O coração batia acelerado no peito, retumbando enlouquecidamente, um rufar de tambores que ele achou que poderia ser ouvido para além de seu incômodo esconderijo. A pulsação descompassada era reflexo da claustrofobia. Não sabia dizer se já tinha desmaiado ali dentro, imaginava que sim. Agradeceu a Deus por não ter feito nenhum barulho ao cair, embora não houvesse muito espaço para uma queda estrondosa.
Enquanto olhava pela estreita greta da porta do armário de limpeza, procurando qualquer sinal daquelas criaturas que pareciam vestir os seres humanos – sim, vestir, aquela fora a melhor analogia que sua mente perturbada encontrou –, o médico se lembrava da situação que mudou sua vida e que o transformou num claustrofóbico de alta patente. Quando criança, aos sete anos de idade, o carr
Dimitri sabia que precisava ver a nave, mas por mais incrível que aquele pensamento poderia lhe parecer, ela não era uma prioridade naquele caso, e isso o fez sorrir de forma inexpressiva enquanto contemplava a floresta que corria ao lado da estrada, as árvores se transformando num borrão, graças à velocidade que Dimitri exigiu do motorista.Sempre que havia uma queda o protocolo era muito claro. Em primeiro lugar, preservar e isolar a área, impedindo consecutivamente que qualquer tipo de registro fosse feito, depois medir o alcance dos relatos, verificar as fichas dos envolvidos e aí sim decidir sobre comprá-los ou desacreditá-los. Ambas eram medidas eficientes, o importante era definir qual utilizar. Sempre havia aqueles imbecis que achavam que nenhum dinheiro do mundo era suficiente para impedir a verdade. Dimitri se divertia diagnosticando essas pessoas com seu inventado: “Complexo de Fox Mulder&r
Os pais de Caroline aguardavam por explicações. Vera e Romeu encaravam os cinco adolescentes como se eles fossem criminosos prestes a confessar um grave crime. -Você quer que eu fale? – Ailton perguntou para a namorada. -Eles são meus pais, acho que vou encarar essa – respondeu Carol. Estavam todos sentados nos sofás da sala, num semicírculo que permitia que os donos da casa olhassem para cada um daqueles cinco rostos assustados. -Mãe, pai, enquanto nós estávamos acampando... -Não vá me dizer que a polícia pegou vocês fa
Os policiais encontraram aberta a porta da casa de dona Tereza. Tinham ordens muito claras, encontrar o adolescente e a sua avó e levá-los até o endereço mencionado. Após chamar e não serem atendidos, entraram no imóvel. A casa estava vazia, mas o sangue encontrado no banheiro e os cacos de vidro pelo chão eram péssimos sinais. Em busca de informações, começaram a investigar as casas vizinhas, entretanto, todas elas apresentavam o mesmo cenário. Não encontraram nenhum morador com quem falar e aquele fenômeno seguia se repetindo a cada residência da rua. Portas abertas ou arrombadas e casas completamente vazias. Yan e Gustavo se entreolharam, aquela situação ficava cada vez mais estranha. -O que você acha que e
Bonfá estacionou o HB20 novamente junto ao hospital. O número de curiosos que cercava o lugar tinha diminuído consideravelmente. Os homens do general Caetano haviam mostrado efetividade no controle da situação e apenas alguns parentes das pessoas que estavam lá dentro ainda mantinham aquela vigília. A desculpa dada para eles era que o hospital estava em uma quarentena preventiva por causa do surto de uma doença ainda desconhecida, mas que todos estavam bem lá dentro e que aquela medida era apenas temporária.A mentira descarada tinha servido para acalmar os ânimos, mas ela não poderia ser mantida por muito tempo, tendo em vista que a tarde já avançava e as horas de espera dos familiares se alongavam, provocando um suspense cada vez maior.As TV’s fora do ar e os celulares inoperantes por toda a cidade contribuíam para o clima pesado e de desconfiança. Al
Depois que a equipe da doutora Fátima e os demais soldados do exército, bem como a polícia, finalmente deixaram a casa da família Santos, não tardou para que os vizinhos enxeridos, tão comuns em cidades pequenas como Riacho da Serra, surgissem batendo na porta, com suas máscaras de falsa preocupação sobrepostas às de absoluta curiosidade, mas Romeu praticamente expulsou todos eles de seu jardim, bateu a porta e voltou para a sala, onde a incerteza sobre o futuro ainda era a tônica. -Nós vamos simplesmente mentir sobre tudo? – perguntou Ailton. -Creio que seja o melhor a fazermos – respondeu Rafael de imediato –, vocês ouviram aquele tal de Dimitri. Nenhum de nós terá um futuro se não esquecermos essa histó
Ele esvaziou o primeiro pente atirando contra os infectados que jorravam para fora do hospital. Nenhum tiro que não fosse na cabeça era efetivo contra eles e Dimitri tentou avisar o maior número possível de soldados, mas em meio ao caos dos gritos, do rugir das armas de fogo e da sinfonia da tempestade, pouco se podia ouvir. Já dentro do HB20S, ainda atirando pela janela após recarregar, Dimitri observava o general num esforço quase inútil de tentar organizar os seus homens, mas a resistência era quase nula, e todos os soldados que caíam e eram contaminados voltavam a se erguer quase de imediato, atacando os ex-companheiros em busca de transmitir aquele mal. Dimitri percebeu que o motorista procurava o seu olhar através do retrovisor.&nb
Eles eram seis sombras que se misturavam a tantas outras naquela escura noite tempestuosa. Não havia tempo para lamentar os entes queridos deixados para trás, eles agora faziam parte do grupo dos malditos, dos infectados que pareciam servir apenas para transmitir aquele mal. Caroline perdera o pai e a mãe de uma só vez. Seu mundo se despedaçara por inteiro, e agora Rafael era o único apoio capaz de lhe manter ancorada àquela triste realidade. Vanessa, assim como os demais, foi poupada de ver o próprio pai e os amigos sendo infectados, mas ainda não tinha se recuperado de ver apenas a mãe saindo da casa de Carol, deixando o velho Adamastor para a morte ou coisa pior. Definitivamente coisa pior. Eles prosseguiam sem parar, mas calados, emudecidos pela dor e pelo medo de atrair mais daquelas criaturas.Era impensável e qu
Rafael desceu as escadas trazendo nos braços uma variedade de roupas suas e da mãe, seu pai carregava o notebook. Ambos de acordo que, apesar da aparente segurança do imóvel, o melhor era ficar de olho nas câmeras. Na sala, todos se voltaram para Luis Alberto, em silêncio. A memória do grupo ainda fresca pela cena protagonizada por ele e a esposa na casa de Caroline. -Com tudo que está acontecendo lá fora, eu fico feliz que vocês tenham conseguido chegar até aqui – começou Luis com sinceridade diante do grupo de aparência assustada –, eu sinto muito pelas pessoas que vocês perderam, nem consigo imaginar como estão se sentindo agora. O silêncio persi