O choque em seus olhos era notório. Não tinha se recuperado da surpresa de ver aquele homem ali, e logo recebeu outra ainda mais forte.
O que tinha que fazer, sorrir?O que Vicent queria? Oferecer dinheiro para que ela fosse embora como nos doramas? Lhe ameaçar jogando toda sua família na rua da amargura até se mudarem para longe como nos livros de romance?Voltou a respirar sem nem mesmo notar que havia prendido a respiração. Encarar aquele homem parecia no momento um desafio grande. Sabia que ele não gostava de sua presença, mas seu olhar… O olhar de desejo que sentia vir dele era promíscuo, não parecia ser real ao mesmo tempo que lhe dava curiosidade. — Um café… Com você? – Gaguejou pelo menos duas vezes antes de seus pensamentos se formarem naquela pergunta engraçada. — Quer que eu tome café com você?— Podemos conversar em um lugar melhor. Gostaria de fazer um pedido. – Ele foi cordial, muito educado até para sua pessoa. Evitou olhá-la de verdade ainda que estivesse lhe observando do lado de fora desde que chegou.Ela parecia feliz dentro daquela livraria. Era seu lugar preferido? Gostava de livros tanto assim? E as aulas? Vinha porque era obrigada? Precisava ser tão estudiosa? Até isso era atraente, seu jeito simples de viver. — Eu presumo que não tenho nada para falar com o senhor – disse de uma forma tão calma. Parecia realmente saber o que dizer, e quando dizer.— Eu prometi ao Ronny que falaria contigo. Podemos conversar em um lugar melhor? – Insistiu em sair dali, fazer o pedido, dar um convite, tudo tinha que ser em lugar público. Talvez o silêncio e o cômodo pequeno o levasse para outros caminhos. Seus pensamentos e desejos poderiam o trair.— Ronny? Ah, tudo bem. Saio em 10 minutos.Virou para ir terminar seus afazeres deixando o homem sozinho. Claro… agradar a garota parecia ser mesmo um desafio, no entanto, prometeu ao filho que faria isso. Deu alguns passos para dentro do lugar e não pode evitar sentir o cheiro dela. Era doce e sagaz, tudo combinava perfeitamente. Andou mais entre os corredores até vê-la novamente.Os cabelos amarrados para trás e o olhar concentrado em fazer seu trabalho, como era bonita.Não. Ele não podia ter esses pensamentos. Quando acordou naquela manhã de outro sonho quente justamente com Clarisse, ele só conseguia pensar em como iria fazer com que ela aceitasse o convite para a festa, precisava de Ronny lá. Ele tinha que manter sua cabeça no lugar.Como prometido, 10 minutos depois Clarisse adentrou o carro de Vicent junto ao motorista. Assim que a porta fechou, ela pôde sentir o aroma vindo dele e não mentiria dizendo que não gostou.Nunca pode pensar naquele homem do mal como uma pessoa legal. Só de estar no mesmo ambiente que ele, notava-se o descontentamento vindo de sua parte, lhe passava desconforto e a vontade de ir para qualquer lugar longe dele era grandiosa.— O que é tão importante que não poderíamos ter conversado na livraria? – Ela quebrou o silêncio. Vicent a olhou de relance — Vai me mandar embora da vida de seu filho? — Se eu pedisse isso, você iria?— Por dinheiro no mundo, eu deixaria o Ronny. – Eles se encararam — Pode se adiantar se o assunto for esse.Ela sabia que não era bem-vinda, que tinha ódio, que havia desprezo, mas porque não conseguia enxergar nada disso no olhar dele? Seus olhos claros e cinzas brilhavam em sua direção. Que tipo de ódio era aquele? Pois podia jurar que conhecia aquele mesmo desejo dos olhos de Ronny.