, vocês não estão realmente aqui — afi
Esteban estava sentado em seu trono, bebendo lentamente um gole de vinho. Coçou o cavanhaque no queixo, ainda completamente irritado pela intromissão do General Bentley no dia anterior, ou, melhor dizendo, pelo fora da lei.Suas desconfianças só aumentavam. Mas isso ele resolveria em breve. O que ele mais queria naquele momento era destroçar Bentley de uma vez por todas, e um passo importante para isso seria tirar Annabeth Riley dele.A filha de Edward chamou sua atenção desde o primeiro momento em que a viu. Tinha um corpo sedutor e, embora fosse apenas um capricho, ele sabia que seria suficiente para satisfazê-lo por um tempo. Depois, quando estivesse enjoado, descartá-la como se fosse um objeto descartável. Afinal, Esteban nunca se apegou a nada, exceto seu ouro e seu trono.E o fato de a senhorita Riley ser a mulher de seu possível inimigo só tornava tudo mais tentador.Uma coisa era certa: Esteban nunca permitiria que aquele casamento acontecesse. Por isso, mandou chamar Edward e