Com o foco de Alair na luz, entre os dois, a voz se foi. Em pouco tempo ele dormiu, e quando acordou, Sarati já não estava mais ao seu lado. Ajudava Tuli, no café-da-manhã.— Dormiu bem, guardião.— Sim, senhor.— Deve ter dormido mesmo — afirmou Lucadelli, sorrindo. Nunca o vi acordar, mais tarde do que eu.— Estava cansado. A viagem foi longa.— Hum, cansado.Sarati olhou desconfiada para Alair, que pediu licença para fazer sua higiene, na pia de fora. Maeda, mesmo sem ver, enxergou a força que os unia. Ela sentiu a presença da luz, durante a noite e a conexão que se desfez, apenas um pouco antes de Sarati se levantar.Após o desjejum, Tuli e Maeda foram se despedir. A idosa depositou um beijo terno em Sarati e outro em Alair, o que os fortaleceu para seguirem sua jornada.— Sigam com os corações fortalecidos, jovens guardiões. Que a luz da estrela possa os unir ainda mais. A missão não é fácil, mas quando foram escolhidos, a Estrela sabia, da ligação e da força de vocês. Se não pud
— Vamos chegar mais para o fundo. A tempestade está bem próxima e a poeira aumentando.Alair escutou um barulho diferente, mas pensou ser o vento e a areia que batia na rocha. Os sons da tempestade assustavam, e o vento, chicoteava inclemente o que estivesse ao seu alcance. Apagou o fogo com a força da ventania e impediu que Lucadeli acendesse mais uma vez a tocha, ficaram na escuridão total. O soldado abeirou-se da parede, onde não possuía pontas lodosas, e mantiveram-se os três, próximos, sentados no chão. Alair ainda segurava a mão de Sarati, e, inexplicavelmente, o anel vibrou em seu bolso, conectado pela energia dos dois. Com a mão livre, Sarati encontrou o anel e o colocou entre suas mãos entrelaçadas. O objeto iluminou-se. Emanava do símbolo estelar uma luz amarela e azul. Para surpresa de todos, em poucos minutos, a tempestade cessara, e um pouco de luz cingiu através da abertura da rocha.O anel, que ainda reluzia, clareou a caverna. Em seguida, os três enxergaram, assustados
— E como é essa conexão imediata, senhor — Sarati perguntou curiosa.— Vou contar a nossa experiência e você poderá imaginar. Como disse Lucadelli, quase todos os dias eu passava pelo rio. Luar, mãe dele, ficava na benção da água, enquanto Muare e esse moleque — apontou para o soldado — pescavam no barco. Eu sempre falava que aquele dia seria bom para peixe e voltava para a praça da estrela, onde treinava até o final da tarde. Aquele dia foi diferente. Uma energia maior puxou-me para caminhar as margens do rio, até um agrupamento de rochas, parecidas com essas, a poucos metros. Foi quando vi a carroça tombada. Apesar de termos, naquela época, muita tecnologia, algumas famílias, que viviam fora da grande cidade, usavam esse tipo de transporte, para carregar mercadorias. Corri para ajudar, ouvi vozes meio desesperadas. A filha do casal estava desacordada, caíra no chão, quando a roda se quebrou e batera com a cabeça. Quando cheguei para ver como estava o estado de saúde da pessoa, eu ai
— Sim, ainda mais, depois que vi a foto dela, naquele livro antigo. Tive medo de perguntar a idade de mamãe.— Sou jovem ainda, apenas alguns anos a mais que Alair. Então, comigo não se assustará — Lucadelli falou sorrindo.— Então você também é mais velho, Alair.— Ele é bem mais velho, Sarati. Muito mais, está apenas brincando com você.— E porque não teve uma companheira ainda, Lucadelli. Todos falam disso, como uma certeza da estrela.— É uma certeza, Sarati. Ninguém vive só. Eu tive uma companheira, durante anos, mas não foi a escolhida pela estrela. Fiz uma escolha errada e sofri por isso. — E por isso resolveu ficar sozinho.— Ele não ficará sozinho, Sarati — revelou Buriah — a conexão verdadeira já foi feita.Lucadelli sorriu.— Não lembrava de seus dons, como guardiã.— Uma vez guardiã, sempre guardiã.— Tem momentos em que fico perdida nas conversas de vocês.— Eu também, Sarati. Sou jovem, nasci tem poucos anos. E não sei muito coisa, dos velhos tempos. Por isso, vamos com
