Fazia tanto tempo que Apolo não ouvia seu nome verdadeiro que sempre estranhava quando alguém o pronunciava. Afinal, poucos sabiam que Urick estava vivo — inclusive seu próprio filho.Apolo sabia que, em breve, teria que contar tudo a Keenan. Adiou essa conversa por tanto tempo que mal sabia como o rapaz reagiria ao descobrir toda a verdade, principalmente ao saber que o homem que o criou até os nove anos não era seu pai verdadeiro.Ele lembrava-se de quando implorou ao melhor amigo que cuidasse de sua amada e de seu filho. Separar-se deles fora doloroso, mas necessário: se Esteban descobrisse que Urick estava vivo e que tinha um herdeiro, Gweneth e Keenan estariam em grave perigo.Assim, ele partiu para Voxten, onde o rei o acolheu. Mudou o visual, deixou o cabelo e a barba crescerem, transformando-se num homem irreconhecível — nada lembrava o príncipe Urick.Urick e Esteban sempre foram diferentes, tanto na aparência quanto na personalidade. Urick era bonito, carismático e extrovert
— Ai, Mãe! — Keenan reclamava, enquanto tentava se esquivar dos tapas que Gweneth distribuía com firmeza em várias partes do seu corpo. — Jesus, mulher, se acalme!Ele dava risadas, protegendo-se com os braços.— Me acalmar? Como me acalmar? Acabei de confirmar minhas suspeitas! — Gweneth continuava a dar tapas nos braços dele. — Só você seria louco o suficiente para isso!— E está dando certo! — ele respondeu, sorrindo.— Keenan, você está deixando todos com raiva. Inclusive a Anna.Um sorriso maroto surgiu nos lábios dele.— Não se preocupe com isso.Gweneth balançou a cabeça.— Como não me preocupar? Você é tão louco quanto o seu pai.Keenan franziu o cenho. Raramente sua mãe falava sobre seu pai. Pelo que se lembrava, Ben sempre fora responsável. Isso poderia ter mudado, claro; depois ele pediria à mãe que contasse mais.Sua expressão suavizou, demonstrando carinho. Se Ben estivesse vivo, provavelmente o repreenderia também.— Confia em mim? — ele perguntou, olhando para a mãe mor
Annabeth acordou completamente zonza, sentindo uma forte pontada de dor na nuca. Levou as mãos atrás da cabeça e sentiu algo molhado; ao ver o sangue nos dedos, gemeu de agonia.Foi então que se lembrou do ocorrido. Tinha acabado de sair da casa de Gweneth quando foi capturada por um desconhecido.O lugar onde estava era escuro; parecia estar sob alguma construção, talvez um alçapão de uma casa. Reunindo forças e tentando ignorar a dor, ela se levantou com cuidado e deu alguns passos, até ouvir um barulho. Uma claridade tomou conta do espaço.Com dificuldade para enxergar, Anna viu uma escada ao centro e alguém descendo os degraus. Quando a porta se fechou, ainda restava uma leve claridade.— Ah, então você finalmente acordou? — Um homem disse, segurando uma lamparina nas mãos.Ela notou que seu sequestrador era jovem, talvez um pouco mais velho que ela, da idade de Keenan.— Quem é você? E o que quer comigo? — perguntou.— O que eu quero? — O estranho se aproximou e riu. — Quero just
O barulho da Taverna dos Leões era tão alto que quem passava do lado de fora conseguia ouvir as risadas e os brindes dos homens. Keenan nunca gostara muito daquele lugar — frequentado por gente de caráter duvidoso. O andar de cima, onde funcionava o prostíbulo, ele jamais visitara.Escondido nas sombras, Keenan aguardou o momento certo para entrar. Assim que a neblina ficou densa, cobrindo toda Forwood, ele soube que era a hora. Puxou o capuz grosso que escondia seu rosto e desceu silenciosamente do telhado, entrando na taverna.O barulho cessou de repente, e todos o encararam em silêncio enquanto ele se dirigia ao balcão. O atendente veio ao seu encontro e disse:— Não gostamos de estranhos por aqui.— Engraçado, eu ia dizer o mesmo — respondeu, puxando o homem pela camisa. O capuz escorregou, revelando sua roupa característica do Rei dos Ladrões. O atendente ergueu as mãos, assustado. — Diga-me onde está Hakon.— S-senhor, não sei do que está falando. Achei que fosse um de nós.A ra
