Ele sabia que não deveria estar indo até lá, mas não conseguiu resistir. Precisava vê-la; após tantos anos, não poderia deixar de fazer isso. Esperou o entardecer, pois sabia que a guarda do xerife sempre afrouxava nesse horário. Ao chegar à pequena casa, bateu na porta e ficou esperando. Seu coração disparava ao imaginar a reação dela ao vê-lo. Se a conhecia bem, com certeza ela iria bater e xingá-lo.A porta se abriu, e ele a viu. A expressão dela se tornou de puro choque, como se estivesse diante de um fantasma.— Ah, meu Deus! Urick?!— Olá, querida. — saudou ele, com tom de carinho e amor. — Você continua linda.A expressão de Gweneth continuava a mesma; ela colocou as mãos sobre o rosto dele, e lágrimas escorreram por seus olhos.— Urick! Você está vivo! É você mesmo?— Estou, amor, estou aqui. — Ele a abraçou, deixando o capuz cair, revelando o rosto.Rapidamente, os dois entraram na casa e se beijaram ardentemente, como se houvesse um século desde o último encontro. Na verdade
A expressão de Keenan estava impassível; ele segurava a espada com postura impecável de General. William, ajoelhado à sua frente, implorava para que não fizesse aquilo. O xerife observava de alguns metros, controlando os olhares curiosos ao redor.— Keenan, o que houve com você? — questionou o ferreiro. — Você é um de nós, rapaz.Ele sabia que não podia demonstrar qualquer fraqueza, não com os guardas de sua alteza logo atrás dele. Tinha que manter o teatro até o fim, por mais que cada palavra e gesto lhe causassem dor.Um sorriso frio e sarcástico surgiu em seus lábios.— Não, eu não sou um de vocês. Como o senhor não tem como pagar os impostos de sua majestade, você e sua família devem deixar esta cabana até amanhã. Caso contrário, os guardas prenderão todos.Os filhos do ferreiro o olharam assustados, enquanto a esposa mantinha um olhar de puro ódio.— Keenan, não temos para onde ir. — O ferreiro suplicou, unindo as mãos. — Não faça isso conosco!— Estou a serviço do rei, então me
A carroça avançava lentamente pelo centro da estrada na floresta. Do alto de uma árvore, Keenan observava. Fez um sinal, e a rede foi erguida. O cavalo relinchou, mas William o acalmou, parando o veículo.Os rapazes saltaram das árvores, pousando em frente à carroça. Sinan foi o primeiro a se aproximar do homem.— Desçam, por favor — exigiu o loiro, sem rodeios.— Não temos nada, senhor, perdemos tudo… só queremos sair daqui e…— Nós sabemos. — Sinan gesticulou, indicando os jovens que o acompanhavam.— Pai, acho que eles são amigos do Rei dos Ladrões — murmurou o filho mais velho do ferreiro.William franziu o cenho, lançando um olhar apreensivo à esposa, enquanto Keenan descia da árvore em silêncio, aproveitando a distração.— Mas o que o Rei dos Ladrões poderia querer conosco? — William indagou, desconfiado.— Essa pergunta você poderá fazer a ele, pessoalmente. — Sinan inclinou a cabeça, pedindo que eles se virassem.As crianças foram as primeiras a obedecer, e os sorrisos que lan
Annabeth percorreu a feira com um olhar desinteressado, as barracas e produtos não chamavam sua atenção. Carregava uma cesta cheia de bolinhos de chocolate e outras guloseimas, a caminho da casa de Gweneth, onde as duas precisavam conversar.Enquanto andava, deu graças por não encontrar o general. Quem diria que, tempos atrás, ansiava vê-lo, e agora evitava até pensar nele.Ela revirou os olhos ao perceber seu guarda seguindo-a de perto. Aquilo era irritante, uma pena que Tina não pudesse acompanhá-la.Ao chegar à casa de Gweneth, bateu na porta. A morena atendeu com um sorriso caloroso.— Oi! Anna, quanto tempo! Entre, entre. — Gweneth colocou as mãos em seus ombros e deu passagem. — Seu guarda vai ficar aí fora?— Pelo amor de Deus, espero que sim. Ele já me segue por toda parte. — Annabeth sorriu, entrando na pequena casa e colocando a cesta sobre a mesa. — Trouxe algumas coisas para nós.— Ah, minha querida, não precisava! — Gweneth respondeu, puxando uma cadeira. — Sente-se; vou
