A carroça avançava lentamente pelo centro da estrada na floresta. Do alto de uma árvore, Keenan observava. Fez um sinal, e a rede foi erguida. O cavalo relinchou, mas William o acalmou, parando o veículo.Os rapazes saltaram das árvores, pousando em frente à carroça. Sinan foi o primeiro a se aproximar do homem.— Desçam, por favor — exigiu o loiro, sem rodeios.— Não temos nada, senhor, perdemos tudo… só queremos sair daqui e…— Nós sabemos. — Sinan gesticulou, indicando os jovens que o acompanhavam.— Pai, acho que eles são amigos do Rei dos Ladrões — murmurou o filho mais velho do ferreiro.William franziu o cenho, lançando um olhar apreensivo à esposa, enquanto Keenan descia da árvore em silêncio, aproveitando a distração.— Mas o que o Rei dos Ladrões poderia querer conosco? — William indagou, desconfiado.— Essa pergunta você poderá fazer a ele, pessoalmente. — Sinan inclinou a cabeça, pedindo que eles se virassem.As crianças foram as primeiras a obedecer, e os sorrisos que lan
Annabeth percorreu a feira com um olhar desinteressado, as barracas e produtos não chamavam sua atenção. Carregava uma cesta cheia de bolinhos de chocolate e outras guloseimas, a caminho da casa de Gweneth, onde as duas precisavam conversar.Enquanto andava, deu graças por não encontrar o general. Quem diria que, tempos atrás, ansiava vê-lo, e agora evitava até pensar nele.Ela revirou os olhos ao perceber seu guarda seguindo-a de perto. Aquilo era irritante, uma pena que Tina não pudesse acompanhá-la.Ao chegar à casa de Gweneth, bateu na porta. A morena atendeu com um sorriso caloroso.— Oi! Anna, quanto tempo! Entre, entre. — Gweneth colocou as mãos em seus ombros e deu passagem. — Seu guarda vai ficar aí fora?— Pelo amor de Deus, espero que sim. Ele já me segue por toda parte. — Annabeth sorriu, entrando na pequena casa e colocando a cesta sobre a mesa. — Trouxe algumas coisas para nós.— Ah, minha querida, não precisava! — Gweneth respondeu, puxando uma cadeira. — Sente-se; vou
Fazia tanto tempo que Apolo não ouvia seu nome verdadeiro que sempre estranhava quando alguém o pronunciava. Afinal, poucos sabiam que Urick estava vivo — inclusive seu próprio filho.Apolo sabia que, em breve, teria que contar tudo a Keenan. Adiou essa conversa por tanto tempo que mal sabia como o rapaz reagiria ao descobrir toda a verdade, principalmente ao saber que o homem que o criou até os nove anos não era seu pai verdadeiro.Ele lembrava-se de quando implorou ao melhor amigo que cuidasse de sua amada e de seu filho. Separar-se deles fora doloroso, mas necessário: se Esteban descobrisse que Urick estava vivo e que tinha um herdeiro, Gweneth e Keenan estariam em grave perigo.Assim, ele partiu para Voxten, onde o rei o acolheu. Mudou o visual, deixou o cabelo e a barba crescerem, transformando-se num homem irreconhecível — nada lembrava o príncipe Urick.Urick e Esteban sempre foram diferentes, tanto na aparência quanto na personalidade. Urick era bonito, carismático e extrovert
— Ai, Mãe! — Keenan reclamava, enquanto tentava se esquivar dos tapas que Gweneth distribuía com firmeza em várias partes do seu corpo. — Jesus, mulher, se acalme!Ele dava risadas, protegendo-se com os braços.— Me acalmar? Como me acalmar? Acabei de confirmar minhas suspeitas! — Gweneth continuava a dar tapas nos braços dele. — Só você seria louco o suficiente para isso!— E está dando certo! — ele respondeu, sorrindo.— Keenan, você está deixando todos com raiva. Inclusive a Anna.Um sorriso maroto surgiu nos lábios dele.— Não se preocupe com isso.Gweneth balançou a cabeça.— Como não me preocupar? Você é tão louco quanto o seu pai.Keenan franziu o cenho. Raramente sua mãe falava sobre seu pai. Pelo que se lembrava, Ben sempre fora responsável. Isso poderia ter mudado, claro; depois ele pediria à mãe que contasse mais.Sua expressão suavizou, demonstrando carinho. Se Ben estivesse vivo, provavelmente o repreenderia também.— Confia em mim? — ele perguntou, olhando para a mãe mor
