Depois da discussão com Giulio, o restante da tarde passou rapidamente e Eliza esperava ansiosa o badalar dos ponteiros para deixar aquele lugar sufocante. Só em pensar que no dia seguinte teria que estar de volta na galeria, causava-lhe arrepios. Ela amava tudo que estava ligado a arte, mas, aquele ambiente belo e requintado, no momento, representava a imagem da hostilidade pura. Para ela, a vivacidade daquela galeria foi apagada pelo clima pesado que a rondava: uma arte viva enterrada em um lugar morto.Enquanto Eliza aguardava, melancólica, o passar das horas, seu olhar encontrou o de Giovanna, que assim como ela, esperava ansiosa pelo final do expediente. Curiosamente, Eliza percebeu haver uma conexão entre elas: ambas faziam parte do mesmo ciclo contraditório. A jornada dela para conhecer Giovanna precisava da renúncia de seu cargo e a da outra, a aceitação da proposta. Se o vínculo que as unia fosse diferente, ambas poderiam florescer uma amizade pela arte, mas, infelizmente, a
Vê-la afastar-se o trouxe de volta a realidade e, mesmo sabendo que ele estava propenso a sair machucado daquela história, ele a alcançou e a puxou gentilmente pelo braço.— Ainda não terminamos nossa conversa.— Por favor, não dificulte as coisas. — Ela disse num fio de voz.Mesmo que amasse Eliza, desesperadamente, ele estava determinado a pôr um fim naquela conversa, antes que ambos se exaltassem. Sem ousar insulta-la, ele falou. — Só estou preocupado com o seu bem-estar físico e emocional. Se você permitir, posso marcar uma consulta para você com o médico de minha família.— Giulio, você mais do que ninguém conhece minha situação: eu simplesmente não tenho condições financeiras para pagar um médico da estirpe do médico de sua família... Essa indicação é no mínimo, ridícula.— Quando me propus a marcar a consulta para você, significa que serei eu a arcar com todas as despesas. — Ele retrucou resignado acerca dos argumentos, dela.— Nada que vem de você sai de graça: a conta do jan
Encarar Giulio depois de tudo que aconteceu, foi muito difícil. A vontade que Eliza tinha naquele momento era de enfiar a cara no chão e enterrar-se de tanta vergonha.Olhando para si própria e para Beatrice, percebeu que ela foi muito burra ao se deixar levar pelas armações, da outra. Era óbvio que cada passo de Beatrice foi meticulosamente calculado, e essa verdade veio à tona, no momento em que ela se jogou chorando compulsivamente nos braços de Giulio e a acusou descaradamente.— Giulio, essa louca me agrediu.Atraída pelo fuzuê que se instalou na galeria, Giulietta entrou no salão principal, igual um furacão, seguida de perto por Giovanna, que olhou para Eliza, completamente atônita. — Posso saber o que está acontecendo aqui? — Giulietta perguntou, olhando para Eliza e depois para Beatrice que chorava nos braços de Giulio. — Titia, essa desvairada me agrediu física e moralmente. — Sua mentirosa, sua falsa! Você me provocou. — Eliza acusou-a e acre
Mesmo com o firme propósito de afogar as mágoas e sufocar as lágrimas no fundo de um rio; Eliza sabia em seu íntimo que esses pensamentos eram frutos de uma alma vazia e contraditória, escondida em meio a uma alto estima, que nunca existiu.O espelho, a sua frente revelou o quanto ela estava enganando-se. Diante dela estava refletida a imagem de uma jovem amedrontada e perdida dentro de sua própria insignificância. Dentro daquele ínfimo ciclo, chamado, vida, ela era um nada, um Zé-ninguém. Ela era apenas uma imagem pálida e rebuscada tentando encontrar-se no mundo.Ao olhar mais uma vez para seu reflexo desfalcado, ela se perguntou em que momento da vida se perdeu de si própria. Eliza sabia que não seria preciso ir muito longe ou gastar neurônios, para descobrir que perdeu-se de si mesma no exato momento que encontrou Giulio. Encontrá-lo foi sua perdição, sua condenação; pois ele tirou dela a única coisa que ainda a fazia sentir-se viva: os sonhos. Agora ela estava vazia, incompleta.
