Mesmo com o firme propósito de afogar as mágoas e sufocar as lágrimas no fundo de um rio; Eliza sabia em seu íntimo que esses pensamentos eram frutos de uma alma vazia e contraditória, escondida em meio a uma alto estima, que nunca existiu.O espelho, a sua frente revelou o quanto ela estava enganando-se. Diante dela estava refletida a imagem de uma jovem amedrontada e perdida dentro de sua própria insignificância. Dentro daquele ínfimo ciclo, chamado, vida, ela era um nada, um Zé-ninguém. Ela era apenas uma imagem pálida e rebuscada tentando encontrar-se no mundo.Ao olhar mais uma vez para seu reflexo desfalcado, ela se perguntou em que momento da vida se perdeu de si própria. Eliza sabia que não seria preciso ir muito longe ou gastar neurônios, para descobrir que perdeu-se de si mesma no exato momento que encontrou Giulio. Encontrá-lo foi sua perdição, sua condenação; pois ele tirou dela a única coisa que ainda a fazia sentir-se viva: os sonhos. Agora ela estava vazia, incompleta.
Depois de presenciar o descontrole de Eliza; Giulio se deu conta que ela acabou dando um tiro no próprio pé. Giulietta era uma mulher orgulhosa e vingativa e ele sabia que a sua irmã não ia deixar por menos aquela afronta — não que Eliza tenha falado alguma mentira. Ela só jogou na cara de Giulietta algumas verdades, que ninguém na galeria teve coragem de dizer.Estar diante daquela situação não era cômodo para ele, porque querendo ou não, ele seria obrigado a confrontar Giulietta, a se indispor com ela e, isso seria muito desgastante para ambos, pois Giulietta quando sentia-se acuada; partia para cima com unhas e dentes e ele, por sua vez, não a pouparia. Certamente ela o expulsasse de sua vida por um longo tempo, mas isso era o de menos. Não era a primeira vez que ela o enxotava e depois voltava atrás: eram irmãos e esse tipo de situação estava fadado a acontecer, não seria está uma exceção.Pisando firme, ele se dirigiu ao escritório de sua irmã e, no meio do percurso, deparou-se c
Retornar para casa depois de um dia desastroso, nunca pareceu tão difícil para Eliza quanto naquela noite. Saber que na manhã seguinte sua rotina seria alterada pelo fantasma do desemprego a assombrando, era assustador e ela já não tinha certeza de nada. A única coisa certa na vida dela era que ela estava sem rumo, sem chão e à mercê da boa disponibilidade de Giulio para ajudá-la — o que também era decepcionante, pois nada que vinha de Giulio era de graça; tudo era meticulosamente calculado e cobrado no devido tempo. Admitir que caíra nas armações de sua adversária, a fazia sentir-se péssima, pois ela era o próprio reflexo da inteligência de Beatrice na hora de cobrar-lhe o preço por ter ousado apaixonar-se por Giulio. Depois de todo o caso passado, Eliza se maldizia por sua incapacidade de ver além das intenções de Beatrice. Todo aquele teatrinho foi minuciosamente planejado. As provocações e as insinuações faziam parte da cena e ela, com sua capacidade exacerbada de ver bondade on
O lado gentil de Giulio era sempre novidade para Eliza e talvez por isso ela tivesse tanta dificuldade em lidar com ele. E era justamente esse lado que representava perigo para ela, pois diante da face bondosa dele, ela ficava derretida, desarmada e totalmente entregue aos desejos dele, assim como estava naquela hora. Naquele momento a ideia de permanecer na Itália e aceitar a ajuda de Giulio já não lhe pareceu tão absurda, quanto antes. — Essa é a primeira vez que você me pede “por favor”. — Comentou, deleitando-se nos braços dele. — Para você ver o que você faz comigo. — Ele disse profundamente emocionado. Esquecido das insinuações depreciativas, ele ergueu-lhe o queixo com extrema delicadeza e a beijou, a princípio delicadamente até o beijo tornar-se exigente e urgente. Os lábios de Eliza eram um labirinto de desejos onde ele ansiava perder-se, para poder encontrá-la. Sem forças para resistir aquela paixão avassaladora, Eliza pôs-se na ponta dos pés e enlaçou os braços
