O resultado da noite mal dormida de Eliza estava visivelmente estampado no rosto cansado dela. Embora ela tenha tentado camuflar essas marcas por meio da maquiagem, não conseguiu muito êxito: quem a olhasse de perto veria claramente que a insônia mais uma vez fora sua companheira noturna — companhia, essa, que, aliás, era constante.Ela bem que cogitou na possibilidade de usar um óculos, escuro, para disfarçar as olheiras, mas, logo em seguida, lembrou-se que não poderia esconder as duas marcas: o roxo em sua testa e o inchaço vermelho de baixo dos olhos. Se por ventura ela aparecesse na galeria com um look que não condissesse com o perfil moderno que eles pregavam, provavelmente ela seria culpada por fazer Giulietta enfartar. Sem opção, ela deixou de lado os óculos escuros e voltou a arrumar-se: o desânimo já acordava ao seu lado e nem mesmo o aroma das flores era capaz de alegra-la. Ela tentou entreter sua mente, ouvindo os clássicos de bossa-nova enquanto finalizava seu penteado,
Tão logo Eliza saiu do campo de visão de Giulietta; ela deu um jeito de esconder-se no banheiro, mesmo que temporariamente: ela simplesmente não poderia passar o resto do dia naquele lugar. Contudo, caso sua patroa a questionasse sobre sua ausência; ela simplesmente diria que precisou usar o toalete e, que, ao retornar para o salão não a encontrou.No primeiro momento, essa desculpa pareceu-lhe perfeita, no entanto o que ela não esperava era encontrar Giulietta plantada no salão, minutos depois que retornou do banheiro. Eliza não sabia dizer se foi por sorte ou azar, mas fato era, que sua chefe não a viu. Diante dessa conclusão, uma luzinha acendeu na mente dela e as possíveis desculpas que daria, foram se formando. Só restava-lhe escolher o argumento mais consistente para livrar-se da fúria de Giulietta — o que seria basicamente impossível, já que tudo naquele dia parecia conspirar contra ela. Até mesmo sua respiração, naquele momento, poderia ser um agravante para denunciar sua pre
A situação dramática que Eliza vivia estava se intensificando de forma tão assustadora, que foi só ela sentar-se para almoçar, para ouviu os cochichos dos empregados sobre ela. Em uma das partes, ele escutou que Vittoria estava a sua procura.Descobrir que em pouco tempo teria que confrontar a secretária de Giulietta tirou-a de órbita e apressadamente, ela engoliu sua porção de comida, mal tendo tempo de saborear sua refeição.Embora soubesse que era loucura tentar se esconder dos olhos de águia de Giulietta e de Vittoria; ela saiu sorrateiramente da cozinha, pela porta dos fundos, deu a volta em torno da galeria, para entrar no salão principal, pela entrada lateral.Eliza não se orgulhava de sua pequena travessura e sentia-se ridícula por está tentando, mais uma vez, evitar o inevitável — Giulietta —. Não que ela estivesse fugindo de sua chefe. Ela só queria, simplesmente, respirar por alguns momentos, aliviada, antes de ser submetida novamente a outra carga de tensão. Eliza sabia qu
Entre mortos e feridos, Eliza conseguiu sobreviver àquela conversa. Definitivamente, aquela semana não começou bem para ela, ainda mais quando teve que aguentar as alfinetadas de Giulietta, insinuando que ela deveria estar preparada para deixar a galeria, pois seu trabalho era desnecessário e inútil. Além, é claro, de evidenciar com todas as letras, que ela era uma imprestável. Desde o dia que Eliza colocou os pés na galeria, tudo desandou na vida dela: estudo, trabalho, amizades; era um problema atrás do outro — como se ela fosse um ímã e tivesse a má sorte de atraí-los para si. Contudo, seu único triunfo era saber que Giulio e Beatrice estavam viajando, pois dessa forma, eram dois problemas a menos em sua extensa lista de estresse. Pelo menos, era nisso que ela queria acreditar — mesmo descartando o fato de que Giulio ainda permeava seus sonhos mais belos.Constantemente, Eliza se auto recriminava por permitir que ele assumisse o comando de seu coração e de seus pensamentos. Infeli
