A criatura olhava para o painel da nave verificando se todos os sistemas estavam operacionais. Tudo o que desejava era não ficar presa naquele sistema solar deprimente, de apenas um planeta habitado, e ainda mais por seres tão odiosos e pouco evoluídos. Para ele, qualquer civilização que não se credenciasse a fazer parte da Federação Universal, era digna de pena e indigna de receber a sua atenção.
“Seres asquerosos estes humanos. Com suas guerras que servem apenas para destruir a si mesmos e o planeta que deveriam cuidar e proteger. É repugnante.”
Seus olhos eram nada mais do que puro negrume, dois poços de escuridão que através das amplas janelas da nave miravam o belo planeta azul. Não tão belo quanto as luas verdes de Oxion, ou o grandioso Olho Dourado na Galáxia dos Esquecidos, mas era um belo planeta, uma joia valiosa entregue em mãos não merecedoras.
A criatura se levantou da cadeira frente ao painel de controles e caminhou para diante da janela panorâmica, contemplando a beleza da Terra. Seus quase três metros de altura, semi-refletidos no vidro, revelavam braços e pernas angulosos, de pele acinzentada e lisa. O rosto tinha formas ovais, com os olhos ocupando grande espaço, restando pouco para nariz e boca, uma pequena fenda quase indistinguível, que, ao longo de seu processo evolutivo, foi ficando cada vez menor na medida em que a telepatia se tornava mais comum para o seu povo.
Seu trabalho, cruzando o cosmo, era transportar um único item. Uma caixa cujo conteúdo ele não sabia dizer qual era, tampouco lhe importava saber. Só se preocupava em findar rapidamente aquela viagem através do universo e retornar para casa.
Distraído com a bela paisagem oferecida pelo planeta de bárbaros, não notou quando aquela coisa se instalou em sua mente, não até que o chiado ficasse alto o suficiente para chamar a sua atenção. Alarmado, ele olhou ao redor, tentando entender de onde vinha aquela frequência de comunicação que ferroava sua mente. Tentou fechá-la, tentou trancá-la usando o máximo de sua capacidade telepática, mas não pôde e o chiado só fazia crescer, lhe impedindo de raciocinar, mas quando se virou para o objeto que deveria transportar e proteger, a caixa selada sobre a mesa no centro da nave, o barulho parou por completo.
Tentativas de olhar para qualquer lugar que não fosse a caixa, resultavam em uma dor aguda e penetrante, que prometia exaurir a sua mente. Ele caminhou em direção ao objeto. Suas ordens eram claras, não poderia abrir a caixa sob nenhuma circunstância, e apenas por lembrar-se daquilo, outra onda de dor o assolou, fazendo-o afastar aquele pensamento e substituindo-o por uma necessidade enorme de tocar a caixa e abri-la.
A criatura estendeu seus três dedos longos e finos para o objeto. O toque de sua palma destravou todos os mecanismos de segurança e após um vapor esbranquiçado ser soprado para fora, a caixa se abriu por completo, revelando o conteúdo que se refletiu naqueles grandes olhos negros, que mal tiveram tempo para expressar qualquer pavor.
-Ailton! Já estamos alto demais, cara. É melhor pularmos daqui – gritou Felipe, certo de que se olhasse para baixo ficaria zonzo e despencaria daquela altura estonteante.-Deixa de ser frouxo, Felipe, só faltam mais alguns metros.Os rapazes escalavam o paredão diante da cachoeira, desafiando sua verticalidade e se exibindo para os celulares apontados pelos amigos lá embaixo. O lugar, além da beleza exuberante, também tinha os seus perigos, prontos a se apresentarem quando provocados por atitudes tolas como aquelas.Felipe criou coragem e finalmente olhou para baixo, estava certo, ficou imediatamente zonzo e sentiu o corpo perder o peso, só não despencou por muito pouco, as mãos suavam nas reentrâncias onde se agarrava. Lá embaixo podia ver o restante dos amigos, cervejas em uma das mãos e celulares na outra. Não queria decepcionar as câmeras, mas ap&oacu
Ailton seguiu desbravando a mata, sempre em linha reta. Sempre em direção ao local da queda. O feixe de sua lanterna varria o chão em busca dos obstáculos que a luz da lua, filtrada pelas copas das árvores, não era capaz de revelar. Às suas costas, ele ouvia os gritos dos amigos, pedindo para que fosse mais devagar, mas a ansiedade era tamanha que não lhe permitia esperar. Ele sabia que estava perto. Quase podia sentir que, seja lá o que fosse encontrar, seria muito importante. O jovem sentiu repentinamente um calor na perna. Levou alguns instantes para perceber que o seu celular, no bolso esquerdo do short, estava ficando cada vez mais quente. -Merda! – ele pegou o aparelho, mas o deixou cair mediante o calor cada vez mais intenso. Ficou parado olhando para o objeto no