— Chegamos. – O motorista avisou fazendo com que ambos quebrassem aquele contato visual e saiu do carro para abrir a porta. Primeiro para a dama que gostou do lugar escolhido. Já tinha vindo algumas vezes, afinal, como uma boa apreciadora de café, seria um erro não ter visitado todas da cidade.Foi bem recebida pelos atendentes e colocada em uma mesa bonita e organizada. Sentou-se com toda sua elegância agradecendo ao garçom educado. Todos seus movimentos eram assistidos pelo homem mais velho.O coração acelerado podia ser um problema, até mesmo suas mãos trêmulas lhe incomodavam. O que os pais não fazem por seus filhos? Pois estava ali diante de seu maior deseja, na esperança dela acompanhar seu filho numa festa de família.— Agradeço por ter vindo. Sei que não nos damos muito bem. – Seu tom era baixo junto aos lábios que se moviam lentamente, aquilo era charmoso, ela não ia negar. — Você não gosta de mim. E só vim, porque se o Ronny concordou então deve ser algo bom. Não que eu espere algo bom vindo de você.— Eu não sou um monstro como acha, só não concordo com esse namoro. — Porque sou pobre? – Uma pergunta como aquela num lugar público, poderia ser motivo de ofensa, olhares feios dentre outras coisas. Sorte que as mesas eram afastadas, e o garçom que se aproximava com o pedido feito pouco antes ainda estava longe.Os olhares estavam vidrados um no outro e talvez avançassem um no outro a qualquer momento, porém com vontades diferentes, enquanto um arranharia o rosto do homem, o outro agarraria os cabelos longos agora soltos e a traria para mais perto. Levantaria o vestido longo até poder ver tudo que havia escondido, a beijaria com força, sugaria sua pele, a teria para si em qualquer lugar, até mesmo o chão sujo da livraria, ou numa mesa recheada de café e doces. Ele não iria se importar, apenas iria tê-la.— Está me escutando? – Ele despertou dos sonhos tornando a encarar a moça — Não sou boa para seu filho porque sou pobre?— Não vim aqui para falar sobre isso. Mas para lhe fazer um convite, pessoalmente – Clarisse piscou algumas vezes, aquilo era sério? — Estarei oferecendo uma festa de Natal para meus amigos e nessa festa irei apresentar Ronny como meu novo sócio e herdeiro. — Uau! – Sorriu orgulhosa. — Pode não parecer, mas o Ronny te respeita muito, ele te admira como o homem mais incrível do mundo… Isso vai dei-— E você… me admira de algum jeito? – O sorriso que Clarisse dava se desmanchou sem saber da onde veio a pergunta, tão pouco como daria aquela resposta. — Essa apresentação só vai acontecer se o Ronny for, e ele só vai, se você estiver presente — A última festa sua em que estive presente, você me ignorou e me tratou mal, apresentou outra garota ao seu filho como se eu não estivesse ali. Não quero passar por isso novamente.— Se você ama o Ronny como diz que o ama, faça isso pelo futuro dele, se não, não precisa voltar a pisar na minha casa.— Está duvidando do meu amor?— Duvido sim. Você é bonita demais para amar o meu filho – Sem filtrar suas palavras, soltou o que seus pensamentos informam como resposta. E na mesma hora, se arrependeu.O olhar dela de surpresa, a xícara parada no ar. Ele tinha mesmo que chamá-la de bonita? Não era uma mentira, mas soou estranho.Sem dizer nada, tirou do bolso de seu paletó um envelope vermelho com enfeites natalinos e o empurrou em sua direção.— Gostaria que estivesse na festa. Sua presença será apreciada.E levantou deixado a conta paga e foi embora, abandonando uma garota perplexissa e atordoada.Os olhos arregalados de Clarisse assistiram atentamente quando o homem atravessou a porta e saiu sem nem mesmo olhar para trás. Desviou para as notas em cima da mesa, os doces que pediu até sua mão que foi baixando aos poucos até chegar à mesa.Porque ele iria elogiá-la? Seria um truque ruim para que fosse a festa depois do convite? Porque embora fosse importante para Ronny, não seria o lugar que gostaria de estar na noite de Natal.Também não terminou de comer ou tomar seu café. Pescou o convite na mesa e saiu pegando o primeiro táxi que lhe apareceu. Sua mente confusa a levou até a casa de sua melhor amiga a poucos metros da sua.Tocou a campainha insistentemente até finalmente a porta ser aberta revelando a garota do lado de dentro. A expressão de ódio é felicidade ao mesmo tempo, Clarisse entrou mesmo assim.— Sei que somos amigas, mas me interromper no meio do meu sono de beleza é complicado. – Praguejou fechando a porta.— Já são quase seis da tarde, por favor. - Achou graça — V
