— Sim, ainda mais, depois que vi a foto dela, naquele livro antigo. Tive medo de perguntar a idade de mamãe.— Sou jovem ainda, apenas alguns anos a mais que Alair. Então, comigo não se assustará — Lucadelli falou sorrindo.— Então você também é mais velho, Alair.— Ele é bem mais velho, Sarati. Muito mais, está apenas brincando com você.— E porque não teve uma companheira ainda, Lucadelli. Todos falam disso, como uma certeza da estrela.— É uma certeza, Sarati. Ninguém vive só. Eu tive uma companheira, durante anos, mas não foi a escolhida pela estrela. Fiz uma escolha errada e sofri por isso. — E por isso resolveu ficar sozinho.— Ele não ficará sozinho, Sarati — revelou Buriah — a conexão verdadeira já foi feita.Lucadelli sorriu.— Não lembrava de seus dons, como guardiã.— Uma vez guardiã, sempre guardiã.— Tem momentos em que fico perdida nas conversas de vocês.— Eu também, Sarati. Sou jovem, nasci tem poucos anos. E não sei muito coisa, dos velhos tempos. Por isso, vamos com
— Esse é o mapa que devemos seguir? — Perguntou Alair.— Sim. Precisarão de mais suprimentos, além de roupas, tanto para o frio quanto para o calor, e armas para defesa.— Então ninguém, nunca, chegou a esse monte? — Questionou Sarati, com o olhar fixo no rio e no penhasco que o rodeava.— Primeiro, nunca foi preciso. Nosso mundo jazia em paz. A estrela brilhava regularmente dando vida a tudo quanto tocava. Segundo, de acordo com a profecia, só quem alcançará o monte, e revelará a profecia integralmente, é quem testemunhou a estrela em sua plenitude, ainda criança. Como ela apareceu para vocês dois, no mesmo dia, só vocês têm esse poder e missão.— Então por que há profecia se antigamente vivia-se em paz?— Nosso mundo já passou por diferentes tempos de trevas. O último guardião que trouxe de volta a luz julgou que isso jamais aconteceria novamente. Assim, ele escondeu as revelações que lhe fizeram no Monte Acadeh, onde se compreendia que unicamente os escolhidos pela estrela chegaria
— Não, porque a luz está aumentando — Lucadelli apontou para os dois símbolos.Alair fechou os olhos e a testa enrugou-se, como se pensasse ou lembrasse-se de algum fato. Em poucos minutos, no entanto, a luz diminuiu gradativamente até sumir por completo, deixando-os apenas com as chamas do fogo brando. Alair voltou do transe e depositou a mão direita sobre o seu colar e a esquerda sobre a pulseira.— Lembro-me de um livro que li na biblioteca. Você não teve tempo de lê-lo, Sarati. Nele havia um desenho igual ao que aconteceu aqui. Nessa figura possuía uma transcrição que descrevia que, quando as luzes do colar e da pulseira se encontrassem, o local sagrado da Estrela de Thuman estaria próximo e se abriria as portas da passagem para o Monte Acadeh.— Isso mesmo, meus filhos. O Monte Acadeh está perto e, para chegarem até lá, será necessário muito cuidado. E quando as luzes de vocês acenderem juntas, a passagem se abrirá.Sarati e Alair jaziam hipnotizados pela bela mulher vestida de b
— Pelo mapa de Buniah, teremos um pequeno açude, mais a frente. Só temos que pedir a estrela que ele tenha pelo menos um pouco de água.— Tomara — suspirou Sarati. Arrumaram as coisas bem rápido e partiram. A visibilidade da manhã estava obscurecida, o tempo parecia alarmante. O vento feroz, soprava nuvens de areia que encobriam o céu, dificultando a viagem.Alair distribuiu óculos de proteção. Para Sarati, tudo era novidade, já que não era acostumada àquela tecnologia. Após a fase de ilusão e desconhecimento acerca do próprio planeta onde vivia, agora começava a fase de descobertas. Os óculos davam-lhes visão de longo alcance e permitiam ver além da nuvem de poeira. Lucadeli julgou mais apropriado que galopassem para sair rapidamente da poeira e, assim, evitar perigos maiores. Entretanto, não foi possível, já que, ao longo do caminho, a poeira ficou ainda mais densa, e a pele ardia devido ao contato com os grãos ásperos. O risco aumentou, e foram obrigados a refugiar-se em outra fen
