5 ANOS DEPOIS
Carol estava sentada na cama, as pernas dobradas e a cabeça apoiada nos joelhos. Tinha acabado de acordar e ligado a TV. Estava atrasada para o trabalho, mas ficara hipnotizada com a matéria veiculada.
“Hoje completam cinco anos desde a tragédia de Riacho da Serra.” – começou o âncora, antes do jogo de câmeras indicar que sua parceira teria a palavra.
“O que mudou na legislação meia década após o evento fatídico que tirou a vida de cerca de vinte mil pessoas, varrendo do mapa uma cidade inteira, naquele que ficou conhecido como o maior desastre da história do país? Seguramente um dos maiores do mundo
A criatura olhava para o painel da nave verificando se todos os sistemas estavam operacionais. Tudo o que desejava era não ficar presa naquele sistema solar deprimente, de apenas um planeta habitado, e ainda mais por seres tão odiosos e pouco evoluídos. Para ele, qualquer civilização que não se credenciasse a fazer parte da Federação Universal, era digna de pena e indigna de receber a sua atenção.“Seres asquerosos estes humanos. Com suas guerras que servem apenas para destruir a si mesmos e o planeta que deveriam cuidar e proteger. É repugnante.”Seus olhos eram nada mais do que puro negrume, dois poços de escuridão que através das amplas janelas da nave miravam o belo planeta azul. Não tão belo quanto as luas verdes de Oxion, ou o grandioso Olho Dourado na Galáxia dos Esquecidos, mas era um belo planeta,
-Ailton! Já estamos alto demais, cara. É melhor pularmos daqui – gritou Felipe, certo de que se olhasse para baixo ficaria zonzo e despencaria daquela altura estonteante.-Deixa de ser frouxo, Felipe, só faltam mais alguns metros.Os rapazes escalavam o paredão diante da cachoeira, desafiando sua verticalidade e se exibindo para os celulares apontados pelos amigos lá embaixo. O lugar, além da beleza exuberante, também tinha os seus perigos, prontos a se apresentarem quando provocados por atitudes tolas como aquelas.Felipe criou coragem e finalmente olhou para baixo, estava certo, ficou imediatamente zonzo e sentiu o corpo perder o peso, só não despencou por muito pouco, as mãos suavam nas reentrâncias onde se agarrava. Lá embaixo podia ver o restante dos amigos, cervejas em uma das mãos e celulares na outra. Não queria decepcionar as câmeras, mas ap&oacu
Ailton seguiu desbravando a mata, sempre em linha reta. Sempre em direção ao local da queda. O feixe de sua lanterna varria o chão em busca dos obstáculos que a luz da lua, filtrada pelas copas das árvores, não era capaz de revelar. Às suas costas, ele ouvia os gritos dos amigos, pedindo para que fosse mais devagar, mas a ansiedade era tamanha que não lhe permitia esperar. Ele sabia que estava perto. Quase podia sentir que, seja lá o que fosse encontrar, seria muito importante. O jovem sentiu repentinamente um calor na perna. Levou alguns instantes para perceber que o seu celular, no bolso esquerdo do short, estava ficando cada vez mais quente. -Merda! – ele pegou o aparelho, mas o deixou cair mediante o calor cada vez mais intenso. Ficou parado olhando para o objeto no
A cidade surgia em meio ao breu à medida que os jovens caminhavam em sua direção. Eram quase três da manhã e a escuridão daquela noite tão incomum parecia querer durar para sempre. -Ainda não acredito no que acabamos de ver – dizia Rafael. -Você não é o único – respondeu Ailton enquanto chutava distraído o capim na beira da estrada. -Eu me contentaria apenas em conseguir esquecer tudo isso – rebateu Amanda. – Amor, você está bem? Felipe seguia olhando para o chão, distraído, como se não tivesse ouvido a namorada.&nbs
Bernardo saiu da mata aos tropeços, como se seus pés fossem atraídos por cada galho e raiz atravessados em seu caminho. O desespero retumbava em seus ouvidos através da batida descompassada de seu coração. Na mente, as possibilidades mais macabras desfilavam em um cortejo de pesadelos. Cenas do filme “Alien, o Oitavo Passageiro” quando a barriga de um dos tripulantes da nave explode e o famoso alienígena emerge, o atormentavam, e vez ou outra ele olhava para o próprio umbigo, como se algo parecido pudesse lhe acontecer a qualquer momento, embora não estivesse sentindo dor alguma. Ele subiu na Harley, fez a volta cantando pneus e acelerou em direção à cidade adormecida, rezando para que o hospital de um município tão pequeno tivesse o necessário para lhe ajudar, se é que algum lugar do mun
Os policiais pediram aos jovens para esperar por eles na recepção. -Você acha que eles acreditaram? – perguntou Rafael se aproximando de Ailton e deixando as garotas sentadas junto à entrada da delegacia. -Eu não sei. Mas quer saber, estou pouco me lixando. Nós fizemos a nossa parte em avisar. Quando a história se alastrar, se eles não tiverem feito nada, vão ficar com cara de idiotas. -Talvez você tenha razão. E aquela caixa, o que pretende fazer com ela? -No momento só vou guardar. Se tudo for abafado e o governo ou o exército desaparecer com tudo, como ocorreu em Varginha, eu ainda terei um belo
Ele adorava aquele hotel. Havia apenas dois cinco-estrelas na capital, mas a suíte presidencial do Titã era superior, então não precisava pensar duas vezes. Quanto ao atendimento, era impossível enumerar diferenças, em ambos os clientes eram tratados como deuses entre os homens e ele gostava disso. Afinal, seu conhecimento, poder e influência não podiam mesmo ser equiparados ao de meros mortais. Após atravessar a enorme sala de sofás luxuosos, com uma TV de incontáveis polegadas, ele parou junto à janela panorâmica, vidro do chão ao teto de pé direito alto, e contemplou a cidade lá em baixo, com todos aqueles neons e outdoors que se destacavam na madrugada. Também olhou para o céu, cujo brilho das estrelas, intimidado pelas esfuziantes luzes urbanas, pouco podia mostrar de sua beleza.
Rafael e Ailton ainda estavam chocados demais para dizer qualquer coisa. À medida que a claridade do dia avançava, mais nítida ficava a imagem da cabeça do policial aberta em seu topo, um buraco grotesco de onde o sangue, com pequenos pedaços brancos do cérebro, escorria morosamente sobre os curtos cabelos negros. -Policial – Rafael se inclinou no banco. – Policial, você... -Que porra é essa, Rafael? O cara tá morto, você não está vendo? Eles desceram do carro com pernas trêmulas e olharam pela janela do motorista. A imagem vista dali era igualmente ruim. Ailton viu o reflexo do amigo no vidro. Rafael não piscava, estava pálido, como se fosse desmaiar a