Magdali voltou do transe e pegou nos ombros da amiga.— Sarati vai ficar bem. Acho que agora é o momento de o deixarmos sozinhos.Ali assentiu e foi para o quarto. Abraçada com o marido sentiu a energia que também os conduzia e que voltava a fluir, com mais intensidade em seu corpo de guardiã. A aura da mais velha guardião se expandiu na cor azul e as mãos se energizarem em um dourado claro, ainda tímido.No sonho, Sarati se sentia confortável nos braços de Alair, mas quando percebeu ser um outro homem, ela desfez a ligação por um breve instante.— Desculpe, Alair. Não o conheço para deixar que me abrace assim. Não sei o que deu em mim.— Com o tempo você vai entender. Venha, vamos nos sentar. — É tão lindo aqui. Onde fica esse lugar?— É a parte dos fundos da caverna. Você entrou, no dia em que chegou, pela entrada principal. Aqui é uma saída de emergência, que só nós moradores conhecemos, para caso tenhamos que fugir do Comandante Maior. E foi aqui, Sarati, que vi a estrela.— É aq
— Mas a vovó Manú já tinha falecido?— Em sonho, filha. Ela me alertou várias vezes. Eu não confiei.— Não se culpe. Magdali me disse que todas as mães e pais, sempre buscarão o melhor para os filhos e que se um dia eu for mãe, entenderei. Tive a sorte de ser salva por Padiah, e ele me contou que foi até mim, porque decidiram procurá-lo. E como está vovó e vovô.— Depois que soubemos que você estava com Padiah, como um passe de mágica, sua avó melhorou. Toda aquela tristeza era temor pelo passado, do que poderia acontecer, e a saudade também do mundo que tínhamos.— No dia em que chegaram, pareceu-me, pelo tom da conversa, que ainda não desejavam que eu soubesse da profecia.— Instinto de proteção, minha filha. Você tem uma missão, e, com ela, derivam muitas responsabilidades e riscos também. Quando Alair foi a nossa casa, conversei com ele, e disse que eu ainda tentaria não a deixar fazer essa missão. Mas a decisão é sua, não posso mais ir contra isso.— Por que percebo que ainda me
— Lembro-me de terem falado a respeito ontem, mas estava tão nervosa, me desculpem. O que significa essa baixa energia e por que atinge nosso planeta?— Somos um planeta evoluído espiritualmente, porém podemos deixar de ser caso a profecia não se concretize. Em relação à baixa energia, significa submetermos o planeta a maldade, não seguindo os princípios da harmonia, da amizade e do amor. Os invasores brincam com a vida das pessoas, semeando o ódio e a discórdia por onde atravessam. São competitivos e passam por cima de qualquer um para conseguir o que almejam, poder. Utiliza-se de substâncias alucinógenas, fazem orgias sexuais e não respeitam o conceito de família que conhecemos. Assim, a energia da estrela não consegue se expandir.— E acham que eu e Alair, por termos presenciado a estrela brilhar a tantos anos, temos alguma chance de restaurar o planeta às condições de outrora. Como drogados, pessoas que praticam o mal, se transformarão de um dia para o outro.— A estrela fará com
Sarati levantou-se sem mais nada a dizer. Com o anel na mão direita, pediu licença e retirou-se para a biblioteca. Os pais compreendiam que ela precisava pensar e deixaram-na livre para absorver tudo. Alair estava na biblioteca, lia um dos livros e estava tão absorvido pela leitura que não percebeu a chegada de sua futura companheira. Ela sentou-se ao seu lado e colocou a mão delicadamente em seu braço, fazendo com que Alair voltasse à realidade, não sem antes buscar disfarçar o frêmito e as mãos suando por vê-la ali.— Desculpe se o assustei. Vim para pensar um pouco sobre tudo o que está acontecendo, inclusive sobre esse anel que ganhei de minha avó. Você também tem um?Alair tirou da camisa uma corrente com um anel estelar como pingente.— Tenho, mas o meu não simboliza a realeza. Simboliza a função de guardião. Pertenceu a meu pai — respondeu Alair, enquanto Sarati chegava mais perto para observar, e quase o matava de ansiedade, diante da proximidade — Esse é o seu talismã, o mes