A cidade surgia em meio ao breu à medida que os jovens caminhavam em sua direção. Eram quase três da manhã e a escuridão daquela noite tão incomum parecia querer durar para sempre. -Ainda não acredito no que acabamos de ver – dizia Rafael. -Você não é o único – respondeu Ailton enquanto chutava distraído o capim na beira da estrada. -Eu me contentaria apenas em conseguir esquecer tudo isso – rebateu Amanda. – Amor, você está bem? Felipe seguia olhando para o chão, distraído, como se não tivesse ouvido a namorada.&nbs
Bernardo saiu da mata aos tropeços, como se seus pés fossem atraídos por cada galho e raiz atravessados em seu caminho. O desespero retumbava em seus ouvidos através da batida descompassada de seu coração. Na mente, as possibilidades mais macabras desfilavam em um cortejo de pesadelos. Cenas do filme “Alien, o Oitavo Passageiro” quando a barriga de um dos tripulantes da nave explode e o famoso alienígena emerge, o atormentavam, e vez ou outra ele olhava para o próprio umbigo, como se algo parecido pudesse lhe acontecer a qualquer momento, embora não estivesse sentindo dor alguma. Ele subiu na Harley, fez a volta cantando pneus e acelerou em direção à cidade adormecida, rezando para que o hospital de um município tão pequeno tivesse o necessário para lhe ajudar, se é que algum lugar do mun
Os policiais pediram aos jovens para esperar por eles na recepção. -Você acha que eles acreditaram? – perguntou Rafael se aproximando de Ailton e deixando as garotas sentadas junto à entrada da delegacia. -Eu não sei. Mas quer saber, estou pouco me lixando. Nós fizemos a nossa parte em avisar. Quando a história se alastrar, se eles não tiverem feito nada, vão ficar com cara de idiotas. -Talvez você tenha razão. E aquela caixa, o que pretende fazer com ela? -No momento só vou guardar. Se tudo for abafado e o governo ou o exército desaparecer com tudo, como ocorreu em Varginha, eu ainda terei um belo
Ele adorava aquele hotel. Havia apenas dois cinco-estrelas na capital, mas a suíte presidencial do Titã era superior, então não precisava pensar duas vezes. Quanto ao atendimento, era impossível enumerar diferenças, em ambos os clientes eram tratados como deuses entre os homens e ele gostava disso. Afinal, seu conhecimento, poder e influência não podiam mesmo ser equiparados ao de meros mortais. Após atravessar a enorme sala de sofás luxuosos, com uma TV de incontáveis polegadas, ele parou junto à janela panorâmica, vidro do chão ao teto de pé direito alto, e contemplou a cidade lá em baixo, com todos aqueles neons e outdoors que se destacavam na madrugada. Também olhou para o céu, cujo brilho das estrelas, intimidado pelas esfuziantes luzes urbanas, pouco podia mostrar de sua beleza.
Rafael e Ailton ainda estavam chocados demais para dizer qualquer coisa. À medida que a claridade do dia avançava, mais nítida ficava a imagem da cabeça do policial aberta em seu topo, um buraco grotesco de onde o sangue, com pequenos pedaços brancos do cérebro, escorria morosamente sobre os curtos cabelos negros. -Policial – Rafael se inclinou no banco. – Policial, você... -Que porra é essa, Rafael? O cara tá morto, você não está vendo? Eles desceram do carro com pernas trêmulas e olharam pela janela do motorista. A imagem vista dali era igualmente ruim. Ailton viu o reflexo do amigo no vidro. Rafael não piscava, estava pálido, como se fosse desmaiar a
Caroline estava deitada em sua cama olhando para o teto. Ter presenciado a queda de uma nave alienígena não era algo que facilitasse a chegada do sono, embora ela tivesse passado a noite inteira acordada e os olhos estivessem ardendo, bastava fechá-los para que o ambiente dentro da espaçonave se fizesse visível por trás de suas pálpebras. Vanessa, deitada no colchão ao lado, no chão, sofria do mesmo problema, um turbilhão de pensamentos impedia que o cérebro se desligasse, promovendo o tão esperado stand by do sono. Ambas estavam preocupadas com seus namorados, que não tinham dado notícias. Tampouco podiam ligar para eles, já que seus aparelhos tinham ido pelos ares. Quando chegaram à casa de Caroline, precisaram explicar aos pais da moça porque tinha voltado tão cedo do acampamento, ao