Apesar do terrível abalo emocional dela e da imagem negativa que ela traçou dele; estar próxima a Giulio estava sendo a realização de um sonho — pelo menos naquele momento —, pois ela estava tendo a oportunidade de desfrutar da companhia do Giulio preocupado, atencioso e por que não dizer, romântico! Os beijos leves na ponta do queixo, na pontinha do nariz e no pé do ouvido, eram tão inocentes e ao mesmo tempo tão provocador, que ela ansiava que aquele toque leve, àquela carícia gostosa se estendesse para outros pontos de seu corpo. Pensar assim a fez sentir-se uma pervertida e pela primeira vez, aquele pensamento a excitou. Giulio era um homem habilidoso com as mãos, com os lábios e cada parte do corpo dela parecia vibrar a um simples toque dele. Cada parte dela que era desbravado era uma nova descoberta. Na verdade, Eliza deu-se conta que não conhecia seu corpo tão bem quanto pensava. Era impressionante como ele reagia a cada carícia de Giulio — talvez por que o corpo dela soubes
Mesmo sabendo que mentir não era a melhor opção, ela o faria naquele momento para livrar-se dele, definitivamente. Giulio iria aprender de uma vez por todas a nunca subestimar a astúcia de uma mulher ferida. Ela não era uma pessoa vingativa, mas, naquela noite, ele estava precisando de uma lição que o ensinaria a deixar de ser um ogro arrogante e insensível. — Sorte minha que Geovane não tem os seus pensamentos ultrapassados. Mas que imediato, ele ergueu-se do sofá e perguntou exaltado — as mãos espalmando furiosa a beirada do assento. — Quem é Geovane?— Meu namorado — respondeu sem perceber o olhar frio dele. — Por que ele não está aqui com você para enxugar suas lágrimas? — Perguntou fuzilando-a com os olhos. — Não é para isso que servem os namorados ou ele é do tipo que a garota só serve quando está bem? Apesar que, depois de vê-la chorando não o culpo por querer manter-se distante. — Acrescentou provocativo.— O que está insinuando? Que nem para chorar eu presto?— O fato de
Giulio partiu, mas era como se ele ainda permanecesse lá. A fragrância do perfume que ele usava estava impregnada nas roupas dela, tornando-se até sufocante. Era uma tortura saber que nunca mais o veria, que nunca mais o teria em sua vida. Polidamente, a alma ferida dela aceitou os fatos e ecoou o mais triste lamento, que gritava latente, para ele voltar. A vontade que ela teve de correr atrás dele e implorar para que ele a fizesse sua foi muito maior do que sua capacidade de revelar os fatos. Como ele mesmo dissera, ela era uma covarde: uma mulher incapaz de lidar com os próprios sentimentos e que se escondia atrás de palavras vazias para convencer-se de sua incerteza.Eliza não o culpava por ele pensar assim. O desejo de amá-lo no olhar dela era tão nítido, que era burrice tentar escondê-las com palavras. Mas o que ela poderia fazer, se ele não a encorajava a acreditar que poderiam amar um ao outro. Giulio havia erguido uma barreira que repelia qualquer sentimento amoroso dela. Ess
Saber que estava numa saia justa não era nada confortável para Eliza. Mesmo sentindo um grande carinho por Mirella, falar de Giulio não era exatamente a conversa que gostaria de ter naquele momento. Mas, como ela mesma fora atropelada por suas próprias palavras, agora lhe restava acalmar seu emocional, trancafiar suas emoções e preparar-se para contar tudo o que aconteceu — desde os momentos mais apimentados, até os mais pejorativos.Como não teria como fugir daquela conversa — mesmo que quisesse —, Eliza tinha certeza que Mirella seria capaz de aguentar alguns minutos de curiosidade, até ela ter terminado o café, que pelo aroma nunca lhe pareceu tão apetitoso e convidativo quanto naquela hora.Ignorando a amiga, ela obedeceu aos apelos de seu estômago apreciando o pouco tempo de silêncio que teria entre o café. — Para quem disse que não conseguiria engolir nada, você me surpreendeu!Mirella comentou com ar brincalhão, ao perceber que Eliza estava enrolando-a para não falar do encont