— Não posso mentir que estou ansioso, desde a festa de Laidê. E fiquei um tempo, sem entender, porque a grande guardiã, que todos veneram, pode fazer isso com a própria filha. Mas, ao mesmo tempo, penso, o tempo é o senhor de todas as coisas. Creio que nos descobriremos como companheiros no momento adequado. E como a senhora falou, mãe protege, e foi o que tentou fazer, o melhor para Sarati.— Resta saber se ela me perdoará, porque como disse, ainda tentarei evitar que ela cumpra essa missão. Vocês passarão por situações desconhecidas e perigos inimagináveis. — A senhora já parou para pensar que Sarati possa ser uma grande guardiã como a senhora ou até melhor. E quanto a perdoá-la, tenho confiança que sim. Ela agora é uma mulher forte, porém sem perder a suavidade e a candura, tal qual a senhora. Ali sorriu.— Será um reencontro lindo — falou Ali. A guardiã, levantou-se, se recompôs — vou me preparar, Alair, para encararmos a verdade. Descanse um pouco, rapaz. Este foi o quarto de
Sarati apurou a audição e confirmou, era a voz da mãe. Levantou-se e caminhou em direção de onde estavam as vozes. Luzes no final do corredor, saindo de uma sala para ela desconhecida, atraíram sua atenção. Quando se aproximou, a voz de Ali, que parecia exaltada, ficou ainda mais audível, e claramente distinguiam-se os timbres de Ali e Padiah. Eles se exaltaram daquela maneira, fato que a filha, jamais vira ocorrer. Sarati percebeu uma fresta na porta e posicionou-se para espiar, contudo avistou apenas um homem de costas, Esse que, ao perceber a presença de alguém, virou o rosto e, vendo-a, foi em sua direção, sorrindo. Era Alair.— Sarati, você está bem? Não deveria estar dormindo?— Já estou acordada e estava na biblioteca. Ouvi a voz de meus pais, Alair. Preciso falar com eles. Nunca os vi conversar de forma tão alterada. Por que está tampando minha passagem?— Padiah está conversando com eles, contando tudo o que aconteceu com você. Venha dar um passeio comigo. Quero lhe mostrar
Sarati afastou-se, um pouco mais, e olhou fixamente para Alair, que pareceu acanhado. Nunca se sentiu tão aconchegada e feliz nos braços de um homem. O pensamento era ‘Isso não está certo, ele pode me agredir como Julião fazia’. Para disfarçar essa agonia, voltou ao assunto anterior.— Essa quantidade de água vem de onde? — Desconversou com as bochechas coradas pelos pensamentos que continuaram sem controle pela sua cabeça.— Nunca descobrimos. Na verdade, nunca nos foi contado. Ontem minha mãe me disse algo que acho que está relacionado. A força da estrela, que ainda existe aqui, fez jorrar essa água. Só não sei explicar como. Por isso, falei anteriormente, que acho que a energia de todos os guardiões que estão aqui, fizeram esse milagre.— É realmente um milagre. Obrigada por me mostrar — Sarati sorriu, dessa vez com os olhos fixos no dele, e dessa vez, quem ficou sem graça foi ela, com a audácia.— Alair — chamou Magdali.— Sim, mamãe. Estamos na fonte.O chamado vinha da escada qu
— Quero me desculpar com você, Sarati — expressou Magdali — Vejo que está assustada com minha bronca. Realmente não sou desse jeito, mas erramos e algumas vezes, não conseguimos controlar. Desculpe-me.— A senhora leu meus pensamentos.— Sim, é um dos meus dons como guardiã. O primeiro é o da cura.— Uau, estou em cada momento mais impressionada.— Vamos continuar — pediu Padiah sorrindo.Ali e Magdali assentiram, e Sarati pegou o primeiro livro e apontou para o retrato da rainha que descia sorrindo de mãos dadas com o rei.— Essa jovem e seu príncipe parecem pessoas conhecidas. Quem são?Ali não esperava por essa pergunta tão certeira e pediu autorização para Padiah, que balançou a cabeça em um gesto afirmativo.— Chegou a hora, Ali.Foram segredos guardados por anos. Chegara o momento de que pelo menos parte deles fossem revelados. A mãe de Sarati ainda não estava preparada para revelar tudo, mas sua filha precisava saber de sua descendência e a hora era aquela. Ali puxou o livro pa