— Esse é o mapa que devemos seguir? — Perguntou Alair.— Sim. Precisarão de mais suprimentos, além de roupas, tanto para o frio quanto para o calor, e armas para defesa.— Então ninguém, nunca, chegou a esse monte? — Questionou Sarati, com o olhar fixo no rio e no penhasco que o rodeava.— Primeiro, nunca foi preciso. Nosso mundo jazia em paz. A estrela brilhava regularmente dando vida a tudo quanto tocava. Segundo, de acordo com a profecia, só quem alcançará o monte, e revelará a profecia integralmente, é quem testemunhou a estrela em sua plenitude, ainda criança. Como ela apareceu para vocês dois, no mesmo dia, só vocês têm esse poder e missão.— Então por que há profecia se antigamente vivia-se em paz?— Nosso mundo já passou por diferentes tempos de trevas. O último guardião que trouxe de volta a luz julgou que isso jamais aconteceria novamente. Assim, ele escondeu as revelações que lhe fizeram no Monte Acadeh, onde se compreendia que unicamente os escolhidos pela estrela chegaria
— Não, porque a luz está aumentando — Lucadelli apontou para os dois símbolos.Alair fechou os olhos e a testa enrugou-se, como se pensasse ou lembrasse-se de algum fato. Em poucos minutos, no entanto, a luz diminuiu gradativamente até sumir por completo, deixando-os apenas com as chamas do fogo brando. Alair voltou do transe e depositou a mão direita sobre o seu colar e a esquerda sobre a pulseira.— Lembro-me de um livro que li na biblioteca. Você não teve tempo de lê-lo, Sarati. Nele havia um desenho igual ao que aconteceu aqui. Nessa figura possuía uma transcrição que descrevia que, quando as luzes do colar e da pulseira se encontrassem, o local sagrado da Estrela de Thuman estaria próximo e se abriria as portas da passagem para o Monte Acadeh.— Isso mesmo, meus filhos. O Monte Acadeh está perto e, para chegarem até lá, será necessário muito cuidado. E quando as luzes de vocês acenderem juntas, a passagem se abrirá.Sarati e Alair jaziam hipnotizados pela bela mulher vestida de b
— Pelo mapa de Buniah, teremos um pequeno açude, mais a frente. Só temos que pedir a estrela que ele tenha pelo menos um pouco de água.— Tomara — suspirou Sarati. Arrumaram as coisas bem rápido e partiram. A visibilidade da manhã estava obscurecida, o tempo parecia alarmante. O vento feroz, soprava nuvens de areia que encobriam o céu, dificultando a viagem.Alair distribuiu óculos de proteção. Para Sarati, tudo era novidade, já que não era acostumada àquela tecnologia. Após a fase de ilusão e desconhecimento acerca do próprio planeta onde vivia, agora começava a fase de descobertas. Os óculos davam-lhes visão de longo alcance e permitiam ver além da nuvem de poeira. Lucadeli julgou mais apropriado que galopassem para sair rapidamente da poeira e, assim, evitar perigos maiores. Entretanto, não foi possível, já que, ao longo do caminho, a poeira ficou ainda mais densa, e a pele ardia devido ao contato com os grãos ásperos. O risco aumentou, e foram obrigados a refugiar-se em outra fen
— Vamos arrumar as coisas.Alair ajudou Sarati a se levantar e o toque das mãos, ainda mais forte, fez os dois ficarem sem graça. Cada um se afastou, indo Alair para fora da caverna, enquanto Sarati pegava as coisas.— Os cavalos estão bem? — questionou Alair, perto de sua montaria o acarinhando.— Sobreviveram, mas estão famintos. E vocês, estão bem? Como a escondeu?— Camuflei Sarati, entretanto temo, que os soldados retornem. Creio que é melhor partirmos logo.— Onde está Sarati?— Arrumando as coisas. Vou ajudá-la.Lucadelli, de longe, sentia a força da estrela.— Pode deixar que eu vou. Sinto que não está em condições — expressou sorrindo para o amigo e dando um tapa no ombro dele, de consolo.O soldado entrou na caverna e começou a pegar os itens mais pesados, como as cobertas e garrafas de água.— Temos que ir — expressou Sarati.— Foi essa a ordem do próprio soldado. Já peguei tudo, vamos.— O que tem para os cavalos comerem? Com a tempestade de ontem, possivelmente teremos co