Annabeth sentia-se fraca e tonta, recusando-se a comer qualquer comida que lhe ofereciam. Eles vinham duas vezes ao dia, de manhã e à noite. Ela não tentava mais fugir, pois ouvia os latidos dos cachorros próximos.Mas não podia desistir. Não sabia quantos dias se haviam passado, mas algo dentro de si dizia que estavam a procurando.O som da porta do alçapão foi ouvido, e, pela escuridão, parecia que era noite. Com uma lamparina acesa, um dos seus sequestradores desceu — por sorte, era o mais gentil deles: Edgar.Ele olhou para as tigelas de pão intocadas e revirou os olhos.— É o que temos, pão e leite. Sei que está acostumada a comer bem, mas é isso o que todos nós comemos há anos. — Edgar colocou a tigela ao lado dela e se sentou em uma cadeira no canto da parede. — Se quiser morrer de fome, é com você. Pelo menos adianta nosso trabalho.Anna suspirou, sentindo seu estômago doer. Olhou para o copo de leite, bebeu tudo de uma vez, pegou o pedaço de pão e comeu de forma brutal, esque
Annabeth escutou vozes do lado de fora, além dos latidos dos cachorros, e supôs que já havia amanhecido. Logo trariam algo para ela comer — e atormentá-la um pouco mais. Precisava pensar em uma forma de sair dali. Sua única chance seria atacar o sequestrador que viesse lhe trazer comida, mas estava fraca e precisava de uma arma. Lembrou-se da cadeira deixada no canto da última vez. Tateando no escuro, a encontrou e, com o máximo de força que conseguiu, a arremessou contra a parede, ouvindo o estalo da madeira se quebrando. Sabia que eles também haviam ouvido o barulho, e, como esperado, a porta se abriu. Pegando um pedaço da madeira partida, Annabeth se escondeu, enquanto o homem descia as escadas com a lamparina nas mãos. — Onde você está, sua vadia? O que acha que está fazendo? — Vadia é a sua mãe! — rebateu ela, surgindo atrás dele e enfiando o pedaço de madeira com força em sua barriga. O homem urrou de dor, e sangue escorreu de sua boca. A lamparina caiu no chão, quebr
Estar em casa parecia surreal para Anna. Depois daquele pesadelo, ela só queria descansar. Seu tornozelo e sua mão, agora enfaixados e cobertos por ervas curativas aplicadas pela curandeira do rei, estavam em processo de cicatrização, o que exigia semanas de repouso. Ainda assim, a dor física não era o que mais lhe incomodava.O verdadeiro tormento estava dentro dela. Ao ver Keenan arriscando tudo para salvá-la, um medo profundo de perdê-lo a consumiu. Era insuportável. Tentava afastar esses pensamentos, mas não podia negar: ainda estava apaixonada por ele. E isso complicava tudo, porque seu coração também batia pelo fora da lei.Ela se via incapaz de escolher entre os dois. Mas, no fundo, ainda preferia o Rei dos Ladrões. As atitudes de Keenan não ajudavam – não podia perdoá-lo pelo sofrimento que causava ao povo.Um barulho suave na janela interrompeu seus pensamentos, fazendo seu coração disparar. Então, ela reconheceu o traje e sorriu, aliviada. Levantou-se com cuidado e caminhou
Para o general Keenan, os dias estavam longe de serem fáceis. Apesar de seu ato heroico ter aliviado a tensão na aldeia e conquistado a confiança do rei, sua relação com Annabeth permanecia delicada. Desde que decidira trabalhar ao lado do monarca, ela o evitava. Mesmo sendo educada, era visível que algo entre eles havia mudado.Ainda assim, Keenan sabia, pela conversa que ela tivera com o Rei dos Ladrões na noite anterior, que ela ainda o amava. Isso deveria confortá-lo, mas só tornava tudo mais complicado.Naquela manhã, ele foi surpreendido por uma mensagem inesperada: o xerife Riley o convocava à mansão. Quando chegou, foi recebido no escritório do homem, que tinha um olhar incomumente amistoso.— Queria falar comigo, xerife? — perguntou Keenan, desconfiado.Edward sorriu e aproximou-se, colocando a mão firme em seu ombro.— Sim, general. Sei que nossa relação não foi das melhores, mas preciso dizer que você me surpreendeu. Admito que estava errado sobre você — declarou, com uma l