Sarati, com o corpo descendo do encosto da rocha, mexeu-se e gritou de dor. Só nesse momento, percebeu que sua situação era grave, pois voltou a sangrar e quase desmaiou com a agonia profunda.— Sarati, você está sangrando. Deite-se de novo.— Está doendo muito, senhor.— Eu sei, filha. Deixe-me a ajudar. Nós a encontramos já desacordada. Graças à sua estrela de porcelana, consegui localizá-la e quase surpreendi o homem contratado por Julião, com armas em punho, prontos para executá-la. Não tive como pegá-lo. Ele e outro, já galopavam longe. Acredito que pensaram que você estava morta, pois já lhe haviam dado uma pequena facada, por sorte, superficial e será essa a notícia que darão para Julião. Deite-se aqui e, enquanto faço um curativo para estancar o sangue, deixe que lhe conte ao menos um pouco da história.— Eu me fingi de morta, senhor. Acho que por isso, só me furaram superficial. Estou dolorida, cansada, triste.— Deite-se, confie. Se me deixar contar um pouco da história, ser
— Como sabe? Só falei sobre isso para minha mãe. Sou uma pessoa comum, que sempre gostou de ver as estrelas no céu. Naquele dia, coincidiu de surgir uma maior, apenas isso. Não tem nada de profético, foi apenas sorte.— Você sabe por que moramos afastados da Cidade Central e da Cidade Murada?— Meus pais apenas ensinaram que pessoas como nós somos proibidas de ir até lá. A maior cidade em que estive foi a Cidade Murada.Padiah cuidava dos ferimentos de Sarati e se deteve para substituir o curativo. Sarati gemeu de dor mais uma vez.— Não conseguirei lhe contar tudo rápido, então sugiro ficarmos mais um dia aqui, e assim cuidarei melhor de você, em seguida, a levarei a um lugar secreto, sagrado e com pessoas que a admiram.— E Julião? Ele poderá perseguir-me!— Não se preocupe, dei um jeito. Como disse, o soldado não foi pego, e acha que você estava morta, o que quase aconteceu. Além disso, fiz circular a notícia de que uma mulher foi encontrada morta no deserto. Pelo menos, ele acredi
— Uau, isso tudo é para mim?Alair sorriu, a energia nele, já era pulsante e esse gesto, a energizou de novo, mas ainda não foi possível abrir o canal dos guardiões.— Sarati, descanse. A água para o seu banho está morna. Minha mãe virá buscá-la para o jantar.— O que significa tudo isso? Uma construção dentro de uma montanha, um quarto enorme? Não consigo entender. É tudo muito surpreendente, parece um sonho.— Não é um sonho, é real. Tudo lhe será explicado no devido tempo. Só posso lhe dizer que essa foi à única maneira encontrada de nos escondermos do Comandante Maior. — É uma verdadeira cidade.— E você ainda não viu nem um terço de tudo. Com o tempo conhecerá todo o complexo. Agora, descanse, relaxe — falou Alair a olhando fixo. A memória do primeiro dia em que a viu, na festa de Laidé, voltou e a energia tomou conta do rapaz, mais uma vez.Sarati sorriu com gratidão; era o que lhe restava. Ultimamente, as pessoas lhe davam a mesma resposta. Depois que Alair retirou-se, ela se
Enquanto Padiah e Sarati foram à biblioteca, Magdali, Alair, Lucadeli e Anarit continuaram à mesa. Eles se deliciavam com suco de armat, fruta da região, produzida nos fundos da caverna. Alair permaneceu pensativo, contemplava ao longe, e buscava controlar seu coração, que batia descompassado. Sentia-se tal como viu Sarati pela primeira vez, na festa de Laidé. Magdali colocou a mão sobre a do filho e o chamou para que caminhassem com ela. Levou-o à fonte, denominada de “Fonte Sagrada”. Nela possuía as derradeiras energias das estrelas de todos os guardiões que viviam na caverna, assim eles conseguiram extrair água da rocha e, produzirem seus próprios alimentos.— Como gosto deste lugar. Lembro-me quando conseguimos fazer a água jorrar dessa rocha — discorreu Magdali.— O que quer dizer, mãe?— Chegou a hora de contar-lhe mais algumas coisas a respeito da estrela. A primeira é que guardiões têm dons. Alguns possuem apenas habilidades específicas, como cura, sonhos, etc. Outros, como se
