VALÉRIASimplesmente, ele me carregou estilo princesa da cama, e não importa o quanto eu disse que poderia ir sozinha; entrou por um ouvido e saiu pelo outro.— Segure-se bem — ordenou quando eu não sabia como me acomodar contra seu robusto peito.Subi as mãos, meio hesitante, e as passei por trás de seu pescoço forte.— Chegue mais perto, sou tão desagradável assim para você? — lançou-me um olhar gélido que me fulminou, e balancei a cabeça imediatamente, como uma boneca com molas no pescoço.Meus dedos se entrelaçaram na nuca dele, seu coração pulsava poderoso contra meu corpo, e eu lutava para que meus olhos não vagassem por suas feições masculinas.O cabelo flamejante se agitava e dançava enquanto ele caminhava impetuosamente pelos corredores do castelo e descia as escadas, como se não carregasse nenhum peso.Toda a sua pele emanava calor, e aquele aroma estimulante tentava meus sentidos perto do meu nariz.Será que ele já controlou o cio? Talvez, em breve, eu tenha que afastar mai
VALÉRIAEu nem consigo sentir o cheiro de que ele fala, mas claro, ele é uma espécie muito superior.— Que esperta, Valéria provou a comida sem veneno, mas ao pegar a bandeja para tampá-la e colocá-la em cima, esse pó azul caiu sobre os alimentos — a Governanta resumiu o que todos imaginamos.— Talvez se ative com o calor e, misturado com o aroma da comida, tenha sido impossível para Sua Majestade detectá-lo.De repente, ouviu-se um alvoroço e a cozinheira entrou chorando pela porta dos fundos.Um homem a arrastava pelo braço e a jogou de joelhos no chão frio.Fiquei um pouco surpresa ao vê-lo pelo seu tamanho gigantesco e pelos músculos tensos e enormes dos braços, mais grandes até que os de Aldric.Uma barba escura e olhos azuis elétricos e afiados, o fato de ser careca só o tornava ainda mais selvagem.Tinha certeza de que ele era um dos guardiões.— Sua Majestade, fui sua cozinheira por muitos anos! Como pode acreditar nas acusações dessa vadia que só queria se meter na sua cam...
VALÉRIAA carruagem do Rei era espaçosa e confortável, forrada de um suave veludo em vermelho e preto.Partimos do castelo de manhã, pelas estradas sinuosas, rumo a essa alcateia distante.Assim que saímos da neblina sombria que cercava a floresta, fiquei um pouco tensa, olhando nervosa pela janela.É absurdo pensar que ainda poderiam estar me caçando fora da alcateia Golden Moon; talvez nem imaginem que continuo viva.Sua Majestade estava sentado à minha frente, concentrado, lendo alguns manuscritos.Ele é um homem de poucas palavras, e a viagem começou a ficar bem monótona.Em algum momento, fechei os olhos, até que um solavanco da carruagem me despertou assustada.Um calor encostado ao meu lado, minha cabeça apoiada em um ombro largo e confortável.— Desculpe, Sua Majestade! — endireitei-me de repente, mais rígida que uma estaca ao perceber que tinha cochilado encostada nele.Será que ele não estava no assento em frente?— Por que está se desculpando agora? Por respirar ou por baba
VALÉRIA— Majestade, eu...— Nem pense em terminar essa frase! — Aldric me interrompeu irritado, e os lábios do homem se fecharam como se estivessem colados.Aprendi que ele prefere passar despercebido, sem que o chamem de rei ou majestade o tempo todo.O recém-chegado congelou no meio da sala, enquanto os demais clientes mal ousavam olhar diretamente para nós, mas era óbvio que estavam com as orelhas atentas para ouvir o que acontecia.— Valéria, suba para o quarto — ordenou com sua voz grave, e assenti, vendo-o sair com aquele lobo que, apesar da submissão, parecia ser um Alfa.Subi as escadas velhas e rangentes até o terceiro e último andar, enquanto o cocheiro cuidava das bagagens.Caminhei pelo corredor estreito em direção à porta do quarto "maior" disponível, conforme o número na chave.— Não acredito — murmurei, frustrada. — Que situação...Pensei, tirando a capa e olhando para a cama pequena encostada numa parede.Diante de mim, uma porta com vidros dava acesso a uma pequena v