Como já era de se esperar, a nova assistente da senhora Pallot se apresentou bem cedo na manhã seguinte e, quando Eliza chegou para trabalhar, a encontrou conversando animadamente com Vitoria. Para decepção de Eliza, a jovem era belíssima: alta, cabelos claros e longos, olhos azuis e pernas torneadas. A primeira vista ela era amistosa e logo as duas travaram diálogos de conhecimento. Eliza se surpreendeu com o talento de aprendizado, perspicácia e disposição que encontrava na outra. E, assim como ela, a jovem mostrava uma simpatia sincera para o mundo das cores: o olhar encantado dela para as telas a lembrava a si mesma, em seu primeiro dia de trabalho. Contrariando todas as expectativas de suas inimigas, Eliza repassou com a maior boa vontade, todas as tarefas, que antes era executada por ela; para a nova estagiária — Giovanna Villon —, que assim como ela, também era apaixonada por arte. No primeiro momento Eliza ficou surpresa por ter sido a escolhida para mostrar todas as ativid
Após Giulio sair acompanhando por Beatrice, não demorou muito para Eliza sair para almoçar. Depois da discussão desagradável com Lúcia, ela estava evitando-a ao máximo, de maneira que a fazia excluir todos os locais públicos da casa: sala, varanda e principalmente, a cozinha. Por conta disso, ela não preparou seu almoço e agora teria que gastar suas poucas moedas em uma refeição.Como naquele dia ela iria almoçar fora, optou pelo menor restaurante do bairro — não apenas por que era o que oferecia os menores preços da cidade, mas também, por que tinha um clima agradável e aconchegante. Assim que Eliza entrou no estabelecimento, alguém a chamou. Virando-se em direção a voz, deparou-se com Geovane acenando calmamente para ela: ele estava sentado em uma mesa de canto, um pouco afastado dos demais clientes. Encontrá-lo, lá, a deixou contente, pois Geovane exalava uma energia muito boa e mais do que nunca, ela estava precisando de boas vibrações. Sorridente, ela se aproximou da mesa que
Essas idas e vindas de Giulio na galeria estavam deixando Eliza com os nervos à flor da pele. Naquele momento a concentração dela estava descendo ladeira à baixo e ela teria que se esforçar imensamente para arrastá-la de volta.Pensar que por causa dele, tivera que abrir mão de seus objetivos a amargurava profundamente. Desde que o conheceu, seus dias estavam cinza, sem cores e sem vida, isso deixava-lhe com uma tremenda raiva — não apenas dele, mas, principalmente de si, por se permitir amar um homem que apenas a esnobava.Mesmo querendo estapear a si própria, por se deixar enganar pelo seu coração traiçoeiro, Eliza se perguntava em que momento Giulio perdeu o interesse por ela; em que momento seu encanto sobre ele acabou. Perceber que já não significava nada na vida dele a deixou arrasada. A indiferença de Giulio era mais fatal para ela, do que um punhal cravado em seu peito.Embora pressentisse que a treva da indiferença a perfuraria por dentro como uma lança afiada, ela resolveu a
Depois da discussão com Giulio, o restante da tarde passou rapidamente e Eliza esperava ansiosa o badalar dos ponteiros para deixar aquele lugar sufocante. Só em pensar que no dia seguinte teria que estar de volta na galeria, causava-lhe arrepios. Ela amava tudo que estava ligado a arte, mas, aquele ambiente belo e requintado, no momento, representava a imagem da hostilidade pura. Para ela, a vivacidade daquela galeria foi apagada pelo clima pesado que a rondava: uma arte viva enterrada em um lugar morto.Enquanto Eliza aguardava, melancólica, o passar das horas, seu olhar encontrou o de Giovanna, que assim como ela, esperava ansiosa pelo final do expediente. Curiosamente, Eliza percebeu haver uma conexão entre elas: ambas faziam parte do mesmo ciclo contraditório. A jornada dela para conhecer Giovanna precisava da renúncia de seu cargo e a da outra, a aceitação da proposta. Se o vínculo que as unia fosse diferente, ambas poderiam florescer uma amizade pela arte, mas, infelizmente, a