Depois de presenciar o descontrole de Eliza; Giulio se deu conta que ela acabou dando um tiro no próprio pé. Giulietta era uma mulher orgulhosa e vingativa e ele sabia que a sua irmã não ia deixar por menos aquela afronta — não que Eliza tenha falado alguma mentira. Ela só jogou na cara de Giulietta algumas verdades, que ninguém na galeria teve coragem de dizer.Estar diante daquela situação não era cômodo para ele, porque querendo ou não, ele seria obrigado a confrontar Giulietta, a se indispor com ela e, isso seria muito desgastante para ambos, pois Giulietta quando sentia-se acuada; partia para cima com unhas e dentes e ele, por sua vez, não a pouparia. Certamente ela o expulsasse de sua vida por um longo tempo, mas isso era o de menos. Não era a primeira vez que ela o enxotava e depois voltava atrás: eram irmãos e esse tipo de situação estava fadado a acontecer, não seria está uma exceção.Pisando firme, ele se dirigiu ao escritório de sua irmã e, no meio do percurso, deparou-se c
Retornar para casa depois de um dia desastroso, nunca pareceu tão difícil para Eliza quanto naquela noite. Saber que na manhã seguinte sua rotina seria alterada pelo fantasma do desemprego a assombrando, era assustador e ela já não tinha certeza de nada. A única coisa certa na vida dela era que ela estava sem rumo, sem chão e à mercê da boa disponibilidade de Giulio para ajudá-la — o que também era decepcionante, pois nada que vinha de Giulio era de graça; tudo era meticulosamente calculado e cobrado no devido tempo. Admitir que caíra nas armações de sua adversária, a fazia sentir-se péssima, pois ela era o próprio reflexo da inteligência de Beatrice na hora de cobrar-lhe o preço por ter ousado apaixonar-se por Giulio. Depois de todo o caso passado, Eliza se maldizia por sua incapacidade de ver além das intenções de Beatrice. Todo aquele teatrinho foi minuciosamente planejado. As provocações e as insinuações faziam parte da cena e ela, com sua capacidade exacerbada de ver bondade on
O lado gentil de Giulio era sempre novidade para Eliza e talvez por isso ela tivesse tanta dificuldade em lidar com ele. E era justamente esse lado que representava perigo para ela, pois diante da face bondosa dele, ela ficava derretida, desarmada e totalmente entregue aos desejos dele, assim como estava naquela hora. Naquele momento a ideia de permanecer na Itália e aceitar a ajuda de Giulio já não lhe pareceu tão absurda, quanto antes. — Essa é a primeira vez que você me pede “por favor”. — Comentou, deleitando-se nos braços dele. — Para você ver o que você faz comigo. — Ele disse profundamente emocionado. Esquecido das insinuações depreciativas, ele ergueu-lhe o queixo com extrema delicadeza e a beijou, a princípio delicadamente até o beijo tornar-se exigente e urgente. Os lábios de Eliza eram um labirinto de desejos onde ele ansiava perder-se, para poder encontrá-la. Sem forças para resistir aquela paixão avassaladora, Eliza pôs-se na ponta dos pés e enlaçou os braços
Apesar do terrível abalo emocional dela e da imagem negativa que ela traçou dele; estar próxima a Giulio estava sendo a realização de um sonho — pelo menos naquele momento —, pois ela estava tendo a oportunidade de desfrutar da companhia do Giulio preocupado, atencioso e por que não dizer, romântico! Os beijos leves na ponta do queixo, na pontinha do nariz e no pé do ouvido, eram tão inocentes e ao mesmo tempo tão provocador, que ela ansiava que aquele toque leve, àquela carícia gostosa se estendesse para outros pontos de seu corpo. Pensar assim a fez sentir-se uma pervertida e pela primeira vez, aquele pensamento a excitou. Giulio era um homem habilidoso com as mãos, com os lábios e cada parte do corpo dela parecia vibrar a um simples toque dele. Cada parte dela que era desbravado era uma nova descoberta. Na verdade, Eliza deu-se conta que não conhecia seu corpo tão bem quanto pensava. Era impressionante como ele reagia a cada carícia de Giulio — talvez por que o corpo dela soubes