VALÉRIAJamais imaginei que reviveria essa humilhação, quase implorar para que um homem fizesse algo íntimo comigo, apenas para ser totalmente rejeitada.— Desculpe, eu... — abaixei a cabeça para disfarçar minha decepção e vergonha.— Não peça desculpas por besteiras. O culpado aqui sou eu, mais ninguém — diz ele, exasperado.Levanto os olhos, apenas o suficiente para vê-lo de costas, passando as mãos pelos cabelos com força, claramente frustrado, como se travasse uma luta interna.— Tome um banho e troque de roupa. Vamos almoçar na casa do Alfa. Eu volto para buscá-la — ordena de forma cortante, sem nem me olhar, saindo pela porta quase como se fugisse.Por que me sinto tão ferida e decepcionada? Foi ele quem começou tudo isso. Onde foi que eu errei?— O que esperava, idiota? — me recrimino, irritada.Estou furiosa por ter cedido tão facilmente, por ter quebrado minha própria regra."Jamais cometa o erro de se interessar pelo Rei Aldric; para ele, todas as mulheres são brinquedos de
ALDRICEu deveria afastá-la completamente do meu lado, mas só de pensar nessa possibilidade, cada célula do meu corpo ruge em protesto.É evidente que Valeria guarda segredos e um passado atormentado; ela merece um bom homem-lobo que a ame incondicionalmente, não um Lycan.Nem mesmo Quinn, que parece ter algum interesse especial por ela.Não permitirei isso, ele não é digno da minha pequena loba; na verdade, ninguém é.Todos os Lycans carregam a violência e a escuridão por dentro, a maldição de destruir aquilo que mais amamos, e Valeria não será uma exceção.Vou acabar destruindo-a em minhas próprias mãos.*****VALERIANos dirigimos à casa do Alfa, por ruas quase desertas.Esta alcateia é um tanto sombria e úmida; ninguém fala muito e nos olham com desconfiança e temor.Ando ao lado do Rei, deveria ir atrás, como os servos, mas ele me ordenou caminhar ao seu lado, como se eu fosse sua igual.Antes, isso poderia me comover; agora, tanto faz.Sou apenas uma criada, e meu trabalho não é
VALERIAOlho para o lado e vejo a filha do Alfa, que também saiu para o exterior.— Bem, sua majestade leva muito a sério cuidar de sua alcateia — respondo no modo de serva fiel e diplomática.Ela começa a conversar comigo de forma descontraída, jovem como é, sem muitas preocupações.Ela me conta animada sobre uma feira noturna que fazem no centro do vilarejo, onde vendem especialidades locais.O fato de ela não me olhar estranho ou me tratar diferente por causa das cicatrizes já lhe rende pontos comigo.— Parece que há muitas coisas interessantes. Gostaria de ir, mas não posso sair do lado de sua alteza, lamento…— Vá com ela, se quiser — a voz de Aldric soa atrás de mim.— Vou demorar um pouco aqui e você pode se distrair na praça. Não se afaste muito; logo me junto a vocês.Viro-me para vê-lo mexendo no bolso, e já imagino o que ele vai fazer em seguida.— Obrigada, senhor — agradeço rapidamente, quase puxando a garota para escapar.— Espere, Valeria — ele segura meu braço, não me
VALERIA— Sério? Achei que tinha te ouvido murmurar alguma coisa — ela se aproximou de mim com dúvidas.— Não, só estava pensando alto. Conseguiu resolver as coisas com seu namorado?Desço os degraus e encontro-a sentada no último, e de repente, ela começa a chorar.Entre soluços, me conta as dificuldades com seu parceiro e seus pais; ser filha do Alfa não é fácil.— Não fique assim, com certeza haverá uma solução. Você não tem ninguém que te apoie? Talvez uma irmã?— Não! Por que você está perguntando se eu tenho uma irmã? — ela pergunta levantando o olhar, defensiva.— Ah… desculpe, foi grosseria minha. Tudo isso está me deixando nervosa e, não, eu não tenho irmã nem ninguém mais.Ela afirma, e eu assinto, embora seja estranho ela reagir assim a uma simples pergunta.— Ah, não! Já está muito tarde, meus pais vão me matar e o Rei deve estar louco te procurando! Vamos, vamos agora!Ela passa da angústia para o pânico e me pega pela mão para me levar de volta ao bosque, quase correndo.