Sarati sorriu, e dessa vez, quem sentiu todo o corpo arrepiar foi Alair. Para disfarçar, ele voltou a comer, bem depressa. A jovem guardiã o acompanhou e ficaram em silêncio por alguns minutos.— É o mesmo livro ainda, Alair.— Sim, ele não me trouxe muitas informações. Trouxe para o jantar, para perguntar a meu pai, mas a resposta dele foi a mesma: ‘Vocês terão que descobrir, muita coisa, sozinhos’.— Sinto uma energia boa em seu pai e uma conexão ótima com ele, mas, às vezes, ele consegue me irritar.— Sério, linda guardiã — Padiah falou rindo, se sentando ao lado do filho.Sarati nem ficou vermelha.— Sim, é sério, nobre guardião. — Sei que estão inseguros, um pouco mais você, Sarati, mas é verdade, esses livros, e nem o que está com uma amiga, na Cidade Central, trazem todas as respostas. Só a estrela poderá revelar tudo. Voltei aqui, apenas para dizer que estou feliz de ter tomado a decisão de seguir com sua missão. Acho que vocês terão muitos desafios, mas conseguirão vencê-los
— De manhã, quando fiz a ronda, voltei rápido, pois teve uma tempestade de areia muito forte. A poeira se acumulou no céu.— Que pena.— Mas se sente. Acho que gostou da iluminação.— Sim, muito. Nunca tiveram medo de serem descobertos pelo Comandante Maior.— Existe um mecanismo sensorial que é acionado quando qualquer soldado passar por perto da caverna.— Mas como?— Eles usam as mesmas roupas que os soldados do palácio usavam. Nelas existia um chip. Padiah, a partir do que veio com a roupa de Lucadelli, os fez, e espalhou em pontos estratégicos das rochas. — Mas o que acontece?— Quando o sensor sente a presença de algum soldado, como disse, as luzes são apagadas.— E porque não apagou com você.— Deixei o meu chip em cima do livro na biblioteca, para que você não se assustasse.— Obrigada por isso e por se preocupar comigo.— Sempre a seu dispor — Alair sorriu ao dizer e Sarati retribuiu com outro sorriso, daqueles de tirar o fôlego. A vontade do guardião era beijá-la, ali mesmo
Saíram em um amanhecer de baixa temperatura, vestiam-se com túnicas de tecido resistente, tanto ao frio quanto ao calor. Padiah, Magdali, após as bençãos de Ali, foram despedir-se. Padiah deixou Sarati por último e, depois que a abraçou, entregou-lhe uma pequena bolsa capanga, de cor marrom.— Esse é o seu objeto, o amuleto destinado a você, pela estrela. Que você o use com amor e sobretudo crendo em seu poder.— Obrigada — respondeu Sarati, abrindo-o e deparando-se com uma pulseira dourada, cujo pingente era a Estrela de Thuman, em azul-turquesa.— Quer colocar em mim, mamãe. Ali olhou para Padiah, pedia autorização. — Porque me pede autorização, Ali?— Porque acho que devo.O guardião assentiu e a mãe, nesse momento, não conseguiu segurar a emoção e chorou enquanto lacrava no pulso da filha, o seu talismã. — Acho que essa emoção, Ali, é uma resposta da estrela para você. Pense nisso — expressou Padiah. Ali, mais uma vez abraçou a filha e dessa vez disse baixinho.— Não tenha med
— Ah, então quer dizer que um guardião companheiro se perder o outro, ele morrerá. Muito triste isso — pensou alto a guardiã, e deixou Alair de cabeça baixa, sem graça.Maeda, mesmo sem enxergar, percebeu e puxou Alair para mais perto de si, e lhe falou algo em segredo.— Está mais perto do que você imagina. Paciência.Para disfarçar, o jovem continuou a conversa.— O que a senhora sabe sobre a profecia, senhora Maeda? — perguntou Alair.— As mesmas coisas que todos os moradores, descendentes dos primeiros guardiões, fundadores desse planeta, sabem. As duas crianças que vissem a estrela, em sua plenitude, teriam a missão de trazer Jetiah de volta. É um mantra, que repito, todos os dias, antes de dormir. E quero viver para vê-los descobrir todo o teor dela, apesar de acreditar que meu tempo já está no fim. — Então ainda continuamos sem respostas — afirmou Sarati.— Mas vocês as terão. Fiquem tranquilos. Passem aqui, esta noite, descansem. Dizem ser um longo caminho até o Monte Acadeh,