De todos os seus antigos namorados que nunca passaram de semanas, dormir e acordar com Ronny era totalmente diferente, como se fosse uma experiência gostosa de viver. Não saberia dizer se isso era normal, mas ao estar ao seu lado, ali na cama, vê-lo dormir ou sorrir em sua direção ao acordar, tudo aquilo fazia seu coração acelerar.Isso era paixão, com certeza era paixão. Sua cabeça poderia estar no lugar, mas seria voar ao vê-lo se aproximar com devoção, a tratando como uma dama, uma linda mulher. Ela merecia isso, certo? Ser tratada com tanto amor.A intensidade apaixonante que vinha daquele homem lhe deixava mole, um beijo, um carinho… Poderiam continuar aquilo no chuveiro como um café da manhã, certo?— Espero que seu dia seja muito bom. Preciso ir cedo para o trabalho – Disse rapidamente ao se afastar da garota para sair da cama. Clarisse sorriu conformada.Não ia negar que vê-lo tão empenhado em seguir os passos do pai lhe deixava alegre. Isso queria dizer que ela não estava atr
— Por dentro… e por fora? – Clarisse murmurou tentando entender o que tinha sido dito, e olhando atentamente para o homem sentado no canto da mesa, não soube o que dizer. Ele estava querendo vê-la nua? Era isso? A namorada do seu filho?— Esteja aqui algumas horas antes. Mandarei vestidos para escolher. A noite tem que ser perfeita para Ronny.Dando esse ultimato, Vicent levantou da mesa sendo seguido pelos olhos escuros da mulher que não tinha entendido. Ele a queria ver nua? Já não basta a achar bonita demais para Ronny, agora queria vê-la nua? Respirou fundo se afastando um pouco da mesa. O que estava acontecendo naquela casa?Levantou rapidamente indo atrás daquele homem, porque se tinha alguma coisa rolando naquela casa ao seu respeito, iria descobrir. Chegou na sala vendo apenas a silhueta do homem dobrar no fim da escada, ah, estava indo para o quarto? Melhor pois não teria ninguém para interromper. Subiu as escadas degrau por degrau e chegou ao corredor e nem sequer bateu na
Clarisse não lembrou exatamente quando e porque achou que ir para a faculdade naquele dia, depois de todos os acontecimentos da manhã, iria lhe ajudar. Desde que sentou na cadeira até o levantar para ir embora tudo que ela conseguia pensar era no rosto daquele homem, nos seus olhos claros a devorando, seus lábios abrindo e fechando como se quisesse dizer muitas sacanagens e talvez fosse lindo de ouvir, sua voz grossa falando sacanagens.Não. Não.Não.Não.Ela não podia pensar naquilo. Vincent Tornneght era seu sogro, pai do seu namorado e jamais poderia pensar em dormir com ele. Seria estranho, já era estranho ele querer vê-la nua. Dizer que ela era bonita.Estava claro que ele a queria, mas como? Porque? E odiava também saber que quase cedeu, quis beijar sua boca, sentir seu toque. Não. Não. Aquele não era o comportamento que sua família ensinou.Talvez se ficasse na sua, nada daquilo iria acontecer novamente. Claro que se não tivesse subido até o quarto dele, não teria ouvido de s
