O barulho da Taverna dos Leões era tão alto que quem passava do lado de fora conseguia ouvir as risadas e os brindes dos homens. Keenan nunca gostara muito daquele lugar — frequentado por gente de caráter duvidoso. O andar de cima, onde funcionava o prostíbulo, ele jamais visitara.Escondido nas sombras, Keenan aguardou o momento certo para entrar. Assim que a neblina ficou densa, cobrindo toda Forwood, ele soube que era a hora. Puxou o capuz grosso que escondia seu rosto e desceu silenciosamente do telhado, entrando na taverna.O barulho cessou de repente, e todos o encararam em silêncio enquanto ele se dirigia ao balcão. O atendente veio ao seu encontro e disse:— Não gostamos de estranhos por aqui.— Engraçado, eu ia dizer o mesmo — respondeu, puxando o homem pela camisa. O capuz escorregou, revelando sua roupa característica do Rei dos Ladrões. O atendente ergueu as mãos, assustado. — Diga-me onde está Hakon.— S-senhor, não sei do que está falando. Achei que fosse um de nós.A ra
Annabeth sentia-se fraca e tonta, recusando-se a comer qualquer comida que lhe ofereciam. Eles vinham duas vezes ao dia, de manhã e à noite. Ela não tentava mais fugir, pois ouvia os latidos dos cachorros próximos.Mas não podia desistir. Não sabia quantos dias se haviam passado, mas algo dentro de si dizia que estavam a procurando.O som da porta do alçapão foi ouvido, e, pela escuridão, parecia que era noite. Com uma lamparina acesa, um dos seus sequestradores desceu — por sorte, era o mais gentil deles: Edgar.Ele olhou para as tigelas de pão intocadas e revirou os olhos.— É o que temos, pão e leite. Sei que está acostumada a comer bem, mas é isso o que todos nós comemos há anos. — Edgar colocou a tigela ao lado dela e se sentou em uma cadeira no canto da parede. — Se quiser morrer de fome, é com você. Pelo menos adianta nosso trabalho.Anna suspirou, sentindo seu estômago doer. Olhou para o copo de leite, bebeu tudo de uma vez, pegou o pedaço de pão e comeu de forma brutal, esque
Annabeth escutou vozes do lado de fora, além dos latidos dos cachorros, e supôs que já havia amanhecido. Logo trariam algo para ela comer — e atormentá-la um pouco mais. Precisava pensar em uma forma de sair dali. Sua única chance seria atacar o sequestrador que viesse lhe trazer comida, mas estava fraca e precisava de uma arma. Lembrou-se da cadeira deixada no canto da última vez. Tateando no escuro, a encontrou e, com o máximo de força que conseguiu, a arremessou contra a parede, ouvindo o estalo da madeira se quebrando. Sabia que eles também haviam ouvido o barulho, e, como esperado, a porta se abriu. Pegando um pedaço da madeira partida, Annabeth se escondeu, enquanto o homem descia as escadas com a lamparina nas mãos. — Onde você está, sua vadia? O que acha que está fazendo? — Vadia é a sua mãe! — rebateu ela, surgindo atrás dele e enfiando o pedaço de madeira com força em sua barriga. O homem urrou de dor, e sangue escorreu de sua boca. A lamparina caiu no chão, quebr
Estar em casa parecia surreal para Anna. Depois daquele pesadelo, ela só queria descansar. Seu tornozelo e sua mão, agora enfaixados e cobertos por ervas curativas aplicadas pela curandeira do rei, estavam em processo de cicatrização, o que exigia semanas de repouso. Ainda assim, a dor física não era o que mais lhe incomodava.O verdadeiro tormento estava dentro dela. Ao ver Keenan arriscando tudo para salvá-la, um medo profundo de perdê-lo a consumiu. Era insuportável. Tentava afastar esses pensamentos, mas não podia negar: ainda estava apaixonada por ele. E isso complicava tudo, porque seu coração também batia pelo fora da lei.Ela se via incapaz de escolher entre os dois. Mas, no fundo, ainda preferia o Rei dos Ladrões. As atitudes de Keenan não ajudavam – não podia perdoá-lo pelo sofrimento que causava ao povo.Um barulho suave na janela interrompeu seus pensamentos, fazendo seu coração disparar. Então, ela reconheceu o traje e sorriu, aliviada. Levantou-se com cuidado e caminhou