— Eu a vi, pois já sou uma guardiã, mas jamais com os detalhes que contou. Seu pai e Jacob observaram apenas um rastro de luz, que chegou um pouco mais perto e se esvaiu bem rápido.— Não me lembro de descrevê-la. Vocês me falaram tanto para esquecer aquele dia, que acho que apaguei da memória.— Isso também é culpa minha e deu seu pai, mas também no momento em que a viu, você entrou em transe. Feche os olhos com fé e será capaz de regressar àquele dia e contar o que ocorreu.— Antes de fechar meus olhos, diga-me quem é a outra pessoa na foto?— Tudo a seu tempo. Feche os olhos, por favor.Sarati sorriu, não adiantava lutar contra a frase que mais escutava ultimamente: ‘Tudo a seu tempo’. Concluiu que essa referência deveria ser tal como um mantra dos guardiões. Obedeceu à mãe, cerrou os olhos e viu-se de volta aos oito anos de idade. Ali iniciou uma contagem regressiva, que auxiliou que Sarati viajasse de volta ao passado, no dia do aniversário de seu pai. Existia uma luz intensa, lí
Só conseguimos intervir quando desistiu de vez de você. A partir daí, colocamos pessoas próximas para observá-la de perto e vigiá-la, Isabel, a moça que conheceu no açude é uma delas. Mas só quando seu pai veio atrás de nós, como prometido a ele, é que fomos atrás de você e descobrimos o plano sórdido de Julião. Infelizmente nos atrasamos, mas felizmente a encontrei viva.Padiah tomou fôlego, pegou nas mãos de sua mais nova pupila, que tinha se afastado do seu abraço de novo, e a beijou ternamente.— Eu a protegi e a protegerei como uma filha. Vejo você e Alair entrando na Cidade Central e trazendo a luz para nossa terra e nosso povo. Confie em nossas palavras, na profecia e, antes de qualquer coisa, em si mesma e na sua intuição.— O que aconteceu com os pais de Julião? — Indagou a jovem.— A mãe de Julião foi morta pelo pai, e Julião, por ódio, anos mais tarde, matou o próprio pai, quando começou a usufruir das benesses das drogas fornecidas pelo Comandante Maior. O pai matou a mãe
Magdali voltou do transe e pegou nos ombros da amiga.— Sarati vai ficar bem. Acho que agora é o momento de o deixarmos sozinhos.Ali assentiu e foi para o quarto. Abraçada com o marido sentiu a energia que também os conduzia e que voltava a fluir, com mais intensidade em seu corpo de guardiã. A aura da mais velha guardião se expandiu na cor azul e as mãos se energizarem em um dourado claro, ainda tímido.No sonho, Sarati se sentia confortável nos braços de Alair, mas quando percebeu ser um outro homem, ela desfez a ligação por um breve instante.— Desculpe, Alair. Não o conheço para deixar que me abrace assim. Não sei o que deu em mim.— Com o tempo você vai entender. Venha, vamos nos sentar. — É tão lindo aqui. Onde fica esse lugar?— É a parte dos fundos da caverna. Você entrou, no dia em que chegou, pela entrada principal. Aqui é uma saída de emergência, que só nós moradores conhecemos, para caso tenhamos que fugir do Comandante Maior. E foi aqui, Sarati, que vi a estrela.— É aq
— Mas a vovó Manú já tinha falecido?— Em sonho, filha. Ela me alertou várias vezes. Eu não confiei.— Não se culpe. Magdali me disse que todas as mães e pais, sempre buscarão o melhor para os filhos e que se um dia eu for mãe, entenderei. Tive a sorte de ser salva por Padiah, e ele me contou que foi até mim, porque decidiram procurá-lo. E como está vovó e vovô.— Depois que soubemos que você estava com Padiah, como um passe de mágica, sua avó melhorou. Toda aquela tristeza era temor pelo passado, do que poderia acontecer, e a saudade também do mundo que tínhamos.— No dia em que chegaram, pareceu-me, pelo tom da conversa, que ainda não desejavam que eu soubesse da profecia.— Instinto de proteção, minha filha. Você tem uma missão, e, com ela, derivam muitas responsabilidades e riscos também. Quando Alair foi a nossa casa, conversei com ele, e disse que eu ainda tentaria não a deixar fazer essa missão. Mas a decisão é sua, não posso mais ir contra isso.— Por que percebo que ainda me