CAPÍTULO 8

— Daniel - Cassia gritou ao ver seu filho e Stella adentrarem o apartamento. Stella fechou a porta com o pé e outra vez Daniel caiu do chão — O que aconteceu, filho?

— Ele bebeu, e bastante - Stella respirou profundamente, não se lembrava de quando ficou tão cansada assim em sua vida.

— E essas marcas de sangue? Vocês estão sujos.

— É que, como se não bastasse a bebida, ele mexeu um homem, que mais parecia o Hulk. - Respirou — E ele é pesado, nós caímos algumas vezes.

— Ah, meu filho - Cássia lamentou — por favor, me ajude a levá-lo para o quarto dele, eu arrumei esse apartamento agora pouco, estava tão preocupada.

Stella ajudou-a a levar Daniel e quando finalmente chegou ao quarto, pode colocá-lo em cima da cama, Stella reparou que agora ele dormia, ou fingia, ela nem sabia. Viu as marcas da agressão e sabia que não podia deixá-lo daquele jeito.

— Dona Cássia, pode me trazer uma bacia de água morna e um pano?

— Sim, claro.

A mulher correu para fora do quarto e Stella sentou-se na beira da cama, alisou o rosto do Flint, e quando sorriu, levou um susto ao ter seu punho segurado pelas mãos de Daniel. Ele abriu os olhos e virou a cabeça, encarou Stella e lentamente foi soltando o braço fino. Respirou duas vezes pesadamente e então soltou um gemido de dor.

— Calma, eu vou limpar isso pra você.

— Você é uma médica bem intrometida - Falou embolado, mas Stella entendeu e desviou o olhar. — Seu sorriso é irritante. - Completou, Stella o fitou outra vez, agora séria.

— Aqui está - Cássia chegou com o que Stella pediu. Porém a médica pensou duas vezes se o ajudaria, pois se o fizesse, talvez ele a chamasse de intrometida outra vez, e ela não era uma.

Apenas gostava de ajudar quem precisava. Sempre foi assim, humilde com todos ao seu redor, buscava ser o mais útil possível, não só para as pessoas ao seu lado, mas para todos no mundo. E ali, diante de Daniel e suas palavras, ela quis chorar, como se tivesse vivido uma vida em mentira e só agora ela percebesse o que os outros pensavam da sua ajuda.

Ela pegou a bacia e o pano que a Flint trouxe, limpou o rosto de Daniel e tirou-lhe a camisa. Ajudou Cássia a dar um banho em Daniel e depois terminou o curativo, sempre com um meio sorriso no rosto, apesar de tudo, ela não perderia aquele que ela conquistou com esforço: o sorriso.

Ao ser colocado na cama outra vez, ele apenas virou para o lado e dormiu como se nada tivesse acontecido, Stella ajeitou os cabelos e foi a primeira a sair do quarto. Cássia a seguiu preocupada, tinha ouvido as palavras dele e temeu Stella se sentir ofendida. Na verdade, qualquer mulher se sentiria, mas a Flint queria que Stella entendesse que Daniel estava bêbado, e falou tudo aquilo da boca para fora. Assim que chegou à sala, viu Stella ajustar sua bolsa sobre o ombro.

— Stella, filha...

— Eu já estou indo - Ela disse meio embaraçado, e Cássia entendeu por que.

— Stella... - A menina encarou a mulher e andou até ela sorrindo — Não ligue para o que ele disse. Daniel está bêbado.

— Não dê culpa à bebida, senhora Flint, ela apenas faz as pessoas se abrirem. - Stella disse e virou as costas.

— Stella... - Sussurrou seu nome, mas a menina ouviu parou e virou para vê-la — Posso lhe chamar caso algo dê errado?

— Eu não sei se seu filho vai querer uma intrometida por perto, mas sim, dona Cássia, se precisar, basta me chamar, eu moro em frente — E depois sorri como sempre, fechou a porta.

Não foi como se tivesse sido magoada pelas mesmas pessoas da sua infância, mas se sentiu tão pequena quanto em todas as vezes que uma criança lhe gritou: testuda; cabelo de algodão-doce; magrela, branquela, nerd, inútil, atraso de vida, etc...

Stella fechou a porta do seu apartamento e olhou em volta, ela mesma procurou aquela vida e quando achou, dedicou tanto a ela que se esqueceu do passado. Soltou sua bolsa no chão, e caminhou pela sala do lugar, parou em frente a prateleiras de fotos. Pegou o quadro em que estava seu pai e sua mãe abraçados, com um bebê no colo, aquele bebê era Stella, e o mesmo sorria. Deixou o quadro no lugar e pegou outro, na fotografia agora, estava ela e uma loira de olhos azuis, ambas sorriam, comemorava o aniversário de cinco anos de amizade.

Deixou aquele quadro no lugar novamente e olhou em volta, Stella tinha um passado, um passado a qual ela queria muito esquecer. E para fazer isso, depois do incidente, ela procurou estudar, se dedicar a cada pessoa no mundo, cuidar das crianças, estar presente e ajudar mulheres a conhecer o seu lugar no mundo. Batalhava para ser reconhecida e trabalhava até mesmo quando não devia, tudo para ser útil na vida de alguém.

As palavras de Daniel, a fizeram perceber que nem sempre ela fora assim, a fez perceber que todas as vezes que entrava na vida de uma pessoa para ajudá-la, sempre se intromete onde realmente não era chamada, contudo, quando saia da vida daquela mulher, criança, qualquer pessoa, ela estava feliz, com um sorriso no rosto, e imploravam para que ficasse. Talvez ela fosse uma intrometida legal. Não é?

Mas e o irritante? De onde saiu?

Stella andou até seu quarto e parou em frente ao espelho atrás da porta, se encarou, e sorriu. Seu sorriso sempre foi lindo, conseguia confiança, carisma, carinho e conquistava muitas pessoas com ele, além das crianças e as mães dela. Ela não era irritante, tinha certeza. Quando Stella sorria, todos a sua volta faziam o mesmo, e por alguns segundos, ela imaginou que tivessem rindo da sua cara, será?

Stella parou o sorriso, desviou o olhar, virou-se encarando sua cama e logo deitou sobre ela. Olhou-se no espelho no teto, fitou seu corpo da cabeça aos pés.

Na verdade, ela sempre foi uma intrometida, mas no bom sentido, e agora, ela seria mais, pois faria tudo por Adrian, ele não merecia o pai que tinha, e sem mãe, nada conseguiria. Procuraria uma forma de ajudar sem perturbar Daniel Flint, e faria com muito amor, o mesmo amor que ela tinha pelas crianças.

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