Sarati levantou-se sem mais nada a dizer. Com o anel na mão direita, pediu licença e retirou-se para a biblioteca. Os pais compreendiam que ela precisava pensar e deixaram-na livre para absorver tudo. Alair estava na biblioteca, lia um dos livros e estava tão absorvido pela leitura que não percebeu a chegada de sua futura companheira. Ela sentou-se ao seu lado e colocou a mão delicadamente em seu braço, fazendo com que Alair voltasse à realidade, não sem antes buscar disfarçar o frêmito e as mãos suando por vê-la ali.— Desculpe se o assustei. Vim para pensar um pouco sobre tudo o que está acontecendo, inclusive sobre esse anel que ganhei de minha avó. Você também tem um?Alair tirou da camisa uma corrente com um anel estelar como pingente.— Tenho, mas o meu não simboliza a realeza. Simboliza a função de guardião. Pertenceu a meu pai — respondeu Alair, enquanto Sarati chegava mais perto para observar, e quase o matava de ansiedade, diante da proximidade — Esse é o seu talismã, o mes
Sarati sorriu, e dessa vez, quem sentiu todo o corpo arrepiar foi Alair. Para disfarçar, ele voltou a comer, bem depressa. A jovem guardiã o acompanhou e ficaram em silêncio por alguns minutos.— É o mesmo livro ainda, Alair.— Sim, ele não me trouxe muitas informações. Trouxe para o jantar, para perguntar a meu pai, mas a resposta dele foi a mesma: ‘Vocês terão que descobrir, muita coisa, sozinhos’.— Sinto uma energia boa em seu pai e uma conexão ótima com ele, mas, às vezes, ele consegue me irritar.— Sério, linda guardiã — Padiah falou rindo, se sentando ao lado do filho.Sarati nem ficou vermelha.— Sim, é sério, nobre guardião. — Sei que estão inseguros, um pouco mais você, Sarati, mas é verdade, esses livros, e nem o que está com uma amiga, na Cidade Central, trazem todas as respostas. Só a estrela poderá revelar tudo. Voltei aqui, apenas para dizer que estou feliz de ter tomado a decisão de seguir com sua missão. Acho que vocês terão muitos desafios, mas conseguirão vencê-los
— De manhã, quando fiz a ronda, voltei rápido, pois teve uma tempestade de areia muito forte. A poeira se acumulou no céu.— Que pena.— Mas se sente. Acho que gostou da iluminação.— Sim, muito. Nunca tiveram medo de serem descobertos pelo Comandante Maior.— Existe um mecanismo sensorial que é acionado quando qualquer soldado passar por perto da caverna.— Mas como?— Eles usam as mesmas roupas que os soldados do palácio usavam. Nelas existia um chip. Padiah, a partir do que veio com a roupa de Lucadelli, os fez, e espalhou em pontos estratégicos das rochas. — Mas o que acontece?— Quando o sensor sente a presença de algum soldado, como disse, as luzes são apagadas.— E porque não apagou com você.— Deixei o meu chip em cima do livro na biblioteca, para que você não se assustasse.— Obrigada por isso e por se preocupar comigo.— Sempre a seu dispor — Alair sorriu ao dizer e Sarati retribuiu com outro sorriso, daqueles de tirar o fôlego. A vontade do guardião era beijá-la, ali mesmo
Saíram em um amanhecer de baixa temperatura, vestiam-se com túnicas de tecido resistente, tanto ao frio quanto ao calor. Padiah, Magdali, após as bençãos de Ali, foram despedir-se. Padiah deixou Sarati por último e, depois que a abraçou, entregou-lhe uma pequena bolsa capanga, de cor marrom.— Esse é o seu objeto, o amuleto destinado a você, pela estrela. Que você o use com amor e sobretudo crendo em seu poder.— Obrigada — respondeu Sarati, abrindo-o e deparando-se com uma pulseira dourada, cujo pingente era a Estrela de Thuman, em azul-turquesa.— Quer colocar em mim, mamãe. Ali olhou para Padiah, pedia autorização. — Porque me pede autorização, Ali?— Porque acho que devo.O guardião assentiu e a mãe, nesse momento, não conseguiu segurar a emoção e chorou enquanto lacrava no pulso da filha, o seu talismã. — Acho que essa emoção, Ali, é uma resposta da estrela para você. Pense nisso — expressou Padiah. Ali, mais uma vez abraçou a filha e dessa vez disse baixinho.— Não tenha med