A semana da festa passou mais rápido que o esperado, logo, Vicent teve que deixar suas obrigações na empresa para andar lado a lado com sua secretária para saber os detalhes que estavam prontos. Nada poderia dar errado, caso contrário, seu nome seria mencionado por todo o ano como alguém que não soube como dar uma festa de Natal.E melhor ainda, a festa tinha que ser lembrada muito mais por ser justamente o momento em que colocaria seu filho no mundo dos negócios, exatamente na idade e evento que seu pai fez um dia consigo. Isso já estava predestinado.— O evento vai começar às vinte horas como o senhor planejou, ficará na entrada para cumprimentar seus convidados ao lado de seu filho. Logo após a entrada de todos, pois a maioria já confirmou, começará com seu discurso seguido da apresentação de seu filho. - A secretária caminhava ao lado do homem que avaliava ao seu gosto.— A festa é amanhã, quem em sã consciência ainda não confirmou sua presença? - Vicent parou assim que avistou no
Passar o dia em casa revendo todas as listas de comidas e convidados, só valeu a pena para Vicent quando escutou novamente alguém dizer que Clarisse estaria chegando naquela tarde para experimentar os vestidos lá em cima e escolher um que pudesse lhe agradar. É claro que Vicent não poderia está mais feliz, se ficasse um tempo sozinho com aquela mulher, que maravilhas não poderia acontecer?Ele estava a ser muito cretino naquele momento? Mas quem iria se importar? Se aquela garota fosse realmente apaixonada por Ronny, nada do que aconteceu no quarto haveria de ter realmente acontecido. Então, que tal dar mais uma chance? Um momento? Quem sabe assim tinha aquilo que desejou.Com certeza ele estava sendo um cretino, tinha muitos riscos, acabaria com a confiança de seu filho, o romance dele, tudo. Mas levaria a mulher dos seus desejos para a cama.— Você tem família? - A pergunta partiu do homem mais poderoso naquela casa, a empregada que terminava de servir seu café, o encaro
— Na minha frente? - Ela sorriu um pouco menos — Nada.— Nada? - Perguntou, surpresa. Colocou as mãos na cintura o olhando da cabeça aos pés. O viu entrar no quarto fechando as portas atrás de si com se soubesse muito bem o que queria.E está no mesmo ambiente que aquele homem não era bom para si, não era bom para seu namoro, ou para qualquer coisa que viesse a acontecer.Ah, mas o que diabos, poderia acontecer naquele quarto de tão ruim?Ele a achava bonita.E a queria ver nua.E agora não gostaria de vê-la usar nada?— Nada… - Ele parou diante daquela, a estudando com atenção, o vestido vermelho tinha ficado lindo, de verdade, mas escondia suas pernas, seus peitos, seu corpo… — Mas se não vestir nada pode assustar meus convidados e isso não irei permitir.— Meu namorado também não iria gostar disso - Avisou o fazendo encará-la na mesma hora. O mencionar do namorado, que por acaso era seu filho, o fez recuar assistindo com deleite era vagar pelo quarto indo até as araras novamente, m
— Eu não entendo como vocês viviam sem mim por aqui - Ronny terminava de digitar todo documento e finalizou salvando-o, virou para seu amigo — Sou especial, minha mente brilha acima de vocês. Consigo terminar sempre mais rápido. A pilha de relatório foi toda digitalizada e revisada. De nada.— Você tem certo talento para esse tipo de coisa, então nos der um desconto - ouviu um reclamar do lado.— É muito fácil você dizer isso depois de escolas particulares, faculdades chiques e educação administrativa dentro de casa. - Virou o outro para encarar seu amigo — E eu nem posso lhe dar um soco porque é filho do chefe.— Ah, você pode tentar, mas além de escolas particulares, faculdades chiques e educação administrativa dentro de casa, também fiz aula de balé clássico, capoeira e Caratê. - Riu animado achando tudo ainda mais engraçado. Estava começando a gostar daquele trabalho, uma pena que logo, logo iria embora.— E sobre a festa de amanhã? Fiquei sabendo que o senhor Tornneght vai dar um