LYRANunca estive tão frustrada e com tanta raiva. Drakkar está se mostrando mais teimoso que uma pedra.“Lyra, acho que já posso sair, preciso gastar energia porque tô seriamente pensando em morder a bunda de certo selvagem.”Aztoria me disse do nada, e eu concordei.Escapei da caverna e me afastei da matilha.Quando tive certeza de que ninguém me seguia e não havia perigo, tirei a roupa.Pra falar a verdade, minhas roupas já estavam um desastre. Devia pensar em usar pedaços de pele, mas são muito ásperos e primitivos.Depois resolvo isso. Agora, invoquei a transformação.Fechei os olhos e aproveitei a dor de libertar meu lado animal.Caí no chão de quatro, as gengivas incharam e se abriram pra dentição afiada.Meu rosto se alongou num focinho, meus membros estalaram, cada osso e músculo se fundindo num novo ser.Senti minha pele queimar e os poros se abrirem pra deixar sair uma pelagem densa.Levantei a cabeça e o rugido de Aztoria ecoou entre as árvores altas.Mergulhei no meu mund
LYRAPor um segundo, achei que era aquele chato do Verak me seguindo, mas nem tive tempo de reagir quando fui cercada por braços fortes.—Lyra! —a voz ansiosa de Drakkar soou sobre minha cabeça, o coração dele batia forte contra meu ouvido.—Drakkar…—Por que você saiu sozinha da matilha e veio tão longe?! Isso é perigoso! —ele se afastou me segurando pelos ombros, os olhos aflitos.Eu podia sentir a preocupação dele.—Eu… só vim tomar banho…—Você devia ter me esperado. Eu pensei… pensei… —as pupilas dele tremiam, as sombras das runas começaram a se espalhar pela pele enquanto ele lutava pelo controle.“O bobinho achou que a gente ia fugir sem ele.” Aztoria também entendeu o que Drakkar sentia. “Meu boneco lindo, sem você eu não vou pra lugar nenhum, amor.”—Drakkar, eu não ia fugir, você disse que ia caçar…Ele voltou a me abraçar, me afundando nos peitorais dele, com as mãos na minha cabeça e nas costas, me apertando tão forte que quase doía… mas minha alma tava derretendo de doçur
LYRA Me lancei pra puxá-lo, mas aquele corpo enorme e ágil já tinha saltado pra trás. —Drakkar, que susto —revisei ele, a pele avermelhada, mas sem queimaduras. —Lyra, assim tá bom? —ele perguntou, olhando pros quatro moldes, cozinhando em fogo lento. —Temos que esperar até amanhã… acho que sim —respondi suspirando. E de verdade, eu esperava que essa fundição rudimentar funcionasse. No dia seguinte, marcharíamos pela selva perigosa até aquela matilha que ficava a alguns dias de distância. O pior é que eu e Drakkar não tínhamos nada pra trocar, mas se essas armas funcionassem, caçar pelo caminho seria moleza. Dormimos só algumas horinhas, e logo antes do nascer do sol, corremos de volta pra caverna pra ver se a fundição tinha dado certo. ***** —Ai, não! —suspirei desapontada ao retirar o primeiro molde. De novo, Drakkar usou aquele tronco como se fosse uma pá. —Quebrou de um lado, entalhei fino demais —ele franziu a testa, se culpando porque a Gaia tinha escorrido por uma fen
NARRADORAA manhã avançava e a fila de lobisomens se movia silenciosa e apressada pela selva.Sempre em alerta e atentos a ataques de predadores.Felizmente, não houve grandes incidentes, só precisaram correr de um pequeno grupo que os perseguiu, mas todos se aproximavam em segurança do primeiro ponto de descanso."Depois daquelas árvores grandes, tem um lago que é bem seguro, os troncos não deixam passar feras grandes", comentou o guerreiro experiente para Verak.Atrás deles, os outros caminhavam mais tranquilos."Ei, olha o Drakkar carregando a fêmea dele, por que você não faz o mesmo comigo?"Lyra observava com diversão a conversa de uma mulher com seu macho."Ela é uma loba delicada, mas olha pros seus pés, você é capaz de quebrar pedra com essas crostas.""Mas você é uma...""Pft." Lyra tampou a boca pra não cair na gargalhada, mas os outros homens não foram tão discretos e explodiram em risadas e gozações.As poucas fêmeas que restavam sorriram com simpatia pra mulher.Na real,