— Ah, então quer dizer que um guardião companheiro se perder o outro, ele morrerá. Muito triste isso — pensou alto a guardiã, e deixou Alair de cabeça baixa, sem graça.Maeda, mesmo sem enxergar, percebeu e puxou Alair para mais perto de si, e lhe falou algo em segredo.— Está mais perto do que você imagina. Paciência.Para disfarçar, o jovem continuou a conversa.— O que a senhora sabe sobre a profecia, senhora Maeda? — perguntou Alair.— As mesmas coisas que todos os moradores, descendentes dos primeiros guardiões, fundadores desse planeta, sabem. As duas crianças que vissem a estrela, em sua plenitude, teriam a missão de trazer Jetiah de volta. É um mantra, que repito, todos os dias, antes de dormir. E quero viver para vê-los descobrir todo o teor dela, apesar de acreditar que meu tempo já está no fim. — Então ainda continuamos sem respostas — afirmou Sarati.— Mas vocês as terão. Fiquem tranquilos. Passem aqui, esta noite, descansem. Dizem ser um longo caminho até o Monte Acadeh,
Com o foco de Alair na luz, entre os dois, a voz se foi. Em pouco tempo ele dormiu, e quando acordou, Sarati já não estava mais ao seu lado. Ajudava Tuli, no café-da-manhã.— Dormiu bem, guardião.— Sim, senhor.— Deve ter dormido mesmo — afirmou Lucadelli, sorrindo. Nunca o vi acordar, mais tarde do que eu.— Estava cansado. A viagem foi longa.— Hum, cansado.Sarati olhou desconfiada para Alair, que pediu licença para fazer sua higiene, na pia de fora. Maeda, mesmo sem ver, enxergou a força que os unia. Ela sentiu a presença da luz, durante a noite e a conexão que se desfez, apenas um pouco antes de Sarati se levantar.Após o desjejum, Tuli e Maeda foram se despedir. A idosa depositou um beijo terno em Sarati e outro em Alair, o que os fortaleceu para seguirem sua jornada.— Sigam com os corações fortalecidos, jovens guardiões. Que a luz da estrela possa os unir ainda mais. A missão não é fácil, mas quando foram escolhidos, a Estrela sabia, da ligação e da força de vocês. Se não pud
— Vamos chegar mais para o fundo. A tempestade está bem próxima e a poeira aumentando.Alair escutou um barulho diferente, mas pensou ser o vento e a areia que batia na rocha. Os sons da tempestade assustavam, e o vento, chicoteava inclemente o que estivesse ao seu alcance. Apagou o fogo com a força da ventania e impediu que Lucadeli acendesse mais uma vez a tocha, ficaram na escuridão total. O soldado abeirou-se da parede, onde não possuía pontas lodosas, e mantiveram-se os três, próximos, sentados no chão. Alair ainda segurava a mão de Sarati, e, inexplicavelmente, o anel vibrou em seu bolso, conectado pela energia dos dois. Com a mão livre, Sarati encontrou o anel e o colocou entre suas mãos entrelaçadas. O objeto iluminou-se. Emanava do símbolo estelar uma luz amarela e azul. Para surpresa de todos, em poucos minutos, a tempestade cessara, e um pouco de luz cingiu através da abertura da rocha.O anel, que ainda reluzia, clareou a caverna. Em seguida, os três enxergaram, assustados
— E como é essa conexão imediata, senhor — Sarati perguntou curiosa.— Vou contar a nossa experiência e você poderá imaginar. Como disse Lucadelli, quase todos os dias eu passava pelo rio. Luar, mãe dele, ficava na benção da água, enquanto Muare e esse moleque — apontou para o soldado — pescavam no barco. Eu sempre falava que aquele dia seria bom para peixe e voltava para a praça da estrela, onde treinava até o final da tarde. Aquele dia foi diferente. Uma energia maior puxou-me para caminhar as margens do rio, até um agrupamento de rochas, parecidas com essas, a poucos metros. Foi quando vi a carroça tombada. Apesar de termos, naquela época, muita tecnologia, algumas famílias, que viviam fora da grande cidade, usavam esse tipo de transporte, para carregar mercadorias. Corri para ajudar, ouvi vozes meio desesperadas. A filha do casal estava desacordada, caíra no chão, quando a roda se quebrou e batera com a cabeça. Quando cheguei para ver como estava o estado de saúde da pessoa, eu ai