— Vamos arrumar as coisas.Alair ajudou Sarati a se levantar e o toque das mãos, ainda mais forte, fez os dois ficarem sem graça. Cada um se afastou, indo Alair para fora da caverna, enquanto Sarati pegava as coisas.— Os cavalos estão bem? — questionou Alair, perto de sua montaria o acarinhando.— Sobreviveram, mas estão famintos. E vocês, estão bem? Como a escondeu?— Camuflei Sarati, entretanto temo, que os soldados retornem. Creio que é melhor partirmos logo.— Onde está Sarati?— Arrumando as coisas. Vou ajudá-la.Lucadelli, de longe, sentia a força da estrela.— Pode deixar que eu vou. Sinto que não está em condições — expressou sorrindo para o amigo e dando um tapa no ombro dele, de consolo.O soldado entrou na caverna e começou a pegar os itens mais pesados, como as cobertas e garrafas de água.— Temos que ir — expressou Sarati.— Foi essa a ordem do próprio soldado. Já peguei tudo, vamos.— O que tem para os cavalos comerem? Com a tempestade de ontem, possivelmente teremos co
— Não se aflija, menina. Se realmente são os escolhidos da profecia, a estrela lhes guiará e abrirá uma passagem para que vocês dois sigam esse destino. Pelo menos é o que o manuscrito de minha esposa dizia. Isso explica por que os mandaram para esse lado da montanha.— Esse manuscrito está com o senhor ainda? — inquiriu Alair — e meu o avisou de algo.Luídi baixou a cabeça por um instante, e mais lágrimas rolaram. Contemplou o horizonte e com a voz embargada respondeu.— Minha esposa perdeu a vida para garantir a segurança desse pergaminho e de nossa filha, que vive escondida em uma caverna. Os soldados ainda a procuram. Há alguns anos, homens do Comandante vieram atrás de minha menina acreditando que pela idade ela teria sido a criança que vira a estrela. Se seu pai for Padiah, sim, mas acho que ele me deixou na surpresa, pois pelo comunicador, ele só falou assim: ‘Três jovens irão passar aí e você terá surpresas boas. Arrume o manuscrito.’— Sentimos muito pela sua esposa — lamento
— O pouco que sei, Sarati, e sinto muito por tudo o que passou, é que todas as drogas fornecidas pelo Comandante, tem o seu antídoto. Esse remédio é fornecido, apenas para os soldados do exército pessoal do poderoso. Como Julião trabalhava na Cidade Murada, ou se drogava pouco, ou conseguia no mercado clandestino.— Não quero saber dessa parte, senhor.O homem a olhou com ternura e continuou.— Sarati, quando alcançarem a passagem, não conhecemos qual será a reação da estrela. O Comandante Maior poderá obter provas de que os escolhidos ainda vivem e caminham para o monte em busca de toda a profecia, se perceber essa luz.— E como isso pode acontecer — perguntou Alair.— Não sei, Alair. Mas imagine a força poderosa da estrela. Ela quer voltar. Escolheu vocês anos atrás. Esperou Sarati estar pronta, anos depois. Não sabemos como essa passagem será aberta, e qual a energia de luz será despendida. A luz que explodirá, sabe-se lá como, pode ser vista na Cidade Central, ou até sentida pelo
— E por que primeiro a cidade, e não o palácio? — interrogou Sarati, aproximando-se da conversa, como se, de tal modo, escutando melhor, pudesse crer no que era narrado.— Porque, era dentro do palácio, onde ficava guardada a caixa da estrela que transportava a energia para o lugar e protegia quem permanecesse por lá, enquanto a estrela da praça levava energia para toda a cidade. O Comandante Maior desconhecia esse fato, julgo que nunca soube da existência dessa caixa e por isso, não a destruiu como fez com o monumento do obelisco. A situação ficou crítica quando os invasores cercaram o lar do rei e da rainha. O conselho real foi forçado a reunir-se e tomar uma decisão. Na noite da reunião, iniciou-se um barulho ensurdecedor pelas ruas. Milhares de pessoas vestidas de preto, com tochas na mão, destruíam as casas que restavam e expulsavam os últimos moradores que não aderiram ao estilo de vida imposto: armas, drogas, sexo desregrado e violência.— Então houve muitas mortes.— Não, Sar