CAPÍTULO 4

A vida de pai solteiro não é fácil, nunca foi e Daniel podia explicar isso em alguns dias, mas não hoje, e nem no momento.

Adrian chorava quando Daniel saltou do colchão, suas costas doíam e ao olhar o relógio de frente para sua estadia no chão, ele pulou para fora dos lençois. Nas nove horas da manhã, aquele relógio só podia estar louco. Daniel não podia estar atrasado.

Pegou seu filho no colo e rodeou aquele quarto, duas vezes, a fim de uma solução para tudo que ocorria, sentiu falta de Kesia só ela podia dar-lhe algo para fazer o menino calar a boca. Correu para a cozinha para preparar o tal mingau, mas tudo parecia pior quando tentava fazer duas coisas ao mesmo tempo. Nada estava do lado do pai atrasado. O garoto berrava cada vez mais e Daniel ficava nervoso e tudo que ele queria era chorar também.

Quando a campainha tocou outra vez, ele agradeceu quase chorando por ser Stella ou sua mãe, ele não ia se importar, ele só precisava de ajuda. Ao abrir a porta, uma lágrima quis cair, mas ele guardou não mostraria sentimentos na frente de uma mulher que ele mal conhecia. Ela riu gentilmente e olhou para Adrian em seu colo.

— Achei que precisasse de ajuda – Ela comentou desviando o olhar do bebê para Daniel, ele suspirou — Me dê ele – Daniel entregou Adrian e deu passagem para ela entrar. — Ele está com fome... E... Sujo – Stella riu e Daniel respirou ofegante, ele mal sabia o que fazer.

Caminhou para a cozinha de volta e terminou de fazer o mingau para seu filho, Stella ficou ao seu lado até o moreno terminar. Daniel levou o garoto já calado para tomar banho, quando começou despi-lo, Stella notou algumas pintinhas no corpo do menino, logo segurou o braço de Daniel antes de colocá-lo dentro da banheira.

— O que foi? – Daniel perguntou confuso, ofegante e nervoso.

— Pode ferver um pouco de água para banhá-lo? Essa é gelada demais para a pele dele nesse horário – Daniel suspirou agradecido, ele não sabia.

A mulher pegou o menino enquanto Daniel fervia a água. Olhou o garoto da cabeça aos pés, as pintinhas eram vermelhas em todo o corpo dele, quando Daniel voltou e ela virou para ele.

— O que são essas pintinhas? – Ela perguntou. Daniel olhou para seu filho e estreitou os olhos, nem ele tinha percebido. — Daniel, ele tem alergia a massa que você faz. Você precisa achar leite materno.

Daniel ficou olhando para Stella por um momento, e depois para seu filho, deixou a vasilha que trazia com água quente e colocou a mão na cintura. Há um ano, Daniel jamais se mostraria fraco na frente de uma mulher, mas naquele momento, ele não fez esforço para esconder sua tristeza e as lágrimas em seus olhos.

Naquela manhã fazia três dias que Kesia havia partido, e seu coração doía todas as vezes que ele lembrava. Daniel era um pai presente e animado, mas para cuidar do seu filho daquele jeito ele não tinha tempo. Daniel aceitou trabalhar durante a tarde e fazer sua faculdade pela manhã, queria dar tudo a Kesia e ao seu filho. Mas a vida não foi justa consigo. Mesmo que não amasse aquela mulher, doía no coração sua partida ligeira. E ele sofria por seu filho, sofria por si mesmo. Agora estava sozinho e não sabia de tantas coisas. Ele precisa de ajuda e não sabia a quem recorrer.

Stella viu o outro se ajoelhar no chão e simplesmente começar a chorar. Ela não entendeu no começo, olhou para os lados tentando achar uma solução, mas foi em vão. Homens quando são colocados para fazer esse tipo de papel, geralmente eles tem duas reações, a primeira é manter a cabeça firme, e a outra é chorar. Gentilmente ela deu as costas e banhou o pequeno. 

