Capítulo 2

O silêncio no carro estava incomodando, mas tudo que ele tinha para falar não poderia dizer. Olhava de relance para o homem do outro lado do banco inerte a suas encaradas, concentrado em seu Tablet e no trabalho.

Olhou o celular recebendo outra mensagem de sua namorada e nem precisava abrir para saber que era outro xingamento em direção ao seu pai para incrementar os textos anteriores também xingando o homem.

— Para com isso – Pediu o mais novo, mas não ganhou a atenção — Para de tratar ela assim. Eu a amo.

— Na adolescência ninguém ama ninguém.

— Você amou a minha mãe.

— E ela está com outro homem agora em algum lugar da Suíça com uma pensão gorda com meu nome no final de todo cheque.

— Ah, então você acha que é isso que a Clarisse quer de mim? Me dar um filho e depois abandonar ele com o pai pedir o divórcio e se casar com outro? 

Vicent o olhou dessa vez. 

— Ela não me trocaria por outro. Ela me ama. Me ama. Não compare ela com a minha mãe.

— Ah… Ela te ama? Ama mesmo? Então para se dar presentes caros e levá-la em viagens caras.

— Ela não se importa com dinheiro e os pais dela gostam de mim. Você devia gostar dela. – Ah ele gostava e gostava muito. — Faça esse esforço, por mim. É fim de ano pai, o Natal está próximo. Faça isso por mim. Por favor.

Não havia nada que Vicent não fizesse para deixar seu filho bem e feliz. Desde que nasceu sempre foi tratado como um príncipe embora não tivesse o amor de sua mãe, mas isso não iria lhe abalar. Vicent não iria deixar que ele sentisse falta da mulher que lhe colocou no mundo. Porém, havia algo naquela garota, algo em Clarisse que lhe tirava do sério. E só lhe tirava do sério, porque sentia desejos por ela e não podia tê-la. 

E saber que quem tocava naquela garota, era seu filho, o enlouquecia.

— Você fará uma festa nesse natal para me apresentar como seu sócio e herdeiro. Me deixe levá-la como minha acompanhante, e aceitarei suas aulas e até o estágio na empresa como você sugeriu no começo do ano.

Vicent o olhou na mesma hora, Ronny sabia que iria herdar tudo que seu pai tinha, mas já nos seus vinte e quatro anos sequer fez questão de aprender um pouco mais. E entregar sua empresa nas mãos de outra pessoa estava fora de cogitação.

— Aceitará o estágio também? – o outro confirmou — Eu não construí aquela empresa estando sempre no topo. Trabalhei para conquistar tudo e não aceito entregar nas mãos de outra pessoa, senão do meu filho que também precisa começar de baixo, para merecer o cargo de presidente. 

— Tudo bem. 

— Mandarei um convite para ela. E a tratarei bem. Em troca você começa a trabalhar assim que voltamos da viagem no ano novo.

— Faça mais que isso. Ela já deixou claro que não iria nunca mais numa festa sua. A convença disso. Porque se ela não for, eu também não vou.

Ele poderia repreender aquele garoto, mas conhecendo o homem que criou, sabia que ele estava falando a verdade e ter aquela mulher numa festa de gala mesmo contra sua vontade era melhor do que não ter o filho para apresentar como sócio das empresas da família.

— Mamãe? – Clarisse chamou pela mulher que mais amava assim que atravessou as portas de sua casa, sorriu ao vê-la descer as escadas com um sorriso no rosto. — Cheguei a tempo do café?

— Claro que sim. Seu pai ficará feliz em saber que irá nos acompanhar – Se abraçaram ao seguir para a cozinha — Olha só quem chegou. Eu disse que ela viria para o café.

O homem sorriu ao abraçar a filha e puxar a cadeira pra ela e depois para sua esposa se sentarem.

Tratadas como Rainha e Princesa do seu lar, jamais seria diferente.

— E onde está Ronny? Poderia ter o trazido para comer conosco. Eu fiz o bolo preferido dele. 

— Ele teve que sair com o pai, disse que iriam para a fazenda. – Contou toda feliz já começando a devorar tudo. 

— Faço muito gosto do seu namoro com esse menino, mas não quero saber de nenhuma história ruim a seu respeito por causa dele.

— Como… como assim? – Clarisse encarou seu pai, que olhou para a esposa, e voltou a filha. — O que houve?

— Ronny Tornneght é um herdeiro. Seu sobrenome está em quase tudo na cidade. Não quero ninguém falando que minha filha é namorada por interesse. Você não precisa de dinheiro. Você tem tudo que necessita. Você não é herdeira de uma fortuna, mas nunca lhe faltou nada.

— Eu nunca escutei alguém falar isso de mim – Mentira, Vicent já havia esfregado isso em sua cara algumas vezes — Quem nos conhece sabe que nos gostamos de verdade e eu tenho muito orgulho dos meus pais policiais.

— Ex-policiais, não aguento mais correr atrás de ninguém. Só da sua mãe se ela fugir.

— Eu não vou fugir.

Os dois se beijaram como um casal apaixonado. E vê-los daquele jeito lhe dava uma sensação gostosa. Queria ter aquele tipo de relacionamento, de crescer juntos, ter um casamento apaixonado, dinheiro não lhe importava, ela tinha um emprego de meio-período na livraria da faculdade, e em breve estaria formada em direito com direito a chamadas para escritórios por conta de suas notas. 

Ela seria tão importante quanto a família Tornneght, dentro ou fora dela.

O final de semana com seus pais era um dos mais confortáveis, em suas folgas adorava estar perto de sua família e ser amada por ela. Mas as horas passam e os dias se vão, e logo a segunda aparece trazendo o vento frio da cidade para o seu conforto.

Tudo bem precisamos do sol, mas um na semana já é o suficiente. O frio, a neve do fim de ano, a semana para o Natal prometia. 

Saiu de casa no mesmo horário e as aulas extras da faculdade estavam disponíveis como cursos e palestras. Ela não era obrigada, mas como uma boa Nerd que precisa defender sua tese é se formar mais rápido, iria em todas.

Assim como seu emprego, onde arrumava as prateleiras cheias de livros novos e velhos, clássicos e até os mais conhecidos. O cheiro do conhecimento muito lhe agradava, no entanto, não era o lugar preferido da maioria dos alunos, e com poucas pessoas no campus, Clarisse tinha mais tempo para organizar e ler sem ter que atender a todos, mas não estava livre de clientes.

Escutou quando a porta abriu e demorou a fechar, deixou o corredor quase correndo para receber quem tinha entrado e travou no mesmo passo ao encarar aquele homem ao pé da porta.

— Olá? – Clarisse olhou ao redor antes de voltar ao homem, estava sozinha, a loja não tinha câmera, o que ele estava fazendo ali? Foi para ameaçar?

— Oi. Aconteceu alguma coisa com o Ronny? O que você está fazendo aqui?

Ronny?

RONNY?

Sempre ele. Claro que seria ele.

— Poderia tomar um café comigo?

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