Os policiais pediram aos jovens para esperar por eles na recepção.
-Você acha que eles acreditaram? – perguntou Rafael se aproximando de Ailton e deixando as garotas sentadas junto à entrada da delegacia.
-Eu não sei. Mas quer saber, estou pouco me lixando. Nós fizemos a nossa parte em avisar. Quando a história se alastrar, se eles não tiverem feito nada, vão ficar com cara de idiotas.
-Talvez você tenha razão. E aquela caixa, o que pretende fazer com ela?
-No momento só vou guardar. Se tudo for abafado e o governo ou o exército desaparecer com tudo, como ocorreu em Varginha, eu ainda terei um belo
Ele adorava aquele hotel. Havia apenas dois cinco-estrelas na capital, mas a suíte presidencial do Titã era superior, então não precisava pensar duas vezes. Quanto ao atendimento, era impossível enumerar diferenças, em ambos os clientes eram tratados como deuses entre os homens e ele gostava disso. Afinal, seu conhecimento, poder e influência não podiam mesmo ser equiparados ao de meros mortais. Após atravessar a enorme sala de sofás luxuosos, com uma TV de incontáveis polegadas, ele parou junto à janela panorâmica, vidro do chão ao teto de pé direito alto, e contemplou a cidade lá em baixo, com todos aqueles neons e outdoors que se destacavam na madrugada. Também olhou para o céu, cujo brilho das estrelas, intimidado pelas esfuziantes luzes urbanas, pouco podia mostrar de sua beleza.
Rafael e Ailton ainda estavam chocados demais para dizer qualquer coisa. À medida que a claridade do dia avançava, mais nítida ficava a imagem da cabeça do policial aberta em seu topo, um buraco grotesco de onde o sangue, com pequenos pedaços brancos do cérebro, escorria morosamente sobre os curtos cabelos negros. -Policial – Rafael se inclinou no banco. – Policial, você... -Que porra é essa, Rafael? O cara tá morto, você não está vendo? Eles desceram do carro com pernas trêmulas e olharam pela janela do motorista. A imagem vista dali era igualmente ruim. Ailton viu o reflexo do amigo no vidro. Rafael não piscava, estava pálido, como se fosse desmaiar a
Caroline estava deitada em sua cama olhando para o teto. Ter presenciado a queda de uma nave alienígena não era algo que facilitasse a chegada do sono, embora ela tivesse passado a noite inteira acordada e os olhos estivessem ardendo, bastava fechá-los para que o ambiente dentro da espaçonave se fizesse visível por trás de suas pálpebras. Vanessa, deitada no colchão ao lado, no chão, sofria do mesmo problema, um turbilhão de pensamentos impedia que o cérebro se desligasse, promovendo o tão esperado stand by do sono. Ambas estavam preocupadas com seus namorados, que não tinham dado notícias. Tampouco podiam ligar para eles, já que seus aparelhos tinham ido pelos ares. Quando chegaram à casa de Caroline, precisaram explicar aos pais da moça porque tinha voltado tão cedo do acampamento, ao
O coração batia acelerado no peito, retumbando enlouquecidamente, um rufar de tambores que ele achou que poderia ser ouvido para além de seu incômodo esconderijo. A pulsação descompassada era reflexo da claustrofobia. Não sabia dizer se já tinha desmaiado ali dentro, imaginava que sim. Agradeceu a Deus por não ter feito nenhum barulho ao cair, embora não houvesse muito espaço para uma queda estrondosa. Enquanto olhava pela estreita greta da porta do armário de limpeza, procurando qualquer sinal daquelas criaturas que pareciam vestir os seres humanos – sim, vestir, aquela fora a melhor analogia que sua mente perturbada encontrou –, o médico se lembrava da situação que mudou sua vida e que o transformou num claustrofóbico de alta patente. Quando criança, aos sete anos de idade, o carr
Dimitri sabia que precisava ver a nave, mas por mais incrível que aquele pensamento poderia lhe parecer, ela não era uma prioridade naquele caso, e isso o fez sorrir de forma inexpressiva enquanto contemplava a floresta que corria ao lado da estrada, as árvores se transformando num borrão, graças à velocidade que Dimitri exigiu do motorista.Sempre que havia uma queda o protocolo era muito claro. Em primeiro lugar, preservar e isolar a área, impedindo consecutivamente que qualquer tipo de registro fosse feito, depois medir o alcance dos relatos, verificar as fichas dos envolvidos e aí sim decidir sobre comprá-los ou desacreditá-los. Ambas eram medidas eficientes, o importante era definir qual utilizar. Sempre havia aqueles imbecis que achavam que nenhum dinheiro do mundo era suficiente para impedir a verdade. Dimitri se divertia diagnosticando essas pessoas com seu inventado: “Complexo de Fox Mulder&r
Os pais de Caroline aguardavam por explicações. Vera e Romeu encaravam os cinco adolescentes como se eles fossem criminosos prestes a confessar um grave crime. -Você quer que eu fale? – Ailton perguntou para a namorada. -Eles são meus pais, acho que vou encarar essa – respondeu Carol. Estavam todos sentados nos sofás da sala, num semicírculo que permitia que os donos da casa olhassem para cada um daqueles cinco rostos assustados. -Mãe, pai, enquanto nós estávamos acampando... -Não vá me dizer que a polícia pegou vocês fa
Os policiais encontraram aberta a porta da casa de dona Tereza. Tinham ordens muito claras, encontrar o adolescente e a sua avó e levá-los até o endereço mencionado. Após chamar e não serem atendidos, entraram no imóvel. A casa estava vazia, mas o sangue encontrado no banheiro e os cacos de vidro pelo chão eram péssimos sinais. Em busca de informações, começaram a investigar as casas vizinhas, entretanto, todas elas apresentavam o mesmo cenário. Não encontraram nenhum morador com quem falar e aquele fenômeno seguia se repetindo a cada residência da rua. Portas abertas ou arrombadas e casas completamente vazias. Yan e Gustavo se entreolharam, aquela situação ficava cada vez mais estranha. -O que você acha que e
Bonfá estacionou o HB20 novamente junto ao hospital. O número de curiosos que cercava o lugar tinha diminuído consideravelmente. Os homens do general Caetano haviam mostrado efetividade no controle da situação e apenas alguns parentes das pessoas que estavam lá dentro ainda mantinham aquela vigília. A desculpa dada para eles era que o hospital estava em uma quarentena preventiva por causa do surto de uma doença ainda desconhecida, mas que todos estavam bem lá dentro e que aquela medida era apenas temporária.A mentira descarada tinha servido para acalmar os ânimos, mas ela não poderia ser mantida por muito tempo, tendo em vista que a tarde já avançava e as horas de espera dos familiares se alongavam, provocando um suspense cada vez maior.As TV’s fora do ar e os celulares inoperantes por toda a cidade contribuíam para o clima pesado e de desconfiança. Al