Fazia tanto tempo que Apolo não ouvia seu nome verdadeiro que sempre estranhava quando alguém o pronunciava. Afinal, poucos sabiam que Urick estava vivo — inclusive seu próprio filho.Apolo sabia que, em breve, teria que contar tudo a Keenan. Adiou essa conversa por tanto tempo que mal sabia como o rapaz reagiria ao descobrir toda a verdade, principalmente ao saber que o homem que o criou até os nove anos não era seu pai verdadeiro.Ele lembrava-se de quando implorou ao melhor amigo que cuidasse de sua amada e de seu filho. Separar-se deles fora doloroso, mas necessário: se Esteban descobrisse que Urick estava vivo e que tinha um herdeiro, Gweneth e Keenan estariam em grave perigo.Assim, ele partiu para Voxten, onde o rei o acolheu. Mudou o visual, deixou o cabelo e a barba crescerem, transformando-se num homem irreconhecível — nada lembrava o príncipe Urick.Urick e Esteban sempre foram diferentes, tanto na aparência quanto na personalidade. Urick era bonito, carismático e extrovert
— Ai, Mãe! — Keenan reclamava, enquanto tentava se esquivar dos tapas que Gweneth distribuía com firmeza em várias partes do seu corpo. — Jesus, mulher, se acalme!Ele dava risadas, protegendo-se com os braços.— Me acalmar? Como me acalmar? Acabei de confirmar minhas suspeitas! — Gweneth continuava a dar tapas nos braços dele. — Só você seria louco o suficiente para isso!— E está dando certo! — ele respondeu, sorrindo.— Keenan, você está deixando todos com raiva. Inclusive a Anna.Um sorriso maroto surgiu nos lábios dele.— Não se preocupe com isso.Gweneth balançou a cabeça.— Como não me preocupar? Você é tão louco quanto o seu pai.Keenan franziu o cenho. Raramente sua mãe falava sobre seu pai. Pelo que se lembrava, Ben sempre fora responsável. Isso poderia ter mudado, claro; depois ele pediria à mãe que contasse mais.Sua expressão suavizou, demonstrando carinho. Se Ben estivesse vivo, provavelmente o repreenderia também.— Confia em mim? — ele perguntou, olhando para a mãe mor
Annabeth acordou completamente zonza, sentindo uma forte pontada de dor na nuca. Levou as mãos atrás da cabeça e sentiu algo molhado; ao ver o sangue nos dedos, gemeu de agonia.Foi então que se lembrou do ocorrido. Tinha acabado de sair da casa de Gweneth quando foi capturada por um desconhecido.O lugar onde estava era escuro; parecia estar sob alguma construção, talvez um alçapão de uma casa. Reunindo forças e tentando ignorar a dor, ela se levantou com cuidado e deu alguns passos, até ouvir um barulho. Uma claridade tomou conta do espaço.Com dificuldade para enxergar, Anna viu uma escada ao centro e alguém descendo os degraus. Quando a porta se fechou, ainda restava uma leve claridade.— Ah, então você finalmente acordou? — Um homem disse, segurando uma lamparina nas mãos.Ela notou que seu sequestrador era jovem, talvez um pouco mais velho que ela, da idade de Keenan.— Quem é você? E o que quer comigo? — perguntou.— O que eu quero? — O estranho se aproximou e riu. — Quero just
O barulho da Taverna dos Leões era tão alto que quem passava do lado de fora conseguia ouvir as risadas e os brindes dos homens. Keenan nunca gostara muito daquele lugar — frequentado por gente de caráter duvidoso. O andar de cima, onde funcionava o prostíbulo, ele jamais visitara.Escondido nas sombras, Keenan aguardou o momento certo para entrar. Assim que a neblina ficou densa, cobrindo toda Forwood, ele soube que era a hora. Puxou o capuz grosso que escondia seu rosto e desceu silenciosamente do telhado, entrando na taverna.O barulho cessou de repente, e todos o encararam em silêncio enquanto ele se dirigia ao balcão. O atendente veio ao seu encontro e disse:— Não gostamos de estranhos por aqui.— Engraçado, eu ia dizer o mesmo — respondeu, puxando o homem pela camisa. O capuz escorregou, revelando sua roupa característica do Rei dos Ladrões. O atendente ergueu as mãos, assustado. — Diga-me onde está Hakon.— S-senhor, não sei do que está falando. Achei que fosse um de nós.A ra