Na cozinha, fez um chá morno e deu ao garoto, andou até o quarto da noite anterior e achou fraldas, trocou o bebê e ninou ele alguns minutos antes de voltar a deitá-lo no berço. Adrian dormiu outra vez e ela saiu dali. Voltou para o terraço do apartamento e viu Daniel encostado na grade de segurança, se aproximou cautelosamente e riu quando ele virou para si.

— Obrigado de novo – ele murmurou enxugando as lágrimas. Stella parou a sua frente.

— Sou Stella Arden. Ainda não havia me apresentado completamente. – Ele sorriu, e a olhou rapidamente.

— Daniel Flint — Ele respondeu e riu sem graça. — Muito obrigado.

— Não precisa agradecer – Daniel voltou a olhar a paisagem e Stella encostou-se na grade também — Quer conversar? Você parece tão... Deprimido.

— Eu estou – Começou sem ter controle do que sentia em seu coração. Ele tinha que colocar tudo para fora antes que explodisse — Quando sua mãe disser para ficar em casa, você fique, ok? Mesmo que seja maior de idade – Avisou, Stella inclinou sua cabeça para um lado — Caso contrário, dormirá com uma vadia qualquer e quando você achar que tudo pode dar certo, ela vai embora e te deixar sozinho com um filho pequeno, o qual você mal consegue fazer a comida direito – Stella o fitou.

— Sinto muito.

— Não me olhe com pena – Eles se encararam.

— Não estou com pena.

— Você não sabe o quanto está sendo difícil, só faz três dias, mas doi, doi muito. Eu não consigo nem calar a boca do meu próprio filho, o que eu vou fazer sozinho? – Stella entreabriu os lábios — Me pergunto o que eu fiz de errado? Eu comprei tudo que ela pediu, tudo que meu filho precisava, tudo, e ainda assim, ela simplesmente virou as costas e foi embora. Sinto vontade de desistir, eu tenho faculdade, eu arranjei um emprego... E...

— É difícil, eu sei, fui criada somente com minha mãe, e sempre a via chorando. Mas fiz de tudo para ajudá-la e... Bom, hoje ela não está mais comigo, mas a agradeço. Pode parecer difícil no começo, mas não desista, tudo bem? – Daniel riu sem graça de novo — Você só precisa se acostumar com a ideia, ok? Na clínica onde trabalho, há muitos pais solteiros que cuidam de seus filhos, e não desistiram, e pela pouca idade que tem as crianças, elas sempre dizem que o pai delas, são os seus maiores herois, contam isso com um sorriso maravilhoso nos lábios.

Stella contou sorrindo, e consequentemente fez Daniel sorrir igualmente.

— Seja o heroi do seu filho, e não desista assim tão fácil. Como você disse, faz poucos dias, se acostume com tudo – Afirmou à médica — Pode contar com minha ajuda.

— Não posso te chamar todas as vezes que eu não conseguir fazê-lo calar a boca.

— Se não me chamar cedo, eu venho tarde demais – Ela riu e Daniel a acompanhou novamente.

A mulher era gentil, bonita, e tinha um sorriso contagiante.

— Vou procurar por leite materno, como pediatra eu entendo muito de criança, e sei que você quer o melhor para seu filho, certo? – Daniel confirmou — O leite materno é a mágica para o pequeno crescer saudável.

— Obrigado – Ele disse de novo, e Stella sorriu abrindo os braços para ele.

Daniel hesitou por alguns minutos. Seu coração acelerou, mas ele precisava daquele abraço, deixou a grade de lado e A abraçou. Não evitou as lágrimas mais uma vez, mas prometeu a si mesmo que não choraria mais. Os braços de Stella eram aconchegantes, ele pôde sentir o carinho que ela oferecia, e toda a força que precisava.

— Daniel... Querido, o que é isso?

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