NARRADORA"Uau, que lindo!" —a vista do lago era espetacular, cercado por montanhas e uma floresta densa.Era um lugar bem agradável e tranquilo.Alguns se jogaram na grama, cansados de andar o dia todo, e outros foram buscar água fresca pra aliviar a garganta.Drakkar abaixou sua preciosa carga das costas, sentando-a sobre uma pedra."Lyra, suas pernas estão doendo?" —perguntou ele, olhando angustiado pra algumas partes da pele dela que tinham ficado vermelhas por causa do sol.Lyra estava mais doce que mel, ela só tinha se jogado feito uma preguiçosa sobre os músculos do companheiro."Não, tô bem. E você? Tô pesada?" —ela estendeu a mão pra acariciar a barba dele, e Drakkar negou com a cabeça, fechando os olhos e aproveitando o toque dos dedos dela.De longe, pareciam exatamente o que eram: duas pessoas com sentimentos muito profundos um pelo outro."Drakkar, bora caçar, vimos uns Stalodontes por perto!" —os guerreiros estavam animados e as mulheres já começavam a acender as fogueir
NARRADORAO cheiro de carne assada e chamuscada já subia com a fumaça no ar.Os lobisomens se reuniam em grupos ao redor das fogueiras.Quando Lyra viu Nana, a garota desviou o olhar de forma estranha.A Alfa suspirou, pensando que havia mulheres que não tinham nem um pingo de dignidade.Enfim, isso não era problema dela. Agora tinha que alimentar seu homem.*****Uma hora depois...— Eu falei que aquela mulher era só beleza, mas tinha o coco vazio" —algumas fêmeas cochichavam, de olho desde o começo em tudo de esquisito que Lyra e Drakkar estavam fazendo.Envolver um monte de folhas com barro perto do lago, depois cavar buracos e enterrar tudo, com mais terra e brasas acesas por cima.Que tipo de ritual era esse? Obviamente não era comida.— Pobre Drakkar, deve estar morrendo de fome com uma mulher tão inútil."Nana se alegrava por dentro com as críticas a Lyra.Ao lado dela, Verak conversava com os guerreiros, mas sua atenção estava sempre no cabelo platinado refletindo sob os últim
VALERIA— Você está... você está certa, Esther? — pergunto com a voz trêmula.Meu coração b**e apressado, cheio de felicidade.— Muito certa, Luna. Você está grávida.— Por que não consegui sentir o cheiro, nem seu pai? — pergunto preocupada.— É muito recente, talvez por isso, dê mais alguns dias e você deverá perceber suas feromonas.Ela responde e eu aceno com a cabeça, com os olhos turvos de lágrimas.Sou a Luna da matilha “Bosque de Outono”.Há três anos me casei com o homem que amo loucamente, apesar de não sermos pares destinados, meu Alfa Dorian.Fiz de tudo para ser a Luna perfeita, o pilar no qual ele possa se apoiar, no entanto, uma sombra opaca meu casamento e era o tema do herdeiro.Nunca consegui engravidar e admito que não compartilho muito a cama com Dorian, mas sei que suas obrigações como Alfa o mantêm muito ocupado e estressado.— Por favor, não conte a ninguém na matilha. Quero surpreender meu esposo.— Fique tranquila, Luna, não direi nada. Parabéns! — ela sorri pa
VALERIAEle me morde com ferocidade na coxa e me arrasta para debaixo de seu corpo, controlando-me sem piedade.Tento resistir, pedir ajuda, minhas mãos sobre meu ventre, tentando proteger meu filhote, mas suas garras, como armas mortais, perfuram minha pele, destroçando todo meu pequeno corpo vulnerável.Preciso levantar os braços por instinto quando suas garras afiadas se dirigem ao meu rosto, e grito em agonia por causa de uma ferida profunda que atravessa minha bochecha desde a testa.Ao deixar minha barriga exposta, ele investiu contra nosso filho.— NÃO! O filhote, não! Por favor, Dorian, MEU FILHO NÃO!As lágrimas caíam incessantemente dos meus olhos enquanto eu o suplicava, mas seus caninos devoravam minha carne, e suas garras procuravam, friamente, nas profundezas das minhas entranhas, arrancar a vida que eu carregava.Não sei quanto tempo durou essa agonia; soluçava, implorando enquanto ainda conseguia falar.A dor em todo meu corpo era insuportável, mas a da minha alma, que