Annabeth acordou completamente zonza, sentindo uma forte pontada de dor na nuca. Levou as mãos atrás da cabeça e sentiu algo molhado; ao ver o sangue nos dedos, gemeu de agonia.Foi então que se lembrou do ocorrido. Tinha acabado de sair da casa de Gweneth quando foi capturada por um desconhecido.O lugar onde estava era escuro; parecia estar sob alguma construção, talvez um alçapão de uma casa. Reunindo forças e tentando ignorar a dor, ela se levantou com cuidado e deu alguns passos, até ouvir um barulho. Uma claridade tomou conta do espaço.Com dificuldade para enxergar, Anna viu uma escada ao centro e alguém descendo os degraus. Quando a porta se fechou, ainda restava uma leve claridade.— Ah, então você finalmente acordou? — Um homem disse, segurando uma lamparina nas mãos.Ela notou que seu sequestrador era jovem, talvez um pouco mais velho que ela, da idade de Keenan.— Quem é você? E o que quer comigo? — perguntou.— O que eu quero? — O estranho se aproximou e riu. — Quero just
O barulho da Taverna dos Leões era tão alto que quem passava do lado de fora conseguia ouvir as risadas e os brindes dos homens. Keenan nunca gostara muito daquele lugar — frequentado por gente de caráter duvidoso. O andar de cima, onde funcionava o prostíbulo, ele jamais visitara.Escondido nas sombras, Keenan aguardou o momento certo para entrar. Assim que a neblina ficou densa, cobrindo toda Forwood, ele soube que era a hora. Puxou o capuz grosso que escondia seu rosto e desceu silenciosamente do telhado, entrando na taverna.O barulho cessou de repente, e todos o encararam em silêncio enquanto ele se dirigia ao balcão. O atendente veio ao seu encontro e disse:— Não gostamos de estranhos por aqui.— Engraçado, eu ia dizer o mesmo — respondeu, puxando o homem pela camisa. O capuz escorregou, revelando sua roupa característica do Rei dos Ladrões. O atendente ergueu as mãos, assustado. — Diga-me onde está Hakon.— S-senhor, não sei do que está falando. Achei que fosse um de nós.A ra
Annabeth sentia-se fraca e tonta, recusando-se a comer qualquer comida que lhe ofereciam. Eles vinham duas vezes ao dia, de manhã e à noite. Ela não tentava mais fugir, pois ouvia os latidos dos cachorros próximos.Mas não podia desistir. Não sabia quantos dias se haviam passado, mas algo dentro de si dizia que estavam a procurando.O som da porta do alçapão foi ouvido, e, pela escuridão, parecia que era noite. Com uma lamparina acesa, um dos seus sequestradores desceu — por sorte, era o mais gentil deles: Edgar.Ele olhou para as tigelas de pão intocadas e revirou os olhos.— É o que temos, pão e leite. Sei que está acostumada a comer bem, mas é isso o que todos nós comemos há anos. — Edgar colocou a tigela ao lado dela e se sentou em uma cadeira no canto da parede. — Se quiser morrer de fome, é com você. Pelo menos adianta nosso trabalho.Anna suspirou, sentindo seu estômago doer. Olhou para o copo de leite, bebeu tudo de uma vez, pegou o pedaço de pão e comeu de forma brutal, esque
Annabeth escutou vozes do lado de fora, além dos latidos dos cachorros, e supôs que já havia amanhecido. Logo trariam algo para ela comer — e atormentá-la um pouco mais. Precisava pensar em uma forma de sair dali. Sua única chance seria atacar o sequestrador que viesse lhe trazer comida, mas estava fraca e precisava de uma arma. Lembrou-se da cadeira deixada no canto da última vez. Tateando no escuro, a encontrou e, com o máximo de força que conseguiu, a arremessou contra a parede, ouvindo o estalo da madeira se quebrando. Sabia que eles também haviam ouvido o barulho, e, como esperado, a porta se abriu. Pegando um pedaço da madeira partida, Annabeth se escondeu, enquanto o homem descia as escadas com a lamparina nas mãos. — Onde você está, sua vadia? O que acha que está fazendo? — Vadia é a sua mãe! — rebateu ela, surgindo atrás dele e enfiando o pedaço de madeira com força em sua barriga. O homem urrou de dor, e sangue escorreu de sua boca. A lamparina caiu no chão, quebr