— Sarati então é a minha guardiã-companheira?— Só você sentirá e descobrirá se ela é a sua guardiã.— Pensar, sonhar com ela e estar com o coração descompassado e destroçado por tudo que Sarati passou seria um sinal?Magdali beijou o filho e o abraçou.— Esses são todos os sinais, meu amado filho.— E como farei com que ela perceba esses sinais? E se não for minha guardiã-companheira?— Acho muito difícil estar enganada com relação a isso. A estrela apareceu para vocês dois no mesmo dia e em circunstâncias idênticas. Sarati passou por situações difíceis e terá medo do amor, ou até pensar que esse sentimento não existe. A estrela e a sua afeição, a guiarão para o caminho do encontro entre vocês. Tenho fé nisso. Mais alguma pergunta?— Sim. Não sei se escutei direito, mas a senhora disse que a mãe de Sarati e o Comandante Maior eram guardiões companheiros.— Sim, mas como ele preferiu a maldade, o elo se desfaz, por isso Ali pode encontrar outro parceiro de vida.— Mas Ané é guardião t
Ao final do primeiro capítulo, uma cidade de luz teve seu destaque: ruas largas, limpas e casas brancas construídas de mármore puro. As pessoas que ali retratadas sorriam e esperavam em filas de um lado e do outro da rua, ofertando pétalas de flores para um casal que passava. O casal estava de mãos dadas: ela trajava um vistoso vestido branco com um forro vermelho e uma tiara de flores na cabeça; ele vestia-se com uma roupa branca e azul e usava um lenço no pescoço. Sarati aproximou-se mais da figura, pois sentia que a fisionomia de ambos não era estranha. Isso fez com que fixasse mais seu olhar. A sensação era de que os conhecia. Mas de onde? E quem seriam eles? Eram jovens, na pintura, mas se pareciam com alguém, mas quem seria?Sua memória buscava respostas, porém nada se revelou, e ela passou para outras páginas. Quatro páginas depois, o casal tornou a aparecer com uma criança. No colo da mãe havia um menino lindo e sorridente. Todas as cenas pareciam que foram retratadas naquele
Magdali pegou nas mãos de Sarati, buscando acalmá-la de sua ansiedade evidente, e sinalizou para Padiah continuar.— Sei que tem inúmeras perguntas, entretanto hoje apenas responderei a mais essas três questões. Amanhã terá a oportunidade de ler o segundo livro, e à noite continuarei a narrativa. O líder, dessa geração, chama-se Carliah, sobrinho do antigo rei Acalidih, o irmão do que morreu daquela doença misteriosa, que lhe expliquei anteriormente. O pai de Carliah seria o próximo rei, conforme o rodízio que faziam entre os irmãos, mas ele abdicou e, assim, pela tradição, passou-se a vez para o irmão caçula, Acalidhi. Carliah desapareceu misteriosamente por três anos, tempo suficiente para que reunisse fiéis seguidores e fabricassem suas armas. Ingressaram na cidade na intenção de derrubar seu tio, tomando o trono que julgava tê-lo sido usurpado.Depois, ressaltou: — Carliah extraiu seu poder da Estrela de Thuman. A verdade, é que ele usurpou a energia da estrela, foi assim que nos
— Lucadeli, você não mudou nada! — Nem você, bela Ali — nome, como todos a conheciam.— E você seja bem-vindo de novo? — falou Ali, apontando para Alair.— Obrigado, senhora. É bom revê-la.De repente, a guardião pareceu se dar conta da situação. Ali se sentou abalada pousando a mão no peito.— O que aconteceu com minha filha? Vieram com más notícias? Vou carregar essa culpa para o resto de minha vida?— Não, minha senhora — respondeu Alair — exatamente o oposto, viemos avisar-lhes que ela está na caverna, na nossa morada. Padiah solicitou que nos acompanhem para encontrá-la. E ela está bem, não posso mentir que passou por algumas situações, mas agora está bem.Ané aproximou-se da mulher. Compreendia o que a esposa sentia. Ambos conviviam em agonia por não saberem o paradeiro da filha. Quando Ané voltou da caverna, renasceu a esperança de um reencontro, que agora se concretizaria. Ali se levantou e sorriu.— Desculpem. Há tempos, vivemos essa agonia. Prepararei um belo café da manh