Depois que a equipe da doutora Fátima e os demais soldados do exército, bem como a polícia, finalmente deixaram a casa da família Santos, não tardou para que os vizinhos enxeridos, tão comuns em cidades pequenas como Riacho da Serra, surgissem batendo na porta, com suas máscaras de falsa preocupação sobrepostas às de absoluta curiosidade, mas Romeu praticamente expulsou todos eles de seu jardim, bateu a porta e voltou para a sala, onde a incerteza sobre o futuro ainda era a tônica.
-Nós vamos simplesmente mentir sobre tudo? – perguntou Ailton.
-Creio que seja o melhor a fazermos – respondeu Rafael de imediato –, vocês ouviram aquele tal de Dimitri. Nenhum de nós terá um futuro se não esquecermos essa histó
Ele esvaziou o primeiro pente atirando contra os infectados que jorravam para fora do hospital. Nenhum tiro que não fosse na cabeça era efetivo contra eles e Dimitri tentou avisar o maior número possível de soldados, mas em meio ao caos dos gritos, do rugir das armas de fogo e da sinfonia da tempestade, pouco se podia ouvir. Já dentro do HB20S, ainda atirando pela janela após recarregar, Dimitri observava o general num esforço quase inútil de tentar organizar os seus homens, mas a resistência era quase nula, e todos os soldados que caíam e eram contaminados voltavam a se erguer quase de imediato, atacando os ex-companheiros em busca de transmitir aquele mal. Dimitri percebeu que o motorista procurava o seu olhar através do retrovisor.&nb
Eles eram seis sombras que se misturavam a tantas outras naquela escura noite tempestuosa. Não havia tempo para lamentar os entes queridos deixados para trás, eles agora faziam parte do grupo dos malditos, dos infectados que pareciam servir apenas para transmitir aquele mal. Caroline perdera o pai e a mãe de uma só vez. Seu mundo se despedaçara por inteiro, e agora Rafael era o único apoio capaz de lhe manter ancorada àquela triste realidade. Vanessa, assim como os demais, foi poupada de ver o próprio pai e os amigos sendo infectados, mas ainda não tinha se recuperado de ver apenas a mãe saindo da casa de Carol, deixando o velho Adamastor para a morte ou coisa pior. Definitivamente coisa pior. Eles prosseguiam sem parar, mas calados, emudecidos pela dor e pelo medo de atrair mais daquelas criaturas.Era impensável e qu
Rafael desceu as escadas trazendo nos braços uma variedade de roupas suas e da mãe, seu pai carregava o notebook. Ambos de acordo que, apesar da aparente segurança do imóvel, o melhor era ficar de olho nas câmeras. Na sala, todos se voltaram para Luis Alberto, em silêncio. A memória do grupo ainda fresca pela cena protagonizada por ele e a esposa na casa de Caroline. -Com tudo que está acontecendo lá fora, eu fico feliz que vocês tenham conseguido chegar até aqui – começou Luis com sinceridade diante do grupo de aparência assustada –, eu sinto muito pelas pessoas que vocês perderam, nem consigo imaginar como estão se sentindo agora. O silêncio persi
A estrada era pura lama e foi graças à sorte e a potência do carro, que Rafael conseguiu conduzir o Rover morro acima.Após finalizar a penosa subida, chegando a uma área mais aberta, viram duas lanternas apontadas para eles, cavaletes de madeira bloqueavam o caminho. Rafael diminuiu a velocidade até parar quando percebeu que eram soldados do exército. -Não sei se devíamos parar – comentou Ailton voltando-se para Rafael. -Você não está vendo o tamanho daqueles fuzis? Esse carro não é a prova de balas – contrapôs Rafael. -Vocês acham que eles vão nos deixar passar? – perguntou Vanessa inclinando-se entre os bancos da frente.
5 ANOS DEPOIS Carol estava sentada na cama, as pernas dobradas e a cabeça apoiada nos joelhos. Tinha acabado de acordar e ligado a TV. Estava atrasada para o trabalho, mas ficara hipnotizada com a matéria veiculada. “Hoje completam cinco anos desde a tragédia de Riacho da Serra.” – começou o âncora, antes do jogo de câmeras indicar que sua parceira teria a palavra. “O que mudou na legislação meia década após o evento fatídico que tirou a vida de cerca de vinte mil pessoas, varrendo do mapa uma cidade inteira, naquele que ficou conhecido como o maior desastre da história do país? Seguramente um dos maiores do mundo
A criatura olhava para o painel da nave verificando se todos os sistemas estavam operacionais. Tudo o que desejava era não ficar presa naquele sistema solar deprimente, de apenas um planeta habitado, e ainda mais por seres tão odiosos e pouco evoluídos. Para ele, qualquer civilização que não se credenciasse a fazer parte da Federação Universal, era digna de pena e indigna de receber a sua atenção.“Seres asquerosos estes humanos. Com suas guerras que servem apenas para destruir a si mesmos e o planeta que deveriam cuidar e proteger. É repugnante.”Seus olhos eram nada mais do que puro negrume, dois poços de escuridão que através das amplas janelas da nave miravam o belo planeta azul. Não tão belo quanto as luas verdes de Oxion, ou o grandioso Olho Dourado na Galáxia dos Esquecidos, mas era um belo planeta,
-Ailton! Já estamos alto demais, cara. É melhor pularmos daqui – gritou Felipe, certo de que se olhasse para baixo ficaria zonzo e despencaria daquela altura estonteante.-Deixa de ser frouxo, Felipe, só faltam mais alguns metros.Os rapazes escalavam o paredão diante da cachoeira, desafiando sua verticalidade e se exibindo para os celulares apontados pelos amigos lá embaixo. O lugar, além da beleza exuberante, também tinha os seus perigos, prontos a se apresentarem quando provocados por atitudes tolas como aquelas.Felipe criou coragem e finalmente olhou para baixo, estava certo, ficou imediatamente zonzo e sentiu o corpo perder o peso, só não despencou por muito pouco, as mãos suavam nas reentrâncias onde se agarrava. Lá embaixo podia ver o restante dos amigos, cervejas em uma das mãos e celulares na outra. Não queria decepcionar as câmeras, mas ap&oacu
Ailton seguiu desbravando a mata, sempre em linha reta. Sempre em direção ao local da queda. O feixe de sua lanterna varria o chão em busca dos obstáculos que a luz da lua, filtrada pelas copas das árvores, não era capaz de revelar. Às suas costas, ele ouvia os gritos dos amigos, pedindo para que fosse mais devagar, mas a ansiedade era tamanha que não lhe permitia esperar. Ele sabia que estava perto. Quase podia sentir que, seja lá o que fosse encontrar, seria muito importante. O jovem sentiu repentinamente um calor na perna. Levou alguns instantes para perceber que o seu celular, no bolso esquerdo do short, estava ficando cada vez mais quente. -Merda! – ele pegou o aparelho, mas o deixou cair mediante o calor cada vez mais intenso. Ficou parado olhando para o objeto no