Para o general Keenan, os dias estavam longe de serem fáceis. Apesar de seu ato heroico ter aliviado a tensão na aldeia e conquistado a confiança do rei, sua relação com Annabeth permanecia delicada. Desde que decidira trabalhar ao lado do monarca, ela o evitava. Mesmo sendo educada, era visível que algo entre eles havia mudado.Ainda assim, Keenan sabia, pela conversa que ela tivera com o Rei dos Ladrões na noite anterior, que ela ainda o amava. Isso deveria confortá-lo, mas só tornava tudo mais complicado.Naquela manhã, ele foi surpreendido por uma mensagem inesperada: o xerife Riley o convocava à mansão. Quando chegou, foi recebido no escritório do homem, que tinha um olhar incomumente amistoso.— Queria falar comigo, xerife? — perguntou Keenan, desconfiado.Edward sorriu e aproximou-se, colocando a mão firme em seu ombro.— Sim, general. Sei que nossa relação não foi das melhores, mas preciso dizer que você me surpreendeu. Admito que estava errado sobre você — declarou, com uma l
Keenan aproveitou o silêncio entre eles, a tensão no ar já densa, porém dessa vez, carregada de algo mais quente. Aproximou-se por trás do sofá, abaixando-se devagar, até ficar próximo ao ouvido dela. A voz grave sussurrou, carregada de provocação:— Quem diria que acabaríamos assim… amarrados um ao outro.Annabeth cerrou os dentes, lutando contra o arrepio que percorreu seu corpo.— Cala a boca, Keenan. Estou a um passo de te estrangular.Ele riu, o tom carregado de malícia.— Parte de você está gostando disso, Aninha. — Ele inclinou-se mais, o hálito quente roçando sua pele. — O que será que o seu rei ladrão vai dizer quando souber?— Keenan… — advertiu, a voz dela carregada de perigo.— Não se preocupe. — Ele sorriu contra o ouvido dela, sussurrando com a voz rouca. — Na nossa noite de núpcias, vou te deixar tão louca, tão entregue, que será impossível pensar em outro homem além de mim.Annabeth engoliu seco, mas forçou-se a manter firme.— Você é tão convencido.— Só um pouco — ad
— Ah, não, não, não, não! — Apito reclamava enquanto andava apressado pelo pátio da aldeia. — Eu não sou babá! — finalmente exclamou. — Quem disse que é para ser babá? É só para cuidar dela por um tempo. Por favor, Apito, você é perfeito para isso. Confio em você. — O que aconteceu com o outro guarda dela? — perguntou com o tom desconfiado. Keenan cruzou os braços ao pararem no centro do pátio. — Foi morto. — Está aí! Não sirvo para isso! Vou acabar sendo morto também! — Por favor, Lewis. Nenhum deles foi treinado pelo Rei dos Ladrões. Você foi! — insistiu Keenan. — Por que eu? — Porque você é o novato! — Sinan comentou casualmente. — Droga! Já não basta me colocarem de vigia, agora tenho que vigiar a mulher do chefe? Eu queria ir para o combate com vocês! — Calma, Apito. É só por um tempo. Não vai precisar olhá-la a vida inteira. Lewis revirou os olhos e suspirou, relutante. — Está bem! Está bem! Eu fico de olho na garota. Keenan riu e bagunçou o cabelo do ra
Sinan acordou novamente assustado. Sua testa estava suada, seu coração acelerado e as mãos trêmulas. Os pesadelos com sua mãe estavam ficando cada vez mais frequentes e intensos. Contudo, dessa vez, o sonho foi diferente: ele se via morrendo em um combate corporal com o rei. Passou a mão na testa para limpar o suor e, quando fez menção de se levantar da cama, a mulher loira e linda ao seu lado despertou. Tina sentou-se, puxando o lençol para cobrir o corpo e olhou para ele com preocupação. — Sin... — Sua voz soou doce, mas cheia de preocupação. — Outro pesadelo? Ele assentiu, ainda ofegante. — Quer me contar? — insistiu, sua expressão sincera e cheia de carinho. Ele hesitou, passando as mãos pelos cabelos, mas acabou cedendo com um suspiro. — Está bem. Vou lhe contar tudo. Ela se ajeitou, sentando-se de frente para ele. — Estou ouvindo. Sinan fitou o chão por alguns segundos antes de começar. — O quanto você sabe sobre o nosso reino e o rei Esteban? — perguntou, s